O vasto vazio ao redor era imenso e devastador. Uma entidade colossal, incompreensível aos olhos humanos, se estendia por todas as direções. Seu corpo era um vórtice de matéria pulsante, uma massa mutante e caótica que absorvia tudo o que estava ao seu alcance, como se o próprio espaço e o tempo fossem consumidos por seu poder. No entanto, mesmo em seu estado perpétuo de inconsciência, a criatura parecia estar em um transe profundo, envolta por entidades monstruosas que tocavam flautas dissonantes. Suas melodias desconcertantes eram como um feitiço que mantinha o titã em um sono interminável.
Ao adentrar o sonho dessa criatura, os sentidos se diluíam e o mundo ao redor mudava de forma incompreensível. Diversos universos surgiam diante de seus olhos, cada um irradiando uma cor distinta. Era uma visão surpreendentemente bela — um cenário radiante onde o caos não existia. Porém, no centro dessa paisagem vibrante, um objeto tomava o foco de toda a atenção: uma relíquia cósmica, uma criação de proporções impossíveis, desafiando as leis da geometria e da matéria.
A relíquia flutuava diante de um altar antigo, e sua presença parecia reconfigurar o próprio espaço ao seu redor. Sua estrutura era uma fusão entre o orgânico e o mecânico, como se fosse feita de algo além da própria compreensão. O metal negro e brilhante de sua superfície refletia a luz de maneira antinatural, e as inscrições que nela se moviam pareciam ser reescritas à medida que eram observadas. Às vezes, seu tamanho se ajustava, tornando-se pequeno e portátil, outras vezes monstruoso, como se distorcesse a realidade ao seu redor.
Sua superfície estava adornada por símbolos de várias culturas e mitologias, cuja essência se alterava constantemente, desafiando o entendimento de qualquer ser que tentasse decifrá-los. Cada cor que se manifestava — o azul profundo, o dourado, o verde esmeralda — pulsava como uma estrela distante, irradiando um poder incompreensível e uma sensação de iminente cataclismo.
Enquanto a relíquia permanecia em silêncio, um tremor profundo cortou o ambiente. O espaço parecia se fragmentar, e a luz emanada pela superfície da relíquia começou a brilhar com mais intensidade. Sua energia parecia estar prestes a se liberar, e o ambiente ao redor se transformava de uma maneira que não podia mais ser ignorada. O som distante de algo que não deveria estar ali preencheu o ar, intensificando a sensação de que a realidade estava à beira do colapso.
A relíquia começou a se abrir. Lentamente, suas faces se afastaram, como pétalas de uma flor cósmica. O movimento violava todas as leis da física. A luz da relíquia se expandiu, preenchendo o espaço com um brilho opressor que engoliu tudo ao redor. Então, uma onda de energia irrompeu, liberando um caos indescritível.
O espaço-tempo se rompeu em fissuras, e uma miríade de criaturas apocalípticas começou a se materializar. Dragões, fênixes, demônios e entidades de mitologias esquecidas rasgaram o tecido da realidade, como se a própria natureza do universo estivesse sendo desfeita. Espíritos e seres de dimensões além da compreensão humana surgiram, invadindo os planos como se fossem parte do próprio colapso.
As cidades e reinos desmoronaram, as ruínas eram um testemunho da destruição causada por essas forças primordiais. O ar estava denso, carregado com o som de gritos, rugidos e sussurros. No entanto, a relíquia permanecia quieta, como se apenas observasse a devastação que tinha desencadeado.
Em um instante, o impacto da liberação da relíquia provocou uma reação em cadeia, rasgando as barreiras entre os universos. Cada realidade começou a se desintegrar. Alguns mundos perderam sua coesão, suas substâncias físicas começaram a se desfazer. Em outros, o fluxo temporal foi alterado, criando paradoxos que destruíam tudo o que existia, incluindo o próprio tempo.
A relíquia, agora completamente aberta, parecia estar cumprindo uma função cósmica ainda mais grandiosa. As leis da física haviam se tornado irrelevantes. O que antes era conhecido como "realidade" se dissolveu. A liberação das energias cósmicas trouxe consigo a destruição de todo e qualquer limite entre os universos, criando um novo e caótico cenário de apocalipse.
