A noite é calma, olho pela janela do meu quarto, através das árvores que cobrem o nosso jardim na parte de trás da casa. Consigo ouvir os carros passando pela rua, muito movimentada, afinal é uma sexta a noite, muitos estão voltando para suas casas após um longo dia de trabalho. Estava estudando até pouco tempo, semana de provas chegando no colégio.
Minha visão passa pelas árvores, chegando até uma janela, a mesma que sempre vigiei desde que passei a gostar de garotas, e lá ela está, com seus cabelos castanhos avermelhados, como chamas de uma fogueira de acampamento, sua pele bronzeada como a de uma deusa, Sara, minha amiga, apesar que eu desejasse ser mais do que isso.
Ela não consegue me ver de sua janela, uma das vantagens de super-poderes, mas posso vê-la todas as noites, da mesma forma, no mesmo horário e momento, escutando suas músicas favoritas, estudando para as provas do colégio. Meu coração começa a palpitar, uma sensação estranha toda vez, como se fosse explodir de meu peito, amor as pessoas chamam não é mesmo, poderia falar para ela meus sentimentos, mas há um problema, ela já tem alguém, todas as garotas bonitas sempre tem alguém.
- Contemplando o vento de novo meu irmão?- uma voz familiar, fina e zombeteira, Nina minha irmã mais nova, sete anos de idade e uma garota prodígio, talvez a pessoa mais inteligente que conheço, tá, talvez menos que nossa mãe.
- Poderia me bisbilhotar menos e fazer mais seu dever não?
- Já fiz, por isso estou aqui.
- Em 15 minutos.
- 12 tecnicamente, são muito fáceis para minha cabeça, parece que estou ficando burra a cada momento.
- Você tem sete anos Nina, isso é normal, mas lembre-se.
- Tentar manter uma média aceitável, eu sei- ela termina de responder.
Desde novo fomos treinados para sermos como pessoas normais, nossos pais não são, nunca foram, os primeiros grande super-heróis, sem agências como hoje em dia, lutando para salvar vidas e mantendo vidas comuns, não revelando suas identidades, graças a isso eles estam aposentados e sem maníacos querendo destruir nossa casa todo dia.
- Precisa de alguma coisa adorável irmã?- pergunto sorrindo.
- Seu sarcasmo não vai te levar a lugar nenhum, queria apenas saber quando você vai cotar a ela o que sente.
- Não é tão fácil Nina, e mesmo se fosse ela já tem um namorado.
- Então vai ficar aí parado sentado a observando toda noite, em vez de ir e falar o que sente.
- Agora entendo porque não tem amigos na escola.
- Porque teria, são apenas comedores de meleca e chorões.
- Nunca se sabe o que esses chorões podem ser.
- Bom, eu sei, enfim, mamãe já preparou o jantar, então é melhor descer logo.
- Já estou indo.
Nina deixou o quarto e eu voltei a observar a janela, ela já não estava mais lá, Nina está certa, não posso passar o resto dos meus dias pensando em alguém que não terei, mas ainda sim penso nela, é uma merda. Guardo meus cadernos, ainda estavam sobre a mesa do quarto, vou para o corredor do segundo andar da casa.
Meu lar, não muito grande, afinal não somos ricos, meus pais nunca quiseram lutar o crime por dinheiro ou fama, acho que já falei disso, mas é verdade, ainda sim se tornaram parte do maior grupo de heróis que existiu. E agora, de alguma forma, minha irmã e eu herdamos seus poderes, bom parte deles até então. Nina pe super inteligente e consegue manipular matéria, algo complicado demais para explicar, eu, bom eu posso soltar raios dos olhos e de minhas mãos, voar, correr na velocidade da luz, perdi alguns bons sapatos fazendo isso, super força, ouvir melhor que qualquer um.
Desço as escadas e sinto um bom cheiro, bacon frito, panquecas e bolo de milho, minha mãe está lavando suas mãos na pia, Nina arrumando a mesa, eu desço e vou ajudar, pego os pratos, coloco os talheres, a garrafa de suco, copos e lavo minhas mãos antes de sentar para comer.
- Querido pode me ajudar com o café?- minha mãe me pede da cozinha.
- Onde ele está?
