Lena mal conseguiu dormir naquela noite. Toda vez que fechava os olhos, sentia o peso do olhar de Kai, o calor de suas mãos, o gosto do beijo que ainda queimava em seus lábios. Era um erro — um erro monumental —, mas algo dentro dela sussurrava que a linha que cruzaram não era um fim, e sim o começo.
Na manhã seguinte, ela se obrigou a manter a compostura. O dia seria longo: uma coletiva de imprensa, sessões de fotos e, à noite, o segundo show da turnê em Tóquio. Lena se vestiu com cuidado, optando por um blazer que a fazia sentir-se protegida, quase intocável, e subiu para o café da manhã com a equipe.
Os integrantes do Aurora7 já estavam à mesa principal, rindo e conversando com o time de produção. Kai estava sentado no centro, como sempre, o cabelo bagunçado e a camisa branca ligeiramente aberta, expondo a clavícula. Ele parecia totalmente despreocupado, como se a noite passada não tivesse acontecido.
Lena respirou fundo e pegou seu café, tentando se misturar com os outros. Mas ela não passou despercebida. Assim que se sentou, Kai ergueu os olhos, e o canto de sua boca se curvou em um sorriso quase imperceptível.
"Bom dia, Lena," ele disse, alto o suficiente para que todos ouvissem.
Ela congelou. Os outros integrantes também olharam, curiosos, mas logo voltaram às suas conversas. Apenas Kai continuou observando-a, com uma intensidade que parecia zombar de seu esforço para agir normalmente.
"Bom dia," ela respondeu, mantendo a voz neutra.
Mais tarde, na coletiva de imprensa, Lena posicionou-se no fundo da sala, anotando detalhes e observando a interação entre os membros e os jornalistas. Kai estava no topo de seu jogo, respondendo perguntas com charme e inteligência, arrancando risadas da plateia. Ele era um mestre em sedução, e ela não era exceção.
Então, durante uma pausa, ele fez algo que quase a fez derrubar a caneta: lançou-lhe um olhar discreto e passou a língua pelos lábios, como se enviasse uma mensagem que só ela podia entender.
Lena desviou o olhar, sentindo o calor subir por seu corpo. Ele estava jogando. E ela estava perdendo.
À noite, durante o show:
O estádio estava lotado. Milhares de fãs gritavam enquanto Aurora7 subia ao palco, as luzes pulsando ao ritmo da música. Lena estava nos bastidores, observando os monitores, quando sentiu alguém se aproximar.
"Você está gostando do show?" A voz de Kai soou atrás dela, baixa e carregada de algo que fazia seu coração disparar.
Ela se virou, surpresa. Ele deveria estar no palco, mas estava ali, a poucos centímetros dela, com o suor escorrendo pela testa e o peito subindo e descendo pela respiração ofegante.
"Você não devia estar cantando agora?" ela perguntou, tentando manter a compostura.
"Eu precisava de um momento," ele respondeu, os olhos fixos nos dela. "Com você."
O corredor estava vazio, apenas os dois, cercados pelo eco distante da música e o barulho da multidão. Ele deu um passo à frente, encurralando-a contra a parede.
"Kai, isso é loucura," ela sussurrou, mas sua voz falhou.
"Você está certa," ele murmurou, inclinando-se. "E eu adoro."
O beijo veio sem aviso, mais intenso do que o anterior. Lena sentiu as mãos dele apertarem sua cintura, puxando-a contra si enquanto a música vibrava ao fundo. Por um momento, ela esqueceu de tudo: das regras, das consequências, do mundo lá fora.
Mas o som de passos no corredor a trouxe de volta à realidade. Ela o empurrou suavemente, ofegante. "Alguém pode nos ver."
Kai sorriu, aquele sorriso preguiçoso que a deixava sem ar. "Então temos que ser rápidos."
Antes que pudesse responder, ele já estava de volta ao palco, deixando-a sozinha com o coração disparado e os lábios formigando.
Lena encostou-se à parede, tentando processar o que havia acabado de acontecer. Mas uma coisa era certa: ela estava entrando em um jogo que não sabia como vencer.