— Senhor, desculpe interrompê-lo, mas o setor de monitoramento identificou uma anomalia na atmosfera — avisou Kate, a secretária de Paul, entrando no escritório com um tablet nas mãos. Ela tinha o cabelo loiro preso em um rabo de cavalo, com olhos azuis tímidos por detrás dos óculos de armação metálica.
Paul ajustou a postura. Estava estudando como maximizar o lucro da Z-Space, e o setor de monitoramento acabara de entrar para a sua lista de cortes de gastos.
— Ótimo — disse com desinteresse. — Quanto pior melhor.
Paul pegou sua xícara descartável com café sintético. Tinha pele pálida, cabelo preto rente e olhos castanhos intimidadores.
Kate engoliu em seco. O terno cinza ajustava-se de maneira impecável ao seu corpo, sem um único amassado.
— Não é esse o caso, senhor. A atmosfera está se tornando habitável no Sul do Brasil. Além disso, foi identificado uma grande área de vegetação surgindo.
Paul cuspiu o café na tela de seu computador.
— O que você disse?!
Kate ficou um tom mais branca, aproximando-se. Estendeu o tablet para que Paul pudesse ver.
— As imagens de satélite mostraram uma enorme… plantação.
Paul encarou o tablet, em seguida fez a xícara de café voar pelo escritório e atingir a janela circular. Nela, era possível ver o planeta Terra. Parecia um fruto podre flutuando no espaço, com um brilho alaranjado coberto por feridas cinzentas de tempestades tóxicas.
Kate desviou o olhar da janela com café escorrendo para Paul furioso em sua mesa. Ele tinha levantado, encarando Kate como se ela fosse a origem do problema.
— Esse planeta é meu! Como vocês permitiram que alguém plantasse no meu planeta?! Nada deveria nascer naquele solo! O que o setor de desabitação está fazendo?! Se o Ministério de Colonização Intergalática descobrir isso, eu terei que encerrar a extração de minerais do núcleo! Quem mais sabe disso?!
— Apenas o setor de monitoramento, senhor.
Paul passou as mãos pelo cabelo curto, tentando manter a calma.
Kate hesitou, mas então deslizou a imagem do tablet para o lado. O vídeo que surgiu mostrava um continente árido e poluído, a América do Sul, com uma mancha verde brilhando como esmeralda. A imagem se aproximou do solo, revelando um campo de morangos maduros que se estendia até onde a vista alcançava.
Paul estreitou os olhos. No meio da plantação, uma figura ruiva de chapéu de palha acenava alegremente para o céu, como se soubesse que estava sendo observado.
— Que diabos… — Paul murmurou.
— Há mais, senhor.
Kate deslizou o dedo na tela mais uma vez e outro vídeo começou a reproduzir. A filmagem mostrava a câmera de um robô militar se aproximando do garoto. O robô ergueu uma arma, mirando nele, mas antes que pudesse disparar, o garoto arrancou um morango, jogou na boca e, com um gesto teatral, cuspiu um míssil na direção do robô.
Paul arregalou os olhos.
— O quê?!
A secretária limpou a garganta, desconfortável.
— Parece que os morangos dão poderes. Temporários, mas impressionantes. Há registros de dinossauros gigantescos, tempestades de vento e uma pequena avalanche de bonecos de neve.
Paul massageou as têmporas, sentindo uma enxaqueca se formar.
— Quero esse garoto. Vivo. — Ele encarou a secretária com intensidade. — Se os morangos dele realmente fazem isso, o potencial de lucro é imensurável. Não vamos mais depender nem do Vaticano Estelar e nem do Exército Intergalático. Melhor, vamos nos colocar como uma terceira via, um concorrente à altura. Sim! Convoque os esquadrões de robôs militares disponíveis aqui na estação. E diga ao Vaticano Estelar para manter um herói de classe especial preparado, enquanto investigamos. Invente alguma história convincente. Precaução nunca é demais. Nós dois também vamos.
— Sim, senhor. Prepararei tudo.
Enquanto Kate se retirava apressada, Paul fitou a Terra através da janela suja.
— Você será meu, garoto dos morangos — sussurrou Paul, um sorriso predatório surgindo em seus lábios.