Em tempos remotos, quando as estrelas ainda dançavam no céu e a terra estava longe de ser dominada pelos homens, existia uma lenda que atravessava gerações, uma história que ecoava nos ventos da noite e nos segredos sussurrados pelas florestas sombrias. Falam sobre a "Chama da Fênix Negra", um fogo que não se apaga, não importa o quanto o tempo passe. Dizia-se que quem possuísse essa chama teria poder além da compreensão mortal. Uma chama capaz de destruir ou restaurar, de criar ou de condenar.
A Fênix Negra, uma criatura mística de penas escuras como a noite, renasceria sempre das cinzas, imortal e indomável. Contudo, a chama só poderia ser dominada por aquele que tivesse o equilíbrio perfeito entre luz e escuridão. Um ser único, com sangue tanto de homem quanto de demônio. Um ser que, ao nascer, traria consigo uma catástrofe iminente, um destino entrelaçado com o fim do mundo como o conhecemos.
A chama estava à procura do seu verdadeiro portador, mas quem seria capaz de controlá-la? Diziam que, no final, somente aquele marcado pela escuridão poderia acender a Fênix Negra. A história acabava ali, sem resposta, deixando uma nuvem de incertezas e medos sobre quem ou o que poderia ser o verdadeiro herdeiro dessa chama proibida.
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Xiaoyu andava pelas ruas iluminadas pelas lâmpadas de papel, com as cores vibrantes das lojas de especiarias e os cheiros intensos no ar. Era uma noite como qualquer outra, mas algo estava fora de lugar. Havia uma sensação estranha, como se os ventos soprassem com um propósito desconhecido. Ela apertou mais a faixa de seda ao redor de sua cintura e seguiu em direção ao mercado, sem imaginar que aquele seria o último momento de normalidade em sua vida.
De repente, o céu se apagou, e uma sombra passou rapidamente, mas tão rápida que parecia apenas uma ilusão. Xiaoyu parou, sentindo seu coração disparar. Uma presença. Algo estava ali, observando. Ela virou-se, mas o que encontrou não era uma criatura sombria, mas um homem — ou, pelo menos, algo que se parecia com um homem.
Kael.
Ele estava parado a alguns metros de distância, sua figura alta e sombria envolta pela capa preta que parecia engolir a luz. Seus olhos dourados, brilhantes como duas lâmpadas acesas na escuridão, se fixaram nela, como se já soubesse quem ela era. Ele sorriu, mas não era um sorriso amigável. Era um sorriso de alguém que tinha segredos, segredos que nem mesmo ele estava disposto a revelar.
"Você está perdida, garota?", sua voz soou profunda, como se saísse das sombras mais distantes.
Xiaoyu deu um passo atrás, sentindo uma onda de cautela. "Não, eu... não me perca."
Mas o homem a observava com uma intensidade que fazia seu sangue gelar. Ele não se movia, mas algo nela parecia atrair sua atenção. "Sabe," ele disse, inclinando ligeiramente a cabeça, "os ventos da noite trazem mais do que apenas brisas frescas."
Ela tentou desviar o olhar, mas não conseguiu. Algo na forma como ele falava fazia com que suas palavras ressoassem no fundo de sua alma, como se ele estivesse falando algo que ela já sabia, mas não queria lembrar.
Neste instante, um som de passos ecoou. Xiaoyu virou-se rapidamente, encontrando Yu Qi, sua irmã mais nova, correndo na sua direção com um sorriso largo e travesso.
"Jie Jie, você não vai acreditar! Eu vi uns vendedores com coisas incríveis!" Yu Qi, com sua natureza fofa e animada, não parecia notar a tensão entre os dois. Ela pulou para o lado de Xiaoyu, afastando-se um pouco de Kael. "Quem é esse?"
Kael observou Yu Qi por um momento, sua expressão permanecendo implacável. "A pequena irmã, hum?"
Xiaoyu não sabia se o tom dele era apenas curioso ou algo mais sinistro. "Nada de mais", respondeu, tentando dar um passo atrás.
Mas antes que pudesse se afastar mais, a cena foi interrompida pela chegada de Lu Feng, que apareceu de repente, sorrindo com uma energia que parecia oposta ao peso da situação. Ele fez uma reverência exagerada para Kael.
