Por mais de uma semana, Violet Purple evitou a escola. Por lei, todos os jovens de dezoito anos eram obrigados a se candidatar à Academia Lunaris, mas a lei não especificava que os escolhidos tinham que aceitar a bolsa de estudos.
A oferta também vinha com um prazo: se o beneficiário não se apresentasse à academia em uma semana, a bolsa seria revogada e entregue a outra pessoa. Nenhuma penalidade foi estipulada por recusar, talvez os criadores da regra nunca imaginassem que alguém recusaria tal oportunidade.
Para pessoas como ela, os garotos da sarjeta, lutando para sobreviver nas ruínas de um mundo destruído, a Academia Lunaris era o sonho. Mas não para Violet. Ela não tinha interesse em ir, especialmente quando suas razões para participar não eram exatamente nobres. A bolsa merecia alguém melhor.
Como se os deuses estivessem do seu lado, Nancy havia escolhido sair da cidade naquele momento. Não era incomum ela desaparecer sem aviso ou qualquer explicação, muitas vezes sem deixar nota sobre seu paradeiro.
Quando Violet era mais jovem, costumava pensar que Nancy partia porque ela era uma aberração, mas conforme crescia, entendia a natureza do trabalho de sua mãe. Nancy perdia todo senso de razão sempre que conseguia um cliente rico, ficando com ele até que seus serviços não fossem mais necessários—ou, mais frequentemente, até que ela se tornasse inconveniente e fosse expulsa.
Nancy sempre sonhou em casar com um homem rico, mas com um trabalho como o dela, nenhum homem a levava a sério. Era tudo divertido no começo, mas as coisas inevitavelmente azedavam.
O máximo que Nancy já havia ficado fora foi um mês, e Violet rezava para que ela fizesse o mesmo desta vez para que a oportunidade da bolsa de estudos se esvaísse antes de ela voltar. Nancy ficaria furiosa, sem dúvida, mas a essa altura já seria tarde demais. Não haveria nada que ela pudesse fazer a respeito.
No entanto, Violet não tinha ideia de como a Sra. Florence fez, mas sua professora da sala de aula conseguiu o número de Nancy. Ela ligou para seu antigo telefone Nokia, que parecia ter sobrevivido desde os anos 90, quando o mundo ainda era próspero. No dia seguinte, uma furiosa Nancy estava de pé sobre ela enquanto ela relaxava no trailer, e o resto era história.
Chame de sexto sentido, mas algo parecia estranho sobre a bolsa de estudos. Apesar de não comparecer à Academia Lunaris por uma semana, sua bolsa de estudos não foi revogada como ela esperava.
Para tornar as coisas mais estranhas, a Academia Lunaris até enviou-lhe uma carta, lembrando-a educadamente que a oferta ainda estava de pé. Eles até sugeriram que ela entrasse em contato com eles se estivesse enfrentando alguma dificuldade que a impedisse de comparecer.
Isso não fazia sentido. Não era assim que a Lunaris geralmente operava. Eles estavam quase correndo atrás dela como se ela fosse alguém importante. Mas ela não era. Claro, Violet era inteligente e boa em esportes, mas havia alunos mais inteligentes na sua escola—os nerds que passavam todas as horas acordados estudando, todos esperando ganhar essa bolsa de estudos. No entanto, eles não os queriam. Eles a queriam. Não fazia sentido.
Infelizmente, não havia nada que ela pudesse fazer a respeito. Ela estava indo para a Academia Lunaris, gostasse ou não.
"Isso é tudo que você vai precisar?" Nancy perguntou, olhando para a bolsa aberta onde Violet tinha arrumado suas roupas e itens pessoais. Não parecia muito, a julgar pela aparência.
"Sim," Violet respondeu secamente.
Se ela e Nancy mal estavam se falando, estava pior desde que Nancy descobriu sobre sua tentativa de sabotar sua chance na Academia Lunaris.
Nancy franziu a testa, "Talvez eu devesse comprar mais—"
"Deixa pra lá!" Violet retrucou frustrada. "Por que você até se importa?"
Um lampejo de raiva atravessou o rosto de Nancy.
"Olha, garota, eu posso não ser a melhor mãe por aí, mas você está indo para uma escola chique, e eu não vou permitir que algum moleque alimentado com uma colher de ouro te olhe de cima." Got it?"
Violet estava atônita, incapaz de responder. Onde essa versão de Nancy esteve todos esses anos?
