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Rebirth of the Emperor of Brazilian Crime

Escritor_K
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Synopsis

Chapter 1 - Tudo começa na Mooca

Era 1º de janeiro de 1971, e a noite em São Paulo estava abafada, marcada pelo calor intenso do verão. O som do motor do Mercedes-Benz preto cortava o ar quente enquanto o carro deslizava com a fluidez de um predador em caça. A Marginal Tietê, com seus edifícios de concreto e luzes difusas, parecia insignificante diante da elegância do veículo que avançava, indiferente aos poucos carros que compartilhavam a via.

Atrás dele, uma comitiva de Opalas, com suas linhas robustas e imponentes, e um Chevrolet Chevette, mais discreto, mas igualmente confiável, formavam uma escolta precisa. Os faróis brilhavam como olhos atentos, prontos para qualquer imprevisto. Mas tudo estava sob controle. Nada alterava o curso da noite.

Dentro do Mercedes, sentado com a postura de um rei entediado, estava Carlo, o homem que dominava o tráfico como se fosse um império legítimo, construído à sombra do regime militar que consolidava seu poder no país.

Em uma das mãos, ele segurava uma taça de cristal com um vinho Bordeaux de 30 anos, importado de uma vinícola francesa que ele visitara apenas para garantir o silêncio de seus proprietários, como parte de uma coleção de contatos que se expandia por todo o planeta.

Na outra mão, um charuto cubano queimava lentamente, liberando uma fragrância densa e perfumada que parecia deslocada da realidade cinzenta das ruas paulistanas. Era como se, por um breve momento, ele transportasse sua própria realidade para dentro do carro, criando um espaço onde as regras não se aplicavam.

Carlo vestia um terno de linho branco, cortado sob medida na melhor alfaiataria de Milão, com uma camisa de seda bege e uma gravata Hermès que se destacava pela sutileza de seu desenho. O relógio Patek Philippe em seu pulso era mais do que um acessório; era uma afirmação de que o tempo, para ele, não era algo a se preocupar. Era apenas mais um detalhe que ele podia controlar com a mesma facilidade com que manobrava seu império.

Seus olhos castanhos, sob a luz suave do interior do carro, refletiam a calma de quem já conquistou tudo o que se propôs a ter. O poder e o luxo haviam transformado suas emoções em algo distante, inatingível para os outros. Carlo não precisava intimidar ou recorrer à violência. Seu império se erguia com a solidez do ouro e a sutileza do suborno, uma rede invisível que permeava os corredores de negócios e os bastidores políticos.

O destino era um casarão imponente na Mooca, uma propriedade que ele adquirira de uma família tradicional, que caíra em desgraça após décadas tentando manter as aparências. A casa era agora um de seus centros de operações, onde políticos locais, ávidos por benefícios e "comissões" para garantir o fluxo de mercadorias pelo porto de Santos, o aguardavam. Para Carlo, aquilo era uma formalidade. Ele sabia que estava acima de todos eles, mesmo que o jogo fosse jogado sob a mesa.

"Por que pagar", pensava ele com um sorriso discreto, "se já controlo o jogo?". Seus conselheiros sugeriam alianças mais estreitas com os políticos do regime militar, afinal, o "Milagre Econômico" estava em pleno vapor, e isso abria novas portas para os negócios. Carlo ouvia, mas não cedia. Ele era o sistema; o sistema não se curva.

Enquanto o Mercedes avançava pela cidade, Carlo olhava pela janela, observando o contraste gritante entre os edifícios de vidro que começavam a tomar forma e as favelas que se espalhavam à margem dos rios. São Paulo, em plena expansão, exibia a modernidade por um lado e a pobreza desenfreada por outro. Carlo não sentia pena. Ele via tudo de forma clara e objetiva. O que o fascinava não era a miséria ou a luta das ruas, mas a constatação silenciosa de que ele dominava tudo – a cidade, os políticos, e até o destino daqueles que ousavam cruzar seu caminho. Ele se sabia indispensável. Ele era a elite, a classe dominante. O jogo estava em suas mãos, e nada poderia tirá-lo de seu trono.

