O pequeno apartamento no Bronx estava silencioso, exceto pelos sons suaves de Beatriz, de apenas seis meses, brincando no berço. Lorena, sentada no sofá, sentia o corpo pesar. O cansaço não era novidade, afinal, como mãe solteira, suas noites eram interrompidas por mamadeiras e choros. No entanto, nos últimos dias, esse cansaço parecia diferente, mais intenso.
Ela apoiou a mão no peito, sentindo uma pontada forte. A respiração estava curta, e um suor frio escorria pela testa.
Lorena: (para si mesma, com a voz fraca) Isso não é normal...
Ela tentou se levantar, mas suas pernas estavam fracas. Sentiu a sala girar por um instante antes de conseguir se equilibrar. Seu olhar caiu sobre Beatriz, que a observava do berço com aqueles olhos grandes e curiosos.
Lorena: (com esforço) Calma, meu amor. Mamãe vai ficar bem...
Pegou o celular com mãos trêmulas e discou o número de Ana, sua melhor amiga e a única pessoa em quem confiava completamente.
Ana: (atendendo prontamente) Oi, Lorena! Tudo bem?
Lorena: (ofegante) Ana... preciso de ajuda. Não estou bem.
O silêncio do outro lado da linha foi seguido pela voz alarmada de Ana.
Ana: O que está acontecendo? Você quer que eu vá aí?
Lorena: (com dificuldade) Sim, por favor. Preciso ir ao médico. Pode ficar com a Beatriz?
Ana: Claro! Estou a caminho. Não se preocupe.
Lorena desligou, deixando o celular cair ao lado. Apoiou a cabeça no encosto do sofá, respirando com dificuldade. Não queria imaginar o pior, mas seu corpo parecia lhe enviar sinais que ela não podia mais ignorar.
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Quinze minutos depois, Ana chegou esbaforida, subindo as escadas do prédio antigo. Quando abriu a porta, encontrou Lorena com aparência pálida e os olhos fundos.
Ana: (assustada) Meu Deus, Lorena! O que aconteceu? Você está péssima!
Lorena: (tentando sorrir) Eu só preciso ir ao hospital. Pode cuidar da Beatriz por mim?
Ana pegou Beatriz no colo e assentiu com firmeza.
Ana: (determinada) Claro que posso. Vai agora e me avisa de qualquer coisa, tá? E, por favor, cuida de você!
Lorena beijou a testa da filha, sentindo o cheirinho doce do bebê.
Lorena: (sussurrando) Mamãe volta logo, minha pequena.
Com a ajuda de Ana, Lorena desceu as escadas e chamou um táxi. O frio de Nova York parecia mais intenso naquela manhã de inverno, e ela se encolheu no casaco enquanto tentava controlar a respiração.
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O hospital era movimentado como sempre, com pessoas entrando e saindo. Lorena caminhou lentamente até a recepção, preenchendo os papéis enquanto tentava não pensar demais no que poderia estar acontecendo. Quando seu nome foi chamado, ela foi recebida por um médico jovem e sério, Dr. Andrew Collins.
Dr. Collins: (olhando para os papéis) Olá, Lorena. Vejo aqui que você está com falta de ar, cansaço extremo e dores no peito. Vamos examinar isso.
Ele a levou para uma sala de exames, onde ela passou por uma bateria de procedimentos: exames de sangue, uma tomografia e uma avaliação física completa. Durante todo o processo, Lorena mantinha a mente na filha.
Lorena: (pensando) Eu não posso ficar doente. Beatriz precisa de mim...
Cerca de uma hora depois, ela foi chamada de volta ao consultório. Dr. Collins estava com uma expressão séria, segurando os resultados preliminares.
Dr. Collins: (calmo, mas direto) Lorena, os exames apontaram algo preocupante. Há sinais de um tumor nos pulmões.
As palavras bateram como um golpe. Lorena sentiu o corpo congelar enquanto tentava processar a informação.
Lorena: (gaguejando) Um... tumor?
Dr. Collins: Sim. Ainda precisamos de mais exames para confirmar, mas vou encaminhá-la ao setor de oncologia para que um especialista avalie seu caso mais detalhadamente.
Lorena abaixou a cabeça, sentindo as lágrimas brotarem. Pensou em Beatriz, no futuro incerto e na vida que ela ainda queria viver.
Lorena: (sussurrando) E se eu não tiver tempo...?
Dr. Collins: (com empatia) Eu sei que isso é difícil de ouvir, mas quero que saiba que estamos aqui para ajudar. O próximo passo é fundamental, e quanto antes começarmos, melhor.
Ela saiu do consultório em silêncio, sentindo o peso de cada passo. Na sala de espera, famílias abraçavam seus entes queridos, enquanto ela seguia sozinha para a saída. Ao entrar no táxi, lágrimas finalmente escaparam.
Lorena: (pensando) Minha filha... eu não posso deixá-la.
Enquanto o carro cruzava as ruas geladas de Nova York, Lorena sabia que sua vida nunca mais seria a mesma. Ela precisava ser forte — por Beatriz, por ela mesma e pelo futuro que parecia cada vez mais distante.