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Arwen sentia como se estivesse em um sono profundo e confortável. Seu corpo não sentia mais dor, e ela percebia uma presença constante ao seu lado, como se alguém ficasse com ela dia e noite.
A pessoa não falava, mas estaria lá, segurando sua mão e acariciando-a para fazê-la se sentir confortável e relaxada. Sua identidade era um mistério para ela, mas, por algum motivo, sua presença já não lhe era estranha.
Arwen não sabia quantos dias mais teria que dormir, mas estava ficando cansada desse sono profundo e escuro. Ela se sentia simplesmente presa num quarto com as luzes apagadas.
De repente, em meio àquela escuridão, ela sentiu algo se mover. Ela caminhou em direção para verificar e viu a escuridão mudar de repente. Ainda estava presa no sono, mas não mais no mesmo quarto escuro. Agora, ela podia ver a rua da sua infância — a mesma calçada que ela usava para ir à escola.
Isso…
Ela estava contemplando o que estava acontecendo quando viu sua versão mais jovem aparecer no mesmo uniforme antigo da escola. Esse dia parecia mais familiar do que qualquer outro tempo, e então Arwen percebeu o porquê.
Era familiar porque era o dia em que ela conheceu Ryan pela primeira vez.
Em dias normais, o carro da família a deixava na escola. Mas, devido à sua teimosia naquele dia, ela escolheu deliberadamente ir a pé.
As sobrancelhas de Arwen se franziram um pouco enquanto ela tentava lembrar dos eventos daquele dia. E, assim que o fez, ela ouviu um grito e depois um guincho. Ela olhou para trás para verificar o que tinha acontecido, mas então a cena mudou para outra. Desta vez, era o decor do hospital.
O rosto alegre de seu pai veio à visão enquanto ela se via acordando depois da concussão, toda fraca e pálida.
Sim, naquele dia, ela sofreu um acidente, onde perdeu a consciência no local e foi levada para o hospital. Foi somente depois de acordar que ela percebeu quão sortuda era por estar viva após o incidente.
"Arwen, quantas vezes nós te dissemos para ter cuidado na rua? Veja só, o que teria acontecido se o Ryan não tivesse te encontrado lá a tempo? Seu pai e eu não teríamos sabido que você tinha se metido em encrenca." Ela ouviu a mãe falar e seus olhos correram para olhar o jovem rapaz que estava ao lado.
Ele parecia o mesmo até então — alto e bonito. A única diferença era que agora um pouco mais de maturidade fora adicionada às suas feições.
"Oh, você pode não conhecê-lo ainda. Deixe-me apresentá-lo." Sua mãe falou novamente. "Ele é Ryan Foster, filho da minha melhor amiga. Você pode não se lembrar dele, mas o conhece. Ambos passaram um tempo considerável juntos na infância até que ele se mudou para o exterior com sua família. Agora eles voltaram e, o Ryan vai se juntar à sua escola."
E desde então, ela passou a saber quem era Ryan Foster — um amor de infância que mais tarde cresceu e se tornou seu noivo.
Mas espera, Arwen não conseguia entender por que estava sendo lembrada daquele dia agora. Era uma história antiga que estava em sua memória, mas ela nunca pensou em relembrar ou revivê-la. Estava lá, no diário do seu coração, como qualquer outro dia da sua vida.
Ela estava tentando descobrir por que estava revisitando esta página de sua vida quando, pelo canto do olho, ela viu o olhar da jovem Arwen saindo do quarto. Seu olhar parecia ter alguma confusão que Arwen não podia registrar.
O que era?
Ela seguiu o olhar de sua versão mais jovem e viu a silhueta de outro rapaz. Ele já estava de costas, pronto para sair. Como ela estava assistindo a tudo isso acontecer através da memória de sua versão mais jovem, ela não tinha o poder de se mover e verificar quem era o garoto.
A jovem Arwen poderia tê-lo visto, mas ela não o manteve em sua memória. E pela maneira como ele virou as costas, ela supôs que ele nunca havia retornado depois daquele dia.
Quem era ele?
De repente, estava tudo de volta à escuridão. Arwen pensou que tinha retornado ao mesmo lugar escuro, só para ver um pequeno raio de luz iluminando o ambiente. Ela ouviu uma voz e a reconheceu como pertencente a alguma enfermeira.
"Ela está acordando. Eu deveria chamar um médico."
Quando Arwen abriu os olhos, ela vislumbrou a enfermeira saindo correndo — provavelmente para chamar o médico. Seus olhos olharam ao redor, e como ela tinha adivinhado, ela não havia morrido; alguém a havia salvado.
Ela tinha uma lembrança embaçada de tudo. Embora duvidasse que fosse o Ryan, ainda havia uma chance de que ele tivesse voltado para resgatá-la. Ela precisava confirmar isso antes de enviar a ele sua gratidão.
O médico entrou logo depois para examiná-la. Tomando nota de todos os sinais vitais, ele sorriu e disse: "Você se recuperou bem. Mas ainda temos que esperar pelo Dr. Clark para te ver uma vez."
"Dr. Clark?" Arwen não estava muito familiarizada com o nome.
O médico assentiu. "Sim, Dr. Clark. Ele também é seu médico assistente, e foi a cirurgia dele que ajudou você a se recuperar tão bem e tão rápido. Quando ele vier mais tarde, você poderá conhecê-lo."
"Fui submetida a uma cirurgia?" ela perguntou. Embora soubesse que havia sido gravemente ferida no acidente, ela não sentiu nada como bisturis tocando sua pele. Na verdade, ela mal sentia dor.
"A cirurgia era importante para te salvar. Você teve uma lesão profunda na cabeça e alguns ossos quebrados. Mas você foi sortuda que o Dr. Clark realizou sua cirurgia. Com ele, você talvez não tenha sentido nada."
O médico explicou, e Arwen assentiu olhando para si mesma. "Então, foi o Dr. Clark que me trouxe aqui? Foi ele quem me salvou?" ela perguntou, e o médico trocou um olhar com a enfermeira que estava ao seu lado.