Carlo entrou no imóvel imponente, situado em uma rua discreta, mas conhecido pelos moradores da Mooca como um "ponto quente". Do lado de fora, uma fileira de carros de luxo importados ocupava as vagas, destoando da simplicidade típica do bairro operário.

Homens com ternos alinhados e olhares atentos, os chamados "soldados" do crime, estavam posicionados na entrada, revistando os convidados. Entre os presentes, havia desde políticos influentes até oficiais militares. A segurança era rigorosa, e ninguém ousava entrar sem autorização prévia. Estavam se certificando que armas de fogo iriam entrar no local.

No interior da mansão, o comando temporário estava nas mãos de Augusto da Silva, o braço direito de Carlo. Augusto não era conhecido por sua força física ou habilidade com armas, mas sim por ser o contador e estrategista mais habilidoso que Carlo poderia desejar. Dotado de uma oratória impecável, tinha o talento raro de transformar números em narrativas convincentes, algo essencial para a administração do império criminoso.

Assim que Carlo chegou, Augusto foi o primeiro a recebê-lo. Carregando uma maleta de couro, curvou-se levemente em sinal de respeito e disse próximo a janela do carro entre aberta:

— Senhor, mais dois dos "Velhos" estão a caminho: Luva Branca e Palitó Verde.

"Os Velhos" era o título reservado aos conselheiros de alta patente dentro da organização. Esses homens, verdadeiros generais do crime, controlavam grandes regiões: Sul, Sudeste, Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Augusto, naturalmente, era o responsável pelo Sudeste.

Quando Carlo saiu do carro, sua presença imediatamente dominou o ambiente. Com 1,95 metro de altura, pele parda, barba bem feita e cabelos lisos penteados para trás, ele exalava elegância. Seus olhos castanhos, que sob a luz adquiriam um tom âmbar, e sua postura impecável lembravam os antigos nobres. Augusto, por sua vez, tinha cabelos loiros e olhos claros. Com 1,70 metro de altura e sempre vestido com trajes feitos sob medida pelo seu alfaiate de confiança, ele apresentava uma figura mais discreta, mas igualmente respeitável.

A organização que Carlo havia construído, chamada de "Grande Regime do Crime", era uma obra-prima da hierarquia criminosa. Inspirada nas estruturas das máfias italianas, ela operava com precisão militar, controlando tráfico de armas, drogas, falsificação de moeda e golpes financeiros. Carlo sempre afirmava: "Sem uma estrutura sólida, o império desmorona."

Os homens presentes na mansão notaram a entrada de Carlo e, seguindo o exemplo de Augusto, curvaram-se em sinal de respeito. O gesto despertava uma mistura de inveja e desdém nos militares presentes, que se sentiam diminuídos diante da autoridade daquele homem.

Enquanto caminhava pelo luxuoso interior da mansão, Carlo observava tudo com um olhar avaliador. Dirigiu-se a Augusto, a quem chamava de "Cérebro", com uma voz tranquila, porém carregada de autoridade:

— Os maiorais do crime, todos aqui, no coração do meu território. Percebe o quanto precisam se curvar para chegar até mim, Augusto? No final das contas, são eles que dependem de mim.

Augusto ajustou os óculos com precisão antes de responder, num tom de alerta:

— Senhor Abaçai, aceitar pisar no nosso território é, sim, um sinal de fraqueza da parte deles. No entanto, precisamos ser cautelosos. A proposta de uma fiscalização mais branda das autoridades é tentadora, admito. Mas pagar taxas por exportações ilegais usando nossos portos particulares? Isso não soa minimamente suspeito? E esses rostos novos aqui... isso me deixa desconfortável.

Após essa breve troca de palavras, Carlo e Augusto continuaram andando pelo corredor. Chegaram a uma imponente porta dupla de madeira, talhada à mão, que dava acesso a uma sala.

O ambiente interno refletia a opulência da época: tapetes persas forravam o chão de taco, enquanto lustres de cristal pendiam do teto, iluminando o espaço com um brilho elegante. Um rádio antigo tocava discretamente uma música instrumental da Jovem Guarda. No ar, misturavam-se o aroma de charutos e o perfume amadeirado usado pelos homens presentes. Apesar da tensão palpável no ambiente, Carlo movia-se com a confiança de alguém que sabia exatamente o lugar que ocupava no mundo.

