— Maldito seja Lord Velshar e seus criados imundos — resmungava o velho Odrem.
Ele tinha por volta dos 50 anos, mas ainda forte como um touro, vivia coçando a longa barba ruiva, já salpicada de fios brancos, enquanto cavalgava majestosamente em seu velho corcel negro. Desde pequeno, nunca conhecera outra vida além da de soldado da Casa Thyris, fiel até o último suspiro.
Ao seu lado um jovem esbelto e tão belo quanto forte.
— Aqueles filhos da puta ainda terão o que merecem,isso eu garanto — resmungou o jovem Gareth Thyris. Ele tinha não mais qie dezenove anos, ele era o filho mais novo de Torvin Thyris e fora criado para tais responsabilidades.
Os nobres da Casa Thyris sempre foram aliados do reino e descendentes diretos da primeira civilização, eram conhecidos como o escudo do rei, sempre leais a Casa Luminar, os matadores de dragões. Pelo menos era nisso que o jovem nobre ainda acreditava.
Naquele começo de noite, o ceu estava um mar opaco de nuvens densas, que desciam sobre eles misturando-se com a névoa. As sombras se alongavam das montanhas, enquanto o vento sibilava por entre as árvores congeladas.
"Ao cair da noite, as almas dos mortos caminham por aquelas bandas", diziam os locais. Palavras de velhos supersticiosos? Talvez. Mas até mesmo Odrem, em toda sua idade, não pôde evitar o arrepio que rastejou por sua nuca.
— Precisamos nos apressar, milorde.
— Temos bastante tempo ainda. Os covardes não terão coragem de nos seguir por estas terras. — Disse Gareth.
— Nem nós deveríamos estar aqui, milorde... ainda mais com essa criança — murmurou Odrem, enquanto apontava para o recém-nascido nos braços de Gareth.
Gareth mantinha o bebê cuidadosamente escondido entre as dobras de seu manto pesado, feito das peles espessas de urso negro, com uma textura densa e aveludada. Costuras douradas bordavam sutilmente as extremidades do manto, refletindo o brasão que carregava sobre o peito: o corvo negro de olhos amarelos, tecido em fios de ouro e obsidiana, suas asas entreabertas pareciam prontas para alçar voo. Sob o manto, uma túnica escura de lã reforçada protegia-o do frio cortante
— Bobagem — disse Gareth com certa rispidez.
Apesar de jovem, Gareth não se deixava levar por histórias contatadas a beira de uma fogueira, se bem que as vezes ainda acreditar nelas, lá no fundo. De toda forma, ele não tinha tempo para velhas lendas. "Mas, em noites como aquelas as velhas lendas eram escritas", ele pensou.
O jovem lorde seguia adiante, atento. Seus olhos castanhos, profundos e ágeis, moviam-se precisos por entre os troncos enregelados das árvores,
— Estamos seguros. Isso eu te garanto. Ninguém conhece essas terras tão bem quanto os nobres da Casa Thyris. — Afirmou o jovem Jack, criado de Gareth.
Jack era um jovem meio franzino, de cabeça raspada e pele acobreada, um órfão, há muito adotado por Lord Torvin Thyris, pai de Gareth, durante uma viagem de negócios a Samarte. O jovem Jack fora um pedinte e ladrão até o dia em que, pela graça do destino, cruzou o caminho da família Thyris. Naquele dia, enquanto roubava uma coxa de javali para comer, Lord Torvin demonstrou piedade e decidiu adotá-lo. Desde então, Jack servia os Thyris com lealdade.
— Em breve chegaremos ao nosso destino. Mantenham-se firmes — disse Gareth enquanto pressionava as pernas contra as costelas do cavalo, acelerando a passada.
— Minha ama de leite sempre contava histórias assustadoras sobre a fronteira montanhosa de Aleminia — comentou Odrem.
— Velho amigo, você não deveria acreditar nas palavras que ouve quando está com a boca nos seios de uma mulher. Nem sempre são verdadeiras — Gareth riu alto.
