" Existe uma diferença entre sobreviver e viver. E eu não quero nenhuma delas. Só quero a vingança!" - Rael Lin'Redwood
________________________________________________________________________10 Anos atrásLins, uma pequena cidade do país de Milian. Conhecida como a Cidade da Neve Eterna, o local onde a neve nunca para de cair, característica esta herdada graças a uma antiga maldição.Dois seres brincavam em balanço, preso em uma velha árvore nos fundos de uma grande casa. Um adulto e uma criança, ambos se divertiam enquanto flocos de neve caíam sobre eles._ Papai! Empurra mais forte papai! - Dizia o pequeno aos risos, mostrando o quanto estava feliz naquele momento._ Mais forte é? Então segurar firme filhote e não fica com medo hein! - Falou o mais o velho colocando um pouco mais de força ao empurrar o filho, demonstrando alegria pelo momento compartilhado entre eles._ Que cena mais linda! Os meus dois príncipes brincando juntos, infelizmente eu vou ter que interromper. Está na hora de vocês entrarem, o jantar já está pronto. - Uma suave voz vinda de uma porta que dava acesso ao local disse, para a tristeza do pequenino que ainda queria continuar brincando com o pai._ Não mamãe. Só mais um pouquinho, por favor? Deixa vai? - Implorou o garotinho evidentemente querendo aproveitar mais do momento de diversão._ Vamos Rael, obedeça a sua mãe. - disse o pai para a criança, retirando-a do brinquedo e a levando para dentro do recinto. _ Você não quer que amanhã chegue logo, então quanto mais rápido você dormir mais rápido o seu aniversário irá chegar. - disse por fim, sabendo que após ouvir essas palavras o menino mudaria logo de ideia._ É mesmo papai, amanhã é o meu aniversário. Será que todo o mundo vai vir? - perguntou de forma animada._ Bom todo mundo eu não sei, mas tenho a certeza deque uma certa garotinha irá comparecer. Não seria por isso que você está tão ansioso?! - Finalizou o pai do garoto, observando atentamente qual será areação do filho ao escutar essa informação._ Pai será que a Akemi vai vir mesmo? Ela mora tão longe. Se ela não vir eu não quero festa.- Argumentou o jovenzinho expondo justamente aquilo que o maior já premeditava._ Filho - ajoelhando na neve que forrava o solo, segurou de maneira suave os ombros de sua cria. _ Você gosta muito dela não, é?_ Gosto papai. Ela a minha melhor amiga do mundo inteiro. - Disse o menino com muita alegria ao pensar na amiga que em breve estaria por perto._ É, tenho certeza disso. - Pronunciou demonstrando um leve sorriso em sua face, retornando a caminhada ao lado de seu herdeiro._ Papai amanhã poderia parar de nevar. - Falou inocentemente a criança._ Por que você quer isso meu filho? - Perguntou estranhando o que acabara de ouvir._ Eu só queria poder aproveitar meu aniversário sem neve, poder brincar muito. - Informou o pequeno._ É quem sabe. - Falou pensativo, mais precisamente, disse para si mesmo do que para a criança.Continuaram a caminhada em direção ao interior da residência, o adulto se divertia com a expectativa gerada pelo menor em torno do esperado dia, até serem surpreendidos ao perceberem que a neve que antes caía de forma abundante, agora cessara._ Olha papai! Olha papai! - Falou agitadamente o pequeno Rael. _ A neve parou de cair, papai!- O garotinho soltou a mão do pai e sai em disparada em direção a sua mãe que continuava em pé esperando por eles.Ao contrário de sua cria, o pai de Rael não esboçava a mesma alegria e entusiasmo que o filho. Em seu rosto, era visível a tensão e preocupação pelo inesperado e raro acontecimento. Seguindo o mesmo caminho que o pequeno trilhou, em sua mente só havia uma única pergunta: Quais seriam as consequências da neve ter parado de cair? E logicamente, pensava nas possíveis respostas, e ao seu ver nenhuma das hipóteses eram boas. Focado exclusivamente nessas questões o adulto não percebeu que já estava em frente à sua esposa e que seu filho já entrará dentro da casa._ Querido? A neve! Será que isso quer dizer aquilo que estou pensando? - falou a mulher esboçando preocupação com o atípico acontecimento._ Não sei meu amor. Espero que sejam boas notícias, mesmo crendo que não serão. Amara não precisa me esperar para o jantar, vou me reunir com o conselho para discutirmos o que faremos para nos preparar para o pior. - Falou logo se aproximando depositando um leve beijo nos lábios de sua esposa. _ Até._ Até querido. - Se despediu a mulher tendo a certeza de que o esposo encontraria a melhor solução possível para o problema.Assim como haviam combinado os dois adultos se dirigiram para as suas respectivas tarefas. Amara