Fiona murchou quando Sandro veio ficar diante dela, seus olhos embaçando com uma indiferença pura por ela, como sempre. Pela primeira vez, ela ficou contente com isso - mostrava que ele não tinha ouvido sua discussão com Atena.
Sandro era o braço direito de Ewan, e seu melhor amigo. Um homem sem rodeios que não era enganado por suas artimanhas. Ele sabia da obsessão dela por Ewan, mas mantivera sua paz pela união de seu amigo.
Fiona se perguntou o que ele faria agora. Ela sabia que ele sempre favorecia Atena em detrimento dela, mesmo que a última não estivesse ciente disso.
"Senh... Atena, o que você está fazendo aqui?" Sandro perguntou, lançando olhares entre as duas mulheres.
Ele mordeu o lábio inferior por quase ter chamado Atena de Senhora, suas sobrancelhas se franzindo quando ele viu a mochila na mão dela. "Para onde você está indo?"
"Ela está indo..."
"Fiona, eu não me lembro de te fazer alguma pergunta. Você pode ir embora agora. Acho que seu pai está à sua procura." Sandro mencionou, sem se dar ao trabalho de sequer olhar para a mulher ofensora.
Por razões que só ele conhecia, ele nunca tinha aceitado Fiona em sua vida como amiga ou o que quer que fosse, não importa quanto ela se atirasse no caminho dele, um fato que Ewan desconhecia.
Sandro começou a se perguntar se tinha tomado a decisão certa ao manter isso longe de Ewan.
Talvez se ele tivesse contado a seu amigo, este teria sido cético em acreditar em qualquer coisa que Fiona lhe dissesse, ele provavelmente teria investigado o evento traiçoeiro, antes de denunciar Atena de ser sua esposa.
Sandro era lógico, especialmente porque não estava envolvido no escândalo. Havia muitas lacunas no relato de Luca, e ainda ninguém tinha mencionado isso. Ele sabia que se o assunto fosse investigado a fundo, Atena seria inocente.
Atena não era daquelas de trair.
Ela era analfabeta, sim, mas não era desleal.
Ele sabia disso, tendo a conhecido nos últimos três anos.
Pena que Ewan tinha se deixado levar demais pelas emoções, que tinha agido de um jeito incomum; ou teria o último visto isso como uma rota de fuga do casamento sem amor e uma maneira de recuperar as terras de seu pai?
Sandro balançou a cabeça. Seu amigo não era tão ardiloso. Não importa o quê, Ewan sempre escolhia a verdade acima de tudo, incluindo suas emoções.
Isso fez Sandro se perguntar por que Ewan deixou seus sentimentos turvarem seu julgamento. Poderia ser...?
"Se você diz assim, então. Estou fora daqui. Boa viagem, Atena. Tomara que criminosos à beira da estrada não acabem com você antes de chegar a outra cidade." Fiona comentou, interrompendo os pensamentos de Sandro, justo antes de se virar e começar a seguir para a cidade.
Sandro soltou um riso de desprezo no mesmo momento que Atena, que achou o desejo maldoso. Criminosos? Ela nem tinha pensado nisso.
"Não se preocupe com a Fiona. Os criminosos foram perseguidos para o norte distante. É só seguir o caminho, e ficar fora dos arbustos densos, e você ficará bem. Eu prometo."
Atena assentiu em agradecimento. Sandro era tão frio quanto Ewan, mas ela sabia que ele não a odiava. "Obrigada, Sandro. E quanto à sua pergunta, eu não tenho certeza para onde estou indo. O tempo dirá, eu acho."
Sandro arqueou as sobrancelhas, ainda sem entender por que ela estava deixando a cidade de seu pai.
"Ele me baniu." Atena disse, após uma pausa, lendo a pergunta no rosto do homem.
"Meu pai me baniu."
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Ewan largou a caneta que estava usando para assinar o livro-razão, frustrado, quando Sandro suspirou pela terceira vez seguida.
Seu melhor amigo tinha chegado em seu escritório alguns minutos atrás de mau humor; ele tinha resistido a perguntar o que era o problema, porque estava ocupado. Parecia que não podia evitar se envolver agora.
"O que foi, Sandro?" Ele perguntou, empurrando o livro-razão na sua frente para o lado direito da grande mesa de mogno marrom, suas mãos se entrelaçando e descansando no espaço vazio da mesa agora.
"É sobre Atena, e o incidente que aconteceu ontem." Sandro começou, sua moral não diminuída minimamente quando Ewan franziu a testa para ele.
"Eu não quero ouvir o nome dela, Sandro. E por que o interesse repentino na minha ex-esposa? Ela conseguiu cravar suas garras astutas em você, antes de partir para a cidade do pai dela?" Ewan perguntou, levantando-se do assento, ficando inquieto de repente.
Tem sido assim, desde que ele encontrou a foto vergonhosa. Ele não entendia por que era assim, mas acreditava que o tempo curaria.
No entanto, por que seu melhor amigo estava interessado nessa mulher astuta agora? Ela tinha dito algo a ele?
Desde que se casou com Atena, Sandro só tinha sido civilizado com ela, e isso por causa da posição que ela detinha na cidade; mas aqui estava seu amigo, falando dela, como se quisesse defendê-la.
Ewan podia ver o olhar nos olhos de Sandro, e sabia que seu amigo não iria parar até ter dito o que estava em sua mente.
"Ewan, eu acho que ela é inocente." Sandro começou, levantando-se, abandonando o conforto do sofá macio, quando Ewan o encarou.