Carlo varreu a sala com o olhar, analisando cada rosto. Ali estavam dois governadores influentes. Um deles, Maurílio Torres, talvez fosse o responsável por manter um olho atento no Espírito Santo. O outro era Antunes Almeida, representante do estado da Bahia.

Ambos, provavelmente, estavam ali para atrair seus negócios para suas regiões, buscando um "pé de meia".

Também havia dois grandes fazendeiros: um de Minas Gerais e outro do Mato Grosso. Ambos tão ricos quanto magnatas industriais, porémenfrentavam alguns problemas recorrentes com indígenas, invasores e outros conflitos locais. Para eles, aquela reunião parecia ser uma oportunidade de gerar lucro e obter alguma proteção.

Além desses, estavam presentes mais seis coronéis de bases litorâneas. Inicialmente, Carlo os considerou de pouca importância, mas logo percebeu que sua presença era digna de nota.

Por fim, o mais relevante: um general de brigada aposentado, cujo estava perdendo influência.

Seu nome era Genival Batista Alcântara, um homem de sessenta anos cuja ganância só não superava o tamanho de seu bigode.

Raposas velhas, interesseiras, cada uma ali com sua própria agenda oculta. Não era difícil enxergar suas intenções: usar a reunião para tecer armadilhas e criar sanções disfarçadas contra o Abaçai.

A estratégia era simples e traiçoeira. Primeiro, aceitariam suas propostas, sugerindo um acordo para facilitar o acesso aos portos – portos bem equipados, mas dominados pelo crime. Contudo, o objetivo final era outro: usar o poder coletivo para pressioná-lo, forçando-o a ceder mais do que gostaria. Carlo sabia disso desde o início.

Ele havia crescido rápido demais. Seu poder e influência incomodavam não apenas o Estado, mas também seus próprios demônios internos – forças escuras que manipulavam nas sombras.

Sem trocar palavras ou cumprimentar alguém, Carlo começou a revisar os contratos dispostos sobre a mesa. Nada ali era impressionante, apenas um jogo burocrático para mascarar intenções nefastas. Então, um nome chamou sua atenção.

O documento havia sido redigido por um governador de Brasília. Uma posição irrelevante nos dias de hoje, meramente decorativa. O verdadeiro poder estava nas mãos dos generais mais antigos, que tinham influenciado diretamente o golpe de 64. Governadores não passavam de fantoches. Mas o dono daquele nome, especificamente, não estava presente na reunião.

Carlo pausou a leitura e levantou os olhos, encarando a sala com uma expressão calculista. Nada ali fazia sentido.

Os homens presentes, embora influentes, não eram os verdadeiros jogadores. Um incidente que os eliminasse não teria repercussão significativa, desde que bem orquestrado. Para Carlo, era claro que estava cercado por peças descartáveis.

Algo, contudo, chamou sua atenção: todos os presentes tinham relações próximas com militares – filhos, cunhados e outros laços.

Ao seu lado, Augusto – um de seus comandantes mais leais – permanecia atento, monitorando cada movimento na sala. Ele não precisava de ordens para perceber que estavam cercados por inimigos.

Com um gesto sutil, Carlo sinalizou para Augusto se aproximar. O "Velho" inclinou-se levemente, ouvindo-o em silêncio.

– Quem organizou isso? – Carlo perguntou em tom baixo, mas firme.

Augusto pegou um bloco de notas e escreveu cuidadosamente dois nomes: Maurício Bandeira e Luva Branca.

Carlo, ou melhor, Abaçai – como era conhecido por aqueles que o temiam – assentiu. Maurício era responsável pela elaboração dos documentos. Já Luva Branca, um de seus generais, tinha como função resolver problemas antes que chegassem a Carlo. Mas agora, ele parecia ser o próprio problema.

– Luva Branca enviou homens para essa reunião? – Carlo perguntou, seus olhos estreitando.

Augusto hesitou por um momento antes de responder:

– Sim. Ele me ajudou pessoalmente e garantiu a segurança do local.

Carlo respirou fundo, o desconforto crescendo em seu peito. Ele estava em um ninho de cobras. O ambiente parecia congelar, e todos na sala começaram a olhá-lo como lobos espreitando sua presa mais forte.

