Chapter 5 - Aceitação

Era um médico experiente, aparentava já estar passando dos 60 anos. Ao ver o resultado sua sobrancelha levantou. Com uma leve expressão de espanto.

"Realmente é grave… Na verdade, é um milagre ele ainda estar vivo. Pelas imagens o tumor realmente está bem grande e já se espalhou."

O casal se abraçou nesse momento e segurando o choro a esposa perguntou.

"Sério doutor? Mas há algo que podemos fazer? Algum tratamento? Sei lá! Alguma coisa?".

"Podemos tentar começar a fazer algumas quimioterapias, mas as chances são mínimas… O senhor não está sentindo nenhum desconforto?"

"Não… Eu não estou sentindo nada. Era para ser apenas um exame de rotina e… Acabo… Descobrindo isso…"

"Vou ser sincero, acredito que o máximo que podemos fazer irá ser um tratamento paliativo para você sentir o mínimo de dor nos seus últimos dias"

"Eu entendo. Realmente não tem jeito, nesse caso eu já vou indo. Me resta pouco tempo e não irei gastar em um hospital"

O professor saiu do hospital em silêncio, com passos lentos e a cabeça baixa. Sua esposa o seguiu de perto, sem saber o que dizer.

Eles caminharam até uma grande praça próxima ao hospital. Ele se sentou em um banco de madeira sob a sombra de uma árvore, cruzou as mãos no colo e começou a observar ao redor.

Os olhos dele se fixaram nos pequenos detalhes. As folhas balançando suavemente ao vento. Os raios de sol atravessando os galhos. Um pequeno inseto que pousou em sua mão.

"Não sei se já te disse isso, mas... a vida é tão bonita."

Ela se sentou ao lado, apertando a mão dele com força.

"Vamos dar um jeito nisso. Não importa o que o médico disse, nós vamos buscar uma segunda opinião. Não vamos desistir assim!"

Ele sorriu de lado, olhando para o horizonte.

"Amor, não é questão de desistir. Não há o que fazer."

"Sempre há algo a fazer! Sempre!"

A voz dela saiu embargada, quase como um grito.

Ele virou o rosto para encará-la.

"Eu só tenho três meses. Você viu os exames. A doença já tomou conta de mim."

"Então a gente procura outro médico, outro tratamento! A gente tenta até o fim!"

"E no fim, vai ser isso mesmo. Só que em um hospital, ligado a máquinas, sem dignidade."

Ela abriu a boca para responder, mas ficou em silêncio. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.

Ele estendeu a mão e enxugou suas lágrimas com delicadeza.

"Eu só quero aproveitar o tempo que tenho. Com você."

Ficaram em silêncio por alguns minutos. Ela encostou a cabeça no ombro dele, enquanto ele continuava admirando as coisas simples ao redor.

Mais tarde, quando chegaram em casa, ela finalmente tocou no assunto que vinha remoendo.

"Aquela data... 22 de janeiro. Por que você sabe exatamente o dia?"

Ele hesitou, caminhou até a cozinha e pegou um copo d'água, tentando mudar de assunto.

"Não vamos falar sobre isso agora."

"Não. Eu quero saber. O que está acontecendo?"

Ele colocou o copo na pia e respirou fundo.

"No hospital... apareceu um homem. Ele disse que veio do futuro."

"O quê?"

"Deixou isso aqui."

Ele apontou para o envelope sobre a mesa.

"Disse que sou importante para o futuro da humanidade."

Ela se aproximou devagar, olhando o envelope com desconfiança.

"E você acreditou nele?"

"Não sei. Mas ele sabia coisas. Sabia sobre a doença, sabia sobre mim. E ele escreveu essa data... a data da minha morte. E pediu que eu ligasse para ele. Ele conseguiria tempo para mim."

Ela pegou o envelope, sem abrir. Seus olhos se encheram de dúvidas e medo.

"E o que ele quer de você?"

"Não sei. Disse que tenho uma missão. Mas, sinceramente, não sei se acredito ou se estou ficando louco."

Ela apertou o envelope contra o peito, como se tentasse protegê-lo de alguma coisa.

"Não importa o que esse homem disse. Você ainda está aqui comigo. E eu não vou te deixar desistir."

Ele sorriu, cansado, e passou a mão no rosto dela.

"Eu sei."

A noite foi silenciosa. Eles mal falaram depois de jantar, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

Ele acordou cedo no dia seguinte, ainda com o peso das palavras trocadas no dia anterior. Quando virou-se, encontrou sua esposa já acordada, olhando fixamente para ele.

"Ligue para ele."

Ele piscou, confuso, como se não tivesse ouvido direito.

"O quê?"

"Ligue para ele. Para o homem que deixou o envelope. Eu quero saber o que ele tem a dizer."

"Você não acha que é loucura? E se for só um maluco? Eu não sei se quero me envolver mais nisso."

Ela cruzou os braços, o olhar decidido.

"Pode ser. Mas quero ouvir o que ele tem a dizer. E deixe no viva-voz."

Ele suspirou, pegou o envelope sobre a mesa e encarou o número. As mãos tremiam levemente enquanto digitava no celular.

O telefone tocou algumas vezes antes de ser atendido.

"Professor! Finalmente decidiu ligar. Fico feliz que tenha mudado de ideia."

"Não tome isso como um acordo. Quero entender o que você quer comigo."

"Entendo. É um assunto... delicado. Preciso falar com você pessoalmente. O que tenho a dizer não pode ser discutido pelo telefone."

Ele olhou para sua esposa, que imediatamente fez um sinal de negativo, balançando a cabeça com firmeza.

"Não sei se estou disposto a ir até você."

"Professor, confie em mim. Isso é maior do que você imagina. Precisa ouvir o que tenho a dizer. Pessoalmente."

Ela apertou os lábios, frustrada, e gesticulou novamente, mas ele sabia que o estranho não desistiria.

"Está bem. Onde e quando?"

"Perfeito! Vou mandar a localização agora. Será seguro e discreto. Não se preocupe."

Ele desligou o telefone e olhou para sua esposa, que cruzou os braços, visivelmente irritada.

"Eu não gostei disso."

"Nem eu. Mas ele foi insistente, e eu preciso entender o que está acontecendo."

"Você não vai sozinho."

"Ele não disse que seria perigoso."

"Eu não me importo. Eu vou com você."

"Amor, não sei se..."

"Eu disse que vou, e ponto."

Ela se levantou e saiu da sala, encerrando a discussão. Ele suspirou, sentindo o peso daquela decisão.

Horas depois, quando o estranho enviou a localização, o clima na casa já estava carregado de tensão. Era um café afastado, no centro da cidade. O sol começava a se pôr quando os dois saíram de casa, o silêncio preenchendo o carro.

Enquanto dirigiam, ele lançou um olhar preocupado para a esposa.

"Tem certeza de que quer ir comigo?"

"Mais do que nunca. Não vou te deixar enfrentar isso sozinho."

Ele assentiu, mas a tensão aumentava a cada quilômetro. O ar parecia mais denso, e cada esquina que dobravam parecia trazer algo inesperado.

Quando chegaram ao café, ele desligou o motor, respirou fundo e olhou para ela.

"Última chance de desistir."

"Nem pense nisso. Vamos."

Ela segurou firme a mão dele, e juntos entraram no local.

O estranho já estava lá, sentado em um canto discreto, mexendo em algo sobre a mesa. Ao vê-los, levantou-se com um sorriso confiante.