— Mas, de toda forma, por Drain, precisamos chegar logo mesmo. Temos que entregar este pequeno à mulher samartiana — completou Gareth, atiçando seu cavalo negro a correr mais rápido.
A noite já começava a sequestrar os últimos raios de sol que se escondiam timidamente por trás das montanhas.
— Milorde, não entendo por que tanto risco por essa criança? — Questionou.
— Coisas estão acontecendo no reino, meu amigo. Temo que, em pouco tempo, ele possa ser o último com sangue Luminar vivo.
— Acha que isso pode realmente acontecer, milorde? — Indagou novamente.
— Os malditos dos Velshars e dos Stonys conseguiram colocar quase todas as casas contra os Luminar. Até mesmo nossa casa está dividida com isso.
— Talvez seja exatamente por isso que nosso dever seja tão importante agora — disse Gareth, ajustando o recém-nascido nos braços.
A lembrança vívida do próprio rei, ajoelhado e implorando para salvar o menino, assombrava sua mente.
— Se o sangue Luminar se extinguir, o reino mergulhará em completo caos — completou ele.
Odrem franziu a testa, puxando as rédeas do cavalo para emparelhar com Gareth. — E o que nos resta, então? O que uma criança poderia fazer contra tudo isso?
— Ele não é apenas uma criança. — Gareth lançou um olhar firme ao amigo. — É o herdeiro do antigo trono, do sangue dos matadores de dragões. E, um dia, o mundo saberá disso.
A forma como Gareth falava parecia quase uma devoção religiosa aos Luminar. De fato, apesar de pertencer à Casa Thyris, ele havia sido criado como protegido dos Luminar na cidade real desde os cinco anos. Às vezes, sentia-se mais próximo do rei Gray Luminar do que de seu próprio pai.
— Além do mais, Um Thyris nunca volta atrás.
O jovem lorde parecia perdido em seus próprios pensamentos. Talvez lembrasse do pai, Lord Torvin, ou, talvez, lembrasse do rei Gray Luminar, ajoelhado, suplicando que salvassem o herdeiro.
O silêncio caiu entre eles, quebrado apenas pelo som dos cascos dos cavalos esmagando a neve endurecida. Jack olhou para Gareth, seus dedos inquietos no cabo da espada que carregava na cintura.
Jack, na maioria das vezes, optava por ficar calado e observar. Geralmente, ele não tinha medo de nada, mas, estranhamente, aquele lugar o deixava inquieto.
Odrem, ao lançar um olhar de relance, percebeu a hesitação do jovem escudeiro e sorriu de leve.
— Milorde, a fronteira de Aleminia não é conhecida apenas pelas montanhas... — começou Odrem, deixando um tom de mistério em sua voz. Ele não perderia a oportunidade de assustar o jovem, de jeito nenhum, pensou consigo.
— Existem histórias... criaturas que habitam esses cumes sombrios. — Odrem continuou, quase se divertindo.
— Histórias para assustar crianças — interrompeu Gareth, a voz firme, mas logo notou a intenção de Odrem. Ele riu de canto, pegando o gancho. — Já passamos por lugares piores, não é mesmo, Jack?
— Sim, sim... com certeza, milorde — respondeu Jack, apressado, tentando disfarçar o receio que o corroía por dentro.
Os três riram por um breve instante, e, por um momento, a jornada parecia mais leve. No entanto, as coisas que Odrem ouvira na cidade continuavam a inquietá-lo.
Com um suspiro nervoso, ele ajustou as rédeas de seu cavalo. Tinha algo a dizer, e sabia que aquela era a hora certa.
— Milorde, em todos os lugares para onde vamos estão cheios de boatos a respeito do que o senhor disse. Nas tavernas e prostíbulos por onde passamos, só se ouvem histórias conspiratórias.
Gareth ergueu o olhar, franzindo o cenho. — Conspiratórias?
— Sim, implantadas pelos Velshar — continuou Odrem. — Dizendo que o rei Gray Luminar é fraco, incapaz de manter as rédeas do reino. Muitos acreditam nessa mentira, milorde.
