Quanto mais Arthur se concentrava em canalizar seu qi na pedra, mais sentia suas forças se esvaírem. Cada tentativa parecia esgotar sua energia espiritual, que já não era das mais fortes. Não era um prodígio, tampouco um cultivador de linhagem rica. Ele dependia unicamente de sua determinação e esforço para avançar.
O tempo parecia arrastar-se. Após duas horas de concentração incessante, o silêncio foi interrompido por uma voz feminina que ecoou pelo salão:
"A primeira candidata a terminar o teste!"
A declaração ressoou como um trovão. Todos os presentes gelaram. A surpresa tomou conta, e em alguns casos, o impacto foi tão grande que muitos perderam o foco e falharam no teste imediatamente.
O motivo do choque era evidente: a pedra parecia impossível de despertar. Mesmo aqueles que colocavam toda a sua força espiritual não conseguiam sequer arranhá-la.
Arthur e Renderv, embora surpresos, já suspeitavam de quem poderia ter sido a responsável por tal feito.
"Deve ter sido a Ana," murmurou Renderv, lançando um olhar a Arthur.
Arthur não respondeu. Apenas assentiu lentamente, como se já esperasse por isso.
Ana era um verdadeiro gênio. Desde o início, ela sempre estivera um passo à frente de todos. Embora não tivessem viajado juntos para o exame, Arthur e Renderv sabiam que Ana já estava no clã antes mesmo deles.
Na verdade, ela nem precisava participar do teste. Aceita como discípula pessoal de uma anciã poderosa do clã, Ana já tinha seu lugar garantido. No entanto, ela insistira em participar do exame, mesmo contra a vontade de muitos.
"Quero competir com os meus aprendizes," ela dissera antes.
Embora não fosse tecnicamente a mestra de Arthur e Renderv, foi Ana quem lhes ensinou os fundamentos do cultivo, como canalizar melhor o qi e desenvolver suas forças espirituais.
No entanto, a diferença de talento entre eles era evidente, e isso fazia Arthur se perguntar: Um dia serei capaz de alcançar alguém como Ana?
Ele afastou esses pensamentos e fechou os olhos novamente. O teste ainda não havia terminado, e desistir não era uma opção.
Depois de mais algum tempo, outros participantes começaram a concluir o teste. Logo, uma voz animada interrompeu a concentração de Arthur.
"Consegui, Arthur! Consegui!" disse Renderv, com um sorriso radiante no rosto. "Fui o quarto a passar! Isso é bom, não é?"
Arthur olhou para o amigo e sorriu de volta. Ver a alegria de Renderv o motivava a continuar, apesar de sua própria dificuldade.
Renderv era especial. Apesar de não vir de uma família rica ou influente, ele tinha um talento nato que o destacava. Não era um gênio absoluto como Ana, mas sua determinação e habilidades o colocavam no mesmo patamar que muitos dos chamados prodígios. Se não fossem pelas limitações que a vida lhe impôs, talvez ele também fosse considerado um gênio, quase comparável a Ana.
Renderv tinha uma aura confiante, e sua autoestima era notável. Contudo, ele nunca ultrapassava a linha da arrogância. Sua força vinha não só de seu talento, mas da dor e dificuldades que enfrentara.
Assim como Arthur, Renderv também era órfão, mas sua história era ainda mais trágica. Ele não tinha ninguém que pudesse chamar de família. Crescera nas ruas, lutando para sobreviver dia após dia. Muitas vezes, foi forçado a roubar para matar a fome, o que frequentemente resultava em surras e humilhações.
Era tratado com desprezo, como se sua falta de família fosse motivo suficiente para ser rejeitado pela sociedade. No entanto, tudo mudou quando ele conheceu Arthur.
Renderv estava magro, fraco, à beira da morte por inanição. Foi então que Arthur o encontrou, levou-o para casa e compartilhou o pouco que tinha. Os pais adotivos de Arthur cuidaram de Renderv, ajudando-o a se recuperar e dando-lhe um lar temporário.
