Sentada numa cadeira em seu quarto, Cynthia olhava distraidamente para a xícara de chá colocada diante dela sobre a mesa.
A cor do líquido escurecia à medida que os segundos passavam, e um leve riso escapou de seus lábios rosados.
Esta não era a primeira vez que tais tentativas eram feitas. Ainda assim, Cynthia não conseguia compreender a persistência por trás delas.
Os rumores não eram suficientes para assustar aqueles que orquestravam suas tentativas de assassinato? Eles ainda pensavam que ela era um alvo fácil?
Embora admitisse que não era tão forte quanto seus irmãos, ela podia facilmente lutar contra dez homens de uma só vez!
Num ímpeto de frustração, ela agarrou a xícara e a atirou ao chão. Cacos se espalharam, e o chá respingou no piso, enquanto Rin ofegava, sobressaltado pela ação abrupta da princesa.
"Um comportamento ultrajante", ela pensou, imitando o tom de desdém dos nobres.
Eles nada sabiam sobre sua vida antes de entrar na alta sociedade no ano passado, quando fez sua primeira aparição, nem se importavam em saber se estava viva durante os anos em que seus irmãos estavam em guerra. No entanto, fingiam conhecê-la.
Cynthia não se importava; ela entendia que as vidas deles provavelmente eram monótonas e que ela, uma princesa, era um ótimo assunto para fofocas.
Para se proteger dessas víboras perniciosas, ela havia sido afiada e fria com as senhoras que zombavam dela por nunca comparecer às suas festas de chá.
Desde então, ela havia sido rotulada como a vilã, um papel que não tinha problema em desempenhar.
Afinal, por que deveria ser gentil com pessoas que não a valorizavam e a devorariam na primeira oportunidade?
O som de passos chamou a atenção de Cynthia. Ela prontamente virou-se, seu rosto se iluminou ao ver o homem de cabelos loiros se aproximando.
"Irmão!" ela exclamou, sorrindo enquanto se levantava da cadeira e se inclinava graciosamente para cumprimentá-lo.
O olhar de Alistair caiu sobre a xícara quebrada no chão, e ele inclinou a cabeça para o lado, curioso.
"O que aconteceu?" ele perguntou, erguendo uma sobrancelha.
Entendendo sua pergunta, Cynthia olhou para sua serva, Rin, que estava ao seu lado, com os lábios tremendo.
"Oh! Escorregou da minha mão. Não se preocupe com isso. Por favor, sente-se. Rin, traga um chá para Sua Majestade," Cynthia instruiu, olhando para sua serviçal.
Rin assentiu e saiu apressada do quarto.
Alistair sorriu e tomou um assento oposto à sua irmã.
"O que o traz ao meu quarto? Poderia ter apenas enviado um servo e eu teria ido visitá-lo," Cynthia perguntou enquanto sentava-se novamente.
"Eu queria lhe informar... Os preparativos para o casamento começaram."
O rei abaixou o olhar, desapontado consigo mesmo. Ele não conseguia proteger Cynthia do casamento político que desprezava e não podia dar a ela a escolha de casar-se com o homem que amava.
"O que há de errado, irmão?"
"Eu..." Alistair suspirou.
"O que o preocupa?" Cynthia perguntou, gentilmente colocando a mão sobre a mão de seu irmão, que repousava sobre a mesa de chá.
"Não consegui proteger você de nada."
Nada? Certo...
Apesar de concordar, Cynthia balançou a cabeça com um sorriso. Ela não podia ser dura com seu irmão.
"Está tudo bem. Você não precisa se culpar."
"Você ainda pode recusar! Juro que encontrarei outro jeito!" a voz de Alistair tremia enquanto falava.
Uma visão sombria e melancólica a envolveu. Inúmeros corpos sem vida espalhados pelo chão, com sangue escarlate fluindo como um rio vermelho.
Cynthia afastou a mão do aperto de seu irmão, suas mãos tremendo enquanto ela o olhava horrorizada.
"É meu dever como princesa. Preciso fazer isso!" ela exclamou. "Tenho assuntos para resolver, por favor, me excuse," ela se levantou e correu para fora do quarto.
Os olhos de Alistair se encheram de lágrimas enquanto ele observava a figura de sua irmã desaparecer lentamente no corredor.
Quando foi que sua irmãzinha cresceu tanto? Os anos voaram e ele não percebeu.
"Bom dia, Vossa Alteza," a voz de um homem disse, um tom de escárnio oculto em sua saudação respeitosa enquanto ele se inclinava diante da jovem mulher.
"Duque Ramsel," Cynthia sussurrou, franzindo a testa ao ver o homem de meia-idade.
Como se não o tivesse visto, Cynthia passou por ele, irritando o homem de cabelos grisalhos.
"Não parece tão satisfeita em me ver quanto eu estou em vê-la," o homem forçou um sorriso, desesperadamente tentando esconder sua fúria, e seguiu a princesa.
"Por que está me seguindo?" ela exigiu em um tom firme, o que chocou o homem.
"Já fazem oito anos desde a última vez que nos vimos," Duque Ramsel falou, caminhando à frente da princesa com passos rápidos, impendindo-a de seguir adiante.
Cynthia cerrou os punhos, encarando-o.
"Eu estava certo... você se parece mais com minha irmã à medida que os dias passam," o homem de cabelos grisalhos sorriu, colocando a mão na cabeça de Cynthia.
Embora seu estômago se revirasse com o toque, ela conteve o impulso de jogar seu braço para longe.
"É bom saber, Duque Ramsel," ela forçou um sorriso.
"Duque Ramsel?" o homem estalou a língua em desaprovação. "Sou seu tio! E você, minha sobrinha. Não precisamos usar tais formalidades entre nós, Cynthia!"
"Sua Alteza," Cynthia corrigiu.
Duque Ramsel franziu a testa, confuso com as palavras dela.
Lendo sua expressão perplexa, Cynthia continuou.
"O senhor deve se referir a mim como Sua Alteza, Duque Ramsel. Não importa se está relacionado a mim; não deve deixar cair as formalidades em público," ela gesticulou para o ambiente ao redor.
Eles estavam em um jardim cheio de flores vibrantes, um espaço aberto onde qualquer um poderia passar. Embora a verdura das árvores pudesse agir como um muro, tudo no palácio tinha ouvidos.
"Sua Alteza," o homem diante de Cynthia riu. "Você realmente tem um bom senso de humor."
Princesa Cynthia suspirou, balançando a cabeça. Era um pensamento tolo acreditar que esse homem algum dia entenderia seus limites.
"Duque Ramsel, escute-me atentamente. Não compartilhamos nenhum relacionamento. Não depois do que aconteceu no passado. Meus irmãos deixaram isso claro para o senhor," Cynthia afirmou, travando seus olhos violetas com os dourados do duque.
"Nenhum relacionamento?" Duque Ramsel riu. "Os que não têm nenhum relacionamento com você são os que você chama de irmãos! Eles estão te vendendo ao reino inimigo! Como pode confiar neles tão cegamente?! Você nem mesmo—"
Duque Ramsel parou assim que sentiu uma lâmina fria contra sua pele.