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Geena (Português)

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Synopsis
Um bibliotecário, amoral e indiferente é levado para dentro de um livro, O Inferno, lá ele deve seguir até o topo do inferno enfrentando os 7 pecados capitais e autoridades do inferno. Classificação: 18+ Alerta de Gatilho. Extremamente Explicito e Brutal. Uma Representação do Inferno. Como base: A Divina Comédia de Dante e o Apocalipse de Pedro. (Se quiser preservar sua sanidade, não leia.)
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Chapter 1 - Capítulo 0 - Quem sou eu?

Eu sou uma presença encoberta, uma sombra que se mistura ao ambiente. Meu corpo é envolto por um manto escuro, fluido, quase como se fosse parte do próprio espaço, como se eu fosse uma extensão das sombras que se formam nas frestas. O manto não tem forma definida, ele se adapta ao meu corpo, mas ao mesmo tempo parece que nunca o toca de verdade, como se estivesse sempre a uma distância tênue, flutuando ao redor de mim, obscurecendo qualquer tentativa de identificação. O tecido é pesado, mas suave, como se fosse feito de uma substância que absorve a luz e, ao mesmo tempo, a engole.

Meu rosto é oculto, não por uma máscara, mas pela ausência de expressão. Os contornos são borrados, quase indistintos, e meus olhos... ah, meus olhos são dois vazios profundos, como poços sem fundo, que refletem a luz sem realmente a capturar. Não há brilho neles, nem emoção, apenas um olhar distante, como se eu estivesse em constante observação de algo que não consigo entender, ou talvez de algo que nunca tive o direito de tocar. Eles são os olhos de alguém que já viu tudo, mas não lembra de nada. São opacos, sem vida, sem direção.

O cabelo, se é que posso chamar de cabelo, cresce em fios desordenados, mas sempre caindo de maneira que oculta ainda mais meu rosto. Ele não é cortado de forma precisa, não segue nenhuma tendência ou estilo. Parece mais um emaranhado de pensamentos esquecidos que se entrelaçam, sem propósito, como as ideias que nunca se concretizam. Um pouco de brancura começa a surgir nas raízes, como se o tempo, por mais que eu tentasse evitar, estivesse começando a marcar minha pele, mas de uma forma que eu não posso impedir.

Minhas mãos estão sempre escondidas dentro das mangas largas do manto. Não há uma razão concreta para isso, mas me parece que as escondo para evitar o contato com o mundo. Elas são magras, pálidas, como se não tivessem sido usadas para nada significativo, como se o simples ato de tocá-las, de reconhecê-las, fosse uma lembrança do vazio que elas representam. Meus dedos não têm unhas bem cuidadas, nem marcas de trabalho, apenas sinais do desgaste de uma existência que nunca foi vivida.

Meu corpo é esquelético, mas não de uma maneira notável. Não sou magro demais, mas tampouco tenho forma. Não tenho uma presença forte, nem uma ausência definitiva. Sou como uma brisa que passa e ninguém sente. Meu andar é sem pressa, sem direção, como se eu estivesse sempre à espera de algo que nunca chega. Não há pressa em meus passos, como se o tempo não me atingisse, como se eu estivesse fora dele.

Às vezes, meu manto parece pesar mais, como se a cada dia eu estivesse me enterrando mais fundo em mim mesmo. Ele se arrasta pelo chão, arranhando o silêncio, mas sem nunca quebrá-lo. Cada dobra do tecido é uma metáfora para o que sou: um ser distorcido, que se esconde, que evita se revelar, que se perde em sua própria falta de forma.

Eu sou o arquétipo do apático, o reflexo daquilo que ninguém vê, mas que está sempre ali, um símbolo de uma existência que nunca encontrou um propósito, uma identidade. Cada parte de mim é uma representação do vazio, como se eu estivesse em constante fuga de ser visto, de ser compreendido.

