Uma sensação de que o ar estava mais pesado era notável com a chegada da figura ao trono, Sekire sentiu o chão sob seus pés como se estivesse se afundando em um ocenao, um estranho poder emanava da garota diante dela, sufocando qualquer impulso de erguer o olhar.
Feitan por outro lado estaria tranquilo diante a presença daquela em suas frentes, mantendo-se neutro e se curvando apenas cordialmente.
— Levantem — A voz soou surpreendentemente suave, carregada de uma autoridade natural, mas também em um timbre infantil
Sekire, mesmo com a pressão sobre seu corpo, conseguiu levantar após a ordem olhando lentamente até o trono e vendo quem esta julgava ser a rainha.
No trono, havia uma garota aparentemente 6 anos mais velha que Sekire, a qual esbanjava uma arrogância enorme como se pudesse mover até mesmo reinos de lugar. A menina vestia-se de forma peculiar, com um traje que mesclava a sofisticação de um membro da realeza, Um manto azul profundo, tão escuro quanto o céu de uma noite sem lua, caía em cascatas de seda ao seu redor. Os bordados prateados formavam constelações, serpenteando pelo tecido. Sob o manto, um vestido justo, negro e brilhante, parecia capturar e consumir a luz ao seu redor. Seus cabelos prateados escorriam como fios de lua, e os olhos, de um rosa vivo, cintilavam como se tivessem roubado o brilho de uma estrela. Os brincos que pendiam de suas orelhas tilintavam baixinho com seu movimento, enquanto a bandana no braço esquerdo marcava uma excentricidade que só aumentava seu ar imponente.
— Fei Fei! — exclamou a garota, ignorando completamente Sekire por um momento. — Até que enfim! Achei que tinha morrido no caminho ou virado uma estátua de gelo.
Feitan apenas se levantou calmamente e então proferiu se curvando lentamente.
A viagem foi longa, mas ainda estou inteiro. — Sua voz era tranquila, quase desinteressada, como se a exasperação da jovem princesa fosse algo rotineiro.
Sekire olhou para a garota, confusa. Afinal, como alguém tão nova poderia ter o posto de rainha?
— É um prazer conhecê-la, majestade — disse Sekire, fazendo uma reverência desajeitada. — Eu... não sabia que a rainha era tão...
A garota gargalhou, interrompendo Sekire antes que ela pudesse terminar a frase. Feitan cruzou os braços, observando tudo como se já tivesse previsto aquela confusão.
— Rainha? Eu? — A garota se jogou no trono como se fosse um sofá, cruzando as pernas e apoiando o queixo na mão. — Não, querida, eu sou muito mais divertida que isso. E, sinceramente, rainha soa tão antiquado. Pode me chamar de Mabel. Sou a princesa de axoland.
Sekire estava completamente confusa. Ela olhou para Feitan em busca de alguma confirmação, mas ele apenas falou com sua calma habitual:
— Sim ela é a princesa, não a rainha. E, sim, ela governa por aqui ainda que não tenha assumido oficialmente. Porém, não deixe a aparência te enganar Sekire.
Mabel fez um gesto exagerado, como se estivesse envaidecida.
— Olha só, Fei Fei, sempre tão direto. É isso que eu gosto em você. Sem palavras desnecessária igual ao Kallavan e Atlas. Uma pena que isso te faz tão entediante às vezes.
Sekire estava boquiaberta. Essa menina era a princesa? E ainda por cima superior do Feitan?
— Você está me dizendo que ela... — Sekire apontou para Mabel, ainda incrédula.
Mabel riu de novo, esticando o braço como se quisesse dar um tapinha no ombro de Sekire, mas de longe.
— Parece que alguém aqui não sabe disfarçar o choque. — Ela se levantou, caminhando até Sekire com passos leves e despreocupados. — Eu sei que sou impressionante. Doze anos e já movendo peças no tabuleiro de reinos inteiros. Acho que posso dizer que estou na minha melhor forma! E não me subestime só porque ainda não atingi a altura do Fei Fei aqui. — Ela piscou para Feitan, ignorando o olhar frio que ele lançou de volta.
