Moro em Berkeley uma pequena cidade pacata localizada na costa leste da baía de São Francisco no estado da Califórnia.Nunca saí da cidade na verdade nunca precisei, embora eu não venha de uma família financeiramente estável, nunca me faltava nada, meus pais sempre fizeram de tudo para que eu e minhas irmãs tivéssemos tudo o que precisávamos. Mas nem tudo estava ao nosso alcance e chegou o momento que precisei ir em busca dos meus sonhos foi o que fiz. Estou no meu último ano de artes cênicas, na tão renomada faculdade de Berkeley. Foi uma grande surpresa eu ter passado, embora ela sempre ter sido a minha única opção de ensino superior, bom não só minha mas de quase toda a cidade. Quem tinha condições mudava de cidade os que não, essa faculdade se tornava única opção, tanto para mim quanto para as minhas irmãs.
A minha entrada na faculdade Berkeley foi uma grande alegria e tudo isso graças a minha atuação como medusa em uma peça da escola no ensino médio sobre mitologia grega. Lembro até hoje, "Deuses do olimpo". Todos sabiam que tinham olheiros de Berkeley no teatro da escola e iam oferecer bolsa de estudo para os melhores, e eu tive que dar o meu melhor, eu tinha que ser notada e então fui.
Passei momentos incríveis na faculdade, embora eu tenha passado por muitos perrengues, mas estou falando da faculdade, quem nunca passou ? Agora que estou no final, preciso encontrar meu caminho. Não é fácil encontrar emprego/estágio na área que quero trabalhar, e na minha cidade não tem muitas opções e a única mais "acessível" é de professora de teatro, nada contra mas eu quero mais.Então com o pouco que eu tinha e com o pouco que minha família podia me dar, me mudei para Los Angeles a Capital Criativa do Mundo. Lá há mais artistas, escritores, cineastas, atores, bailarinos e músicos em Los Angeles do que qualquer outra cidade em qualquer época da história da civilização.
Será que dei um passo maior que as minhas pernas ? Será que estou pronta ? São perguntas que me rodeiam diariamente. O medo do fracasso me persegue. Mas eu precisava tentar. E agora estou aqui, em busca de oportunidades.Consegui com ajuda de conhecidos uma kitnet de 3 cômodos, uma cozinha, quarto e banheiro. O lugar é pequeno mas é aconchegante. Tudo estava indo bem, uma garota do interior em los Angeles, o que poderia dar errado ?
- Belinda Patterson Lima !- Belinda Patterson Lima ? ( Tom mais alto)
- Oi, sim estou aqui sou a Belinda
- Você precisa preencher essa folha e contar detalhadamente o que aconteceu.
- Certo obrigada.__________________ minutos depois_______________
- Belinda Patterson Lima, 24 anos, latino americana, nascida em Berkeley, Califórnia.Encaro a policial na minha frente de feições rígidas e olhos de um azul gélido, ela me olha de cima a baixo e repete em tom zombeteiro.- Latino americana ? Vc não parece ser latina.- Eu sou metade latina e metade americana como vc pode ver nos meus documentos.
Respondo em um tom sério, como se isso fizesse alguma diferença.- Não sabia que existia latinas ruivas- Você tem mais cara de irlandesa, com aquelas saia quadriculadas.
- As saias quadriculadas são dos escoceses ( Rebato).- Tudo igual, são todos ruivos mesmo.- Mas a cor do cabelo não defini nacionalidade.Que absurdo, mulher ignorante, ela vai mesmo perder tempo me avaliando do que avaliando o meu caso. Dei um sorriso rústico, sem dizer mais nada ,então ela continuou.- Vc estava em uma loja de moveis usados no subúrbio de Skid Row, o acusado te vendeu uma cama, e um fogão, vc pagou ele adiantado e elefugiu com o seu dinheiro.
- Vc pagou antes de os moveis serem deixados na sua casa ?
Ela olha pra mim com olhar de desdém. Como se eu fosse a pessoa mais burra que já vira, do jeito que e ela falou o meu relato realmente pareceu uma burrice e eu me senti assim.A raiva cresceu dentro de mim. Fui roubada, e ainda sou tratada assim na delegacia. Fecho meus olhos, respiro fundo.
- Ele foi convincente, disse que era norma da loja receber o pagamento antes. Os moveis estavam em ótimo estado.- Eu, eu não sábia que era golpe, ele parecia confiável.
- Hum, todos parecem senhorita Belinda. É assim que eles enganam e roubam as pessoas.