Eu não mudei por escolha própria, não foi uma decisão minha me transformar. Fui moldado por tudo o que me rodeava, pelas pressões e expectativas das pessoas que ocuparam minha vida. Eles me empurraram para um lugar onde já não me reconheço, e hoje sou apenas uma sombra do que fui um dia. Ouço constantemente: "Você mudou tanto", como se fosse uma escolha minha. Mas não fui eu quem decidi mudar. Fui forçado, quase como se tivesse sido arrastado para uma transformação que me destruiu por dentro.

Me vejo agora como algo que ninguém quer perto. Como um ser estranho, rejeitado e incompreendido, que não se encaixa mais em nenhum lugar. Sinto-me como se fosse um ser que perdeu toda a sua humanidade, transformado em algo grotesco aos olhos da sociedade. Não sou mais um ser que pode se conectar, que pode se envolver com os outros. Perdi a vontade de fazer parte de algo, pois, ao longo do tempo, fui esvaziado pelas expectativas, pelas cobranças e pelas rejeições.

E agora, olho para mim e me pergunto: quem sou eu realmente? Onde está aquele que eu costumava ser, aquele que ainda acreditava no valor das conexões, na beleza de um simples sorriso ou no poder de uma conversa genuína?

Quem sou eu?

Eu vejo todos ao meu redor, vivendo suas vidas, suas relações, suas interações, e sinto uma distância cada vez maior entre mim e o mundo. Eu, que já fui capaz de sentir algo, agora sou apenas um espectador apático da vida dos outros, um observador distante de tudo o que acontece. Cada palavra que escuto, cada gesto que vejo, parece cada vez mais distante de mim. Eu, que um dia fui parte desse mundo, hoje sou como um estranho, um ser desconectado, que não entende mais como se inserir ou como pertencer.

E o que me dói é que, apesar de não ser mais quem eu era, ainda carrego as marcas dessa transformação. Há uma sensação constante de vazio dentro de mim, como se houvesse um espaço em meu ser que nunca poderia ser preenchido. Tentam me convencer de que isso é normal, que isso é só uma fase, que todo mundo passa por isso em algum momento. Mas eu sei que não é normal. Eu sei que algo dentro de mim se quebrou, algo que nunca mais será reparado. E, no fundo, sinto que fui dilacerado pelas pressões de ser alguém que não sou, de ser o que os outros esperam de mim, de tentar agradar a todos e acabar me perdendo no processo.

O pior é que, mesmo com todo esse vazio, não consigo me libertar dessa sensação de estar preso a um papel que nunca escolhi. Eu sou como uma peça em um quebra-cabeça que não se encaixa mais, forçada a se manter ali porque foi colocada no lugar, mas sem nenhum propósito real. Não há mais paixão em mim, nem a chama que antes iluminava os meus dias. O que resta é uma sobrecarga de expectativas, uma pressão constante de ser algo que, no fundo, eu nunca quis ser. Mas, ao mesmo tempo, não sei mais como fugir disso. Eu não sei mais como ser eu, como me desconectar dessa versão de mim que foi construída por outros, pelas circunstâncias e pelas exigências do mundo.

Eu não me reconheço mais nos outros, e tampouco me reconheço em mim. Fui afastado de mim mesmo, sem ter a chance de entender o que realmente significa ser eu. Cada vez que tento me reconectar, sinto uma resistência, como se parte de mim estivesse tentando se esconder do que se tornou, como se meu verdadeiro eu estivesse preso em um lugar escuro, sem coragem de sair para a luz. O pior é que nem sei mais onde esse lugar escuro está. O que ficou de mim é um vazio que nunca é preenchido, uma sensação constante de que não sou mais capaz de ser quem eu era. Eu sou um eco distante, uma lembrança de um ser que talvez tenha existido, mas que hoje é irreconhecível até para mim.

Eu vejo as pessoas à minha volta, e é como se elas estivessem vivendo em uma realidade paralela. Elas têm sonhos, elas têm esperanças, elas têm desejos. Elas estão vivas, enquanto eu, de alguma forma, já não estou. Estou apenas existindo, como se a vida tivesse me deixado para trás, como se eu fosse uma lembrança de algo que já não importa mais. Tento me enganar, tentando manter algum sentido de normalidade, mas o peso de ser quem os outros querem que eu seja é esmagador. E, no fundo, sei que não posso mais voltar atrás. Não posso recuperar o que perdi, não posso recuperar a minha essência.

