AVISOS:
* Conteúdo Sensível: Este livro aborda o tema da depressão, que pode desencadear emoções intensas e reações individuais.
* Realismo: A história apresenta uma representação realista da depressão, incluindo seus sintomas e desafios.
* Busca por Ajuda: Se você ou alguém que você conhece estiver passando por dificuldades relacionadas à saúde mental, procure ajuda profissional.
* Recomendação: A leitura deste livro é recomendada para adolescentes e adultos. Acompanhamento de um adulto pode ser benéfico para leitores mais jovens.
* Gatilhos: O livro pode conter gatilhos emocionais, como sentimentos de tristeza, solidão e desesperança.
* Informação: Este livro não substitui o acompanhamento médico ou psicológico.
Este livro aborda temas sensíveis relacionados à saúde mental, incluindo depressão e desaparecimento. Algumas cenas podem ser emocionalmente intensas e podem não ser adequadas para todos os leitores. Se você ou alguém que você conhece está passando por dificuldades emocionais, considere procurar ajuda profissional. A história busca aumentar a conscientização sobre a importância de levar a sério os problemas de saúde mental e oferecer apoio a quem precisa.
CAPÍTULO 1.
Ela sumiu. Simplesmente se evaporou no ar, como uma gota d'água em um dia de sol. Não deixou rastro, não deixou nada além de um vazio imenso em meu peito. A cada palavra, sentia a angústia crescer dentro de mim, como uma sombra que se alongava a cada segundo. A vida, antes colorida e vibrante, havia se transformado em um monótono preto e branco. Tentei preencher o silêncio com lembranças, mas elas me afogavam em um mar de "e se". E se eu tivesse percebido os sinais? E se eu tivesse dito algo diferente? E se...
A culpa me corroía por dentro. Era como se eu estivesse afogando em um rio de "e se", cada um mais profundo e mais escuro que o anterior. A ansiedade me consumia, a cada ruído, a cada sombra, eu via o rosto dela, suplicando por ajuda. A depressão, antes uma sombra distante, agora era uma presença constante, me puxando para baixo, para um lugar escuro e sem esperança.
A cada dia que passava, a esperança minguava. A polícia investigava, mas não havia pistas. Os amigos e familiares se reuniam, mas as conversas eram curtas e desconfortáveis. Todos estávamos perdidos, à deriva em um mar de incertezas. E eu, a melhor amiga, a confidente, a que conhecia todos os seus medos e sonhos, me sentia completamente impotente. A ausência dela era um fardo insuportável, uma ferida aberta que nunca cicatrizava.
__Você se culpa pelo desaparecimento da sua amiga. Fica martelando sua cabeça com algo que não poderia ter evitado, disse Flávia, a psicóloga e psiquiatra. -Eu sei, é estranho falar dos seus problemas com um estranho, mas meus pais acharam que eu já estava no meu limite. Depois do desaparecimento da Sara, desenvolvi ansiedade, culpa, insônia e ataques de pânico. __E se eu pudesse ter evitado? Ela deu vários sinais, mas fechamos os olhos e a ignoramos. falei, revirando os olhos.
Flávia assentiu, compreensiva. __É natural sentir-se assim, mas você precisa entender que a depressão é uma doença complexa. Não é algo que você poderia ter resolvido sozinha.
Eu suspirei, sentindo o peso das palavras dela. __Mas e se eu tivesse prestado mais atenção? E se eu tivesse falado com ela sobre o que estava acontecendo?
__Esses 'e se' são cruéis, Flávia respondeu suavemente. Eles alimentam a ansiedade e a culpa. O que você acha de me contar tudo desde o início? disse Flávia, que parecia me ler com os olhos.
Balancei a cabeça, hesitante. __Não sei se quero reviver tudo de novo.
Flávia, compreensiva, disse: __Você não acha que quanto mais finge que nada aconteceu, pior é para você?
Fiquei pensativa. Por um lado, ela tinha razão. Eu estava com tanto medo de relembrar aqueles dias terríveis que apenas tentava ignorar, fingindo que nada havia acontecido. Mas, talvez, falar sobre isso pudesse me ajudar a entender melhor meus sentimentos e a lidar com a culpa e a ansiedade que me consumiam.
__Está bem, eu disse finalmente, respirando fundo. Vou tentar.
Flávia sorriu encorajadora. __Estou aqui para ouvir. Comece do início, no seu próprio ritmo.
Fechei os olhos por um momento, tentando organizar meus pensamentos. As lembranças começaram a surgir, uma após a outra, como cenas de um filme doloroso.
- 5 de outubro de 2024
Estávamos na sala de estar, se arrumando para a minha festa de aniversário. A sala estava decorada com balões e faixas coloridas, e a mesa estava cheia de petiscos e bebidas. Eu estava animada, experimentando diferentes acessórios e perguntando a opinião da Sara.
__Qual você acha que fica melhor? perguntei, segurando dois colares na frente do espelho.
Sara sorriu, mas eu percebi que ela não estava tão animada quanto de costume. __Ambos ficam ótimos em você, Júlia. Você sempre sabe como arrasar.
