Lyra estava em sua sala, os dedos esfregando as extremidades de uma carta lacrada com o selo dourado do reino vizinho. O que estava escrito ali poderia mudar tudo. O convite não era para uma simples missão de espionagem ou roubo, mas para algo mais perigoso. Algo que poderia levá-la a enfrentar uma nova realidade.
Ela olhou para a carta com desconfiança, os olhos verdes estreitados enquanto tentava analisar a proposta que acabara de receber. Na capa, um elegante emblema de um leão dourado estampava a cera vermelha, o símbolo do palácio de Verathor.
A carta dizia:
"À Organização das Sombras,
Como sabemos que preferem agir nas sombras e mantêm sua identidade em sigilo, venho por meio desta solicitar seus serviços para uma missão de grande importância. Sou a imperatriz de Verathor, e a segurança do príncipe herdeiro de Verathor precisa ser garantida durante sua visita ao Baile de Máscaras do Reino de Aurélias. O evento ocorrerá no próximo mês, e temo que forças hostis possam estar à espreita.
Se aceitarem esta missão, peço seus melhores agentes se infiltre no evento, adotando a identidade de um nobres de alta classe, e proteja o príncipe. Tenho plena confiança em sua organização e sei que, com sua discrição, essa missão será bem-sucedida. Além disso, ofereço uma quantia generosa por seus serviços.
Atenciosamente,
Imperatriz de Verathor"
Lyra se inclinou na cadeira, os olhos ainda fixos na carta. O príncipe queria que eles se infiltrasse como nobres. Um evento onde as máscaras eram mais que uma simples forma de disfarce, mas um símbolo de intriga e mistério. Algo em seu estômago se revirou ao pensar nisso. Se havia uma coisa que Lyra odiava, era a realeza. A corrupção deles, as mentiras escondidas atrás de sorrisos encantadores e aparências impecáveis... Ela não se importava com a política deles.
— Não. — Lyra murmurou para si mesma, jogando a carta sobre a mesa. — Não vou me envolver com isso.
Mas, naquele instante, a porta se abriu suavemente. Finn, seu braço direito, entrou na sala com a expressão séria. Ele era um homem alto, de cabelos tão brancos como a neve e olhos tão frios quanto o aço. Ele havia crescido nas ruas, assim como Lyra, e juntos haviam forjado a organização nas sombras. Finn sabia que ela não tomaria uma decisão facilmente.
— Você viu a carta, então? — Ele perguntou, fechando a porta atrás de si.
Lyra se recostou na cadeira e cruzou os braços. — Vi. E já tomei minha decisão. Não vou aceitar.
Finn se aproximou da mesa, pegando a carta e a lendo em silêncio. Ele sabia que a decisão de Lyra era, muitas vezes, impulsiva, mas também sabia que ela era a líder que mantinha a organização unida. Quando Lyra falava, todos ouviam. Mas às vezes, até ela precisava ser convencida.
— Eu entendo seu ponto de vista, Lyra, mas… — Finn fez uma pausa, sua voz suave, mas cheia de um peso que só ele poderia carregar. — Esta proposta é... vantajosa.
Lyra levantou uma sobrancelha, ainda desconfiada. — Vantajosa, como?
Finn retirou de seu bolso uma pequena folha de papel e a colocou sobre a mesa. Era um cálculo, meticulosamente anotado. Lyra olhou para ele, aguardando.
— Já está chegando o inverno e há um problema em nosso estoque. O último trabalho que fizemos... não trouxe os lucros que esperávamos. E precisamos de recursos para um projeto mais urgente. E, para isso, essa missão poderia nos proporcionar uma quantia significativa. O príncipe oferece o dobro do que normalmente pagamos por um trabalho... ou até mais.
Lyra analisou os números enquanto Finn falava, as palavras dele ecoando em sua mente. O que ele estava sugerindo não era apenas uma missão lucrativa. Era uma oportunidade de ouro para resolver problemas que vinham se acumulando na organização. Problemas que, até então, ela havia ignorado.
— Qual é esse projeto urgente, Finn? — Ela perguntou, sem levantar os olhos do papel.
Finn respirou fundo, seu olhar se tornando grave. — Precisamos investir mais dinheiro para a cura daquela doença que está se espalhando entre o vilarejo corvianth, e três dos nossos membros mais importantes... que são os mais antigos da organização está doente por causa que foram investigar o vilarejo. Eles não pode mais sair para fazer trabalhos. Sem os recursos certos, eles podem… não durar muito tempo.
Lyra ficou em silêncio por um momento. Ela sabia que a lealdade entre os membros da organização era o que a mantinha firme. Cada pessoa ali tinha uma importância que ia além do trabalho. Eles eram mais do que simples peões. Eram aliados e amigos, muitos dos quais haviam crescido com ela.
— Não podemos perder eles. — Finn continuou. — Este trabalho nos daria o suficiente para garantir a cura. E, além disso, poderíamos investir em outros projetos que podem nos manter vivos por muito mais tempo.
Lyra olhou para o papel novamente, as palavras de Finn reverberando em sua mente. Ela sabia que ele estava certo. Se não tomassem essa decisão, não apenas o projeto do tratamento do homem da organização seria prejudicado, mas sua própria sobrevivência seria comprometida. O dinheiro era um mal necessário. Ela poderia ignorar a realeza e todos os seus problemas, mas não poderia ignorar os de sua própria casa.
— Eu aceito. — Finalmente, Lyra disse, com uma calma que escondia a tensão que sentia. — Mas só porque precisamos disso. Nada mais.
Finn sorriu, um sorriso raro e genuíno. — Eu sabia que você diria isso. Agora, precisamos nos preparar.
— Sim, avise os outros. Falou ela dando um suspiro.
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Naquela mesma noite, Lyra se preparou para a missão que aceitou. Ela se vestiu com roupas finas, disfarçada como uma dama da alta sociedade, e, antes de sair, mandou chamar os membros da organização para uma reunião.
Eles se reuniram na sala, as sombras tornando-se mais profundas enquanto as velas lançavam luzes tremeluzentes sobre os rostos dos homens e mulheres que, assim como Lyra, tinham se entregado a essa vida de mistério e poder. Finn se manteve ao lado dela, observando os rostos que estavam ali, aguardando o anúncio da missão.
Lyra se levantou, os olhos verdes brilhando com determinação. — Finn deve ter falado para vocês, temos um novo trabalho. A imperatriz de Verathor nos contratou para garantir a segurança do príncipe herdeiro durante o baile de Máscaras em Aurélias. Vamos nos infiltrar, alguns nas sombras e os outros vão se misturar entre os nobres para garantir que nada aconteça. Mas precisamos ser discretos.
Ela fez uma pausa, observando as reações de seus membros. Ninguém ousou falar. Eles sabiam como ela era, e se ela dizia que precisavam agir, não havia questionamentos.
— Vocês sabem o que fazer. — Lyra disse, com a voz firme. — Preparem-se. Vamos fazer esse trabalho direito.
E, assim, a decisão estava tomada. O destino da organização estava agora atrelado a uma missão que poderia não só mudar a sorte deles, mas também colocá-los de volta nas boas graças de uma nobreza que eles costumavam evitar. Mas, no final das contas, todos sabiam que o que importava era o dinheiro. E, por ora, isso era o que mais precisavam.