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Chapter 3 - Teoria da conspiração?

Ambos pararam e viram-se na direção do som. A figura que se aproxima é, no mínimo, peculiar. Pequena e magra como um galho seco, a pessoa tem uma pele bronzeada e cheia de marcas. Várias partes do corpo brilham com metal exposto: uma mão substituída por pinças robóticas, placas de proteção no tórax, e um pescoço com fios visíveis que piscam como microcircuitos defeituosos. Mas o mais hipnotizante é o olho esquerdo. Ele se estende e contrai como a lente de uma câmera fotográfica, ajustando o foco enquanto percorre o corredor com movimentos rápidos e inquietos.

Eu sabia que não era só uma teoria da conspiração! Eles achavam que podiam esconder isso para sempre, mas agora tá na cara! — A voz sobe e desce de tom, como se a excitação fosse impossível de conter.

Marte-1549 se aproxima, os olhos apertados em curiosidade.

— Ei! Do que você tá falando? O que você sabia?

A figura para, inclinando-se para frente como se estudasse Marte-1549 com o olho mecânico. A lente se ajusta novamente, fazendo um clique seco, antes que ele responda.

— Você não vê? A X Company, a Union Orbital, todas essas corporações! — Ele balança os braços magros, os gestos exagerados. — Eles já sabem disso há décadas! A Esfera de Dyson, as civilizações Tipo II... Eles já estavam em contato!

— Em contato? — Marte-1549 cruza os braços, cético, mas a curiosidade brilha em seu rosto. — E o que faz você pensar isso?

O estranho dá uma risada curta, mais um engasgo do que qualquer outra coisa.

— Você acha que eles só encontraram isso agora? — Ele aponta dramaticamente para o teto da estação, como se lá fora, no espaço, estivesse a resposta. — Desde as primeiras colônias em Marte, sinais estranhos foram interceptados. Pulsos de energia, estruturas impossíveis de serem naturais. Civilizações antigas em Marte talvez… Mas eles apagaram os dados, esconderam as evidências! Sempre disseram que era pareidolia, interferência ou falha nos sistemas. Mas era mais do que isso. Era comunicação.

Marte-1549 troca um olhar com Moisés, que dá de ombros, claramente desconfiado.

— Tá bom, e por que você acha que agora resolveram contar? — pergunta Marte-1549, voltando a encarar o estranho.

O olho mecânico dele se ajusta novamente, focalizando direto no rosto de Marte-1549.

— Porque eles perderam o controle. — A voz dele baixa, quase um sussurro. — Talvez os outros tenham decidido que era hora. Talvez tenha sido uma ameaça, ou um acordo. Mas uma coisa é certa: se anunciaram isso, é porque estão desesperados.

Moisés finalmente intervém, o tom seco.

— Tá bom, cara. E quem são os "outros"? Quem tá por trás dessa Esfera de Dyson?

O estranho sorri, mostrando dentes amarelados, alguns deles substituídos por implantes brilhantes.

— Não faço ideia, — responde, com uma expressão que mistura loucura e certeza. — Mas eles são antigos. Mais antigos do que qualquer coisa que conseguimos imaginar. Talvez eles só estejam nos observando... ou talvez já estejam entre nós.

O silêncio que se segue é denso, e Marte-1549 sente um arrepio subindo pela espinha.

— Ei, e como você sabe tanto disso? — Moisés pergunta, o ceticismo é cada vez mais evidente.

O estranho dá mais um de seus risos engasgados.

— Trabalhei nos satélites de monitoramento da X Company. Há anos. Vi coisas... coisas que me fizeram querer arrancar meus próprios olhos. — Ele bate na lente mecânica. — Infelizmente, só consegui substituir um.

Ele dá um passo para trás, com o olhar frenético, e começa a se afastar, mas não sem antes lançar uma última advertência.

— Eles sabem que vocês vão querer respostas. Mas cuidado. Às vezes, é melhor não saber o que tem no escuro...

E, com isso, desaparece na multidão do corredor, os gritos ecoando enquanto ele some de vista.

Marte-1549 permanece parado, as palavras do estranho girando na mente como uma tempestade.

— O que acha disso? — ele pergunta a Moisés, sem tirar os olhos do corredor vazio.

Moisés olhou para o corredor vazio onde o estranho havia desaparecido e depois para Marte-1549, um sorriso torto se formando em seu rosto, respira fundo e coloca uma mão no ombro do amigo..

— Acho que você não deveria sair falando com malucos por aí. Ele deve ter bebido mais da conta.

Marte-1549 deu uma risada curta, mas continuava pensativo. Sem dizer mais nada, os dois caminharam em direção a saída, o silêncio entre eles carregado com o peso das revelações da noite.