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Chapter 21 - O Pecado de um Pai

Eve~

Eu me debatia contra as amarras, minha pele ficando crua devido ao atrito. Minha mente era uma horrível cacofonia—vozes, imagens, gritos e rosnados a preenchiam até a borda. Estava me despedaçando de dentro para fora.

A escuridão envolvia-me como um cobertor sufocante, puxando-me mais fundo para o abismo de memórias das quais eu lutava tanto para enterrar. Eu podia sentir o metal frio das agulhas, a queimação das substâncias químicas correndo pelas minhas veias. Cada nervo parecia estar sendo dilacerado, cada respiração um esforço enquanto eu tentava me lembrar onde estava—mas o passado continuava me engolindo por inteiro. Eu só queria esquecer.

Eu não estava naquele laboratório. Eu não era mais a experiência deles. Mas minha mente não se importava.

Minha visão embaçada, meus sentidos sobrecarregados pelo fantasma da dor. As amarras só pioravam a sensação, fazendo-me sentir presa, enjaulada, como um rato de laboratório.

"Por favor, não mais..."

As palavras nunca saíram dos meus lábios, presas na minha garganta enquanto gritos ecoavam em minha mente. Eu estava me afogando na agonia do passado, perdida no ciclo infinito de terror e impotência.

Eu lutava. Me debatia mais forte. As imagens eram tão reais. Cada vez que eu piscava, eu as via—aquelas figuras sem rosto em jalecos brancos, frias e indiferentes, tratando-me como um objeto, algo para ser dissecado, experimentado. O som das máquinas zumbindo em meus ouvidos, a picada aguda dos bisturis perfurando minha pele.

O calor crescendo dentro de mim novamente—fogo que queimava pelas minhas veias, cauterizando cada nervo. Eles estavam me queimando por dentro, assim como antes. Eu queria gritar, fazer parar, mas o som ficou preso em minha garganta.

E então, de repente, havia uma voz.

"Princesa," ele murmurou.

Eu sabia o que era mesmo antes de ver.

Ele caminhou até onde eu jazia, incapaz de escapar. Ele tinha o cabelo puxado para trás e amarrado. A luz refletia nas joias prateadas que adornavam suas orelhas. Eu não tinha chance desde o início—ele usava prata. Um Lycan que usava prata não deveria ter sido possível.

Eu olhava freneticamente por algo, qualquer coisa que pudesse quebrar meus laços.

"Não consegue se libertar?" ele perguntou, seus olhos percorrendo minha forma trêmula.

Minha boca estava seca, e falar era quase doloroso. "Por favor..." eu rouquejei.

"Por favor o quê?" ele perguntou.

"Me deixe ir."

"Você sabe tão bem quanto eu que eu não vou fazer isso."

"Estou com medo," as palavras saíram sufocadas. Segurei a urgência de chorar. Isso tinha sido um pesadelo desde que eu cheguei. Eu colocaria em perigo as pessoas de Silverpine e enlouqueceria. Mas antes que isso acontecesse, eu faria algo a respeito primeiro.

O olhar de Hades permanecia impassível, como se ele fosse uma rocha sem sentimentos. Seus olhos escureceram, e meu coração pulou uma batida horrível. Algo monstruoso refletiu em seus olhos enquanto ele diminuía a distância entre nós. A visão me gelou até a medula.

Quando estava perto o suficiente, ele segurou meu rosto pelas bochechas. Seu toque era um contraste gritante com o frio de sua expressão. Ele estava quente.

"Está com medo, princesa?" A voz dele estava baixa, zombeteira. Seus dedos apertaram em minhas bochechas, forçando-me a olhar para aqueles olhos frios e implacáveis. "Já?"

Eu engoli, até minha própria saliva ardia por dentro da garganta.

"Mas nós só começamos."

Meu estômago despencou.

"Essa aliança será sua ruína. Você viverá o resto de seus dias miseráveis como eu achar melhor. Não pode fugir nem se esconder de mim. Escapar é inútil. Eu serei o seu destino."

O desprezo em sua voz ia além de qualquer coisa que eu pudesse ter feito. Eu podia vê-lo no brilho mortal de seus olhos. Seu rosto já não era impassível enquanto ele falava, ele tinha se contorcido em algo muito mais sombrio—ódio puro que parecia reverberar no ar ao nosso redor.

"Por quê?" eu disse. "Por que você me odeia tanto?"

Os lábios de Hades torceram-se em um sorriso cruel, um que enviava arrepios pela minha espinha. Ele se inclinou para mais perto, seu hálito quente contra minha pele enquanto sussurrava, "Isso não é sobre você, princesa. Nunca foi. É sobre o seu pai."

Meu coração deu um salto no peito. "Meu pai?" Minha voz saiu fraca, mal um sussurro, enquanto o terror se enrolava mais apertado dentro de mim.

Seu aperto em meu rosto apertou apenas o suficiente para me fazer estremecer, mas não o bastante para deixar uma marca. "Ah sim," ele disse, sua voz pingando veneno. "Seu amado pai, o grande Alfa de Silverpine. Ele é a razão de tudo isso. Cada gota de dor que você está suportando? É por causa dele."