Gareth bufou, apertando a mão no cabo de sua espada. — Fraqueza? Chamam de fraqueza a sabedoria de um rei que evitou guerras e garantiu décadas de paz? Essas mentiras são venenos que os Velshar espalham para justificar sua traição.
— Traição essa que pode destruir a paz entre as casas nobres — murmurou Odrem.
O silêncio se abateu sobre o grupo por alguns instantes. Gareth olhou para o bebê em seus braços.
— Gray sabia que eles viriam para tomar tudo. Ele sabia que suas virtudes seriam usadas contra ele. É por isso que essa criança precisa sobreviver — disse Gareth, com firmeza. — Ele é o último fio de esperança para o sangue dos matadores de dragões.
Antes que pudessem prosseguir, o grupo parou ao avistar uma figura feminina surgindo por entre as árvores congeladas. Uma mulher de cabelos escuros e expressão séria, vestindo um manto simples, caminhava em sua direção com passos firmes, carregando um velho cesto nas mãos.
— Quem é você? — Gareth perguntou, sacando sua espada em um movimento rápido e protegendo o bebê contra o peito.
A mulher ergueu o olhar com calma. Seu semblante era tranquilo, mesmo com as espadas apontadas em sua direção. O sotaque samartiano, carregado em suas palavras, não deixava dúvidas sobre sua origem.
— Meu nome é Amélia. Estou aqui a mando de Ária Luminar.
Ária Luminar, a irmã mais nova do rei Gray Luminar, havia desaparecido de Aleminia há anos. Desde a morte de seu marido, muitos a consideravam morta. Apenas um punhado de pessoas conhecia seu verdadeiro paradeiro em Samarte.
Odrem estreitou os olhos, como um bom e velho soldado desconfiado da Casa Thyris.
— Por que uma samartiana arriscaria sua vida pelos Luminar? — ele disparou, a mão firme no cabo da espada.
— Talvez isso responda sua pergunta — respondeu ela, tirando de dentro de seu manto um pergaminho cuidadosamente enrolado e selado com cera amarela. No centro do lacre brilhava o selo com o sol de sete ponta, símbolo real dos Luminar. Ela estendeu o documento na direção de Gareth.
— Fique calmo, meu amigo. Ela é a tal mulher que procurávamos.
Odrem trocou um olhar breve com Gareth, baixou a espada com um suspiro pesado.
— Então, vamos. precisamos chegar logo ao litoral.
Amélia inclinou a cabeça, como se agradecesse silenciosamente, e então voltou seu olhar ao pequeno nos braços de Gareth.
— Então este é o menino?
— Sim. Espero que com você ele se sinta mais confortável — respondeu.
Gareth desceu do cavalo e entregou cuidadosamente o bebê a ela, que gentilmente apanhou o bebê nos braços, o pequeno homenzinho de bochechas vermelhas e alguns fios de cabelos na pequenina cabeça acusavam sua fragilidade. Amélia com a experiência de uma velha mãe, claramente aquela não era a primeira vez que ela apanhara uma criança em seus braços, seus mais de cinco filhos lhe conferiram tal experiência e destreza, ela olhou-o com uma expressão de profunda tristeza. O examinou por um momento, como se visse nele toda a fragilidade do destino.
— Qual é o nome dele?
— O pobre infeliz não tem nome ainda — disse Gareth. — Tivemos que fugir às pressas da cidade. Sua mãe, concubina do rei, mal teve tempo de vê-lo, que Drain a tenha em Valrasing.
— Os desgraçados dos Velshars já tomaram a Cidade Baixa, mal conseguimos sair a tempo. — Murmurou Odrem.
— Temo que em pouco tempo essa loucura chegue a cidade real. — Completou Gareth.
— Enquanto as casas Drakar e Thyrsis estiverem do lado do rei, essa loucura não vai longe.
— Eu não contaria com isso, meu amigo. — Disse Gareth.