Ela me encara seria, como se sentisse alguma coisa, mas não deixa transparecer.Luto contra a vontade de chorar, mas não vou, detesto chorar. Fico com a cara toda inchada e o nariz entope e fico literalmente sem conseguir respirar é uma visão deprimente.Balanço a cabeça tentando afastar a imagem.Levanto a cabeça e pergunto seriamente quando que meu caso será resolvido. Ela Balança a cabeça em negação.- Precisamos investigar, mas pelo que a senhorita escreveu, que quando foi procura a loja ela tinha sumido e que só restou o espaço vazio. Provavelmente fugiram e a essa hora já devem está muito longe.Bufo de frustração, esses covardes me roubaram 800 dólares. Agora só me restou dinheiro para as compras do mercado e uma hora esse dinheiro vai acabar também.Parabéns Belinda, com 2 semana que vc chegou em Los Angeles reprovou 2 testes e até conseguiu ser roubada, parabéns. Mas não fosso ficar pensando negativo, tenho que focar no agora.
- E o que vc sugere ?Pergunto a policial que está desinteressada.
- Agora só esperar, se encontrarmos algo entramos em contato com você.Ela me responde.A policial balança a cabeça negativamente em quanto guarda a minha ocorrência em uma pasta, ela levanta a cabeça com a visão focada atrás de mim grita.- PróximoooOlho pra trás, e vejo que a delegacia encheu, tem pessoas gritando, falando alto, brigando , polícia andado de um lado para o outro, um verdadeiro caos.Sem olhar de volta pra policial que me atendeu, levanta pego minha bolsa e saio sem olhar pra trás.
Quando saio na porta percebo que já anoiteceu.Vou em direção ao ponto de ônibus que fica a um quarteirão da delegacia.Nossa que dia, estou exausta. Eu nunca tinha ido em uma delegacia antes, e foi terrível, não recomendo.Eu já estava ficando com dor na bunda de ficar tanto tempo sentada.
Viro o quarteirão e do de cara com um grupo de homens, fumando e rindo alto. (Era só o que me faltava).
Meu instinto fica em alerta, estou sozinha, a noite em Los Angeles, nessa rua em específico não tem muito movimento, melhor trocar de calçada. Quando estou atravessando a rua, o grupo me avista e começa a me chamar.
- Que isso, muito linda.- Hó ruivinha, tá sozinha ?
- Vem se divertir com a gente.
Sem olhar, continuo o meu caminho, só ouço as vozes, não sei dizer quem estava falando. Mas foram 3 caras diferentes que soltaram as cantadas.Apresso o meu passo. Olho pra trás e eles estão vindo logo atrás. Há não, porque isso está acontecendo comigo ?Olho em volta não tem ninguém pra pedir ajuda. Meu desespero só cresce.
Entro quase correndo na primeira rua estreita e escura a minha esquerda, depois viro em outra a direita e viro em outra na direita novamente, e me escondo atrás de uma caçamba de lixo, bem na sombra, agacho ficando em silêncio.
Escuto eles passando direto, ainda chamando por mim.Esperei mais ou menos uns 5 minutos , só pra assegurar que eles não vão me pegar saindo do meu esconderijo.
Tento conter o tremor que percorrer minhas pernas. Não tem como esse dia piorar. Por favor eu imploro. Digo mentalmente.
Levanto ainda assustada, quando um grito irrompe de uma rua escura que da acesso onde estou.Todo meu corpo se arrepia, meu coração acelerar. Sinto perigo vindo da direção do grito.Meu corpo paralisa de medo. Quero sair correndo mas meu corpo não me obedece. O que eu faço, o que eu faço. Minha mente repete várias e várias vezes.
O grito se aproxima, agora consigo identificar, é uma garota gritando.
Um estrondo alto irrompe a noite e despertar meu corpo inerte pelo medo. Consigo me mover agora, quando estou preste a sair a garota grita de novo seguido de um som de metal batendo contra algo duro.
Algo desperta minha curiosidade.O grito é uma mistura de coragem e raiva. Ela não está gritando de medo ou por socorro.Ela está lutando, o grito é de luta ?Vamos Belinda sai daqui, sai agora enquanto há tempo corre vamos.Finalmente começo a correr, corro muito rápido meus pulmões começam a queimar. Mas o que estou fazendo ? Eu deveria está correndo na direção oposta pra me salvar e não na direção que vem o grito. Eu fiquei louca, definitivamente perdi o meu juízo.Quando chego perto, vejo uma garota loira, de vestido longo e sujo de sangue ? Há meu Deus.Ela impunha uma espada grande e a aponta para a escuridão.Ela grita de novo.- Vem me pegar seu desgraçado
- Vemmm
- Eu não tenho medo, não mais.
Da escuridão sai uma criatura de quase 3 metro, esguia, com a pele cinza escuro e putrefada. Com dentes grandes e afiados que quase chegam aos seus olhos pequenos e brancos.A criatura dá um passo e depois outros ficando totalmente sob a luz da lua.
Ela é corcunda tem sua coluna toda exposta . Um cheiro putrefaz invade o lugar. Meu estômago revira, pois sinto o cheiro de morte. Só consigo dizer.
- Mas que porra é essa ?A Criatura avança em direção a garota tão rápido que eu mal consegui captar seus movimentos.Quando percebo a garota já se encontrava no chão, ela estava sangrando.
