Perséfone ajustava o véu diante do espelho, tentando acalmar as mãos trêmulas. A textura delicada do tule mal escondia a ansiedade que transbordava de seus olhos. A sala onde esperava o início da cerimônia estava impecavelmente decorada: flores brancas preenchiam o espaço, o perfume das rosas misturando-se à expectativa que pairava no ar. Ela respirou fundo, olhando para si mesma. "Estou realmente pronta para isso?", pensou.
A porta se abriu, e Helena, sua melhor amiga e madrinha, entrou apressada. O rosto dela estava pálido, e seus movimentos normalmente confiantes eram hesitantes.
– Perséfone, posso falar com você? É urgente – disse ela, fechando a porta com cuidado.
– Claro. O que foi? – Perséfone respondeu, sentindo um frio no estômago. A expressão de Helena não trazia boas notícias.
Helena hesitou, mordendo o lábio. – Não sei como dizer isso, mas acho que você precisa ver isto antes de dar qualquer passo hoje.
Ela entregou o celular para Perséfone, com a tela já desbloqueada. No vídeo, Eduardo – o homem que Perséfone estava prestes a chamar de marido – aparecia em uma cena íntima com outra mulher. Eles estavam em um restaurante, em um canto discreto, mas o carinho entre eles era impossível de negar.
Perséfone sentiu o chão sumir. Ela piscou várias vezes, esperando acordar de um pesadelo, mas o vídeo continuava ali, rodando em loop.
– Quando foi isso? – conseguiu perguntar, a voz quase um sussurro.
– Dois dias atrás. Uma amiga minha estava no mesmo lugar e gravou. Ela não sabia que era ele até me enviar ontem à noite. Eu não sabia como te contar... – Helena começou a chorar.
Perséfone ficou em silêncio por um momento que pareceu uma eternidade. Todo o seu futuro com Eduardo – as promessas, os planos, o sonho do "felizes para sempre" – desmoronava diante dela.
– Como ele teve coragem? – murmurou. Sua voz estava carregada de incredulidade e dor.
Helena colocou a mão no ombro dela. – Você merece saber a verdade. Eu sinto muito, Perséfone.
Ela se afastou, tirando o véu da cabeça com raiva. As lágrimas começaram a escorrer, mas ela não tinha forças para segurá-las.
A porta se abriu novamente, desta vez com sua mãe entrando com um sorriso radiante. – Perséfone, está quase na hora. Você está pronta?
– Não, mãe, não estou – respondeu Perséfone, encarando a mulher que sempre a ensinou a ser forte, mas que, naquele momento, parecia tão distante da dor que ela sentia. – Não vai haver casamento.
O choque no rosto de sua mãe foi evidente, mas Perséfone não ficou para ouvir as explicações. Ela saiu pela porta lateral da sala, o vestido pesado arrastando pelo chão, até alcançar o estacionamento. As lágrimas ainda corriam quando ela entrou no carro, apertando o volante com força.
Com o motor ligado, ela dirigiu sem rumo, querendo fugir de tudo: do salão decorado, dos convidados curiosos e, principalmente, do que Eduardo havia feito. Ela estacionou horas depois em uma praia deserta, o som das ondas quebrando a quietude de seus pensamentos.
Sentada na areia, abraçou os joelhos e deixou as emoções fluírem. Era o fim de uma era – e talvez o início de algo maior.