Amélia fechou os olhos por um breve instante, e então, com um suspiro pesado, olhou para o pequeno rosto do bebê.
— Pobrezinho — murmurou ela. Ela colocou o bebê no cesto que tinha, o tecido macio e quente proporcionando-lhe um pequeno alívio no meio daquele inferno congelante.
Seguiram pela trilha traiçoeira da montanha. O caminho, sinuoso e coberto por neve espessa, estendia-se por muitas milhas até o litoral, onde esperavam encontrar sua carona para Samarte.
Não havia mais nada ali além de árvores congeladas, cujos galhos retorcidos pareciam mãos esqueléticas erguidas contra o céu, e as elevações montanhosas que se erguiam como muralhas de gelo. Corujas do gelo, com olhos brilhantes como pedras preciosas, os observavam em silêncio, imóveis como sentinelas.
O vento cortante rugia entre as pedras, uivando como uma fera faminta, trazendo consigo sons distantes, estranhos e perturbadores, como se algo fora deste mundo espreitasse nas sombras.
O cavalo de Odrem relinchou nervoso, suas patas escorregando ligeiramente no gelo endurecido.
— Fique calmo, garoto — murmurou Odrem
— Milorde, algo se move nas sombras... — Jack parou abruptamente, o olhar fixo em uma formação rochosa mais à frente. Seu corpo estava tenso, os olhos piscando nervosamente.
Gareth apertou as rédeas do cavalo com força, estreitando os olhos para a neblina crescente que tomava conta do horizonte. O silêncio se esticava, como se o mundo inteiro aguardasse algo inevitável. Então, antes que pudesse reagir, um grito estridente ecoou pela encosta, vindo de todos os lados ao mesmo tempo, cortando o ar e gelando a alma de cada um ali presente.
— Preparem-se! — gritou Gareth
Das sombras, começaram a emergir figuras com armaduras negras, movendo-se com a precisão de predadores. Eram assassinos formados desde a infância nas terras do sul, o trunfo da Casa Velshar, conhecidos como Saegrim, A Cabeça da Serpente.
— Os Saegrim... — murmurou Odrem.
— Não podem ser reais! — gritou Jack, sua lâmina tremendo nas mãos. Seus joelhos estavam visivelmente fracos.
Gareth não vacilou. Ele apertou as rédeas do cavalo e avançou com a espada levantada, a fúria de um verdadeiro Thyris.
— Eles são reais o suficiente! — gritou, a voz rouca e cheia de fúria. — Protejam o menino, a todo custo!
A batalha eclodiu com uma violência inesperada. O som do aço cortando o ar misturava-se com brados de batalha, e o silêncio da montanha foi quebrado pela dança mortal de lâminas contra carne congelada. Os Saegrim eram rápidos, suas espadas eram conhecidas como as mais afiadas e mortais das Cinco Terras, seus movimentos desumanos e precisos, como se fossem mais uma extensão da própria fúria da serpente.
Gareth sentiu uma sensação de desespero crescente enquanto lutava, seus olhos sempre voltados para o bebê nos braços de Amélia. O pequeno estava alheio ao caos ao redor, mas Gareth sabia que não podia falhar com ele. Não agora, não depois de tudo o que havia perdido.
O jovem nobre da Casa Thyris já lutara inúmeras batalhas, ao lado de seus companheiros, contudo aquela não era só mais uma, o medo de que tudo poderia acabar era real.
— Você é nossa última esperança... — murmurou Gareth para si mesmo. Ele se virou para Odrem, gritando por cima do rugir da batalha. — Leve-os em segurança. Agora!
— Milorde, não posso deixá-lo! — protestou Odrem, a voz falhando.
— Vá! Por Drain, leve-o até Samarte!
Odrem hesitou, mas sabia que não havia tempo. Ele montou rapidamente, puxando Amélia e o bebê com para sua garupa. Eles começaram a galopar, avançando rápido, mas a neblina parecia fechar-se sobre eles, as sombras dos Saegrim cercando-os. Mal haviam se afastado alguns metros, quando já estavam novamente sendo rodeados.