- Em uma das prateleiras de cima, Simon pegou a escada emprestada.
- Porque temos prateleiras altas em casa?
- Talvez porque meus meninos são grandes demais para um teto baixo.
- Não sou tão alto mãe, nem o pai é.
- sim, mas quando alguns as vezes decidem brincar de flutuar, bom o teto sofre as consequências.
- Foi uma vez
- Alex.
- Certo, três vezes, mas foi ele que me provocou.
Ela apenas me olhou como sempre faz ao ganhar uma discussão, seus olhos castanhos escuros como os meus, me fitando e julgando, como uma mãe ensinando um filho. Nina apenas começa a gargalhar, afinal ela adora me ver perder os argumentos, como se ganhasse algum, afinal como ganharíamos, somos filhos e os filhos devem obedecer os pais.
- Seu pai já deve estar chegando.
- Preso no trabalho de novo.
- Sabe como ele gosta de fazer hora extra, os problemas de ser professor.
- Não basta ele ter que cuidar da Nina.
- Não pense que você não deu mais trabalho do que eu- minha irmã se intrometeu para se defender.
- E como saberia, não tinha consciência o bastante quando seu irmão tinha sua idade, e sempre achei mais difícil segurar sua língua do que a super força do alex.
Apenas lanço um olhar a Nina, ela me retorna uma careta e faço o mesmo. Para defendê-la eu dei mesmo mais trabalho, o primeiro filho sempre dá, agora imagina um que começa a flutuar do nada, não tem controle de sua força, descide que vai chorar toda noite e de repente solta raios pelo corpo e põe fogo em uma cozinha, bom a cozinha não foi bem culpa minha mas o resto, eu era travesso, as vezes ainda acho que sou.
- Enfim, ambos são trabalhosos, mais do que enfrentar vilões- mãe termina a conversa após preparar o café.
Com a mesa pronta apenas esperamos alguns minutos até nosso pai chegar, tão alto quanto eu, de cabelos se tornando grisalhos, barba feita e um sorriso no rosto, mas com o corpo pesado, cansado de tanto trabalhar, ou talvez apenas figindo algo parecido.
- Cheguei meus amores, como foram seus dias.
- Oi meu amor, bom, temos um novo furo na reportagem, Alex conseguiu uma boa nota nas provas e Nina foi para a detenção novamente.
- O que aconteceu dessa vez?- perguntei, eu mesmo não sabia da situação.
- Acho que todos queremos saber- meu pai completou se sentando na mesa.
- Um dos garotos no intervalo decidiu mexer nas minhas coisas, então briguei com ele.
- Você ganhou?- meu pai perguntou com um sorriso no rosto
- Robert.
- Perdão, isso não deve se repetir Nina- meu pai moveu os lábios perguntando novamente, Nina apenas concordou com a cabeça. Minha irmã tem sempre problemas, afinal não suporta em suas próprias palavras a "incopentência" das outras crianças, mas o que ela esperava, uma sala repleta de Einsteins.
- E você Alex, como tem sido a escola?- meu pai me perguntou, me olhando de forma vibrante.
- Normal, o de sempre, tentando não me sobressair, ou mostrar que posso fazer o que outros não conseguem.
- Pelo menos alguém respeita as regras.
- Isso quando ele não espiona a vizinha- nesse momento eu queria levar minha irmã para além das nuvens e deixá-la cair, eu iria pegá-la mas ela iria chorar primeiro, meus pais se viraram para mim, não sabia onde esconder meu rosto.
- Pedimos para você parar com isso- meu pai foi o primeiro a intervir- sabe que é perigoso utilizar seus poderes, e se por engano disparar um daqueles raios, pode acabar machucando alguém.
- Eu sei pai, mas se eu não souber usar como posso controlá-los, você mesmo usa eles de vez em quando, e usou bastante antigamente.
- Outros tempos, quando não tinha filhos e apenas me preocupava em voltar para a casa de seus avós, mas mesmo assim meu pai falou o mesmo, estes dons devem ser usados, mas há consequências e responsabilidades para isso.
- Alex, apenas tenha cuidado- minha mãe resolveu cortar rapidamente o assunto.
- Eu tomo cuidado, é só que, se temos estes dons, porque nçao usar como outros tantos fazem.
