— Naomi – chamou Gabriel, colocando somente a cabeça pela porta do banheiro. A água escorria pelo rosto e cabelo dele. – Esquecemos as armas no Oásis.
A jovem que estava deitada descansando, levou a mão ao rosto e fez uma careta diante daquele vacilo. Os Corvos que atacaram o grupo levavam consigo revólveres, mas soube que Hylari os teria recolhido, sem perder tempo.
— Hylari já deve estar com elas – falou para o rapaz.
— Sim – disse Gabriel, que voltou para dentro do banheiro. – Que presente, hein.
Estavam se preparando para a reunião que Sandy convocou mais cedo envolvendo todo Ninho. Um Corvo novato informara a dupla. Naomi estava pronta já fazia tempo. Deitada de barriga para cima, ela fitava o teto, os olhos pesados obrigavam-na a lutar para não cair no sono. A demora do outro somente complicou as coisas.
Não gostou do jeito que a líder do Ninho tratou a situação. Um ataque direto, mesmo sendo o que ela fazia por ser do círculo dos Ponta de Lança, não era como estava acostumada a lidar em situações semelhantes, mas guardou tudo para si mesma. Cada cidade era diferente no modo de agir. Mesmo sendo todos Corvos, existiam atitudes diferentes, como chamar a líder de princesa.
— Acorda, Naomi – falou Gabriel, olhando-a já vestido.
Ela se mexeu, perdida. Acabou caindo no sono enquanto pensava. Colocou-se em pé ao lado de Gabriel já pronto. Ao saírem do aposento, escutaram o som de vozes conversando acaloradamente na sala principal.
Gabriel passou à frente de sua companheira, e usando os nós dos dedos, bateu algumas vezes à porta de Livya, que ficava de frente a deles. Ele repetiu o gesto algumas vezes, esperando a novata.
— Será que ela já foi? – indagou, olhando para Naomi enquanto continuava a bater à porta.
— Talvez – murmurou Naomi, com a atenção voltada para as conversas adiante. – Ela passou bastante tempo com aquela Ana hoje.
O rapaz perdeu a paciência e abriu a porta, de supetão, colocando a cabeça para dentro do quarto idêntico ao seu. Não havia sinal da outra em lugar nenhum. Percebeu que a colega tinha o mesmo hábito dele de deixar a cama desarrumada, algo que sempre tirava a paciência de Naomi.
— Sério, Gabriel? – falou ela, com desaprovação.
— Não tem ninguém – respondeu, ignorando o comentário dela. – Provavelmente já foi.
Foram em direção às vozes. A sala estava abarrotada por Corvos, o que era uma imagem estranha, pois geralmente estavam em missões ou patrulhando. Tantos deles juntos era algo anormal, mesmo em um Ninho.
Alguns prestaram atenção ao casal, analisando-os pelo canto dos olhos. Gabriel sentiu olhares perfurando-o de todas as direções, alguns discretos e outros diretos.
Nahara, que conversava acaloradamente com um pequeno grupo, assim que os viu se despediu e foi em direção a eles.
— Estão melhores? – indagou ao chegar perto.
— Sim, obrigada – respondeu Naomi. – Quantos Corvos tem aqui?
— O Ninho inteiro. – E complementou: – Sandy falou a verdade sobre um ataque em grande escala, todos os oitenta foram convocados.
Gabriel, que passeava os olhos pelas pessoas, conseguiu ver Livya em um canto, conversando com Ana. Ela parecia estar animada, o que o deixou um pouco aliviado depois do que passou. Ela comia algo que deixou o rapaz curioso, iria perguntar a ela mais tarde sobre o que era.
— Todos os oitenta estão aqui? – perguntou Naomi, que continuou a conversa com a colega.
— Exato. Não vou mentir para você. Nunca tinha visto tantos dos nossos em um único lugar.
Repentinamente, um silêncio tomou conta da multidão. Sandy vinha pelo corredor, ficando de pé em um canto sozinha. Todos se sentaram para escutá-la.
— Sabemos a localização do Grande Irmão – afirmou.
A plateia vibrou com a notícia e todo o lugar se encheu com berros e comemorações. A palavra princesa era ouvida o tempo todo. Sandy levantou as mãos para acalmar os ânimos. Assim que obteve êxito, continuou:
— Primeiramente, vou dizer por que chamei todos aqui. Amanhã à noite, iremos lançar uma operação em larga escala para erradicar esse problema.
— Essa é nossa líder! – gritou alguém na plateia, seguido por outros que a elogiavam.
Sandy novamente pede silêncio, e pela satisfação em seu rosto, estava adorando a situação. Deslizou uma das mãos na longa trança e a jogou para frente de seu ombro, e gritos chamando-a de princesa se ergueram por alguns momentos.
— Dos oitenta de vocês, sessenta e cinco irão comigo, e nossos convidados – falou, sinalizando para Gabriel e Naomi. – Dar um fim nesta situação.
— Quem são os quinze que ficarão? – indagou um Corvo mais velho.
— Simples, Sebastião – respondeu Sandy. – Nossos novatos continuarão a tomar conta da cidade e deixarei você no comando até eu voltar.
Não houve reclamação por parte de ninguém, mesmo ficando óbvia a insatisfação dos novatos. Sandy continuou:
— Nosso alvo fica na área da antiga Cova 50. Vou ser sincera, não pretendo criar nenhuma estratégia ou plano mirabolante de ataque. Tive uma ideia bem mais simples. Vou deixar na mão de cada um. Lidarão com a situação do jeito que quiserem. Eu dou total aprovação aos meios escolhidos.
Novamente a euforia e Gabriel quase foi tragado por ela. Deixar pessoas treinadas e armadas fazerem o que quisessem beirava à loucura. Gostou da líder do Ninho, de imediato.
— Levem suas armas para Luís e peguem munição. Amanhã partiremos à caça. – E sem esperar, voltou para seu quarto embaixo da ovação de todos.
Naomi olhou assustada para tudo. A loucura tomava conta do lugar junto às pessoas. Seu parceiro parecia completamente submerso nela também.
— O que acha? – Nahara precisou gritar para ser possível escutá-la.
— Mudei de ideia – falou Naomi, gritando de volta. – Ela é uma das mulheres mais intensas que eu já conheci.
Nahara riu enquanto Gabriel entrava na multidão animada.