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Chapter 17 - A Dança dos Predadores

A floresta engolia os sons do grupo enquanto eles se afastavam da construção, cada passo ecoando o peso das decisões recentes. O cheiro de terra molhada e folhas secas preenchia o ar, mas não bastava para acalmar a tensão. Vicente liderava o grupo, a arma ainda em mãos, embora soubesse que ela não era sua principal arma naquele momento. O verdadeiro confronto estava dentro dele: uma batalha entre o que era certo e o que era necessário.

Maria Augusta caminhava ao lado dele, seu olhar oscilando entre preocupação e alívio. Ela sabia que Rodrigo era uma sombra que pairava sobre todos eles, mas a escolha de Vicente de deixá-lo vivo fora tanto corajosa quanto perigosa.

Ernesto, que trazia Ramirez quase arrastado, estava calado, seus pensamentos correndo à frente como se já estivesse calculando os próximos passos. Aurora, carregando a mochila com os equipamentos, mantinha-se na retaguarda, seus olhos atentos a qualquer sinal de perigo.

— Vicente, precisamos conversar sobre o que aconteceu lá dentro, — Ernesto quebrou o silêncio.

Vicente não respondeu imediatamente. Seus olhos estavam fixos na trilha irregular à frente, mas finalmente ele falou:

— Não era o momento. Rodrigo ainda tem um papel a cumprir, e não sou um carrasco.

Ernesto assentiu, embora sua expressão permanecesse dura.

— Você está certo. Mas a questão não é apenas sobre ele. Rodrigo não é o tipo de homem que perdoa ou esquece. Ao deixá-lo vivo, você abriu espaço para que ele nos ataque quando estivermos mais vulneráveis.

Aurora interrompeu:

— Rodrigo tem aliados e inimigos em igual medida. Ele é perigoso, sim, mas a instabilidade que criamos pode ser usada a nosso favor.

Ramirez, mesmo ferido, riu com desdém.

— Ou pode nos matar antes de termos a chance de usá-la.

Maria Augusta lançou um olhar severo para ele, enquanto Vicente parava e se virava para o grupo.

— Já chega. Nós tomamos uma decisão, e não há como voltar atrás. Se Rodrigo vai nos atacar, então estaremos prontos.

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Refúgio e Reflexão

O grupo finalmente alcançou o galpão abandonado que Ernesto havia escolhido como ponto de descanso. O lugar era pequeno e úmido, com telhas quebradas e um cheiro de madeira apodrecida, mas oferecia o mínimo de segurança necessário.

Ernesto colocou Ramirez em uma cadeira improvisada, enquanto Aurora preparava o kit de primeiros socorros.

— Ramirez, fique quieto. Não quero ouvir outra piada sarcástica enquanto tento tirar essa bala, — disse ela, enquanto começava a trabalhar no ferimento dele.

Ramirez resmungou, mas obedeceu.

Maria Augusta se aproximou de Ernesto, que espalhava papéis e um mapa sobre uma mesa velha.

— Qual é o próximo passo? — ela perguntou, mantendo a voz baixa.

— Temos que reorganizar as peças, — ele respondeu, sem tirar os olhos do mapa. — Rodrigo perdeu terreno hoje, mas ainda controla a maior parte das operações.

Vicente, que estava no canto da sala, levantou a cabeça ao ouvir isso.

— E se usarmos isso contra ele?

Ernesto olhou para ele, intrigado.

— Como assim?

— Rodrigo pode estar machucado, mas ainda tem aliados. Alguns deles podem estar descontentes ou desconfiados. Precisamos chegar até essas pessoas.

Aurora, que havia terminado de cuidar de Ramirez, se aproximou.

— Isso pode funcionar. Mas precisaremos de informações concretas.

Maria Augusta franziu a testa.

— E onde conseguimos essas informações? Rodrigo não vai simplesmente entregá-las.

Vicente respondeu com firmeza:

— Não, mas ele já nos subestimou uma vez. Podemos usar isso a nosso favor.

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Ligação Silenciosa

Enquanto Ernesto e Aurora discutiam a logística do plano, Maria Augusta puxou Vicente para o lado.

— Podemos falar? — ela perguntou, sua voz carregada de emoção.

— Claro, mãe.

Eles saíram para fora do galpão, onde o ar fresco parecia mais leve, apesar do peso que carregavam. O céu estava limpo, as estrelas brilhando como pontos de esperança.

— Vicente, eu preciso te dizer... — Maria Augusta começou, mas parou, hesitando.

Ele olhou para ela, percebendo a luta interna que sua mãe enfrentava.

— Você não precisa se explicar, mãe. Eu entendo.

— Não, você não entende, — ela respondeu, firme. — Eu escondi muitas coisas de você, tentando protegê-lo. Mas, ao fazer isso, talvez tenha te colocado em mais perigo.

Vicente tocou o ombro dela com delicadeza.

— Mãe, você fez o que achava melhor. Eu sei disso agora. E, não importa o que aconteça, eu estou com você.

Maria Augusta sentiu as lágrimas virem, mas as segurou.

— Eu só quero que você saiba que nunca foi minha intenção te afastar da verdade.

— Eu sei, mãe. E é por isso que estou aqui agora.

Eles ficaram em silêncio por um momento, mas, naquele instante, parecia que algo havia sido reparado entre eles.

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Um Plano Ambicioso

De volta ao galpão, Ernesto traçou as próximas etapas.

— Aqui, — disse ele, apontando para o mapa. — Este é um dos pontos fracos de Rodrigo. Um depósito que ele usa para lavar dinheiro. Se conseguirmos atacar lá, causaremos uma ruptura em sua rede.

Aurora analisou o mapa e assentiu.

— Isso forçará seus aliados a se movimentarem. Alguns deles podem estar mais dispostos a negociar informações conosco.

Ramirez, agora mais lúcido, riu novamente.

— Parece bom no papel. Vamos ver se funciona na prática.

Vicente se aproximou da mesa, seu olhar determinado.

— Não temos escolha. Vamos fazer isso funcionar.

Ernesto olhou para o jovem Montenegro e viu algo diferente nele. Vicente não era mais apenas um fazendeiro arrastado para esse mundo; ele estava começando a se tornar alguém capaz de dominá-lo.

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O Peso do Amanhã

Enquanto o grupo descansava, Vicente permaneceu acordado, observando as estrelas pela janela quebrada do galpão. Aurora se aproximou, trazendo uma xícara de café.

— Não consegue dormir? — ela perguntou, sentando-se ao lado dele.

— Não com tudo isso na minha cabeça, — ele respondeu, tomando um gole do café.

Aurora ficou em silêncio por um momento antes de falar:

— Você está lidando com isso melhor do que muitos fariam.

— Estou tentando, — ele disse, olhando para ela. — Mas, às vezes, parece que estou dançando no escuro, tentando encontrar o próximo passo.

Ela sorriu levemente.

— Bem-vindo à dança dos predadores, Vicente. Aqui, cada passo errado pode ser o último.

Vicente não respondeu, mas seu olhar dizia tudo. Ele sabia que a dança apenas começara e que o próximo movimento seria crucial.