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Chapter 12 - Capítulo 12

O estalo sinistro do Contador Geiger fez Michel parar por um momento. Sentiu o rosto ficar gelado no mesmo instante. Outro estalo fez com que o rapaz disparasse em direção à origem.

Nasor segurava um dos contadores de um amarelo desbotado. E diferente do Corvo, o vendedor parecia tranquilo.

— Estamos em terreno radioativo? – sussurrou Michel com urgência.

— Pode ficar tranquilo, é uma das Manchas. E está longe o suficiente para não causar perigo.

Sentindo o coração nos ouvidos, Michel concordou e conseguiu relaxar um pouco. As Manchas eram locais que os Antigos macularam com energia nuclear, podendo ser algum laboratório, até mesmo uma das crateras das bombas que os dizimaram há setecentos anos.

Foi então que a cerca apareceu. Uma longa parede de pedaços de ferro espaçados de dez em dez metros, com placas amarelas de radiação. Ela servia para determinar o limite de onde poderiam ir. Passar dela seria como assinar o atestado de morte: morte por radiação.

Novamente, o medidor solta o estalo seco. Michel ignorou, olhando para o cercado, e pelo tamanho não fora uma bomba que causou a Mancha.

Livya apareceu do seu lado, sem fôlego, vinha correndo do fim da caravana.

— É uma Mancha? – indagou com um misto de curiosidade pavor na voz.

— Sim. É a primeira vez que vê uma?

— Só conhecia por livros e imagens, mas nada me preparou para essa sensação.

O Corvo teve que concordar, o lugar emitia uma energia repressiva, quase como se fosse um animal encurralado, preparado para se defender. Para alívio dele, os carroções tomaram um caminho lateral que seguia rente à cerca improvisada.

Até mesmo os mosquitos que perturbaram a viagem inteira pareciam saber que aquele não era um lugar bom; haviam desaparecido. Vez ou outra o contador soltava seu som característico, sendo o único, pois ninguém falava nada. O gado estava inquieto.

— Vi muitas, para falar a verdade – continuou Michel. – Essa, pelo tamanho, deve ser de algum laboratório ou instalação militar.

— Como pode saber disso?

— O tamanho. Se fosse de uma bomba, você não seria capaz de ver toda a cerca. E tem mais uma coisa: o nada. – Michel olhou para a jovem que o encarava de volta. — Seria como um círculo gigantesco vazio, onde nada nasce ou vive, e uma cratera no centro. É algo maligno.

Mantiveram o passo acelerado, e mesmo quando a cerca acabou, continuaram até que ela sumisse na paisagem.

No mesmo instante, os mosquitos que haviam dado uma brecha às suas tentativas de atacar as partes desprotegidas dos membros da caravana, voltaram à atividade, mas a sensação ruim havia passado.

Um olho da água apareceu e deixou o ar mais fresco. Um córrego cristalino descia dele indo em direção a algo que lembrava uma pedra, ao longe. O som de água batendo em pedras foi ficando cada vez mais evidente.

Era possível ver algumas pessoas à beira da água, crianças brincando ou lavando suas roupas, mas seguiam os touros com os olhos brilhantes.

— Finalmente estamos chegando – disse Nasor.

Livya ficou pasma com o que viu. O Oásis ficava dentro de uma caverna com mais de cinquenta metros de altura, toda a beirada de pedra era completamente coberta por musgo e plantas. Até mesmo algumas árvores pequenas se atreviam a crescer.

Cachoeiras rompiam do topo das pedras em quatro lugares. Era como uma gigantesca tigela com o topo aberto para o céu.

— Mas isso lembra muito… – começou Livya, e Michel a cortou completando:

— O Bunker.

— Exato.

Mesmo a certa distância, dava para ver as casas que ficavam contra as paredes, como se fizessem parte dela. Naomi e Gabriel se aproximaram deles.

— Bem, já está na hora de nos separarmos – disse Nasor levando a garrafa de hidromel à boca.

— Sim, foi uma viagem bem pacífica – respondeu Naomi.

— Quase – respondeu Nahara que vinha por entre as carroças dando um tapinha no ombro de Gabriel. – Agradeço a ajuda até aqui.

— Preciso continuar – disse Nasor. – Produtos a serem vendidos! Obrigado por tudo.

Ana foi a última a aparecer. Veio quase correndo do fim da fileira.

— Isso é um adeus.

— Por ora – disse Michel à recém-chegada.

Com um último adeus, o grupo esperou a comitiva adentrar a abertura do Oásis, andando mais devagar ficando para trás. Quando a última carroça entrou, o grupo acelerou.

Finalmente chegaram ao Oásis. Agora precisavam achar Bia e Samuel.