[Universo ??????: Localização: Planta Terra]
Arthur caminhava pelas ruas sombrias da cidade, o peso de sua rotina opressora sobre os ombros. O som do martelo batendo contra o metal, o cheiro de suor misturado à poeira, tudo fazia parte de um ciclo interminável que ele aceitava sem questionar. Sua mochila estava carregada de ferramentas e materiais, e cada passo em direção à sua casa parecia mais pesado do que o anterior.
As luzes amareladas dos postes de rua eram suas únicas companheiras na noite que se aproximava. O céu, já tingido de azul profundo, parecia refletir seu próprio cansaço. O rosto de Arthur era marcado por noites mal dormidas, o desgaste da responsabilidade visível em cada linha e olheira sob seus olhos castanhos. Sua vida girava em torno de um único propósito: Sofia, sua irmã, que o aguardava em casa.
A brisa fria da noite aliviava o calor do corpo exausto, e a jaqueta velha e remendada parecia ter se ajustado a ele com o tempo. Cada passo era uma luta silenciosa contra a fadiga, mas ele avançava. Sofia, sua única família, precisava dele. Ela era a razão pela qual ele não se permitia desmoronar.
Quando o zumbido começou, uma vibração sutil, Arthur sentiu um leve arrepio percorrer sua coluna. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas instintivamente apertou as alças da mochila, como se aquilo fosse um escudo contra o medo crescente em seu peito. Olhou ao redor, tentando racionalizar a estranha sensação, mas nada estava fora do lugar. Era apenas ele, sozinho, cercado pelo silêncio, um silêncio que agora parecia ameaçador.
A princípio, foi apenas um leve tremor sob seus pés, mas quando ele se intensificou, Arthur sentiu como se o chão estivesse se desfazendo. Um calafrio atravessou seu corpo, e ele sentiu o coração acelerar, os batimentos ecoando em seus ouvidos enquanto o pânico começava a tomar conta. Era como se algo invisível estivesse comprimindo o ar ao seu redor, e cada vez que ele respirava, sentia uma pressão insuportável em seus pulmões.
Ele se perguntou, por um instante, se aquilo tudo não era algum tipo de alucinação provocada pela exaustão, mas o medo que o enlaçava era real demais. Era algo que ia além do simples cansaço. Era um medo primitivo, o tipo de sensação que fazia cada fibra de seu corpo querer fugir, se proteger de algo que estava muito além de sua compreensão. Mas Arthur estava paralisado, incapaz de obedecer ao instinto que gritava para que ele saísse dali. Cada músculo parecia endurecido, como se ele fosse apenas um espectador do próprio corpo.
Então, o horizonte começou a se distorcer, e ele viu, aterrorizado, o céu se quebrar como vidro. Não era possível. Ele queria gritar, mas a voz parecia presa em sua garganta, e a única coisa que ele conseguiu emitir foi um sussurro rouco e ininteligível. Arthur percebeu que sua mente estava à beira de ceder. O que estava acontecendo não fazia sentido algum, e a simples tentativa de entender aquilo parecia afundá-lo ainda mais no pânico.
O chão rachou sob seus pés, e ele caiu de joelhos, agarrando-se ao concreto. O brilho estranho que emanava das fendas fazia com que tudo ao redor ficasse ainda mais distorcido, e Arthur sentiu como se estivesse prestes a ser engolido por aquilo. A realidade ao seu redor estava se desintegrando, e ele não tinha como impedir. Uma dor insuportável começou a latejar em sua cabeça, como se algo estivesse invadindo sua mente, arrancando suas lembranças, seus pensamentos, e ele se sentiu pequeno, insignificante, diante de forças além de qualquer coisa que ele pudesse imaginar.
Finalmente, o corpo cedeu. Ele caiu, incapaz de resistir ao colapso iminente. Tudo ao seu redor se dissolveu em uma explosão de luz e, antes que pudesse entender o que havia acontecido, foi envolvido pelo vazio.
Arthur não sentiu mais o chão. Não havia mais nada. Ele flutuava no desconhecido, sua mente à deriva em um abismo de silêncio.
E foi só o silêncio que restou entes de tudo ficar escuro.