#90° Carta do Diário de bordo ─── Amazônia 2008
Por onde eu começo? Já escrevi tantas cartas, mas parece que a vida sempre me pega de surpresa, de um jeito inexplicável. Realmente não sei descrever o que estou vendo, sentindo e vivendo. Não sei se isso é um delírio ou algo da minha cabeça após tantas noites de pesquisa. A solidão aqui é palpável, o silêncio da floresta é interrompido apenas pelos sons dos animais. Não vejo vida humana há anos, apenas os animais desta floresta, e, pelo visto, aquilo que estava escondido debaixo dos olhos da nossa sociedade.
Os dias se arrastam lentamente, cada um mais solitário que o anterior. A floresta, com sua densa vegetação e sons misteriosos, tornou-se minha única companhia. Às vezes, sinto que estou perdendo a noção do tempo. As árvores altas e imponentes parecem observar cada movimento meu, como guardiãs silenciosas de segredos antigos. O ar é pesado, carregado com a umidade e o cheiro de terra molhada, criando uma atmosfera quase sufocante.
Como relatei em cartas anteriores, em uma das minhas buscas por plantas aqui na Amazônia, encontrei uma onça-pintada em péssimo estado. Provavelmente, ela se meteu em uma briga pesada. Tinha perdido uma de suas patas. O olhar dela era de pura tristeza, e eu senti um aperto no peito. Como último recurso, eu experimentei o projeto Gamma nela, a substância que apelidei com meu sobrenome, derivada do... Meteoro.
Até agora, não consigo acreditar no que aconteceu. Eu esperava que, assim como nas cartas anteriores, houvesse uma recuperação, como em testes anteriores. Mas, simplesmente... Além do felino recuperar sua pata em um curto prazo de tempo, suas presas e garras, adquiriram uma força descomunal, capaz de rasgar ferro. Após se recuperar, eu a soltei, e ela atacou uma estrutura de ferro, conseguindo rasgá-la. Simplesmente... Absurdo. Terei de voltar ao local e coletar mais amostras. Talvez a solução para muitos de nossos problemas possa existir...
A cada dia que passa, a ansiedade cresce dentro de mim. O que mais essa substância pode fazer? Quais são os limites do projeto Gamma? As possibilidades parecem infinitas, mas também assustadoras. Estou lidando com forças que mal compreendo, e a responsabilidade pesa sobre meus ombros.
Preciso continuar minhas pesquisas, mas o isolamento está começando a cobrar seu preço. A falta de interação humana, a constante vigilância dos perigos da floresta, tudo isso está me desgastando. No entanto, a esperança de encontrar respostas, de talvez mudar o curso da humanidade, me impulsiona a seguir em frente. Cada carta que escrevo é um grito no vazio, uma tentativa de manter minha sanidade e registrar o que pode ser a maior descoberta da minha vida.
Apesar de todo esse tempo isolado aqui, tantas noites procurando algo que pudesse curá-la... FINALMENTE, eu escrevi isso chorando, chorando de verdade. Não vejo a hora de rever minha querida esposa. Sinto uma alegria imensa pelos resultados dos meus três anos de pesquisa aqui na floresta amazônica, desde 2006. Minha busca incansável por uma cura para a doença dela finalmente está mostrando sinais de sucesso. Isso me dá forças para continuar, na esperança de que um dia, ela possa ser curada e possamos viver juntos novamente. E é com grande felicidade, que pelo visto em breve poderemos estar juntos novamente. Assinado: Luiz Gamma Vilar