"Eu sei. Eu sei. Mas apenas me deixe falar."
"Você tem cinco minutos para apresentar seu caso." Ewan concedeu, curioso para ouvir o que seu amigo diria em defesa de sua ex-esposa que tinha enlameado seu rosto.
Pensar que ele tinha resolvido ser um pouco mais leniente com ela, a pedido de sua mãe antes da adorável mulher falecer.
Sandro andou de um lado para outro alguns passos, reunindo seus pensamentos antes de falar novamente. "Eu acho que foi uma armadilha do Ancião Alfonso e da Fiona para separar vocês dois, para que Fiona pudesse ser sua esposa..."
Sandro balançou a cabeça, quando Ewan o dispensou com um gesto, um sinal para parar de falar e sair do escritório.
"Eu ainda não terminei, Ewan. Eu sei que Fiona é sua amiga de infância, e que ela te salvou de se afogar há anos atrás - embora não haja provas de que ela realmente foi a..."
"Ok, é isso. Saia, Sandro. Eu não sei o que Atena te disse, mas aquela mulher é tão astuta quanto o pai dela. Eu não confio nela, e você também não deveria. Em segundo lugar, eu não permitiria que você manchasse a imagem de Fiona. Aquela senhora tem sido de imensa ajuda para mim. Se ela não tivesse me salvado naqueles anos atrás de..."
"Yeah... yeah, eu já ouvi isso muitas vezes. Ela é sua salvadora presumida... eu entendi..."
"Ela não é presumida, ela é! Saia, Sandro! Eu não acho que você esteja em seu juízo perfeito." Ewan declarou friamente, irritado com seu melhor amigo, mais irritado ainda com Atena por tentar semear discórdia entre ele e seu amigo.
Qual era o plano dela? Talvez ele devesse visitá-la, e dar a ela um pedaço de sua mente. Um último aviso, por assim dizer, para ficar fora de seus negócios.
"Ewan..." Sandro tentou novamente, mas Ewan não estava interessado.
"Para fora, Sandro. Você pode voltar quando seu juízo voltar."
Sandro bufou e deu alguns passos em direção à porta. Ele parou, no entanto, para o espanto de Ewan que estava começando a achar a cena divertida, embora irritante.
"Bem, já que você está decidido a acreditar em Fiona até o fim, você deveria saber que o pai de Atena a deserdou e a baniu da cidade. Além disso, no meu caminho para cá, vi sua Fiona em uma discussão acalorada com Luca e o pai dela. Eles pareciam estar discutindo tão intensamente, que não perceberam minha presença até mais tarde."
Sandro se virou, quando suas palavras foram recebidas com silêncio.
Ver que Ewan ainda estava de pé, processando a informação, deu-lhe o incentivo para dizer o resto de seus pensamentos.
"Eu não ouvi muito - mas uma coisa estava clara; Luca estava pedindo dinheiro, anistia e algo sobre a libertação de alguém. Eu não sei quem. Se isso não diz que a conta dele foi falsa, e que ele tem trabalhado para Fiona e o pai dela para expulsar Atena, eu não sei o quê mais."
Uma pausa ligeira.
"Parece que o pai de Atena também o baniu. Para somar a isso, eu não tinha te contado antes, mas Fiona não é tão inocente quanto você pensa. Ela tentou me seduzir, várias vezes. Eu sei que é incrível, eu sei que você está feliz por estar em posse das terras do seu pai agora, mas eu acho que você deveria investigar esse escândalo,"
"E então o quê?" Ewan perguntou, cruzando os braços sobre o peito. Ele arqueou as sobrancelhas, quando a boca de Sandro se abriu em espanto. "Só saia, Sandro. O ato já foi feito. Mas vou falar com Fiona, mesmo achando que você deve ter ouvido errado."
Sandro recuperou-se do seu espanto, e saiu do cômodo sem uma palavra, escolhendo varrer todo o acontecimento para debaixo do tapete, como seu amigo parecia estar fazendo. Afinal, não havia mais nada a ser feito. Atena já estava fora das cidades.
No entanto, imediatamente após Sandro ter saído do cômodo e fechado a porta atrás dele, Ewan soltou xingamentos e socou a parede mais próxima com toda sua força e raiva, fazendo suas mãos sangrarem e criarem bolhas.
Ele não parecia estar incomodado, porém, com o sangue pingando e manchando os azulejos alemães, pois socou a parede novamente e novamente, buscando abafar o sentimento de inquietação que tinha triplicado por causa dos relatos de Sandro.
Atena tinha sido banida pelo pai? Para onde ela tinha ido? Ela tinha dinheiro consigo? Por que ela não tinha vindo pedir ajuda a ele? Ele teria a ajudado? Sandro estava certo sobre Fiona?
Essas perguntas sem respostas, o impulsionaram ainda mais, fizeram-no socar a parede ainda mais, até que houve uma rachadura notável no objeto inanimado, e uma poça de sangue no chão.
"Não há prova." Ele murmurou alguns segundos depois com irritação, enquanto caminhava até seu assento, um espetáculo para congelar suas emoções de culpa provável, para aquietar a inquietação e cobrir o buraco aberto agora presente em seu coração.
"Não há prova de que Atena foi incriminada. Fiona não faria isso. Atena é a astuta."
Ele abaixou a cabeça, depois afundou os dedos em seu cabelo farto em desespero, depois de se atirar no assento.
"Mas por quê?" Ele questionou, revolvendo seu cabelo. "Por que me sinto tão ansioso e vazio?"