Sem esperar uma resposta, Nancy saiu. Uma hora depois, ela voltou com uma bolsa cheia recheada com mais roupas de brechó, acessórios que Violet nem percebeu que precisava, produtos de higiene pessoal e seus lanches favoritos.
"Você está gastando dinheiro," Violet resmungou, embora fosse sua maneira de dizer obrigada.
"Bem, eu não tenho que pagar dois anos de taxas escolares agora. Eu diria que sou eu quem está ganhando aqui," Nancy sorriu.
Violet revirou os olhos, embora um vislumbre de um sorriso puxasse seus lábios. A tensão que vinha fermentando entre elas por uma semana estava mais leve, e Violet percebeu que se sentia muito melhor em comparação com quando estava dando o tratamento silencioso à sua mãe.
"E agora, para a peça de résistance," Nancy disse, teatralmente segurando algo atrás dela.
Violet fingiu desinteresse, mas não pôde evitar sua curiosidade. Quando Nancy finalmente revelou o que estava escondendo, o rosto de Violet caiu.
"Deus, não! Nancy, que porra é essa!" Violet gritou.
Era um preservativo. Não apenas um—um pacote inteiro.
"Hey, hey," Nancy tentou acalmá-la, mas Violet sequer olhou para ela.
"Eu não preciso dessas coisas! Você está realmente me dizendo para ir me prostituir como você?" Violet retrucou.
Um lampejo de dor atravessou os olhos de Nancy, mas ela rapidamente o mascarou. Agarrando Violet pelo cabelo, ela a forçou a olhar em seus olhos. "Agora me escute, jovem. Eu nunca disse que você deveria se prostituir—não que isso seja uma má escolha numa escola cheia de ricos—"
"Nancy!" Violet rosnou, o aviso claro. Ela odiava o trabalho de sua mãe e desprezava quando Nancy o trivializava.
"Tudo bem," Nancy suspirou, recompondo-se. "O ponto é, você vai estar cercada por lobisomens quentes."
"Quem disse que eles são quentes?" Violet revirou os olhos diante do drama de sua mãe.
"Eles serão. Você ainda não se relacionou com um, mas eu já, e confie em mim, eles vão te derrubar," Nancy disse com tanta convicção que Violet franziu a testa.
Nenhum lobisomem em sã consciência morava em seu distrito pobre. Violet os tinha visto na TV e em revistas, claro, eles pareciam bons, mas era um exagero dizer que a raça inteira era quente. Além disso, seu distrito tinha sido seu mundo inteiro pelo tempo que ela conseguia lembrar, e embora ela ressentisse a oportunidade de partir, havia uma excitação inegável também.
Nancy continuou, "Eu estou apenas te preparando. Lobisomens são viris, e humanos são férteis. Com uma escola como a Lunaris, eu não estou pronta para ser avó. Deus sabe que eu não seria uma boa, e você sabe disso."
A boca de Violet se contraiu. Ela sabia que Nancy estava certa. É só olhar para as duas. A ideia de Nancy sendo uma avó responsável era risível, e Violet não era cruel o suficiente para trazer outra vida para seu mundo caótico.
"Então, nos poupe o trabalho e leve isso." Nancy empurrou o pacote contra o peito de Violet, e com um gemido relutante, Violet aceitou.
"Obrigada," ela murmurou, enfiando os preservativos no fundo de sua bolsa onde ninguém pudesse tropeçar neles. A ideia de alguém encontrá-los era mortificante.
"E, caso você esteja interessada, eu misturei eles. Há diferentes sabores de frutas—"
"Mãe!" Violet retrucou, cerrando os dentes.
Nancy sorriu maliciosamente. "Tudo bem, tudo bem. Vou deixar minha filha virgem em paz."
Violet lançou-lhe um olhar fulminante, odiando o quanto Nancy adorava provocá-la sobre sua virgindade, mas Nancy apenas riu e recuou, deixando Violet terminar de arrumar.
Violet fechou o zíper de sua bolsa com um suspiro, o som do zíper era estranhamente final. Ela recuou para olhar ao redor do pequeno e apertado trailer que ela chamara de lar pelo tempo que conseguia lembrar.
O papel de parede descascando, os móveis remendados, o relógio quebrado na parede, a visão disso causava um sentimento vazio em seu estômago. Esse lugar não era ideal de forma alguma, mas era o mais próximo de lar que ela já tinha conhecido. E agora, ela estava deixando-o para trás.
"Você está pronta para ir?" A voz de Nancy cortou a quietude. Ela estava em pé na porta, suas características duras usuais mascarando a tensão estranha que pairava entre elas.