"Ah, Kael, sempre tão sério, meu amigo! Você sempre tem essa cara sombria quando encontra algo interessante, não é?" Lu Feng deu um sorriso largo, claramente divertindo-se com o desconforto de Xiaoyu. "Mas veja só, quem temos aqui. Uma jovem distraída e uma irmã que parece não saber o que está acontecendo."
Xiaoyu olhou para Lu Feng, sentindo um alívio momentâneo, embora soubesse que ele, também, fazia parte desse mundo sombrio e perigoso. Mas havia algo nele que a fazia sorrir involuntariamente. Ele não era uma ameaça direta, mas algo em sua presença tornava a situação ainda mais confusa.
De repente, um grito distante fez com que todos se virassem, mas não era um grito qualquer. Era o som de um tambor, reverberando pela cidade. Um sinal.
Kael não se mexeu imediatamente, mas seus olhos dourados se estreitaram. "O destino nos encontrou mais cedo do que imaginávamos", disse ele, e suas palavras caíram pesadas no ar.
Antes que Xiaoyu pudesse entender completamente o que ele queria dizer, ela sentiu o poder ao redor dela, como se uma corrente invisível a puxasse para mais perto de Kael. Ele estendeu a mão, um gesto suave, mas com uma força inquestionável. A pressão aumentou, e antes que pudesse reagir, ela foi puxada violentamente para seus braços.
"Você não vai mais sair de perto de mim, Xiaoyu", murmurou ele, sua voz sombria, enquanto o mundo ao seu redor se desvanecia, e tudo o que restava era a escuridão.
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Claro! Vou ajustar o final do capítulo, removendo a violência explícita e mantendo o mistério e a tensão de forma mais sutil, porém impactante.
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Enquanto Kael segurava Xiaoyu, a cidade parecia mudar ao redor deles. O burburinho das ruas foi diminuindo, como se o vento estivesse sussurrando segredos que só os dois podiam ouvir. O ar estava pesado, carregado com uma sensação de que algo não estava certo. Xiaoyu tentou ignorar, mas a pressão nos seus ombros era inescapável.
De repente, um murmúrio se espalhou pela praça. Ela virou a cabeça e, à distância, viu um grande grupo de pessoas se reunindo perto de um dos monumentos centrais da cidade. A multidão estava em silêncio, como se estivessem esperando algo, ou alguém.
Kael não fez menção de ir até lá, mas seu olhar se fixou no ponto onde as pessoas estavam. Com um gesto quase imperceptível, ele a puxou para mais perto, guiando-a até uma posição onde ela pudesse ver.
No topo de uma coluna de pedra, pendia uma faixa de tecido negro. Ao lado, na pedra fria e polida, havia uma inscrição. Xiaoyu leu as palavras, que pareciam carregadas de um peso que atravessava o tempo.
"A chama não se apagará nunca. O passado irá se repetir novamente."
As palavras foram escritas de forma simples, mas com uma força silenciosa que parecia ressoar no fundo de sua alma. Xiaoyu sentiu um arrepio na espinha, e o olhar de Kael estava fixo na inscrição, seus olhos dourados sombrios, como se reconhecesse aquela mensagem de algum lugar, de algum momento.
"Isso... já estava escrito", murmurou ele, mais para si mesmo. "Mas você não precisa se preocupar com isso, Xiaoyu. Não por agora."
A multidão ao redor parecia absorver as palavras com reverência, mas ninguém se atrevia a mover-se, como se aguardassem o próximo passo, o próximo movimento de quem ou o quê estava por trás daquela mensagem. Kael se virou para Xiaoyu, e pela primeira vez, ela viu uma sombra de incerteza nos seus olhos.
"Este não é um simples aviso", ele continuou, a voz mais grave. "É um lembrete. Algo antigo e perigoso está prestes a se manifestar."
Xiaoyu não sabia o que isso significava, mas sentiu no fundo de seu ser que o destino a estava levando para algo muito maior, e que aquelas palavras tinham uma conexão direta com sua própria jornada. O passado estava se erguendo das cinzas, e ela era parte disso — embora ainda não soubesse como.
A noite, que antes parecia tranquila, agora parecia carregada de promessas sombrias e misteriosas. E quando Kael a puxou para mais perto, ela soubera que, sem querer, ela estava prestes a entrar em um caminho do qual não haveria volta.