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Chapter 2 - Capítulo 2: O Despertar da Alma

Miguel não consegue dormir naquela noite. A imagem da figura sombria, que desapareceu como se nunca tivesse existido, ainda paira em sua mente. Ele se revira na cama, a sensação de desconforto crescendo a cada segundo. A luz da lua entra pela janela do seu quarto, iluminando a parede oposta com um brilho frio e pálido. O silêncio da noite é interrompido apenas pelo som distante do vento, que faz as janelas tremerem suavemente. Mas, mesmo assim, a sensação de estar sendo observado persiste. Ele se levanta abruptamente e caminha até a janela, olhando para a rua lá embaixo.

A rua está vazia. Mas algo parece fora de lugar. Ele sente um aperto no peito, uma sensação crescente de que algo está prestes a acontecer. Miguel fecha os olhos e respira profundamente, tentando afastar os pensamentos desconcertantes. "Não é nada", ele diz para si mesmo, mas a voz em sua mente não é tão convincente quanto gostaria. Ele já teve essas sensações antes, mas nunca com tanta intensidade. Nunca com essa urgência.

Ele se afasta da janela e se senta na beira da cama, passando as mãos pelo rosto. A mente dele está cheia de pensamentos desconexos. O acidente, as visões, o sentimento de que está sendo puxado para algo que ele não pode controlar. O vazio deixado pelos seus pais nunca se dissipou completamente, mas, nos últimos meses, tem se tornado mais pesado, como se o próprio ar ao seu redor estivesse se tornando mais denso. Não é mais apenas tristeza, mas uma sensação de que algo está prestes a ser revelado, algo que Miguel não está pronto para entender.

O relógio na parede marca quase 3 da manhã, e Miguel sabe que precisa dormir. Ele se deita de novo, mas ao fechar os olhos, uma sensação de tensão toma conta dele. Ele não está mais sozinho. Algo está ali, algo invisível, algo que está começando a se manifestar. A cada respiração, ele sente a presença se aproximando, como se uma força invisível estivesse se esticando lentamente para tocá-lo. Ele tenta ignorar, mas a sensação se intensifica, até que, finalmente, ele não pode mais negar.

Então, algo acontece.

Ele sente uma pressão crescente no centro de seu peito, como se sua alma estivesse sendo comprimida. Ele se levanta, tenso, ofegante, e sente o ar ao seu redor se tornando pesado, quase insuportável. O quarto parece encolher em torno dele, as sombras nas paredes começam a se mover de maneira estranha. Ele tenta dar um passo para trás, mas suas pernas não respondem. O medo começa a tomar conta de sua mente, e a voz que ele tem tentado ignorar há tanto tempo começa a falar. Ela é suave, mas firme, como se estivesse dentro de sua cabeça e, ao mesmo tempo, ao seu redor.

"Você me invocou", a voz sussurra. "Agora não há mais volta."

Miguel balança a cabeça, tentando se livrar da sensação, mas o ar parece pesado demais para respirar. Ele sente como se estivesse afundando. A pressão no seu peito aumenta, e sua visão começa a embaçar. Mas, então, algo estranho acontece. Ele sente uma onda de poder, uma sensação que nunca experimentou antes. Uma força se desperta dentro de seu ser, e com ela vem um novo entendimento, uma clareza que ele nunca teve. Ele vê, pela primeira vez, o reflexo de sua Alma Oculta.

A imagem que ele vê não é a de um ser etéreo, mas de um homem. Um homem mais velho, com os olhos de Miguel, mas de uma intensidade fria e calculista. Seu cabelo é mais longo, sua postura mais imponente. Ele veste um terno escuro, e sua expressão é vazia de emoções. Ele é Miguel, mas não é Miguel. Ele é a versão que Miguel teme se tornar, a personificação de seus maiores desejos e medos. A versão mais cruel e calculista de si mesmo.

O homem sorri para ele, e a visão se intensifica, se tornando mais vívida, mais real. A pressão no peito de Miguel diminui, mas o vazio que se forma em seu estômago aumenta, e ele sente um calafrio percorrer sua espinha.

"Eu sou você", a voz diz de novo, mais forte agora. "E você me precisa. Eu sou a sua força. O poder que você sempre desejou, mas nunca teve coragem de buscar."

Miguel olha para a figura à sua frente, ainda sem acreditar no que está vendo. Sua mente está em caos, uma batalha interna entre a dúvida e o desejo. Ele sente como se estivesse sendo puxado para uma realidade que ele não pode controlar. Algo dentro dele, algo profundo, quer ceder à força dessa entidade, quer se entregar a esse poder. Mas ele sabe, no fundo, que não pode fazer isso. Não pode se permitir ser consumido pela escuridão que essa figura representa.

Ele respira fundo, tentando se recompor. O homem à sua frente se mantém em silêncio, observando-o com um olhar de quem já sabe o que está por vir. Miguel dá um passo para trás, sentindo o peso da decisão que está prestes a tomar. Ele não pode deixar essa Alma Oculta dominá-lo, mas também sabe que a luta interna que está travando pode ser mais difícil do que imagina.

De repente, uma onda de dor atravessa seu corpo, e ele cai de joelhos, a pressão de sua Alma Oculta aumentando de forma insuportável. Ele grita, mas a dor não cessa. É como se sua própria essência estivesse sendo retorcida, forçada a ceder à vontade dessa entidade. Ele sente uma presença crescente em sua mente, como se algo estivesse se instalando dentro dele, tomando forma, controlando seus pensamentos.

"E você vai me usar", a voz diz, agora cheia de certeza. "Vai me chamar sempre que precisar, e eu farei o que você não pode fazer. Juntos, seremos imbatíveis."

Miguel tenta lutar contra isso, mas seus músculos parecem paralisados. Ele está completamente à mercê dessa força, e a única coisa que ele consegue fazer é resistir, se agarrando à última fração de sua própria identidade. Ele sabe que não pode perder o controle, mas não sabe por quanto tempo conseguirá resistir.

Ele fecha os olhos, tentando se concentrar, se lembrar de quem ele é. Não pode deixar a dor e a escuridão tomarem conta dele. Não pode permitir que a versão mais cruel de si mesmo tome o lugar do Miguel que ainda busca algo melhor, que ainda acredita em uma vida diferente.

A dor diminui lentamente, e a figura desaparece, mas a sensação de que algo se despertou dentro dele permanece. Ele se ergue com dificuldade, ainda sentindo a presença daquela força dentro de si, aguardando pacientemente por seu próximo movimento.

O que acaba de acontecer não é algo que ele pode entender completamente, mas ele sabe, no fundo, que sua vida nunca mais será a mesma. Ele tem uma nova arma agora, algo poderoso, mas perigoso. Algo que pode ser a chave para alcançar tudo o que ele deseja, ou o precipício que o levará à destruição. A linha entre os dois nunca foi tão fina.

Miguel olha pela janela, para as ruas que ele conhece tão bem, e sente um impulso crescente dentro de si. Algo está prestes a mudar. Ele não pode mais ignorar sua Alma Oculta. E agora, mais do que nunca, ele precisa aprender a controlá-la, antes que ela o controle.