Capítulo 9: Aprendendo
Nero estava sentado sob a sombra de uma árvore retorcida, enquanto o som do riacho ecoava suavemente entre as pedras desgastadas pelo tempo. O cheiro de terra úmida misturava-se ao leve aroma de madeira queimada, enquanto ele virava as páginas do livro.
A água corria tranquilamente quando Crispus emergiu do riacho, segurando alguns peixes nas mãos.
— Como foi? — perguntou Nero.
— Fácil. Pelo visto, consigo respirar debaixo d'água. E você, alguma novidade?
— Bom, acho que existe um jeito de você usar o elemento água, mas isso fica para depois. Agora, passe o peixe.
Nero acendeu uma fogueira e começou a preparar os peixes para fritá-los.
— Nero, acho que prefiro os meus crus mesmo — disse Crispus.
— Desde quando você gosta disso?
— Sabe… debaixo d'água, é…
"Pelo visto, essa transformação traz os instintos do monstro também."
— Tudo bem, mas controle seus impulsos.
Depois de um tempo, o peixe ficou pronto, e Nero começou a comer, enquanto Crispus olhava para o céu.
— Crispus, vamos começar. Já terminei.
— O que eu faço?
— Vá para dentro do riacho.
Crispus pulou na água, espirrando-a em Nero, que imediatamente conjurou uma chama na mão e a lançou no riacho. O fogo desapareceu assim que tocou a água.
— Desculpe…
— Vamos logo com isso. Primeiro, concentre-se, sinta a mana na água e espalhe-a pelo corpo. Depois, tente focá-la em partes específicas.
— Você sabe que eu já sei fazer isso, não é?
— Não. Você só sente parte da sua mana, mas não sabe usá-la. Por exemplo, eu consigo criar uma pequena explosão de fogo ao entrar em contato com ele. No livro, dizia que, para aprender um elemento com mais facilidade, basta permanecer no ambiente dele.
— Tudo bem.
— Ah, e mais uma coisa: você não sai daí até conseguir.
— O quê? Como assim?!
— Apenas faça o que tem que fazer.
Nero fez um sinal com a mão para Crispus começar. Ele mergulhou na água.
— Teia de Fogo.
Chamas finas e entrelaçadas se espalharam sobre a superfície do lago, formando um padrão incandescente que oscilava como seda flamejante. O calor vibrava no ar, distorcendo a paisagem ao redor, mas a água permanecia intacta, como se desafiasse as chamas.
— Interessante… Parece que o fogo realmente é maleável.
Abaixo da água, Crispus observava seu próprio corpo envolto por uma luz azul brilhante.
"Incrível… A sensação é serena."
"Não resista, apenas aceite."
Crispus deu um soco na água, criando uma pequena onda. A luz se espalhou completamente pelo seu corpo. Ele começou a se mover rapidamente para testar seus limites.
"Isso é incrível… É uma sensação libertadora."
"Nossa… minha velocidade mais do que dobrou! Hora de surpreender o Nero."
Crispus nadou em círculos antes de emergir com um salto, envolto pela água. Ao saltar, o fogo de Nero se apagou.
— Canhão de Água!
Ele disparou um jato comprimido contra uma pedra próxima a Nero.
O estrondo foi ensurdecedor quando a pedra se despedaçou. Fragmentos voaram em todas as direções, e Nero teve que saltar para trás para evitar os estilhaços. Ele encarou Crispus, os olhos arregalados.
— Você enlouqueceu?! Se isso tivesse me acertado…!
— Talvez… Mas, enfim, eu consegui! Olha só!
— É… você está coberto por água. Agora pare de gastar mana.
A água caiu no chão.
— Vamos testar. Ande sobre a água sem afundar.
— Assim? — Crispus caminhou normalmente sobre a superfície.
"A mana dele parece repelir a água… Será que isso funciona com outros elementos também?"
— Você conseguiu. Quer continuar o nosso caminho?
— Para onde vamos?
— O tio deixou uma ilha marcada no mapa. Parece ser bem isolada. Acho que vai ser nosso esconderijo.
— Entendo… Vamos pela floresta mesmo?
— Sim. As cidades estão infestadas de Puristas… e aquela organização tem olhos em todos os lugares. Se nos virem, estaremos mortos antes de darmos o próximo passo.
— Entendo. Realmente é uma boa escolha… Mas tenho um mau pressentimento.
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Próximo Capítulo: A Causa do Ódio