Capítulo 2: O Ecos da Ausência
Os dias seguintes passaram lentamente para Clara. A rotina parecia ter recuperado o seu ritmo usual, mas algo havia mudado dentro dela, como uma semente que começa a germinar sem que a pessoa perceba. Theo estava em sua mente a todo instante, e as palavras que ele disse — "Nos vemos em breve" — pareciam reverberar de forma inquietante, como uma promessa não dita.
Ela tentou continuar seu trabalho, mas as palavras em seu computador pareciam agora distantes, sem a mesma fluidez de antes. Quando ela fechava os olhos, as imagens de Theo — seus olhos misteriosos, sua voz suave — se misturavam com as palavras que ela tentava escrever. Era como se ele tivesse invadido não apenas seu pensamento, mas também sua imaginação. Mas o mais estranho de tudo era que, apesar da ausência dele, Clara sentia uma conexão profunda, uma sensação de que algo estava prestes a acontecer, algo além do que ela podia compreender.
Ela retornou ao Café da Lúcia nos dias seguintes, esperando encontrá-lo novamente. A cada tarde, seu coração batia mais rápido quando entrava no pequeno refúgio, como se soubesse que ele poderia estar lá. Mas, por mais que ela olhasse em cada canto, ele nunca estava.
Já começava a se questionar se aquilo não passara de um encontro fugaz, quando, em uma quinta-feira cinza e silenciosa, Theo apareceu novamente.
Dessa vez, ele parecia diferente. Não havia o mesmo sorriso tímido de antes, nem o olhar tranquilo que ela se lembrava. Ele estava mais fechado, com os olhos um pouco mais cansados, como se tivesse algo pesando em seu coração. Quando ele a viu, seus olhos brilharam por um segundo, mas logo se apagaram, como se ele estivesse tentando esconder algo.
Clara não sabia o que dizer. Ela o observava por um momento, indecisa, até que o silêncio se fez entre eles.
— Você... você está bem? — Ela perguntou, sem conseguir conter a preocupação que surgia.
Theo a olhou, e Clara percebeu que algo havia mudado. Ele sorriu de forma amarga, mas não disse nada imediatamente.
— Eu estou... sobrevivendo. — Sua resposta foi vaga, e ele desviou o olhar para a janela, como se procurasse algo lá fora, algo que ele temia encontrar dentro de si.
Clara sentiu a tensão no ar, algo que não sabia como lidar, mas não podia simplesmente deixá-lo ir sem tentar entender.
— Você sabe que pode falar comigo, não é? — Clara disse com mais firmeza do que imaginava. — Não precisa carregar isso sozinho.
Theo respirou fundo, como se estivesse lutando contra uma tempestade interna. Então, finalmente, ele olhou para ela com uma expressão que ela não conseguia ler.
— Eu... não sei se posso. Não sei se você vai entender. — Ele balançou a cabeça, como se estivesse se distanciando de algo doloroso.
Clara sentiu um aperto no peito. Algo dentro dela queria alcançar aquela dor que ele carregava, entender o que o fazia parecer tão distante. Mas ela não sabia como, nem por onde começar.
— Theo... — Ela começou a dizer, mas ele a interrompeu com um gesto, quase como se pedisse desculpas sem usar palavras.
— Eu... — Ele hesitou, como se as palavras fizessem parte de algo mais profundo que ele não conseguia compartilhar. — Não posso ficar. Não dessa forma. Tem algo dentro de mim, algo que me impede de me abrir, de me entregar. Não é justo com você.
Clara sentiu o mundo ao redor se silenciar, como se cada palavra dele fosse um grito distante. Ela queria dizer algo, confortá-lo, mas as palavras pareciam insuficientes.
— Não é justo com você, Clara. Eu não sou o que você precisa.
Era a primeira vez que Theo falava com tanta honestidade, e isso fazia o coração de Clara doer. Ele estava se afastando, e ela não sabia se conseguia alcançar o que ele estava tentando esconder.
Por um momento, as palavras dela sumiram, e ela apenas o observou, como se tentando captar algum sinal de que ele poderia mudar de ideia. Mas Theo se levantou, pegou sua câmera e, sem mais nada, se afastou.
— Eu tenho que ir. — Foi tudo o que ele disse antes de sair, deixando Clara ali, sozinha, com o eco de suas palavras e o peso de uma despedida não dita.
Enquanto o café voltava ao seu ritmo habitual, Clara se viu incapaz de processar tudo o que acontecera. Uma sensação de perda a invadiu, mas também uma decisão silenciosa nasceu dentro dela. Theo estava correndo de algo, e ela não sabia o que era. Mas uma coisa ela sabia: ela não iria desistir de entender.