ficou cuidando do pequeno Rael, que não conseguia controlar sua imensa ansiedade pelo aniversário, que segundo ele seria o melhor, pois um dos seus desejos já se realizara. Hector estava nesse momento frente ao conselho para discutirem a respeito do fenômeno, e após uma longa, tensa e acalorada reunião chegaram em um consenso que satisfizera a todos.Cansados de seus afazeres ambos só pensavam em uma única coisa: descanso. E foi justamente isso que fizeram ao se encontrarem novamente tarde da noite. Trocaram informações sobre como foram em suas respectivas tarefas e logo se deitaram, sabendo que o sono não chegaria para os levar para o mundo dos sonhos, isso porque, tiveram as suas mentes povoadas por inúmeras perguntas, a maioria sem a resposta desejada.Uma madrugada silenciosa, era o que esperava naquela cidade, onde uma grande parte da população dormia, o sono dos inocentes era apreciado por aqueles que não tinham pecados, que ansiavam pelo novo dia, alheios ao que significava a neve parar de cair, porém não foi o que aconteceu.Barulhos, explosões e gritos marcavam aquela madrugada, que logo seria conhecida como a Noite da Neve Vermelha, nome esse dado por causa da neve que retornou a cair, porém ao contrário da coloração alva, esta era de um vermelho vivo, oriundo do sangue das vítimas do massacre.Em uma das casas da cidade, os pais de Rael, já acordados, preparavam tudo para a fuga segura para a família._ Rápido Amara. Não podemos demorar muito, pega só o que é necessário. - disse de forma desesperada Hector, mesmo que a intenção fosse passar segurança para a esposa._ Eu sei disso, Hector. Não estou preocupada com o que vamos levar, minha preocupação é com a segurança do meu filho. - Respondeu enquanto pegava algumas roupas dentro armário e jogava dentro de uma mala que estava sob a cama do casal. _ Você ouviu isso? É o Rael! É o meu filho! Eu vou lá ver o que ele quer. - Desesperou Amara, ao ouvir um grito de medo do seu filho e o chamando por eles._ Não Amara! Você fica aqui termina de pegar as coisas e me espera no quarto, deixa que eu vou ver o que está acontecendo no quarto do Rael. - Terminando de falar saiu em disparada em direção ao quarto do filho sem dá a chance de réplica à esposa.Ao chegar no quarto do menor, Hector o encontrou deitado embaixo sua cama e com o rosto protegido, em sua tentativa de esconder do que acontecia do lado de fora da residência. Da janela do quarto era possível ver o que acontecia na cidade: explosões, tiros, perseguições e mortes. Os barulhos de tiros, gritos e explosões, terminavam de compor aquela devastadora cena. Não era de se admirar o porquê de o garoto estar tão apavorado a ponto de se esconder, esperando ser resgatado pelos pais._ Papai! - Gritou o garoto ao perceber que o pai estava parado na porta do quarto.O grito de Rael foi o suficiente para retirar o pai do momento espanto que teve ao ver a cena que o filho presenciava do aposento. Indo em direção ao filho, tratou de pegá-lo no colo e acalmá-lo, sem a convicção de que conseguiria._ Filho, olha agora o papai não tem tempo para te explicar o que está acontecendo, só saiba que é algo muito ruim, mas que vai ficar tudo bem. - Falou o maior na expectativa de tentar acalmar o pequeno._ Cadê a mamãe? – Perguntou Rael manhosamente, já apresentando estar mais calmo e se sentindo seguro nos braços do pai._ A mamãe está no carro nos esperando, vamos fazer uma viagem bem legal. - Disse colocando o garotinho no chão e ajoelhando para ficar à altura dele. _ E você, meu campeão, vai me ajudar a pegar algumas roupas. Enquanto você pega a sua mochila eu vou separar algumas camisas e calças. Tudo bem? - Perguntou tentando manter a atenção do filho longe do que acontecia fora da casa._Sim papai! - Respondeu e saiu em disparada para pegar a mochila preferida, indicando que o plano do pai foi bem-sucedido.O menino entregou a mochila para o pai e o observou colocar algumas roupas dentro dela. Ao finalizar a tarefa, Hector pegou a criança no colo, jogou a mochila nos ombros e desceu as escadas da casa apressadamente, tinha pressa em sair daquele local justamente por causa de sua família, queria assegurar que todos ficariam em segurança.Seu destino era a garagem, onde estavam o veículo e sua esposa, quando os viu o seu coração se encheu de esperança, pois a sua mente agora dizia que tudo ficaria bem, mas o que sucedeu minutos após a sua chegada no local derrubou tal pensamento. Enquanto caminhava em direção ao carro, o qual já tinha sido ocupado por Amara, uma bola de fogo acertou o veículo o fazendo explodir, do ponto de