À mesa em seu escritório, um alfa padrão, com dreadlocks brancos — um estilo de cabelo undercut, pele clara, olhos cinzentos suaves e aparentando estar no final dos vinte anos, sentou-se em frente a Valeric com os cotovelos apoiados na mesa e as palmas das mãos segurando sua bochecha. Ele olhava intensamente.
"Chiado, tem algo diferente em você hoje. Não tenho certeza se são aquelas nuvens escuras de costume que não consigo ver acima da sua cabeça hoje. Algo não está muito certo com você."
"Desembucha, Valeric." Um sorriso se espalhou pelo seu rosto. "O que aconteceu?"
"Consegui uma esposa."
"Uma esposa?" ele riu. "Isso é engraçado. Pode falar sério comigo—espera, espera, espera!" Seus olhos se arregalaram e ele bateu com as mãos na mesa, levantando-se da cadeira. "V-você conseguiu uma esposa? Casou-se? E eu não fui convidado?"
Ele suspirou dramaticamente, colocando a mão no peito como se estivesse prestes a desmaiar. "Como você pôde, Valeric? Para que servem os irmãos? Eu sou o único que você tem. Estive aqui e matei a sua solidão com a minha natureza carismática, e você não pôde me convidar?"
"Isso dói!"
Valeric ainda não lhe dava a atenção que ele procurava. Ao invés disso, estava folheando seus documentos e deixando suas assinaturas neles.
Um olhar insatisfeito cruzou o rosto do homem. "Sabe de uma coisa? Vou para casa, vou tomar um banho quente e dormir. Tchau!" Ele foi em direção à porta para sair, mas voltou correndo em um segundo. "Mas me diz quem é."
Ele manteve um sorriso com as mãos juntas. Seus olhos brilhavam.
"Terminou com o seu drama?" Valeric perguntou preguiçosamente.
O homem piscou suas pestanas brancas para ele, seu sorriso se tornando mais amplo. "Sim, terminei."
"Ótimo."
"Então, quem é ela?" Ele estava curioso. "Pensei que você não ia permitir que outra ômega entrasse—"
"Ferguson," disse Valeric.
O homem inclinou a cabeça em perplexidade. "A Família Ferguson. Os que têm um daqueles impérios renomados?"
"Sim."
"Opa! Qual das filhas você escolheu? Sei que ele tem duas-"
"Três."
"Hã?"
"Ele tem três filhas," Valeric esclareceu. "Eu escolhi a menos conhecida."
Uma carranca se formou nas sobrancelhas do homem, e ele se sentou novamente na cadeira. "Nunca ouvi falar da terceira filha. Eu só sabia que ele tinha duas filhas. A loira e a morena."
"Ela não é a terceira filha," ele corrigiu. "Ela é a filha do meio."
"Certo… Você parece conhecê-la bem. Incomum." O homem assentiu brevemente e pigarreou. "O que ela é? Uma beta? Só faria sentido por ela não ser conhecida. Betas não são importantes, então tenho certeza que a família não viu necessidade de apresentá-la—"
"Ela é uma ômega recessiva."
"O quê?"
Um súbito e estranho suspiro preencheu o ar. "Você está surdo?"
"Val! Ela é uma ômega recessiva?" O homem não traiu nenhuma emoção, mas seus dedos se contorceram ansiosamente. "O que você acha que está fazendo? Por que um recessivo ômega inútil? Ela não vale nada para você fazer isso!"
Valeric estremeceu, seus olhos brilhando perigosamente. Sua mão disparou e, antes que o homem pudesse evitar seu toque, ele agarrou um tufo de seus locs brancos e esmagou seu rosto contra a mesa de vidro.
"O que você acha que sabe sobre a minha esposa?!"
O rosto do homem colidiu com a mesa, e ela se estilhaçou em pedaços. Seu nariz estalou e sangrou, e o gosto amargo e ferroso do sangue encheu sua boca.
Ele agarrou o pulso de Valeric firmemente, mas com ainda mais amargura, percebeu que não podia arrancar seu aperto. Afinal, ele era apenas um alfa padrão. Como ele poderia ganhar?
"Valeric, solta!"
Um suspiro profundo retumbou no ar. "É melhor você cuidar da sua porra de boca, Nix," Valeric sussurrou, olhando para o teto com um olhar sombrio.
O homem, Nix, saiu de seu aperto e tirou um lenço do bolso do peito de seu terno branco para limpar o nariz. "O que deu em você? Eu só disse a verdade, e você sabe disso. Todo mundo sabe!"
"O que você estava pensando em casar com uma ômega recessiva? Não é como se houvesse escassez de ômegas puros."
"Não é da sua conta." Valeric esfregou o queixo e ajustou a meia máscara que usava.
"Não é da minha conta?" Nix perguntou enquanto enxugava o rosto coberto de sangue. "Você percebe o que fez?"
Ele levantou uma sobrancelha.
"Por que você fez isso?" Nix continuou. "E se ele descobrir? E se ele já sabe? Ele vai machucá-la, e você sabe—"
Valeric o agarrou pelo pescoço e se levantou da cadeira. "Vou. Matá-lo."
"O quê? Val, solta—"
"Eu vou matá-lo, Nix." Seus lábios se abriram num sorriso que devorava a luz, seu aperto se apertando ao redor da base do pescoço do homem. "Se ele ousar tocá-la, eu vou matá-lo. Eu vou queimá-lo!"
Quanto mais ele falava, mais e mais seus olhos escureciam. "Aqui é onde termina. Ele não terá a chance de foder comigo de novo." Ele soltou.
"Valeric, volta à realidade!" Nix conseguiu dizer, tossindo freneticamente, sua visão girando por um instante. "Ele pode não fazer nada se você tivesse escolhido uma ômega pura, mas você levou uma ômega recessiva. Ele odeia-as, e nunca vai ignorar isso, você sabe disso. Você já sabia disso desde o início, então, por que você ainda escolheu ela?"
"Você quer protegê-la tanto assim, então por quê?" Seus dentes rangiam de frustração. "E o que você vai fazer agora? E a garota? Ela não sabe, não é?"
Os nós dos dedos de Valeric estalaram agudamente e suas unhas se cravaram em suas palmas. "Você acha que vou contar a ela? Ela tem medo de mim, acha que vou machucá-la. Isso nublou a cabeça dela, então mesmo se eu dissesse que não colocaria um dedo nela e que não feri aqueles..."
Ele respirou.
"Acho melhor você acabar com isso agora, Valeric," Nix sugeriu. "Deixe a garota ir agora que ele não sabe da existência dela."
"Não posso fazer isso!" Valeric declarou, sombriamente.