Essa amizade se fortaleceu com o tempo. Ambos encontraram força um no outro para enfrentar suas dificuldades.
Foi nessa época que conheceram Ana. Eles a encontraram por acaso, enquanto ela treinava sozinha em uma clareira. Seus movimentos com a espada eram como uma dança perfeita, fluindo com precisão e graça. A aura que emanava dela era elegante, quase sobre-humana, combinando com sua beleza etérea.
Ana era inegavelmente impressionante. Sua pele pálida e cabelos brancos brilhavam sob a luz do sol, destacando seus olhos vermelho-carmesim, que pareciam conter um fogo ardente. Cada golpe de sua espada transmitia um equilíbrio perfeito entre força e delicadeza, deixando Arthur e Renderv completamente fascinados.
Foi nesse momento que perceberam que ela era diferente de qualquer outra pessoa que já haviam conhecido. E, a partir desse encontro, suas vidas mudariam para sempre.
Arthur e Renderv ficaram maravilhados com a habilidade de Ana na esgrima. Cada movimento dela parecia perfeitamente calculado, como se cada golpe de espada fosse uma expressão de sua alma. Eles ficaram observando em silêncio, hipnotizados pela precisão e graça com que ela dominava a espada.
Após alguns minutos, Renderv foi o primeiro a quebrar o silêncio.
"Ela é incrível," murmurou, ainda deslumbrado. "Nunca vi algo assim. Parece que a espada dança nas mãos dela."
Arthur assentiu, sua mente cheia de pensamentos. "Eu também. Nunca imaginei que existisse alguém assim... Ela é diferente de tudo que já vi."
Eles se aproximaram um pouco, tentando não interromper o treino de Ana. Quando ela finalmente parou, a respiração leve e controlada, Arthur se decidiu a falar.
"Ana..." chamou ele, com um sorriso tímido. "Eu sou Arthur, e este é Renderv. Estávamos assistindo seu treino... e, bem, estamos impressionados com sua habilidade."
Ana os olhou, seus olhos vermelhos parecendo brilhar por um momento. Ela não sorriu, mas sua expressão se suavizou um pouco.
"Obrigado." Sua voz era calma, mas carregava uma certa melancolia. "Eu treino sozinha. Não sou boa com amigos... as pessoas normalmente têm medo de mim."
Renderv, com seu jeito direto, não hesitou. "Por que não treina com a gente então? Nós dois estamos em busca de melhorar. E se você não se importa de ensinar, podemos aprender com você."
Ana os observou com curiosidade. Era evidente que ela raramente recebia uma proposta genuína de amizade. Sua vida até aquele ponto fora marcada pela solidão, e muitos a viam apenas como uma rival a ser superada.
"Vocês querem aprender comigo?" Ana perguntou, aparentemente surpresa. "Eu... posso ensinar a vocês o cultivo e a esgrima. Mas não pensem que será fácil. Exige muita disciplina e esforço."
Arthur e Renderv trocaram um olhar determinado. Ambos estavam prontos para aceitar qualquer desafio, especialmente quando se tratava de melhorar.
"Estamos prontos," disse Arthur, com um sorriso confiante. "Queremos aprender com você."
Renderv concordou com um aceno. "E prometemos que não vamos desistir, independentemente de quão difícil seja."
Ana pareceu pensativa por um momento, mas então seu semblante se suavizou. Ela sabia que não podia esperar muito de pessoas tão novas, mas havia algo genuíno neles que ela não podia ignorar.
"Então, está decidido," disse ela com um leve sorriso, a primeira verdadeira expressão de calor que Arthur e Renderv haviam visto nela. "Vou ensiná-los. Vamos começar com o básico, mas lembrem-se, isso não será fácil."
E assim, a promessa de amizade e aprendizado se selou entre eles. Desde aquele momento, a jornada de Arthur e Renderv ao lado de Ana tomaria um novo rumo, onde o treino, a amizade e o poder cresceriam juntos.