— Por Drain... — murmurou Amélia.
— Protejam o menino! — gritou Gareth.
O confronto era uma dança mortal. Espadas cruzavam, lâminas afiadas encontrando carne e sangue. O som era um misto de gritos e aço retinindo, um lamento cruel. Gareth avançava com fúria, mas seus braços já tremiam pelo cansaço. Jack lutava ao lado dele, cada golpe mais pesado que o anterior, enquanto os Saegrim continuavam a avançar, incansáveis. Eles eram sombras vivas, olhos como carvões em brasa, lâminas como presas de fera.
Odrem, mais atrás, tentava proteger Amélia, mas seus movimentos eram desajeitados, a espada tremendo em sua mão como se pesasse toneladas. Seus olhos refletiam o pavor de quem sabia que a morte estava próxima. Amélia, por sua vez, mantinha-se estranhamente firme, ou pelo menos tentava, mas o desespero se estampava em seu rosto, cada lágrima congelando ao deslizar por suas faces pálidas.
Gareth sentia o fim. Ele não podia perder. Não agora. Não o bebê. O sangue dos matadores dragões era a última esperança de seu povo, os assassinos de Velshar não poderiam apagá-lo. A espada em sua mão cortava o ar e a neve, uma fúria que mal parecia humana. Mas eles estavam cercados.
— Estão vindo mais! — gritou Jack.
Amélia viu sua chance. Enquanto Gareth e os outros seguravam o avanço dos Saegrim, ela se moveu com passos curtos, até a margem do riacho que passava por trás das arvores congeladas. As mãos tremiam enquanto ela ajeitava o bebê no cesto, o pequeno corpo frágil enrolado em panos.
— O que está fazendo?! — gritou Odrem.
Ela não respondeu. Não de imediato. Lágrimas congeladas manchavam sua pele quando, com um último suspiro, ela empurrou o cesto na correnteza. Seu coração parecia partir-se, mas sua mente gritava que não havia outra escolha.
— É a única maneira de salvá-lo! — gritou ela.
Gareth viu o cesto sendo levado pela correnteza e um grito rasgou sua garganta. Ele tentou avançar, mas o peso da batalha o segurava. Novos Saegrim surgiam das sombras. Ele não podia parar. Não agora.
— Não! — rugiu ele, enquanto sua lâmina cortava o peito de um dos assassinos. O sangue escorreu pela neve, mas outros dois a substituíram.
Odrem cambaleou, sua espada atingindo o ombro de um inimigo, mas logo um golpe atravessou seu peito, e ele caiu de joelhos. Sangue manchava a neve em volta dele, criando uma pintura grotesca de vermelho no chão.
— Recuem! — gritou Gareth, a ordem cheia de um desespero quase selvagem. Eles estavam perdendo. A batalha estava perdida. Mas ele não podia aceitar. Não podia desistir.
As lâminas continuaram a dançar na noite fria, o som do aço como o quebrar de gelo sobre um lago. Mas os gritos começaram a cessar, um a um. Quando o silêncio finalmente se instalou, só restavam os corpos. Gareth e seus companheiros jazeram na neve, o vermelho do sangue destacando-se contra o branco puro, enquanto a noite consumia tudo.
A correnteza levou o cesto, descendo pelas montanhas, até que, finalmente, ele encontrou o mar. A praia isolada, o último refúgio da criança, que estava tranquila como se nada tivesse acontecido naquela noite.
De repente, mãos gentis tocaram o cesto com receio, essa mãos pertenciam a uma jovem, não mais que 23 anos, vestida rusticamente, com vestido velho, bem desbotado, como uma típica plebeia, seus cabelos eram negros como a noite, sua pele bronzeada com as marcas do trabalho árduo, a jovem era uma marisqueira, que estava perto da orla, avistou o cesto vindo em sua direção.
— Pelos deuses... Quem é você, pequeno? — ela sussurrou, com a voz tremendo, enquanto os ventos da noite balançavam seus cabelos.