Feitan suspirou.
— Fei Fei? — Sekire fica ainda mais em choque em ver alguem tão sério com um apelido do tipo.
— Sim! É meu apelido carinhoso pra ele. — Mabel respondeu, rindo como se estivesse contando a piada mais engraçada do mundo. — Você sabia que ele fica ainda mais sério quando eu o chamo assim? Parece que carrega o peso de ser o maior chato do mundo. Relaxa, Fei Fei, o mundo não vai acabar por causa de um apelido fofo.
Feitan suspirou profundamente, ignorando a provocação.
— Mabel, temos coisas mais importantes a discutir.
A princesa sorriu ainda mais.
— Claro, claro. Mas primeiro, garota, bem-vinda a Axoland. Eu sou Mabel Abyciss, governante temporária, prodígio indesejado e, segundo muitos, uma "ameaça existencial em forma de criança". Enfim, antes de perguntar sobre essa garota, preciso que me informe sobre sua missão Feitan.
Feitan mudaria o tom da conversa somente ao iniciar a falar sobre a situação de Kitsumi, e ironicamente, a princesa simplesmente tomaria uma postura séria de uma governante instantaneamente.
— A situação em Kitsumi está pior do que esperávamos. A capital, rica e cheia de ostentação, continua a ser um símbolo de luxúria, enquanto o resto do reino está sucumbindo à fome e ao desespero. O povo sofre, mas os nobres jogam seus jogos, como sempre. Parece que estão testando uma seleção natural, e a maioria já está fadada à morte.
Os olhos rosa estrelados de mabel demonstravam uma postura de indignação, e a atmosfera ao redor dela parecia pesar. Agora finalmente ela estava como uma monarca de verdade.
— Isso é um pesadelo. — Ela disse, mas com uma calma que contrastava com a indignação que claramente sentia. — As pessoas estão morendo e ninguém faz nada? As elites enchendo os bolsos enquanto o povo se afunda? Meus pais podem estar controlando os bastidores, mas isso é inaceitável.
— Encontrei Sekire em meio a essa miséria. Seu vilarejo foi possivelmente atacado por um general ou uma criatura magica, ja que ela tem 6 anos é meio incerto afirmar qualquer coisa, entretanto, ela sobreviveu em meio a fome, tortura e até mesmo ao frio extremo. Ela claramente tem potencial e seria uma peça de valor, por isso a trouxe comigo — Diz Feitan expressando uma certa raiva e desprezo pelos aristocratas de Kitsumi.
— É Sekire seu nome né? — Mabel virou seu olhar para a jovem, a expressão de quem analisava uma peça que ainda não sabia onde encaixar. — O que temos aqui... Bem me diga por que eu deveria me importar com você?
Sekire sentiu o peso da pergunta, mas não sabia o que responder. Ela olhou para Feitan, mas ele não deu nenhuma pista sobre o que esperar.
— Eu... não sou nada além de uma sobrevivente. — Sekire disse com voz trêmula, sentindo a pressão se intensificar. — Feitan me trouxe... não sei o que fazer aqui.
Mabel se inclinou para frente no trono, observando Sekire com um olhar que parecia perfurar cada centímetro da sua alma.
— Ah sim, uma sobrevivente? Quer que eu sinta pena? Que patética. Você acha que vai ser poupada só porque teve sorte em não morrer em Kitsumi? — Mabel se levantou e caminhou lentamente até Sekire, seus passos pesados, como se cada palavra sua fosse uma sentença. A Pressão exercida faria Sekire pender ao chão novamente, porém Mabel segura seu rosto e não permite que esta caia — Você está aqui, porque Feitan achou que seria útil. Útil para quem, exatamente? Para mim? Para Axoland? Ou só mais um fantasma tentando se esconder entre as sombras?
— Eu não vou ser gentil. Não há espaço para gentileza em Axoland. — Mabel disse encarando-a como uma predadora.
— O que você quer? — Mabel falou e um silencio tomou conta do local.