Algo na voz dela me deixou preocupada. Ela parecia distante, como se estivesse com a cabeça em outro lugar. __Você está bem? Parece meio distante hoje.
Ela suspirou, tentando esconder algo. __Estou bem, só um pouco cansada, acho.
Franzi a testa, mas decidi não insistir. Afinal hoje era o meu dia. __Tudo bem, mas se precisar de algo, estou aqui, ok?
Ela assentiu, forçando um sorriso. __Claro, obrigada.
Logo os convidados começaram a chegar e a casa se encheu de animação. Saí e deixei Sara na sala de estar, indo cumprimentar Paula e Patrícia, que como sempre, viviam brigando por qualquer coisa.
__Meninas, eu disse, vocês estão lindas.
__Hoje a noite é sua, então é claro que você é a mais linda da festa, respondeu Paula. Ela tinha uma personalidade forte e era bastante sincera em suas palavras, então eu nunca ousava duvidar dela.
__Obrigada, respondi.
__A festa está incrível. Convidou todos da escola, né?
Patrícia, com seu jeito ingênuo, estava sempre à procura de alguém especial. Paula a interrompeu com sarcasmo: __Querida irmã, se em toda festa você ficar à procura daquele sem noção, eu vou te deixar sozinha, hein.
Eu ri. Patrícia era ingênua em muitas coisas, e isso, por um lado, me encantava. Eu gostaria de ter metade da ingenuidade dela.
Claro, vou reescrever a cena do ponto de vista da Júlia, descrevendo cada detalhe e emoção, incluindo as reações dos convidados.
A festa estava a todo vapor. A música alta, as risadas e as conversas enchiam a casa. Eu estava me sentindo leve, talvez um pouco demais, com o álcool correndo pelas minhas veias. Beijava qualquer um que aparecesse à minha frente, sem me importar com as consequências. Era minha festa, afinal.
De repente, senti uma mão no meu braço. Era Sara, com aquele olhar preocupado que ela sempre tinha.
__ Júlia, você já bebeu demais. Vamos dar um tempo, ok? disse ela, tentando me puxar para longe da confusão.
Revirei os olhos e me soltei. __Ah, relaxa, Sara! É minha festa, eu faço o que eu quiser! respondi, rindo.
Ela não desistiu. __Eu sei, mas você não está bem. Vamos sentar um pouco.
A irritação começou a crescer dentro de mim. Por que ela não podia simplesmente deixar eu me divertir? __Deixa de ser chata, será que você não pode se divertir um pouco? Por que sempre quer acabar com a diversão das pessoas?
Sara gaguejou, visivelmente desconfortável. __Não é isso, Júlia. Só acho que você está bebendo demais.
__ Será mesmo? Ou será que você não gosta de ver as pessoas felizes? Isso ainda é pelo que aconteceu no passado? Supera isso já está na hora. Agora, se você não é capaz de se divertir um pouco, deveria ir embora, respondi, com a voz carregada de frustração e álcool.
O silêncio tomou conta da sala. Todos os olhares estavam voltados para nós. Vi a expressão de choque e dor no rosto de Sara, e por um momento, me arrependi. Mas o álcool e a frustração falaram mais alto.
Os convidados estavam em silêncio, alguns olhando para mim com desaprovação, outros para Sara com pena. Vi Paula e Patrícia no canto, com expressões de surpresa e preocupação. A festa, que antes estava cheia de vida, agora parecia um cenário de tensão e desconforto.
Sara saiu correndo, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Fiquei parada, observando-a partir, sentindo uma mistura de confusão e arrependimento. Sabia que tinha ido longe demais, mas não conseguia controlar meus sentimentos. O álcool e a dor interna me impediam de agir de forma racional.
A festa continuou, mas o clima havia mudado. As risadas eram mais baixas, as conversas mais sussurradas. Eu me sentia perdida, tentando entender por que tinha dito aquelas coisas horríveis. Queria correr atrás de Sara, pedir desculpas, mas minhas pernas não se moviam. Fiquei ali, parada, sentindo o peso das minhas palavras e das consequências que elas trariam.
De volta ao presente: 31 de outubro de 2024
Estava sentada na sala de terapia, com o olhar baixo. __Ainda acha que não tenho culpa? Eu briguei com a minha melhor amiga um dia antes do desaparecimento dela, depois de ter falado aquelas palavras cruéis.
Flávia me olhou com empatia. __Júlia, você estava sob muita pressão e influenciada pelo álcool. As palavras que disse foram dolorosas, mas isso não significa que você seja responsável pelo desaparecimento dela. Precisamos trabalhar esses sentimentos de culpa e encontrar maneiras de lidar com eles.
Júlia suspirou, sentindo o peso das palavras de Flávia. __Eu sei, mas é difícil não me culpar. Eu só queria poder voltar no tempo e fazer tudo diferente.
Flávia assentiu. __ Entendo. Vamos trabalhar juntas para que você possa encontrar um pouco de paz e, eventualmente, perdoar a si mesma.