O que resta é esse vazio, essa sensação de que estou preso em uma existência sem cor, sem forma, sem sentido. Eu sou um ser em conflito constante, tentando lutar contra algo que não posso mais controlar. Tento encontrar algum propósito, alguma razão para seguir em frente, mas cada passo parece mais pesado que o anterior. Cada tentativa de me conectar com o mundo parece mais distante, mais difícil. Eu sou um estranho em minha própria pele, um ser dividido entre o que fui e o que me tornei, entre o que esperavam de mim e o que eu realmente sou.

E o mais assustador é que, no fundo, temo que essa solidão, esse vazio, já tenha se tornado parte de mim. Que eu tenha me tornado o reflexo daquilo que a sociedade fez de mim, que minha identidade tenha sido consumida até não restar mais nada. Eu não sei mais quem eu sou. Talvez eu nunca tenha sabido. E talvez essa seja a maior tristeza de todas: saber que, apesar de tanto tentar, nunca fui capaz de ser verdadeiramente eu.

O que sou eu? Eu me pergunto isso todos os dias, e a resposta parece se perder, dissolver-se no vazio. Será que eu existo, ou sou apenas um eco distante de algo que já foi? Se não sou lembrado, se não sou comentado, então não sou nada, certo? Tudo o que não é reconhecido, que não é preservado na memória das pessoas, se esvai, desaparece, como se nunca tivesse existido. Então, o que sou eu? Algo que talvez tenha existido apenas para não existir de verdade?

Quem somos nós, seres tão pequenos diante da imensidão do mundo, diante da efemeridade da nossa existência? Quem detém o controle sobre tudo o que nos cerca? Quem é o verdadeiro dono do nada, quando nada parece importar e tudo se dissolve em indiferença? Eu me vejo em uma busca incessante por algo, uma definição, um propósito, mas tudo o que encontro é uma espiral de dúvidas e questionamentos. Quem sou eu? Quem sou eu? Quem sou eu...

Acho que, no fundo, temos o poder de criar e destruir. Mas será que isso é um presente ou uma maldição? Somos horríveis justamente por termos a capacidade de escolher, de decidir, de afetar a realidade à nossa volta. Porque, ao escolher, somos responsáveis, mas, ao mesmo tempo, a escolha é o que dá a cada ato uma beleza sombria, uma intensidade crua. A escolha torna tudo horrível, porque sabemos que, ao optar por algo, podemos destruir outra coisa. E, ainda assim, não podemos deixar de escolher. A escolha nos define, nos consome, nos molda.

Mas, ao fim e ao cabo, o que sou eu? Sou horrível ou belo? Existe algo de belo em mim, ou minha essência é apenas um reflexo de tudo o que perdi? Seria eu um ser verdadeiramente digno de existir, ou sou uma ilusão passageira? Talvez nunca saiba a resposta. Talvez a dúvida seja a única coisa que verdadeiramente tenho. Quem sou eu? Eu existo? Ou sou apenas uma sombra, um fragmento que se perde entre os questionamentos sem fim?

Quem sou eu? Quem sou eu...

Eu olho, eu ando, eu percebo, mas o que vejo me afasta ainda mais de mim mesmo. Vejo um mundo onde tudo tem um propósito, onde tudo é útil, utilizável, e, de alguma forma, importante. Um lápis, por exemplo, é uma simples ferramenta, mas seu valor é claro: ele existe para ser usado, para cumprir uma função, e todos sabem de sua utilidade. Ele tem um papel no mundo. As pessoas o utilizam, ele tem uma história de uso, de utilidade, e isso o torna memorável, reconhecido, indispensável.