Eu tentei balançar a cabeça, tentar negar a verdade de suas palavras, mas eu podia sentir o peso delas me esmagando. Eu ofeguei, lutando por ar, minha mente acelerando. O que o meu pai poderia ter feito ao rei Lycan para causar esse nível de ódio intenso e ainda assim fazê-lo concordar com uma aliança? Havia tanto que eu não sabia. Algo não se encaixava.

O olhar de Hades estreitou, escuro e calculista. "Ele fez uma escolha, há muito tempo. E agora... você está pagando o preço." Seus lábios pairavam a poucos centímetros dos meus, e sua voz abaixou para um murmúrio perigoso. "Ele pensou que poderia se esconder do passado. Mas o passado sempre alcança, não é?"

Eu engoli, minha garganta seca e apertada. "O que ele fez?" Eu consegui dizer, engasgada.

"Por que eu não deixo você adivinhando?" ele zombou. "Então perca a cabeça, princesa, imaginando o que exatamente aconteceu. Eu quero ver você quebrar. E eu vou aproveitar cada segundo disso."

Eu apertei os olhos fechados, desejando desaparecer, acordar desse pesadelo. Mas lá no fundo, eu sabia que não havia como acordar. Esta era a minha realidade agora. Uma realidade moldada pela escuridão do passado do meu pai e a sede implacável de vingança de Hades.

"Essa era a razão pela qual você me queria," eu disse, meu lábio inferior tremendo. "Eu era a troca para que você não travasse a guerra."

Ele sorriu, mas era tudo dentes e arestas afiadas. "E ele te entregou diretamente."

O que restava do meu coração frágil se estilhaçou naquele momento. Este casamento não era como os outros—construído para forjar alianças, fortalecer laços. Eu não era uma noiva. Eu era um sacrifício, enviado ao abate em troca da paz. Eu era uma simples troca. Meu pai não poderia desistir de sua querida filha para ser torturada por causa de seus próprios crimes contra o rei Lycan, então me enviaram.

Lágrimas se acumulavam em meus olhos, ameaçando transbordar, mas eu me recusei a deixá-lo ver-me quebrar. Ainda não. Eu engolia o nó em minha garganta, forçando as palavras para fora mesmo que cada sílaba queimasse como ácido.

"Ele me entregou... para você torturar," eu sussurrei, a realização tão pesada que esmagou o último grama de força que eu tinha. "Ele me sacrificou... por causa de algo que ele fez. E você—" minha voz falhou, "você está me punindo pelos pecados dele."

O sorriso de Hades só se alargou, um brilho malévolo cintilando em seus olhos. "Exatamente," ele sibilou, sua voz escorrendo malícia. "Seu pai é um covarde, escondendo-se atrás de seu poder e suas mentiras. Mas ninguém foge de suas dívidas para sempre." Seus dedos traçavam minha mandíbula, um contraste nauseante entre a suavidade de seu toque e a crueldade em suas palavras. "E agora, você vai pagar pelos erros dele. Todos. Eles."

O ódio irradiando dele era palpável, sufocando-me enquanto ele continuava. "Seu pai tem sido o objeto da minha ira por cinco longos anos de merda."

Sua mão deslizou até minha garganta, apertando apenas o suficiente para me fazer ofegar por ar, meu pulso acelerando sob suas pontas dos dedos. "Eu esperei por esse momento, Ellen. Esperei pelo dia em que eu teria a filha dele em meu aperto." Ele se inclinou, seu hálito quente contra minha orelha enquanto sussurrava, "Para que eu pudesse esmagá-la."

Um soluço rasgou minha garganta antes que eu pudesse impedi-lo, meu corpo tremendo com a força dele. Eu queria lutar, gritar, mas eu não tinha mais forças. A verdade me esmagou como um torno, espremendo a vida para fora de mim. Nunca houve uma chance de que eu seria levada de volta a Silverpine, meu pai nunca planejou que eu voltasse. A missão de me enviar para matar Hades, o veneno; tudo tinha sido apenas uma piada doentia porque ele sabia que eu falharia. Eles provavelmente estavam rindo da minha estupidez. Eles me desprezavam tanto?

Eu ofegava, o ar espesso e doloroso em meus pulmões. O desespero envolvia-me como correntes, me puxando para baixo em um poço sem fundo. Eu podia senti-lo—as rachaduras se formando dentro de mim, espalhando-se como fraturas em vidro. Eu estava quebrando, e eu não podia impedir.

O aperto de Hades apertou apenas levemente, um aviso, antes de finalmente me soltar. Seus olhos estavam frios, desprovidos de sentimento, como se o ódio dentro dele tivesse queimado todo vestígio de humanidade. O que meu pai tinha feito?

"Não chore agora," ele disse, sua voz baixa, quase um rosnado. "Guarde-as para quando você realmente precisar delas."

Eu mordi o lábio para evitar soluços, a dor me rasgando enquanto eu percebia que não havia escapatória, nenhuma salvação. Eu estava presa neste pesadelo, e ninguém viria me salvar. Nem minha família. Nem ninguém.

Eu estava sozinha.

E enquanto Hades se virava e me deixava ali, quebrada e tremendo na escuridão que meu mundo havia se tornado, o desespero me engolia por completo.