Considerando que metade daqueles homens havia sido revistada por traidores, Carlo calculou que a proporção de inimigos era de três para um.

Uma risada fria e alta quebrou o silêncio da sala.

– Então, senhores... Confesso que foi bem planejado, mas não acredito que será suficiente!

Sob tensão, Abaçai tendia a reagir com humor. Pegou um charuto e ajeitou o terno, sinalizando aos aproveitadores que não tivessem pressa em atacá-lo.

Ele acendeu o charuto com um isqueiro prateado de estilo clássico e deu uma tragada profunda.

Os homens na sala começaram a reagir, sacando facas, cabos de aço e outros instrumentos letais lentamente. Dois traidores, próximos à porta, a trancaram, tornando a situação ainda mais crítica.

Augusto começou a suar. Ele refazia os cálculos: a proporção era de quatro para um, e não três.

O som de um carro acelerando e uma batida contra a porta do primeiro andar ecoou pelo ambiente, seguido por tiros e gritos. A ansiedade na sala aumentava exponencialmente.

Carlo suspirou fundo, largou o charuto e pegou uma dose generosa de uísque, que rapidamente levou à boca.

Ele era um homem acostumado ao conflito, mas aquilo... aquilo era uma traição no mais alto nível.

Um sorriso sádico se formou em seu rosto no momento em que os traidores finalmente avançaram.

O político à frente, com um punhal em mãos, não teve sorte. Carlo cuspiu o uísque em seu rosto e ateou fogo como o próprio demônio.

Ali, naquele instante, uma verdade se tornou clara: não havia mais espaço para negociações. Apenas sangue e poder prevaleceriam, e foda-se... Abaçai era bom nisso!

Quando o corpo do homem caiu no chão, seu nome ou parentesco não importavam mais. Ali, o que prevalecia era apenas a lei do mais forte — ou, como Abaçai costumava dizer, "a lei do mais filho da puta".

Não havia espaço para empatia, nem com inimigos, nem com antigos aliados.

O homem rolava pelo chão, gritando sempre que conseguia, com a cabeça em chamas. E, céus, como ele gritava fino.

Os anos 70 eram selvagens, e só Abaçai sabia quantos homens havia derrubado para chegar até aquele momento.

Luva Branca o traíra, e o caos havia tomado conta da grande sala de reuniões. Mas isso não o deteria agora.

Talvez fosse a primeira vez que caía em uma armadilha tão elaborada, mas não era a primeira em que quase perdera a vida por causa de uma traição.

Se é que ele realmente corria algum risco.

Carlo saltou sobre a mesa com um movimento ágil, sacando duas facas presas às suas canelas. Quatro homens tentaram agarrar suas pernas, mas ele se esquivou com precisão, cortando os braços deles com movimentos rápidos.

Um dos agressores, no entanto, acertou seu calcanhar com um porrete. No breve instante em que Carlo perdeu o equilíbrio, lançou uma das facas, que cravou diretamente na boca do homem.

O agressor tentou segurar a lâmina com as mãos, mas já estava morto, apesar de seu desespero.

Mais três homens subiram na mesa, cobertos pelo sangue dos leais que haviam sido abatidos.

Carlo derrubou o primeiro com uma técnica de queda, fazendo-o colidir de costelas contra a madeira maciça. Antes que ele pudesse se recompor, Abaçai chutou-lhe a boca, quebrando-lhe os dentes.

Virou-se para os outros dois, ainda segurando uma faca. Ele bufou.

— Sempre disse que os homens do Augusto eram melhores pensadores do que lutadores...

Adotando uma postura de boxe, desferiu cortes profundos com cada movimento. Os inimigos se acumulavam ao seu redor como urubus sobre uma carniça no sertão seco.

Abaçai derrubava um por um, esquivando-se e contra-atacando com exímia habilidade. Até que um grito no fundo da sala chamou sua atenção.

Ele olhou e viu Augusto sendo enforcado por uma linha afiada, que lentamente cortava sua garganta.

Por um breve momento, algo parecido com empatia tomou conta de Abaçai. Pensou em alguém além de si mesmo e, quase por reflexo, lançou a faca que segurava. A lâmina cravou no olho do agressor.