- Já tivemos essa conversa diversas vezes, heróis mudaram, em nosso época fazíamos o que fazíamos porque era certo, estes rufiões fazem apenas por dinheiro, revelam suas identidades sem a menor ideia de que podem estar se colocando em perigo, e colocando aqueles que amam em perigo- meu pai então respirou, não que estava raivoso, apenas que sentia que havia falhado em sua missão.
Meus pais são ex-heróis, o Guardião e a Mágica, sempre dispostos a salvar os outros, meu pai desejava inspirar gerações de outros heróis a fazerem o mesmo, mas então descobriram uma forma de criar poderes em laboratório, novos herois surgiram, crias de grandes empresas, celebridades, prontas para vender suas imagens, meu pai se sentiu derrotado, o homem mais poderoso da galáxia, então decidiu abandonar o manto, criar uma família e se tornar professor, inspirado jovens mentes na Universidade de Eastside.
Terminamos de comer, e nis levantamos para lavar os pratos, eu então peguei o lixo para colocar para fora. Abrir a porta da frente da casa. A janela ainda estava acesa, pensei em tentar enxergar lá novamente mas desisti, a conversa ainda vibrando em minha cabeça, eles estão certos, dons são perigosos, coloquei o lixo na lixeira e escutei vozes, parecia ser alguma discussão, desviei os ouvidos, suprimindo a vontade de bisbilhotar.
-Volte aqui!!!!!- uma voz masculina gritou, apenas pude observar Sara saindo até o banco na frente da casa, ela estava a poucos passos de distancia na casa ao lado.
Ela enxugava seus olhos, então me fitou e sorriu, acenou e eu retornei o sorriso e o aceno, então ela veio em minha direção, fiz o mesmo tentando ser cortez e segurando minha ansiedade, o coração palpitando forte a cada passo que nos aproximávamos um do outro.
- Tudo bem?- bom, não sabia o que falar então pesei apenas no que veio primeiro a mente.
- Espero que não tenha escutado aquilo, bom queria que não tivesse, pode guardar esse segredo.
- Sem problema, ele está guardado, se não for incomodar, o que aconteceu exatamente.
- Nada demais Alex, apenas discutimos sobre algo, as vezes penso que meus pais só querem me prender aqui nesta casa, neste bairro, para viver a mesma vida que eles tem.
- Não vejo porque seria ruim.
- Porque não é o que desejo- ela me respondeu, a noite estava um pouco fria e ela não estava com nenhuma roupa mais confortável, pensei em me aproximar, mas talvez fosse ser demais, então mative a mesma distância.
- E o que você deseja?
- Promete não rir, eu quero ser trabalhar com sua mãe, uma jornalista renomada, cobrir os heróis e outras histórias, apenas sinto que posso fazer uma diferença assim.
- Porque alguém iria rir, pais só querem o melhor para nós, mas as vezes, acho que precisamos buscar por nós mesmos.
- Tem razão, bom te vejo amanhã no colégio certo?
- Estarei lá, com a turma de sempre.
- O bando de nerds, bom você nunca mudou mesmo.
- Não você que decidiu se tornar popular demais.
- Tem razão, boa noite Alex, e obrigado pela conversa.
- Boa noite- levatei a mão para me despedir e retornei para casa, meus pais estavam na sala, conversando sobre algo, Nina já havia subido para sua cama dormir, eu fui a cozinha e peguei um pouco de água para beber, ouvi o som de um carro estacionando em frente a nossa casa, então a campainha tocou.
Fui até a porta, pelo olho mágico haviam duas pessoas, uma uma mulher negra não tão velha quanto minha mãe, ao seu lado um homem mais novo, com cabelos dourados e um queixo pontudo e rígido, abri a porta devagar.
- Boa noite, desculpe o incomodo, aqui e a residêcia Wallace?- pergutou a mulher com a voz fria, calma e imponente.
- Sim, como posso ajudá-los?
- Poderíamos entrar, desejo falar com Robert Wallace.
- Dorothy, não a vejo desde?
- Sua aposentadoria.
- O que a traz aqui?
- Precisamos conversar- meu pai apenas fechou seu rosto, algo estava pretes a acontecer e mudaria a tudo.