As horas seguintes foram marcadas por um silêncio denso entre Victor e Ragnar. Eles avançavam pela floresta, agora em um ritmo mais cauteloso, como se soubessem que o terreno estava prestes a se tornar ainda mais traiçoeiro. As árvores altas e as folhas densas bloqueavam a maior parte da luz, deixando o caminho ainda mais sombrio. O peso da vitória contra a serpente já começava a se dissipar, substituído por uma sensação crescente de desconfiança.
Victor não podia deixar de sentir que algo estava errado. O comportamento de Ragnar, embora ainda calmo e confiante, tinha mudado de alguma forma. Ele não havia falado muito desde a luta, e sua postura estava mais rígida, como se estivesse esperando algo. Ragnar parecia mais atento aos sons da floresta, suas mãos constantemente perto das armas, como se estivesse se preparando para um ataque iminente.
Por outro lado, Victor, com sua habilidade de manipulação gravitacional, se sentia em um limbo, incerto sobre até onde poderia confiar em suas próprias habilidades. Ele sabia que a luta contra a serpente fora uma vitória improvável, mas a insegurança estava tomando conta dele. Mesmo com sua mente ágil e sua capacidade de pensar rapidamente, ele não podia deixar de sentir que sua posição era frágil.
"Você está pensando em algo", Ragnar disse de repente, quebrando o silêncio, mas sem olhar diretamente para Victor. "Eu posso sentir o peso de suas dúvidas no ar. Isso pode ser fatal na floresta."
Victor respirou fundo, tentando esconder qualquer sinal de incerteza. Ele havia aprendido, nas várias lutas que já enfrentara, que mostrar fraqueza era um erro fatal. "Eu estou apenas... observando", respondeu ele, mantendo sua voz firme. "A floresta não parece estar acabando. Estamos indo para algum lugar?"
Ragnar parou por um momento, analisando a pergunta. Ele olhou para o horizonte, onde as árvores se aglomeravam ainda mais densamente. "Estamos indo para o coração da floresta. Lá, as coisas começam a se esclarecer. Ou morremos tentando", respondeu com uma rispidez que fez Victor sentir um calafrio na espinha.
A tensão entre os dois homens continuou a crescer à medida que avançavam, e Victor sentia o peso de sua habilidade sobre ele, sabendo que, embora fosse um trunfo, não lhe garantiria a vitória em todas as situações. Ragnar parecia ter uma confiança imbatível, mas Victor não podia ignorar o fato de que ele ainda não sabia nada sobre os reais motivos do caçador. O que Ragnar estava realmente buscando? Havia algo mais por trás dessa jornada, algo que não estava sendo dito?
À medida que avançavam mais profundamente na floresta, a sensação de estarem sendo observados voltou a assombrar Victor. Ele olhou para trás, mas não havia sinal de mais serpentes ou criaturas. No entanto, havia algo inquietante no ar. Um pressentimento crescente de que o que estava à frente poderia ser ainda mais perigoso do que qualquer inimigo imediato.
"Você está quieto demais", disse Ragnar repentinamente, com um tom mais frio agora. "Sabe, confio em poucos, mas você tem algo em você, Victor. Algo que me intriga. Mas o que me preocupa é o que você pode fazer com essa habilidade."
Victor sentiu um arrepio na nuca. "Eu já disse, não sou um monstro", respondeu rapidamente, sem saber se estava se defendendo a si mesmo ou a Ragnar. "Eu só quero sobreviver."
Ragnar riu sem humor. "Sobreviver... essa é a palavra de um homem que ainda não viu o pior. Se você confiar apenas em sua habilidade, você vai se perder. O problema não é enfrentar monstros. O problema é o que você fará quando descobrir que não pode mais confiar nem mesmo em si mesmo."
Victor não tinha resposta. Ragnar parecia ver através dele, como se o conhecesse de alguma forma que ele mesmo não compreendia. Mas, ao mesmo tempo, o que Ragnar dizia não fazia sentido. Victor tinha se perdido antes, mas agora, ele sabia que sua habilidade era a chave para a sua sobrevivência. Não podia abrir mão disso, não podia confiar apenas no instinto de um caçador como Ragnar.
Quando o céu começou a escurecer e a neblina se tornava mais espessa, Victor sentiu que algo se aproximava. O ar estava pesado, a pressão da floresta mais densa do que nunca. Ele parou por um momento, sentindo as ondas de gravidade ao seu redor. Algo estava prestes a acontecer.
"Vamos logo, não fique para trás", Ragnar disse, sua voz agora séria e sem paciência. "A noite traz mais do que sombras, Victor."
Sem mais palavras, eles avançaram até que, de repente, a neblina se dissipou ligeiramente, revelando uma clareira. No centro da clareira, uma enorme árvore antiga se erguia, com raízes grossas que se entrelaçavam pelo chão, criando uma rede natural de obstáculos. O som do vento sibilando entre as folhas parecia mais forte aqui, quase como se a floresta estivesse falando.
Foi então que Victor percebeu. Não era apenas a floresta que estava em movimento. Havia algo mais, uma presença. Algo... vivo, que não era humano, mas também não era animal.
"Eu sabia que isso ia acontecer", Ragnar disse, parando ao lado de Victor. Seu tom agora estava mais sombrio. "Aqui é onde a verdade se revela. E onde a confiança é posta à prova."
De repente, um som profundo, quase como um rugido distante, ecoou pela clareira. As árvores ao redor começaram a balançar violentamente, como se uma força invisível estivesse se aproximando. Ragnar olhou para Victor, seus olhos agora frios e calculistas.
"Você está pronto para o que vem a seguir?" Ragnar perguntou, uma pergunta simples, mas com uma carga de significado que fez o coração de Victor disparar. "Ou vai começar a duvidar mais uma vez?"
Victor sentiu um calafrio percorre-lo. Ele sabia que o jogo estava prestes a mudar. E, como Ragnar sugerira, a confiança, agora mais do que nunca, seria o maior obstáculo que ele teria que superar.