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Chapter 4 - A coisa mais importante.

O restante da viagem, passou como um sonho de verão, tocado na velocidade 2x. Eu não sei se me diverti, não sei se fingi que me diverti. Visitamos o aquário pela manhã do penúltimo dia. Provavelmente vou me lembrar quando observar atentamente as inúmeras fotos tiradas. O mergulho também passou de forma similar.

72 horas depois de partirmos, estávamos novamente em Aomori, a viagem de volta foi silenciosa, diferente da ida. Inocentemente achei que nada mudaria, mas pelo menos no momento, minhas interações com Ayane não passavam da cordialidade básica. Talvez depois do retorno às aulas as coisas voltassem ao normal, mas no fim das contas, o que era o normal entre eu e a presidente?

"Yuki!"

Minha mãe me chamando me tirou dos meus pensamentos corrosivos. Ela sorria, e estava acompanhada dos pais de Ayane que a algum tempo não via. 

"Aproveitaram?"

"Sim!"

Ayane se antecipou, e respondeu, talvez tentando livrar-me do incômodo. 

"Vamos fazer isso mais vezes Yuki!"

"Vamos…"

"Vou estar bem ocupada nas próximas semanas, mas se precisar de qualquer coisa é só me ligar."

Nossos pais nos observavam, aparentemente esperando alguma coisa que não aconteceu, não percebi desapontamento, apenas surpresa. Com um breve aceno me despedi de Ayane que conversava com os pais animadamente sobre os souvenirs comprados na viagem, em pouco tempo as silhuetas da família desapareceram de vista. 

Comecei a caminhar com minha mãe com destino ao táxi que nos esperava.

"Ah, eu também comprei souvenirs para vocês."

"Obrigada, filho… Está tudo bem?"

Não posso preocupa-la com uma bobagem dessas, ela tem coisas mais importantes para lidar no momento. 

"Apenas cansado. E seu livro?"

Ela me observou mais uma vez, aparentemente não satisfeita com minha resposta.

"Bem, já mandei o primeiro draft para meu editor e vou fazer mais algumas revisões hoje. Vamos indo, tome um banho, jante e vá descansar."

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Já passava das 19:30 quando chegamos em casa. Minha mãe me ajudou a desfazer as malas, e parecia feliz com o presente. Era o primeiro que recebia de mim em anos, afinal. A reação me deixou feliz, mas não o bastante para esconder a dúvida que eu provavelmente estampava em minha cara. 

Comecei a subir a escada em direção ao meu quarto, quando novamente fui interrompido por minha mãe. Dessa vez sua preocupação estava evidente, o que eu queria que não acontecesse, aconteceu. 

"Yuki, vou perguntar mais uma vez, está tudo bem?"

Por anos eu nunca tive ninguém em casa com tempo para me ouvir, os momentos passados com meu pai, eu evitava causar ou trazer qualquer problema. Não começaria agora a ser um estorvo para ambos, quando tinham coisas mais importantes para lidar. 

"Estou, não se preocupe. Vou tomar me-"

"Yuki!!!"

Dei um passo involuntário para trás, ao ouvir a subida de tom de voz de minha mãe. Fazia uma década que não a ouvia. Ela se aproximou após perceber minha reação, e colocou as duas mãos em meus ombros, me forçando a olhá-la diretamente. 

"Eu sei que isso soa insanidade vindo da mulher que se afastou da família como me afastei, eu sei que nunca fui a mãe que você precisou nesses anos tão importantes. Mas para o que vale o momento, eu estou aqui, agora!"

Lágrimas se formaram no rosto de minha mãe, que mesmo assim, continuou.

"O que eu fiz pra você não tem perdão, mesmo com o tempo que disse curar tudo, mas o que eu posso fazer, eu farei, agora! Yuki, não existe nada mais importante nesse mundo para mim e para seu pai do que você. NADA!"

Ela me abraçou, continuando. 

"Então mesmo não dizendo diretamente, não aja como se seus problemas não fossem nossos problemas, seja lá o que está sentindo, me fale. É pra isso que estamos aqui, meu filho, pra te ajudar."

"Eu sinto muito."

"Não sinta! Yuki, pode me contar o que for, se é o suficiente pra fazer você se angustiar desse jeito, me dê a chance de te ajudar."

Após um breve silêncio eu abaixei minha cabeça, as lágrimas que derramei de forma escondida na última semana, agora eu as derramava sem cerimônia, em frente a minha mãe. Eu não sabia explicar o que sentia, não sabia se era arrependimento de ter me confessado a Ayane, se era simplesmente dor da rejeição. Eu só queria chorar. 

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Após já estar mais calmo, minha mãe sentou ao meu lado, me passando uma caneca de chá.

"Eu sinto muito, filho."

"Me sinto um merda no momento, mas vai passar. Obrigado por me ouvir."

"Já te disse, estamos aqui pra isso, já passou da hora de começar a abusar do seu poder de filho!"

Encostei a nuca no sofá, rindo enquanto observava o teto.

"Eu irei, não se preocupe."

Minha mãe se levantou do sofá, pegando as coisas da viagem que ainda estavam na mesa de centro da sala.

"O que vai fazer no restante das férias?"

"Na próxima semana vou dar uma mão para o Jin na panificadora da família dele. Faço isso a alguns anos já."

"Bom trabalho, então!"

"Obrigado, dessa vez é para as coisas serem mais fáceis, ele disse que tem mais alguém para ajudar." 

Todas as férias de verão, os pais de Jin saem para viajar por alguns dias, deixando a loja em responsabilidade do filho mais velho. Acabei ajudando ele alguns anos atrás, e agora sempre quebro esse galho ao meu amigo, quando necessário. 

Dessa vez, no entanto, ele disse ter recrutado mais alguém para o serviço, o que era surpreendente. Não imaginava muita gente se voluntariando ao trabalho que não era dos mais fáceis, justamente nas férias. Seria essa pessoa o indivíduo que gravou o vídeo de Hina e Kanzato, e o trabalho a punição? Vindo de Jin Matsuyama, era terrivelmente possível. 

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Às 06:30 da manhã cheguei na panificadora de Jin, ainda bocejando. Passei pela porta, e a loja bem organizada, já estava limpa. Observei o cenário, que geralmente visitava como cliente, mas que novamente seria meu local de trabalho. A porta para uma das áreas de serviço se abriu, imediatamente comecei as agressões verbais gratuitas ao meu amigo.

"Finalmente, vice-presidente, mais alguns minutos e eu voltaria… pra casa." 

"Ah!"

Minha voz desapareceu, quem abriu a porta e tomou um susto ao me ver não foi Jin, e sim uma garota. 

"Bom dia!" 

Jin apareceu na mesma porta, a garota em questão abaixou a cabeça e voltou correndo para a cozinha da padaria. Jin levantou as mãos para não ser atingido, e em seguida me olhou, com aquele sorriso sarcástico que não me fazia a menor falta. 

"Então foi ela?"

Jin não respondeu, mas seu silêncio foi o suficiente. 

A pessoa que gravou o vídeo, que poderia muito bem acabar na expulsão de Hinata da escola, e jogado sua vida numa espiral descontrolada, foi sua melhor amiga, alguém que estava com Hina há basicamente uma década.

"...Sakura Fujisaki."