vista do patriarca a cena aconteceu de forma lenta e angustiante, enchendo o seu coração de dor e agonia.A onda de impacto proveniente da explosão lançou pai e filho a uma distância de três metros os deixando momentaneamente desacordados, outros projéteis foram lançados em direção a eles, estes, porém acertaram a casa, deixando a residência em escombros.O mais velho acordou minutos após alguns minutos após o impacto, sentindo-se tonto pelo impacto que sofrera. Ainda zonzo e com zumbido nos ouvidos, ao levantar-se olhou ao seu redor, desnorteado, percebendo o estado em que se encontrava a residência._ Rael? - Gritou o nome do filho que se encontrava embaixo de seu corpo.Com as mãos tocou o rosto e pescoço do garotinho, a fim de averiguar se ele ainda continuava vivo, mesmo com um sangramento na face devido ao corte sobre o nariz que se estendia de um lado ao outro do rosto, constatou que seu filho estava bem._ Isso vai virar uma bela cicatriz. - Ironizou a nova aparência de Rael.Olhava carinhosamente para o pequeno e imagens dos bons momentos que tiveram juntos invadiram a sua mente, e à medida que tais lembranças surgiam um vazio começou a crescer em seu íntimo. Vazio, este que se transformou em um dor dilacerante. Lembrou do fim trágico que sua esposa teve, suspirou o nome da amada enquanto lágrimas escorriam pela sua face. Não chorou apenas pela morte de Amara, mas também porque não acreditava mais que conseguiria sobreviver ao ataque à cidade. Chorou porque não iria vivenciar o crescimento do seu herdeiro, mas ainda assim, naquele momento, Hector jurou que livraria o filho de um final trágico, assim como a esposa teve e que seria o seu próprio destino._ Papai. - Sibilou o menino, abrindo os olhos e virando o rosto para conseguir ver a face do mais velho.Notou, ao sentir as lagrimas lhe tocarem, que seu genitor estava chorando. Um choro contido e ressentido e assim como o pai, a criança também começou a chorar. Naquele momento Rael pode sentir pela primeira vez a dor da perca de ente querido, dor essa que seria a sua maior companheira e lhe seguiria pelo resto de sua vida.Hector ao perceber que sua cria chorava agarrada à sua roupa, que no momento mais parecia farrapos, com a mão direita limpou as lagrimas, se levantou com o menor em seus braços, beijou-lhe a testa e sendo o mais sereno possível, tentou acalmar aquele que estava em seu colo._ Filho, presta atenção. - Chamou o pai acariciando o rosto menino. _ Eu sei que agora coisas parecem ruins, mas olha, no final tudo vai certo, e eu prometo que sempre vou estar com você, bem aqui no seu coração. - disse conseguindo um tímido manear de cabeça da criança.Ainda com o pequenino em seus braços, o maior sentiu todo o corpo se enrijecer e algo em sua mente começou o alertar sobre o iminente perigo. Era o instinto de sobrevivência da sua raça, o alertando que a tormenta que enfrentavam estava longe de acabar, pelo contrário, tudo indicava que o pior a ainda estava por vir e com certeza seria mais rápido do que ele imaginava.Assim como um reflexo involuntário. Hector reagiu ao instinto. Colocou o menino no solo e ajoelhando-se começou a explicar o que o filho deveria fazer._ Filho eu quero que você preste bastante atenção no que eu vou te dizer e principalmente me obedeça. Certo? – Perguntou encarando o menino e como resposta, conseguiu um simples acenar de cabeça. _ Sabe as pessoas que são responsáveis pelo ataque à nossa cidade? Elas vieram atrás de mim, então eu quero que você se esconda e depois... – Hector não conseguiu terminar o que dizia porque fora interrompido pelo filho que o abraçara, pois este já sabia o pai iria lhe pedir e naquele momento tudo o que menor menos queria era ficar só. Já agoniado pela ideia de não ter seu pai por perto, o agarrou com mais força e chorando pedia desesperadamente para não ser deixado.Vendo o sofrimento da criança, por breve instante cogitou em mudar de ideia, mesmo sabendo que era para o bem do seu herdeiro. Tinha certeza de que seu sacrifício não seria em vão, ainda que no seu interior, o desejo que ali dominava era ficar ao lado do seu filho acompanhando cada passo do seu crescimento. Desejo este que não era suficiente para fazê-lo mudar de ideia, até mesmo porque, tinha total consciência que sua existência ali era um equívoco e que era definitivamente foi o real motivo para aquela tragédia._ RAEL! – Gritou o pai no intuito de fazer que com seu filho recobrasse o controle. Vendo que a sua atitude tinha surtido efeito, Hector, com ambas as mãos apoiadas sobre os ombros do menino, o olhava de forma intensa. Sabia que