Eve~
Ao adentrar o quarto oculto, uma estranha mistura de admiração e apreensão se apossou de mim. O cheiro de tinta e carvão pairava espesso no ar, entrelaçado com algo cru e terroso, quase como pedra úmida. Era o cheiro inequívoco de um espaço frequentemente utilizado, embora o silêncio aqui parecesse pesado e vigilante, como se as próprias paredes guardassem segredos.
Meus dedos tremiam levemente enquanto eu estendia a mão, deslizando-os pela borda de uma mesa de madeira carregada de pincéis, potes de pigmento e cadernos de esboço, cada objeto arranjado com meticuloso cuidado. Cavaletes estavam espalhados pelo quarto, todos cobertos por lonas sem poeira, suas formas sombreadas e solenes como guardiões silenciosos. Não havia poeira em lugar algum — no chão, nem mesmo nas prateleiras cheias de materiais de arte. Alguém — Hades, eu presumi — visitava este espaço com frequência suficiente para mantê-lo imaculado, intocado pelo descaso.