Sekire olhou para Feitan mais uma vez, mas ele não parecia disposto a intervir. Então ela fechou seus olhos, esvaziando assim sua mente e ficando em paz com seu subconsciente, assim conseguindo forças para responder Mabel.
— Eu... eu quero viver. — Diz Sekire desabando em lagrimas, enquanto luta para se manter de pé devido a pressão de Mabel
Ao ouvir a resposta de Sekire, Mabel rapidamente abriria um sorriso de felicidade e alegria. Ela sabia exatamente o que estava fazendo, e a pressão que estava impondo a Sekire não era apenas um teste de resistência, mas um modo de ver até onde ela iria para provar que tinha algo a oferecer. Quando Sekire finalmente falou, Mabel não pode deixar de sorrir com um misto de satisfação e empatia genuína.
Sekire ainda estaria desabando em lagrimas, tentava se recompor, mas falhava.
— Hahaha! Você é mesmo uma figura! — Mabel riu, a pressão que havia imposto desaparecendo instantaneamente. — Sabe, eu realmente gosto de você. Pensei que ia ver você se esfarelando, mas você... você realmente quer viver, não é? Esse é o tipo de gente que eu gosto! Não sei se você tem muita habilidade, ou se tem algum grande plano, mas você tem vontade, apesar de ser mais nova que eu.
— Eu estava te pressionando, Sekire. Um teste de vontade. Só queria ver até onde sua vontade iria. E, você passou. — Mabel disse com um sorriso largo. — Parabéns, você tem o que é necessário para viver, pelo menos aqui. O resto... bem, o resto é com você.
— Eu estava te pressionando, Sekire. Um teste de vontade. Só queria ver até onde sua vontade iria. E, você passou. — Mabel disse com um sorriso largo. — Parabéns, você tem o que é necessário para viver, pelo menos aqui. O resto... bem, o resto é com você.
— Então, olha só, não vou te matar nem nada disso, e muito menos deixar você apodrecer em algum buraco. Eu, Mabel Abyciss, princesa de Axoland, decidi que você vai viver. Eu vou mandar você para a família Netherheart. Eles são diplomatas e alguns guerreiros, como a borboleta venenosa: Lizbeth, enfim, eles sabem como jogar as cartas, e, bem... eles podem te ensinar um pouco sobre como ter sucesso em Axoland. Não é que você vá se tornar uma grande guerreira, mas quem sabe? Se aprender com eles e der o seu melhor, quem sabe sua força de vontade não te leva até um lugar mais alto? Eles costumam ser super acolhedores. Vão te dar tudo o que você precisa para... sabe, ter liberdade de ser o que quiser.
Sekire ainda estava um pouco atordoada com o que estava acontecendo. Ela não conseguia entender se estava sendo manipulada ou se realmente havia algo por trás dessa repentina mudança de comportamento da princesa. Mabel percebeu a confusão de Sekire e deu uma risada leve, se jogando no trono novamente com um sorriso travesso.
— Ah, e antes que eu me esqueça, Sekire, deixa eu te contar uma coisa sobre o futuro, caso você queira se tornar alguém realmente poderoso. — Mabel deu uma pausa dramática, vendo o olhar atento de Sekire. — Em Axoland, há um grupo muito especial, os Rokusei. São os 9 grandes líderes das divisões do nosso reino. Se você realmente tiver o que é necessário, poderá roubar os postos deles
Mabel deu uma risadinha, deixando o mistério no ar.
— Os nomes? Bom, temos o Senhor do luar: Atlas, o Guerreiro da Aurora: Kallavan, o que você ja conhece, o famigerado Deus da Destruição Feitan, o Sabio e mais poderoso: Mark O'malley, o senhor musculos: Makro, a Calmaria Sangrenta: Nuvem, o calculista Ehara, o que recem chegou Kirizo e, claro, um dos mais respeitados: Beto. Todos são poderosos, e se você se esforçar, aprender, quem sabe você possa até um dia competir com eles. Não estou dizendo que vai ser fácil, mas se você não tentar, nunca vai saber.
Mabel se levantou novamente, com o sorriso ainda nos lábios.
