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Chapter 2 - 2 - Conhecidencia ou Destino?

Josh P.O.V

Acordei com o som irritante do alarme. Ainda nem eram seis da manhã, mas o treino não espera, e nem as contas que estão se acumulando. Rolei na cama por mais alguns segundos, encarando o teto e tentando ignorar a dor no ombro esquerdo — resultado da última luta. Fazer o quê? Faz parte do pacote.

Minha vida sempre foi assim: sobreviver um dia de cada vez. Desde que meu pai morreu, eu assumi o papel de chefe de família, mesmo que isso significasse entrar em lutas ilegais pra pagar as contas. Não é bonito, mas é o que mantém comida na mesa.

Enquanto me arrumava, lembrei daquela garota de ontem, a bailarina. Sophie. Ela parecia tão fora do meu mundo, tão... frágil. Mas não era só isso. Havia algo nela que me chamou atenção, algo que me deixou curioso. Talvez fosse o jeito como ela tentou me desafiar, ou como ficou irritada com o "Sof". Admito, foi divertido provocá-la.

Mas não posso me dar ao luxo de me distrair. Esse tipo de garota não é pra caras como eu. Além disso, eu já tenho problemas suficientes pra lidar. Ainda assim, não consegui tirar os olhos dela da cabeça. A forma como o rosto dela ficou corado quando ficou irritada... droga, foco, Josh.

Saí de casa, respirando fundo. Mais um dia para lutar — dentro e fora do ringue.

Quando cheguei à academia, um suspiro escapou ao ver quem estava me esperando na entrada: Vitória.

Ela estava encostada na parede, usando um short curto e uma blusa justa, claramente mais preocupada em chamar atenção do que em treinar. Vitória não era apenas uma distração — ela era um lembrete constante de que minha vida não tinha espaço pra algo mais sério.

— Você demorou, hein? — disse ela, sorrindo daquele jeito provocativo.

— Nem sabia que você vinha hoje — respondi, passando direto por ela em direção ao vestiário.

— Achei que ia gostar da surpresa. — Ela me seguiu, ignorando minha tentativa de cortá-la.

Vitória e eu não tínhamos compromisso, e ela fazia questão de me lembrar disso sempre que queria algo. Ela aparecia quando queria, e, pra ser honesto, às vezes eu deixava. Era mais fácil do que lidar com qualquer outra coisa mais complicada.

— Não tenho tempo pra joguinhos hoje, Vitória. — Falei enquanto abria meu armário e jogava a mochila lá dentro.

— Eu também não. Só quero você focado no que importa — ela respondeu, cruzando os braços e me encarando. — E no que me interessa.

Suspirei, fechando a porta do armário com força. — Se veio pra me provocar, pode ir embora. Tenho treino pra fazer.

— Relaxa, Josh. Eu só queria te ver. Não pode me culpar por isso, né?

Ela riu de um jeito que só aumentava minha irritação, mas não deixei transparecer. Vitória era bonita, sabia disso, e usava isso a seu favor. Mas, naquele momento, enquanto ela falava, tudo que vinha à minha mente era Sophie.

A bailarina parecia o oposto de Vitória. Simples, intensa, e sem fazer ideia do impacto que causava. Eu não podia me dar ao luxo de pensar nela agora.

— Se vai ficar, fica. Se não, fecha a porta na saída — falei, indo em direção ao tatame para me aquecer.

Vitória me lançou um olhar desafiador, mas acabou se afastando. Era sempre assim com ela: uma batalha de egos que eu nem sabia por que ainda aguentava.

Eu terminei o treino cedo pois tinha luta naquela noite. A academia estava quase vazia, exceto por alguns alunos atrasados e Miguel, que insistia em ajustar o calendário das aulas comigo.

— Josh, você sabe que precisa de foco. Você é bom demais pra perder tempo com essas lutas ilegais — Miguel começou, com aquele tom paternal que me irritava.

Suspirei, tentando manter a paciência. Miguel não fazia ideia de como era carregar uma família nas costas. Contas atrasadas, remédios para minha mãe, comida para colocar na mesa. Ele podia achar que era fácil, mas não estava na minha pele.

— Eu sei, Miguel. Estou trabalhando nisso.

Ele me lançou um olhar que misturava preocupação e frustração, mas não insistiu. Apenas deu um tapinha no meu ombro antes de sair.

Depois de sair da academia, entrei na minha caminhonete velha, que mais parecia um milagre ambulante. O motor roncava alto, e o cheiro de gasolina invadia o ar. Tinha algo de reconfortante nisso, como se esse pedaço de ferro velho fosse um reflexo da minha vida: remendada, desgastada, mas ainda funcionando.

O caminho para casa era solitário, e as ruas quase desertas. Só eu, a trilha sonora de uma rádio local e meus pensamentos, que sempre encontravam um jeito de me atormentar.

Quando cheguei em casa, as luzes estavam acesas, e o som de risadas escapava pela janela. Estranhei. Minha mãe raramente estava animada, e os gêmeos normalmente não faziam tanta questão de socializar.

Ao entrar, minha mãe foi a primeira a aparecer na sala. Ela estava pálida, com o cabelo desarrumado, mas ainda mantinha aquele sorriso fraco que tentava esconder o cansaço.

— Josh, demorou. — Sua voz era baixa, cansada, mas carregava aquele tom de preocupação habitual.

— Miguel segurou meu tempo. — Fui até ela e a beijei na testa. — Já tomou seus remédios?

Ela hesitou, o suficiente para me irritar.

— Mãe...

— Tomei, tomei. Não precisa ficar no meu pé.

Antes que eu pudesse retrucar, a porta da sala se abriu, e Olívia surgiu.

— Josh, finalmente! Tem visita hoje. — Ela estava animada, o que só aumentou minha desconfiança.

Segui para o corredor sentido, quarto do Rafael onde uma risada feminina ecoava. Assim que coloquei os pés no cômodo, congelei.

Lá estava ela.

A bailarina.

Sophie.

Sentada à junto de Rafael, rindo de algo, como se aquele fosse o lugar dela.

Eu fiquei parado por um segundo, encarando a cena como se não fosse real. Sophie levantou os olhos, e sua expressão de surpresa foi instantânea.

— Sophie? — Minha voz saiu mais ríspida do que eu pretendia.

— Então você é a famosa Sophie. — olhei para Rafa. — Sua amiga é cheia de surpresas.

Rafael olhou para mim com uma expressão confusa. — Vocês se conhecem?

Algo assim. — respondi, sem tirar os olhos dela.

Sophie hesitou antes de responder, mas balançou a cabeça. — Nos esbarramos... na academia.

A cena era desconfortável. Rafael, sempre tão animado, nem percebia o clima tenso.

Amiga. Claro que era. Mas o jeito que ele olhava para ela dizia mais.

Sophie desviou o olhar, como se quisesse evitar qualquer confronto. Mas havia algo no jeito dela, na forma como tentava ignorar minha presença, que me deixava inquieto.

Minha mãe apareceu na porta, com a voz suave, mas firme.

— Josh, não vai almoçar?

E quando ela riu de algo que Rafael disse, não consegui segurar o pensamento:

O que essa garota está fazendo aqui?