daquela maneira conseguiria transmitir ao menor toda segurança necessária para que a criança fizesse o que fora pedido._ Filho eu preciso que você seja valente. Que você aja como um verdadeiro kemono, que recebeu a herança dos felinos. A sua obrigação trazer honra e reerguer nosso clã. Por isso eu preciso que se esconda e sobreviva; e não importa o que aconteça não saia do seu esconderijo. Ouviu bem? Lembre-se de uma coisa Rael, nunca deixe que o que aconteceu hoje, venha interferir na sua vida. Viva como se fosse o último dia, cresça, estude, fique forte e acima de tudo seja feliz meu filho. – Conforme ia falando, lágrimas desciam pela face do maior sem que este percebesse. _ Agora vá rápido e se esconda, e lembre-se: não importa o que aconteça, fique escondido. – Após essas palavras e com um leve empurrão incentivou o filho, que ainda chorava, a correr e à medida que levanta observava seu menino se afastar.Ao constatar que Rael já estava devidamente escondido. Hector virou o corpo em direção oposta à que se encontrava seu filho, sua face não demonstrava medo ou preocupação, mas serenidade e convicção de que, o que perdurava errado há anos teria, a partir daquele momento, uma nova oportunidade de ser corrigido. Longe, oculto em meio aos escombros, o pequeno observava seu pai e desejava intensamente que ele retornasse vivo. Enquanto pedia para que nada de ruim acontecesse, ainda atento, viu algo incomum acontecer com Hector, viu o corpo de seu pai mudar.Barulhos altos, como o de ossos quebrando, podia ser ouvido nitidamente em meio a macabra sinfonia de gritos, sussurros agonizantes, explosões e risadas de escarnio e euforia, que ressoavam pelo ar, contemplou a pele do maior ser coberta de pelos e as listras características de sua raça ficarem mais evidentes e numerosas, as orelhas ficarem maiores e peludas, porém, os pelos eram menores e mais finos em relação ao resto do corpo e uma cauda e garras surgiram finalizando assim a transformação.Hector estava pronto. Se sentia pronto. A concentração era nítida em sua postura e a determinação cobria sua face. Estava atento ao grupo de pessoas que se aproximavam emoldurados pelo mais perfeito horror que uma guerra poderia causar, labaredas de fogo iluminavam o ambiente, proporcionando momentos de clarões em que se era possível ter a nítida noção do acontecia, pessoas mutiladas corriam tentando salvar o que restava de suas vidas e aqueles que não tiveram a mesma sorte, encontravam-se mortos no, agora pintado de um vermelho intenso, solo gélido.Escondido em meio aos escombros de sua casa, Rael presenciou o seu pai ficando frente a frente com os inimigos. Observou que se tratava de cinco pessoas; os quais nunca havia visto, diferentemente do seu pai que falava algo com aquele que parecia ser o líder do estranho grupo que era composto por quatro homens e uma mulher de longos cabelos.Ao ver Hector indo velozmente de encontro ao grupo preparado para atacar, o coração de Rael encheu-se de esperança em se sentir novamente envolvido pelos braços do maior. A cada soco e chute, quando acertava algum tipo de golpe ou até mesmo quando desviava do contra-ataque inimigo. O menino comemorava, mesmo que em silencio, uma possível vitória, entretanto, não foi o que aconteceu. Após a seguidas sequências de golpes desferidos aos oponentes; Real viu seu pai ficar preso em uma espécie de armadilha criada pela mulher de longos cabelos que gesticulava estranhamente os braços e a partir disso o seu sofrimento tomou proporções inimagináveis.O líder do grupo, que até o momento apenas assistia a luta, caminhou lentamente até Hector que se encontrava de joelhos, preso por uma espécie de corrente, se igualou a altura do outro e após abraçá-lo e sussurrar algo em seu ouvido esquerdo, levantou-se e em um rápido movimento desembainhou a espada que portava e levando-a acima da cabeça, desceu o objeto o cravando no corpo do kemono, que assim que recebeu o golpe, caiu com o rosto em direção a Rael e olhando para filho, disse apenas com o mover dos lábios, para que ele fosse forte, porque sabia que aquilo filho presenciou não seria esquecido jamais.Escondido em meio aos escombros, Rael, sem poder fazer nada, presenciava a morte daquele que sempre seria seu maior herói. Sentiu vontade de correr e abraçar o pai e defendê-lo, mas não consegui mover o próprio corpo, o pavor o paralisou. E agora, escorado no sobrou de uma parede, com as mãos tampando a boca, enquanto lagrimas fartas escorriam pelo seu rosto; Rael jurou, por todos aqueles que foram mortos naquela terrível noite; que caçaria um por um.Continua...