— Então, vai ser isso. Vai para os Netherheart, vai aprender, vai crescer. E quem sabe, no futuro, você vire uma grande jogadora de Axoland. Se tiver sorte, talvez até um Rokusei. — Ela piscou para Sekire. — Agora, vai lá e mostre o que você vale, vai!
Feitan, que estava em silêncio até então, apenas observou a cena com seus olhos calculistas. Ele sabia que Mabel estava fazendo uma aposta com Sekire, e, de algum modo, sabia que ela se sairia bem. Não era o tipo de garota que se entregaria facilmente. Mabel olhou para Feitan, e ele apenas deu um joinha, como quem diz: "Vamos ver o que ela consegue fazer".
— Bem-vinda ao meu jogo, Sekire. Vamos ver como você joga as cartas. — Mabel sorriu novamente, mais uma vez se recostando no trono e dizendo com um tom descontraído.
No termino de tudo, Feitan então iniciaria sua retirada do local, afinal sua missão ja estava concluida. Então ele se reverencia para Mabel, e ruma a saida parando ao lado de Sekire.
— Só não me decepcione. Te vejo por ai — Dizia ele em seu tom apatico como sempre.
— Obrigada... por tudo. — Ela olhou para ele com gratidão, as palavras quase saindo em um suspiro.
Feitan apenas deu um meio sorriso, algo raro para ele, antes de se afastar um passo. Seus olhos se estreitaram ligeiramente enquanto ele falava, com um tom impessoal e desinteressado.
— Apenas te achei útil. Não espere mais do que isso. — Ele concluiu, antes de se virar, indo em direção à porta. Sem mais palavras, ele se retirou da sala, deixando Sekire sozinha com Mabel, que observava a cena com um sorriso divertido, mas também satisfeito com a maneira como as coisas estavam se desenrolando.
— Agora, vamos fazer o seguinte, Sekire. — Mabel disse, se levantando do trono. — Como você vai ficar aqui por um tempo, vou te arranjar um quarto. Nada de luxo, mas ao menos você vai ter um lugar para dormir sem se preocupar em ser jogada na rua. Vou designar uma empregada para te cuidar e, logo em seguida, vou falar com Clemearl, a líder da família Netherheart, sobre o sua estadia e treinamento de serviçal. Vai ser um pouco intenso, mas talvez você se surpreenda.
Horas depois, Sekire estava no seu novo quarto, refletindo sobre os últimos dias de sua vida. Ela havia sobrevivido, mas a incerteza do futuro a deixava mal e ansiosa, como sua vida poderia melhorar? Ou piorar?
Ela tomou um banho, sentindo o calor da água misturado com a sensação de alívio que só podia vir depois de passar por algo tão intenso. Enquanto se secava e se preparava para deitar na cama, uma sensação estranha a envolvia. Ela estava em paz, mas também sabia que algo dentro de si ainda estava incompleto. Algo sobre seu passado, algo que ela precisava descobrir.
Finalmente, Sekire se deitou na cama do quarto que Mabel lhe havia designado. Ela olhou para o teto, com os olhos vagando por aquele ambiente novo e estranho. Tudo o que ela sabia era que, por agora, a paz era algo que ela nunca havia experimentado antes. Mas, ao mesmo tempo, um desejo de entender mais sobre quem ela realmente era se formava em sua mente.
Enquanto o sono a envolvia, os pensamentos começaram a se misturar. Ela precisava descobrir mais sobre sua vida passada. O que havia acontecido com ela antes de tudo isso? Quem ela realmente era? Mas, por enquanto, ela não queria se perder nesses pensamentos. Por um momento, ela queria aproveitar a paz provisória que lhe fora concedida.
E assim, deitada na cama, Sekire não pôde evitar o sentimento de felicidade que a invadiu. Ela tinha a chance de viver. Algo que ela jamais imaginou que teria novamente. Ela deixou que as lágrimas descessem silenciosas por seu rosto, mas desta vez, eram lágrimas de felicidade.
— Eu posso viver... — ela murmurou para si mesma, enquanto o sono a tomava, e a imagem de uma garota de 6 anos, deitada na cama, chorando de felicidade por ter uma chance de recomeçar.