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Lupina Lacus

Mylladya_Fernandes
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Synopsis
Lina era uma menina comum. Um dia, foi expulsa do orfanato em que vivia e obrigada a se mudar para a cidade de Lupina Lacus, que escondia um segredo assustador.

Table of contents

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Chapter 1 - Capítulo 1

Todas as noites, eu tenho o mesmo sonho. Eu sonho com o mesmo homem e, embora eu nunca consiga ver o seu rosto, sinto que o conheço. Porém, como em todas as vezes, no sonho ele parece perdido e desamparado, como se esperasse alguém, alguém que pudesse salvá-lo dele mesmo. Mas, sempre que me aproximo, estou submersa em sua raiva incontrolável, que parece querer me arrastar para ele e consumir tudo, como se fôssemos um. E então eu acordo. Sinto o suor escorrer sobre meu rosto e vou em direção à janela do quarto, que está entreaberta. Do lado de fora, vejo Lenny e Mari me esperando para irmos à estação comprar a minha passagem de ônibus. Era o meu último dia no orfanato.

No dia seguinte, quando chegamos ao ponto de ônibus, que, por sinal, já estava prestes a sair, despedi-me de Lenny, abraçando-o e beijando-o no rosto. Ele me retribuiu e beijou-me na testa. — Não esqueça da gente, ok? — disse ele, abraçando-me novamente. Em seguida, foi a vez da minha amiga Mari. A abracei e dei vários beijos em seu pálido rosto. Ela havia permanecido calada toda a viagem até a estação; logo ela, que era sempre a mais animada dos três. Ao me aproximar, Mari segurou minhas mãos e começou a chorar. — Eu te amo muito, Mari, muito mesmo. — Também te amo, Lina, muito, muito. — respondeu ela. De repente, senti um calafrio, virei-me para trás e notei um homem alto e musculoso, vestindo uma jaqueta de couro preta e óculos escuros. Eu não consegui ver seu rosto, pois ele estava com os braços cruzados e a cabeça levemente abaixada, nos observando do outro lado da rua, mas eu não consegui tirar os olhos dele. Sentia seu olhar intenso, por trás dos óculos escuros, cravado em mim, como se me observasse. Era como se estivesse reencontrando alguém que não via há muito tempo. Subitamente, lembrei-me do homem que salvou minha vida na noite em que meus pais morreram em um incêndio. Ele tinha a mesma aura assassina. Perguntei-me se seria o mesmo homem do meu sonho.

— Seria apenas a minha imaginação? - pensei, quando o homem subiu na Harley Davidson e partiu em direção a Lupina Lacus. Lenny lançou-me um olhar preocupado. — O que foi? - perguntou ele. Antes que eu pudesse responder, a buzina do ônibus nos interrompeu e o motorista, que ouvia "Drive All Night" do Needtobreathe enquanto dirigia, apitou novamente para nos indicar que poderíamos entrar no veículo. — Se cuida, flor! - disse Lenny ao abraçar Mari. Ao adentrar no ônibus, olhei uma última vez para trás e fui em direção ao meu lugar no último assento ao lado da janela. À distância, assisti a Mari chorar no ombro do Lenny e aquela cena me fez quase desistir, mas então senti o ônibus em movimento e acenei uma última vez antes de ir embora. Enquanto partia, observei a cena dos dois abraçados se distanciando cada vez mais, até que não vi mais nada além da estrada que ficava para trás.

Durante o caminho, não pude evitar imaginar como seria a minha vida ao chegar a Lupina Lacus. Era a minha primeira vez saindo do orfanato e não esperava que seria fácil me adaptar a uma cidade a quilômetros de distância, na qual nunca estive na vida. De repente, minhas mãos começaram a tremer; então, lembrei-me do homem que me observava na Harley enquanto estávamos na estação de ônibus. Meu coração doía e minhas pernas tremiam toda vez que pensava nele. Enquanto refletia, várias perguntas sobre o meu misterioso passado começaram a surgir em minha mente. Então, coloquei meus fones de ouvido e adormeci ouvindo "Between Twilight", de Lindsey Stirling.

Três horas depois:

Após várias horas de viagem sentada em um banco e comendo besteiras, uma senhora de cabelos curtos e olhos castanhos escuros, que estava sentada no assento ao lado, começou a iniciar uma conversa comigo. Ela fez perguntas simples, como qual era o meu nome ou de onde eu vinha. Achei interessante a atenção que ela demonstrava por mim. Até então, os adultos com quem havia conversado só me aconselhavam e opinavam sobre como viver minha vida, como se tivessem um diploma de perfeição em suas experiências. No entanto, com aquela senhora, foi diferente; por um momento, consegui esquecer a tristeza de deixar meus amigos para trás. Isso até ela me perguntar para onde eu estava indo, demonstrando certa desconfiança. Considerando a variedade de destinos que o ônibus poderia ter, não estranhei a pergunta e respondi:

— Estou indo para Lupina Lacus. Após minha resposta, um silêncio pesado se instalou entre nós, e a senhora de cabelos curtos e olhos castanhos escuros ficou subitamente pálida, a ponto de parecer prestes a desmaiar ali mesmo no ônibus. Tentando disfarçar o nervosismo, ela me lançou um sorriso e virou-se, não pronunciando mais uma palavra durante toda a viagem.

Achando tudo muito estranho, encostei-me no banco e fiquei admirando as paisagens de árvores que passavam pela janela. Com o passar do tempo, comecei a sentir as pálpebras dos meus olhos pesarem e a visão escurecer, até que acabei adormecendo pelo resto da viagem.