A sala principal da biblioteca imperial era imensa, um verdadeiro monumento ao conhecimento acumulado ao longo de gerações. Estantes de madeira escura erguiam-se até o teto abobadado, repletas de livros, pergaminhos e grimórios de épocas há muito esquecidas. A luz tênue das tochas encantadas lançava sombras oscilantes nas paredes de pedra, enquanto o silêncio era quebrado apenas pelo ocasional farfalhar de páginas sendo viradas.
Keyon Dracul, imponente como sempre, caminhava entre as prateleiras, os olhos carmesins examinando cuidadosamente cada livro antigo que encontrava. Cleo estava ao seu lado, a lupina movendo-se com a graça de um predador em um território desconhecido. Atrás deles, Sariah e dois membros da Midnight Fang—um vampiro de longos cabelos prateados chamado Elias e uma succubus de olhos dourados chamada Veyra—ajudavam a organizar os tomos que haviam sido retirados das prateleiras mais ocultas da biblioteca.
A descoberta havia começado como uma pesquisa rotineira. Com a ascensão da Midnight Fang ao poder no Império de Baharuth, Keyon ordenou que toda a biblioteca fosse analisada em busca de informações estratégicas sobre o mundo, antigas civilizações e quaisquer registros sobre seres extraordinários. No entanto, ninguém esperava encontrar o que estava agora diante deles.
Sobre uma mesa robusta de carvalho, dezenas de livros estavam abertos, revelando páginas amareladas pelo tempo. Algumas estavam cobertas de símbolos arcanos que exigiam uma decifração minuciosa.
Keyon pegou um dos volumes mais antigos e começou a ler em voz alta:
"No ano 212 do calendário imperial, um homem que desafiava as leis da magia e da realidade surgiu no continente. Seu poder era incompreensível, suas habilidades não eram deste mundo. Ele destruiu exércitos sozinho e, em sua glória, construiu um castelo negro onde a lua nunca se punha. Seu nome era Arcadius, o Arcanista Eterno."
Ele franziu a testa.
— Um jogador? — Cleo murmurou, inclinando-se para ler o texto ao lado dele.
— Parece que sim, eu me lembro de um jogador com esse ID no jogo — Keyon respondeu. — E o mais curioso é que ele existiu há mais de quatrocentos anos.
Elias pegou outro livro e leu um trecho em voz baixa.
— Aqui fala de um ser chamado "A Dama do Gelo Carmesim", uma mulher com domínio absoluto sobre o frio. Registros indicam que ela enfrentou exércitos da Teocracia de Slane sozinha e desapareceu há cerca de duzentos anos.
Veyra virou uma página do tomo que segurava e arregalou os olhos.
— Isso é preocupante... Este livro fala sobre um grupo de guerreiros chamados Os Senhores do Eclipse, que teriam governado parte do continente por um breve período antes de serem erradicados. Há relatos de que seu líder possuía poderes que podiam alterar a própria realidade. Provavelmente um dos World Items que deve ter adquirido novas características nesse mundo.
Keyon apertou os olhos, sentindo uma inquietação crescente.
Se esses seres realmente eram jogadores do YGGDRASIL, significava que ele e a Midnight Fang não eram os primeiros a serem transportados para este mundo. Outros já estiveram aqui antes, mas... o que aconteceu com eles?
— Se esses jogadores vieram em épocas diferentes, isso levanta várias questões. — Cleo ponderou. — Eles chegaram como nós, com suas guildas e poderes intactos? Foram enfraquecidos pelo tempo? E mais importante... o que os matou ou fez desaparecer?
Keyon pousou os olhos em outro manuscrito e seus dedos percorreram as linhas envelhecidas.
"Os Senhores do Eclipse foram destruídos não por forças mortais, mas por jogadores como nós, que vieram antes deles e já reinavam neste lugar. Dizem que, antes de desaparecerem, selaram armas e artefatos de imenso poder para que nunca caíssem em mãos erradas."
Ele ergueu o olhar lentamente.
— Se esses jogadores do passado deixaram itens, então podem existir artefatos capazes de afetar até mesmo nós.
Elias cruzou os braços.
— Você acha que esses itens podem ser armas, ou talvez... algo pior?
— Ambos. — Keyon respondeu, a mente já trabalhando em múltiplos cenários. — Imagine uma arma criada por alguém no mesmo nível que nós. Algo que poderia ferir ou até mesmo matar jogadores de nível máximo.
O silêncio que se seguiu foi pesado.
Veyra quebrou a tensão com um sussurro quase reverente:
— Meu Senhor, se essas armas realmente existem, há alguém neste mundo que as possui agora?
Essa era a questão mais perigosa de todas. Se os jogadores do passado criaram artefatos poderosos, e eles não foram destruídos, então quem os encontrou?
Keyon fechou os olhos por um momento e tomou uma decisão.
— A partir de hoje, nossa prioridade será encontrar essas relíquias do passado. Precisamos descobrir o que foi deixado para trás e garantir que ninguém além de nós tenha acesso a esse poder.
Cleo assentiu.
— Concordo. Se esses jogadores desapareceram, algo ou alguém pode tê-los destruído. Não podemos correr riscos.
Keyon virou-se para Sariah.
— Organize grupos de busca e expedições para os locais mencionados nestes livros. Quero investigações em todas as ruínas antigas, fortalezas abandonadas e qualquer lugar que possa abrigar um segredo esquecido.
Sariah sorriu, os olhos brilhando com antecipação.
— Será um prazer, mestre.
Keyon então olhou para Elias e Veyra.
— Vocês dois irão ao Reino de Re-Estize e à Teocracia de Slane. Descubram o que sabem sobre esses jogadores do passado e suas relíquias.
Os dois assentiram prontamente.
Enquanto os membros da Midnight Fang começavam a se mover, Keyon ficou parado por um longo momento, olhando para os livros diante dele.
Se outros jogadores já passaram por este mundo e desapareceram... então isso significava que havia forças desconhecidas que nem ele entendia completamente.
Pela primeira vez desde que chegou a este mundo, ele sentiu algo raro.
Uma sombra de incerteza.
Mas, ao invés de hesitar, ele sorriu levemente.
— Se este mundo tem segredos, então eu os arrancarei à força.
O jogo havia mudado. O império era apenas o começo. Agora, era hora de desenterrar o que realmente governava este mundo.