Mas aquele instante foi o suficiente para que um dos homens o atingisse na testa com uma barra de ferro. Sua visão turvou, e o sangue que escorria dificultava ainda mais sua percepção.

Mesmo ferido, ele continuou lutando, embora de forma mais defensiva. Acabou caindo da mesa e foi encurralado em um canto.

Sem ter tempo para ter qualquer nota do que acontecia do outro lado da sala de reuniões. Os homens avançaram sobre ele, esfaqueando-o repetidamente no peito e no abdômen.

Carlo gritou, uma dor que parecia vir de outro mundo. Com uma força quase sobrenatural, agarrou dois homens pelas cabeças e os ergueu como se fossem bonecos de pano.

Em um movimento brutal, jogou os corpos contra a mesa de madeira, esmagando seus crânios com na quina da mesma. Ele pegou o corpo de um deles e o usou como arma, jogando-o para afastar os agressores.

Um dos homens conseguiu se levantar, mas foi agarrado pelo cabelo e jogado contra a parede. Carlo o imobilizou com uma joelhada no tórax, seguida por uma saraivada de socos que quebraram suas costelas.

Sem forças, o homem caiu sentado tendo dificuldade para respirar e com os olhos esbugalhados de pavor. Carlo colocou sua mandíbula sobre uma cadeira e, com um pisão cruel, partiu seu Maxilar.

Arfando, ele olhou em volta, jogando os cabelos para trás. Limpou o sangue no rosto como pôde, enquanto sorria levemente, tomado pela adrenalina.

Os dez homens que antes atacavam Augusto agora se reuniam no meio da sala. Incluindo o que havia salvado, Carlo tinha apenas três aliados restantes que estavam perto da varanda.

Ele cuspiu sangue no chão e, mesmo com a visão embaçada, soltou uma crítica sarcástica:

— Eu disse pra ele parar de se viciar nesses números de escritório... A vida real... é bem mais difícil.

Os inimigos hesitaram em atacá-lo. Ele parecia horrível, coberto de sangue, mas aquele sorriso selvagem os alertava: lutar contra Abaçai era uma armadilha mortal.

Ele gritou para seus aliados:

— Levem o cérebro pela escada de emergência! Eles querem algo mais precioso...

Abaçai riu, com a respiração irregular, agarrando uma faca caída e um cinzeiro da mesa.

Os homens avançaram. O confronto foi violento, brutal. No final, apenas aquele colosso permaneceu de pé, com cortes por todo o corpo e três dedos de uma mão faltando.

Cambaleando sobre os corpos, ele foi até a porta. Ouviu passos apressados do lado de fora e segurou duas barras de ferro, em uma mão ele improvisou com a camiseta de um cadaver algo para prender, sorrindo como o próprio demônio.

A porta foi finalmente arrombada, e Abaçai avançou com tudo... mas não encontrou a gloriosa briga que esperava.

Uma única bala atravessou sua testa, jogando-o para trás como uma árvore derrubada.

Atrás do cano de uma Colt Python .357, um homem de cabelos longos e castanhos ondulados, trajando terno e gravata pretos, abaixou a arma. Com um óculos vermelho circular em sua face, escondendo seu olhar brincalhão.

— Vim a caráter de luto, grande chefe. Como manda o protocolo.

Ele fez uma reverência zombeteira ao corpo de Carlo. Em seguida, tropeçou no cadáver e, irritado, disparou mais duas vezes na cabeça do falecido que virou uma melancia podre ao ar.

Com um rosto apático, foi até a varanda. Lá embaixo, viu dois homens colocando um corpo em um carro.

Disparou novamente. Uma bala atravessou o peito de um deles, que caiu gritando. O outro, desesperado, fugiu para o assento do motorista e arrancou o carro deixando seu colega para trás.

— Levem esse demônio para fora — ordenou o homem de terno preto. — Façam com ele o que fizeram com Tiradentes. E queimem os corpos dos fiéis.

Os Homens não precisaram ouvir o comando para descerem e ir para seus próprios carros, para perseguir os fugitivos.

Naquela noite, o homem que um dia fora chamado de Luva Branca se autoproclamou o novo chefe. Sua ascensão mergulhou a organização em caos, provocando uma guerra civil que duraria dez anos.