A espada que ela tinha nas mão foi lançada longe do alcance dela.
O choque da cena envia adrenalina pelo meu corpo e quando me dou conta, estou correndo em direção a criatura já com a espada em mãos. Enfio a espada com tudo em um dos olhos do bicho, a espada entra com tudo, a criatura urra de dor e se afasta me dando tempo suficiente para puxar a garota pelo braço e sair correndo.
Pego o braços dela e jogo sobre meus ombros e uso toda a minha força para arrasta-la dali.Ela com espanto no rosto olha para mim, me segura firme e juntas saímos correndo em meio a rua onde adentramos em uma galeria escura.
Quando sinto que estamos longe o suficiente, nos jogamos contra a parede.
Com a respiração pesada olhamos uma para a outra e nos encaramos por alguns minutos, ela recupera o fôlego e então quebrar o silêncio.- O que vc fez foi incrível, vc foi muito rápida, quase nem notei quando vc se aproximou.Ela fala com choque e entusiasmo.
Olho pra ela estupefata- Como assim ?
- Que merda era aquilo ?
- Aquilo ? É um Menlanocetus, são criaturas meio humanoides, sedentas de sangue humano.A carne humana é a única coisa que os permitem andar por aí.
- Obrigada pelos detalhes.
- Eu estou sonhando
( digo para mim)
- Acho que foi o trauma do roubo, o estresse pós traumática. Estou alucinando.
- Shiu, ele pode nos ouvir
( Ela diz me cortando, e com a expressão preocupada em seu pequeno rosto).
Ela se inclina para olhar para fora e então volta a sentar no chão ao meu lado. Ficamos em silêncio por volta de 5 minutos. Então ela vira pra mim e diz.- Prazer meu nome é Oriana e o seu ?
(Ela faz uma reverência com a cabeça).
- Belinda( Digo ainda tentando assimilar tudo).
Ela vira pra mim, segura minhas duas mãos e leva próximo ao seu peito e diz.- Belinda de terras desconhecidas, vc salvou a minha vida. Serei eternamente grata.
Sorrio para a jovem de longos cabelos claros como a Luz do sol e olhos da cor do céu ensolarado.Ela é simplesmente a imagem clara de uma pintura angelical renascentistas.
Apesar de estar toda suja e com sangue.
- Ho meu Deus vc está machucada.( Digo a ela em choque).
Ela Balança a cabeça e diz sorrindo.- Vou ficar bem, foi só alguns arranhões e a maior parte do sangue não é meu. (Ela continua).
- É de alguns Menlanocetus, como eles consomem sangue, eles tem sangue humano nas veias.
Olho boquiaberta para ela e então olho para a seu vestido que já foi branco agora está quase cinza, meio rasgado e manchado de sangue. Volto a realidade e pergunto.- Será que já é seguro sairmos daqui ?
- Acho melhor esperarmos um pouco mais. ( Ela responde).
- Será que a criatura vai morrer ? ( A pergunta saiu mais pra mim do que pra ela, que vira pra mim e responde em um tom já normal).
- Bom vc literalmente atravessou a cabeça dela com a espada.
- Mas nunca mais faça isso, vc teve sorte que a criatura já estava surda de um dos ouvidos, e não ouviu vc chegar. Tivemos sorte.
Espero nunca mais ver aquilo de novo na minha vida. Espera ela estava surda ?- Então era por isso que vc gritava com ela ?
Ela balança a mão meio se gabando e diz.- Não foi fácil eu tive que....
Oriana interrompe sua fala ao ouvir o som da criatura se arrastando e choramingando pelo corredor. Seu rosto fica tenso. O choro da criatura arrepia todo o meu corpo.Ela para de se arrastar e morre alí mesmo a poucos metros de distância. Ela tinha nos encontrado, mas não resistiu ao ferimento na cabeça.Oriana se levanta e vai até a criatura e tira a sua espada que ainda estava cravada na cabeça da criatura, com cara de nojo.
Ela então olha pra mim e diz.
- Tivemos muita sorte essa noite.
Ela tira um pequeno pedaço do vestido e limpa a espada.
Sorte ela disse. Hoje foi literalmente o dia mais bizarro de toda a minha vida. Tudo que podia e não podia acontecer, simplesmente aconteceu.Oriana pega um fósforo de seu bolso ascende e joga na criatura que começa a pegar fogo.Ela olha pra mim e diz:
- Aonde vamos agora ?
- Oi ?
Sim, tenho que voltar pra casa e pelo visto ela não tem pra onde ir e eu estou exausta pra pensar em qualquer outra coisa, só quero a minha casa. Amanhã eu penso melhor no que vai ser feito, com toda essa informação, com tudo o que aconteceu e principalmente o que vou fazer com ela. ( Socorro Deus).
- Vamos pra minha casa agora.