Eu, no entanto, sou o oposto disso. Sou o nada. Não sou lembrado, não sou útil, não sou necessário. O mundo gira em torno do consumo, da utilização constante de tudo e todos ao nosso redor. Refrigerantes, água, alimentos, até o ar que respiramos - tudo serve a um propósito, tudo é consumido, tudo tem um valor. Mas e eu? Eu, que não sou consumido, não sou lembrado, não sou utilizado, onde fico? Onde encaixo no meio de tanta utilidade?

É estranho pensar que um simples lápis, com seu único propósito, é mais importante, mais memorável que eu. Ele pode ser usado, riscado, lembrado por suas marcas, enquanto eu sou apenas um eco esquecido. Eu ando por aí, mas ninguém nota. Eu falo, mas ninguém ouve. Eu existo, mas ninguém se importa. O lápis é consumido, utilizado até se desgastar, e sua existência tem significado, tem valor. E eu? Eu sou só mais uma presença vazia no meio de um mundo que só se importa com o que é útil, com o que é consumível. O que sou eu se não sou útil? O que sou eu se não sou lembrado? O que sou eu se ninguém me utiliza? Talvez eu seja o nada, o vácuo entre o que existe e o que desaparece. E talvez, em algum lugar no fundo de mim, eu saiba que sou apenas mais uma coisa que o mundo esquece ao passar.

Quantas pessoas já viveram e morreram antes de mim? Quantos nomes se perderam nas páginas da história, simplesmente porque ninguém mais se lembra deles? Eu, por exemplo, quando me for, será que alguém vai se lembrar do meu nome? A minha existência, ela vai ser lembrada ou vai ser só mais uma gota no oceano do esquecimento? Se não for falada, se não for guardada em algum lugar, desaparece, como uma sombra que se dissipa com o cair da noite. Um lápis, ao menos, continua lá, sendo útil. Ele é importante porque tem um propósito que persiste, uma função que não se apaga com o tempo. Mas eu? Eu sou só mais um na multidão. Bilhões de pessoas ocupando o mesmo espaço, com a mesma ideia de que são especiais, mas, no fim, não somos mais significativos do que um objeto qualquer. No fim, todos somos apenas matéria que ocupa espaço até que alguém nos esqueça. Mesmo que eu seja único em minha essência, minha individualidade não vai mudar o fato de que, sem lembrança, não existo de verdade. Então, no grande esquema da vida, sou só uma ponto de um lápis ou algo menos que isso. Uma coisa que pode ser usada e descartada, sem deixar mais do que um traço no papel.

Será que alguém se importa com quem criou o lápis? Quem é mais lembrado? O criador, ou o próprio lápis? O criador pode até ter sido um gênio, mas ele é só mais um nome perdido, um nome que, com o tempo, foi se esvaindo como areia entre os dedos. O lápis, por outro lado, continua aí, sendo usado todos os dias, sendo essencial para milhões de pessoas, para escrever ideias, para criar mundos, para existir. O lápis é eterno, mesmo que seu criador tenha desaparecido no esquecimento. Ele é mais importante, mais lembrado. Ninguém se lembra de quem inventou o lápis, mas todos sabem o que ele é, sabem o que ele faz, e todos o utilizam em algum momento de suas vidas. Talvez a gente seja como o criador do lápis: criamos nossas próprias histórias, mas somos apenas uma sombra delas, sempre à mercê do esquecimento. No fim, somos os criadores das nossas próprias existências, mas quem vai se lembrar de nós quando não estivermos mais aqui? O que vai perdurar é a nossa utilidade, ou a nossa memória? E, talvez, a resposta seja clara: o lápis. Ele, sim, permanece.

Não entendo.

...

...

...

Quem sou eu?

"Se até o nada é lembrado pelo que deixou de ser, o que sou eu, senão uma ausência sem nome, perdida entre as coisas que o mundo escolheu esquecer?"

"Eu não sou nada, mas ao mesmo tempo sou tudo, pois minha essência não cabe em rótulos, nomes ou expectativas. Sou apenas o bibliotecário da minha própria existência, aquele que observa, mas nunca se define, aquele que é tudo e ao mesmo tempo nada, perdido entre o que vejo e o que sou."