Violet olhou para ela e acenou com a cabeça. "Sim. Estou pronta." As palavras saíram planas, embora seu coração não estivesse totalmente nelas. Havia algo perturbador sobre partir assim, como se um pedaço dela ficasse para trás nesse trailer degradado.
Com sua bolsa pendurada no ombro, Violet seguiu Nancy para fora. As duas caminharam em silêncio até o antigo ponto de ônibus perto da borda do parque de trailers, um clima estranho pairando entre elas.
Quando o ônibus finalmente chegou, elas embarcaram e viajaram em silêncio até a estação de trem. A Academia Lunaris ficava na Cidade de Aster, uma viagem de quatro horas daqui. Um mundo totalmente diferente.
Na estação, elas ficaram do lado de fora do trem, encarando uma à outra constrangidamente.
"Então, acho que é isso," Nancy disse, mudando seu peso de um pé para o outro, evitando contato visual.
Violet não respondeu imediatamente, o momento se estendendo entre elas como uma banda elástica prestes a estourar. A relação delas sempre foi complicada e bagunçada, mas essa seria a primeira vez que realmente estariam separadas. E por toda a distância que mantinham emocionalmente, essa separação parecia... estranha.
Violet não conseguia encontrar as palavras, então fez a única coisa que parecia certa. Ela deu um passo à frente e abraçou sua mãe.
Nancy endureceu no início, mas então seus braços envolveram Violet. Por todos os seus defeitos, Nancy a tinha acolhido quando ela tinha sido abandonada quando bebê, criando-a quando ninguém mais o faria. Ela não estava ganhando nenhum prêmio de "Mãe do Ano", mas tinha mantido ela viva, mantido ela forte. E por isso, Violet era grata, mais do que poderia dizer.
"Tá bom, criança. Me faça orgulhosa. E se alguém tentar te rebaixar, mostre a eles como nós, gente do gueto, fazemos," Nancy disse, tentando manter seu tom usualmente duro, mas sua voz vacilou um pouco.
Violet sorriu, um nó se formando em sua garganta. "Vou sentir sua falta."
"Eu também, Violet. Eu também," Nancy respondeu, sua voz apertada, segurando as lágrimas que enchiam seus olhos.
Por um momento, elas apenas ficaram lá, se segurando como se nunca fossem se soltar. No entanto, o apito estridente do trem interrompeu o momento, sinalizando que era hora de embarcar. Violet se afastou, pegando sua bolsa.
"Acho que te vejo quando o período acabar," ela disse, tentando soar casual, embora a ansiedade de partir sozinha estivesse afundando rápido.
Nancy acenou para ela se despedir. "Que nada, quando o período acabar, vá com seus amigos, explore as cidades e se divirta." Ela acrescentou baixinho, "E me deixe aproveitar estar solteira de novo."
Violet bufou, revirando os olhos. Agora que ela não estaria por perto, sua mãe provavelmente traria quantos homens quisesse para o trailer. Violet franziu o rosto, esperando que eles não levassem seus negócios para sua cama. Ao mesmo tempo, ela também percebeu os sacrifícios que Nancy fez por ela ao longo dos anos por alguém que nem era sua filha biológica.
"Obrigada, Nancy," ela disse isso como quem realmente queria dizer.
"De nada, querida. Agora vá, antes que eles deixem seu traseiro para trás." ela acenou para ela se despedir, um vislumbre de tristeza em seus olhos..
Violet retribuiu o aceno e virou-se para seguir em direção ao trem. Ela tinha acabado de dar alguns passos quando Nancy gritou, "E não esqueça o que eu te ensinei, criança! Quando ficar difícil, só dê uma boa chupada!"
Deus, não. Violet congelou, mortificada enquanto as cabeças se viravam para olhá-la, os olhos julgadores das pessoas saltando dela para Nancy. Ela lançou um olhar furioso por cima do ombro, mostrando o dedo do meio para Nancy enquanto esta explodia em risadas, completamente indiferente à cena que havia causado.
"Confie em mim, você vai me agradecer mais tarde." A risada de Nancy ecoando atrás dela.
Violet a ignorou desta vez e apressou-se para entrar no trem, com as bochechas ardendo enquanto evitava o olhar de todos, desejando que o chão a engolisse por completo. Claro, deixe para sua mãe encontrar uma maneira de humilhá-la.
Uma vez que encontrou seu lugar, ela largou sua bolsa e desabou na cadeira, olhando pela janela. As pessoas ainda estavam embarcando, mas logo o trem começaria a se mover, e sua jornada para a Cidade de Aster—e a Academia Lunaris—começaria.