Escutei alguém batendo na porta. "Matteo, são cinco da manhã. Você me pediu para acordá-lo a este horário."
Ainda morrendo de sono respondi. "Estou indo, Anna."
"Gostaria de ajuda pra se trocar, Jovem Mestre Matteo?"
"Não, muito obrigado." Levanto-me, como sempre, faço minha rotina diária. Porém estava feliz, muito feliz. Hoje é o dia. Depois de três longos anos finalmente poderei treinar.
Caminhei à porta e abri, para ter a visão perturbadora de alguém me esperando com um sorriso maníaco no rosto. "Ah, bom dia, Anna. Depois do café pode me levar ao campo de treinamento?"
Seu rosto iluminou de felicidade. "Claro, vamos tomar café?"
"Vamos."
Após tomar um delicioso café, segui a babá até o lugar onde irei treinar. Paramos em frente a uma porta preta gigantesca. Ao abrirmos ela vejo meu pai me esperando sentado em uma sala enorme. A minha esquerda havia espadas, arcos, lanças, adagas e outras armas que nunca tinha visto. Já a minha direita havia estantes e inúmeros livros.
"Bom dia, filho."
"Bom dia, pai. Como iremos treinar?"
"Está tão animado assim? Pelo menos foi direto ao ponto, então irei ser direto também. Matteo você é uma criança e tem somente três anos, logo antes de começarmos tenho uma pergunta. Com quantos anos a maioria das pessoas despertam?"
"Não faço ideia, talvez três anos?"
"Hahaha, quem dera tivesse despertado a essa idade. Não, na verdade a média é entre oito e dez anos, entretanto famílias poderosas influênciam as crianças pra despertarem mais cedo, geralmente aos seis anos. Pois se forçarem para que o processo aconteça muito antes disso, o corpo prematuro não aguentará."
"Entendo, porém qual a razão de me dizer tudo isso?"
"Matteo, lembra com quantos anos você despertou?"
Na época era muito novo, então não posso falar com exatidão para não levantar mais supeitas. "Dois anos?"
"Dez meses. Você é uma anomalia, o maior de todos os gênios. Por isso a partir de hoje não serei mais seu pai, e sim seu treinador. Entendido?"
"Sim, treinador." Vi um sorriso orgulhoso no rosto de Hugo quando falei 'treinador'.
"Ótimo, vamos as instruções. Seu corpo é jovem e se desenvolveu pouco, você não aguenta muito tempo de treino físico ou exercícios complexos. Por isso levarei seu corpo ao limite e aprofundarei seus conhecimentos sobre magia."
"Mas se meu corpo não agueta treinos físicos como ele chegará ao limite."
"Boa pergunta, a cada dois dias você só terá um café, dois almoços e uma janta. Além da corrida que você fará todas as manhãs até não aguentar mais."
"O que!? Privação alimentar e correr toda manhã?"
Papai ficou bravo e rugiu. "Vai questionar seu treinador!?"
"Não, senhor."
"Já que é assim, faremos a corrida agora. Se não der no mínimo cem voltas no mesmo ritmo, não venha mais a esta sala."
Comecei a correr, a cada passo, sentia uma dor excruciante na minha perna, meus pulmões estavam sem ar, minhas pálpebras ficaram mais pesadas. Se isso continuar vou desmaiar.
Longos minutos se passaram, não conseguia entender como ele queria que uma criança corresse essa sala cem vezes sem perder o ritmo. "Aca..."
Abrindo os olhos me vi na mesma sala de antes, notei que havia desmaiado. Preciso melhorar e ficar mais forte. Olhei a figura ao meu lado, era Hugo. "Você foi bem, bela adormecida. Achei que não consegiria."
"Mas você disse—"
"Eu sei o que disse. Isso era só pra te motivar, nunca esperaria uma criança 10 fizesse aquilo, imagina uma de três. Só queria ver até onde você iria. Tem sorte de ser um dragão."
"Como assim?"
"Matteo, é fisicamente impossível uma criança fazer o que eu madei. Mas se essa criança é um dragão despertado a história muda, o coração dracônico absorve mana e distribui para todo o corpo, fortalecendo os músculos."
"Então eu só consigui por causa do meu coração?"
"Precisamente."
Um silêncio perturbador surgiu, ficamos quietos por um tempo até ele dizer. "Por hoje está bom, vamos almoçar. Depois disso está liberado."
Deixando a sala, fomos comer. Indo ao meu quarto percebi a Anna vindo atrás de mim, assim como um cachorrinho vai atrás do seu dono.
Não consigo achar normal isso, uma pessoa te perseguindo como se fosse a coisa mais normal do mundo. Afinal é claro que todas as pessoas desse mundo já foram perseguidas ao menos uma vez.
No momento em que entrei, pratiquei minha rotina. Precisava ficar mais forte apesar de ter ido para o nível intermediário recentemente, não via a hora de ir para o avançado.
Além disso queria saber se iríamos fazer a mesma coisa amanhã, me cansei só de pensar na possibilidade de correr cem voltas novamente.
Horas se passaram num piscar de olhos, até ouvir Anna bateu na porta com delicadeza. "Matteo, está na hora da janta."
"Estou indo." Novamente voltei a sala de jantar, eu era incapaz de ignorar ver uma figura assim que virava para atrás.
Devido ao trabalho, meus pais comeram antes, logo estava somente eu e a babá numa sala enorme. Aquela comida estava realmente uma delícia, não é atoa o pagamento do chefe de cozinha.
Nem me lembro o que aconteceu depois disso, porque o cansaço era tamanho a ponto de dormir assim que encostei no travesseiro.
Despertei com Anna gritando. "Jovem Mestre Matteo, são cinco da manhã. Hora do seu treino."
Ainda morrendo de sono respondi. "Só vou me trocar e já estou indo."
Ao entrar na sala de treinamento meu pai estava me esperando. "Bom dia, Matteo."
"Bom dia, treinador." Uma expressão de diversão apareceu no rosto de Hugo.
"Estava brincando, pode me chamar de pai. Mas enquanto estiver nesta sala me trate com respeito. Entendeu?"
"Sim, pai."
"Agora vamos começar. Anna!"
O rosto da babá inocente paralisou, ela parecia um fantasma de tão pálida, mesmo chocada e com medo, veio até nós. "Sim, Sr. Hugo"
"Meu filho tomou café?" Meu pai disse expressando seriedade.
"Não senhor." Falou Anna, refletindo a expressão do papai.
"Ótimo, por ter se contido irei reduzir pela metade as voltas de hoje, você já pode começar."
Me recusei a acreditar que seria obrigado a correr cem voltas nessa sala a qual parece mais um estádio de futebol. "Como assim 'hoje'?"
"Não te disse? Você correrá todos os dias, mas é claro, quando estiver aguentando perfeitamente essa pequena maratona irei adicionar coisas gradualmente."
Esse cara é louco só pode. Ninguém em sã consciência faria isso, mas aparentemente mesmo em são meu pai fez. Corri incansávelmente, cada passo estava carregado com todo meu ódio.
Por fazer somente metade das voltas que fiz ontem, terminei bem mais rápido. Dessa vez não desmaiei, embora estivesse bem cansado.
Caminhei até Hugo com um sorriso audácioso, ele estava se divertindo vendo a arrogância de uma criança. "Beba água e volte aqui. Seja rápido."
Bem como me foi dito, tomei água e retornei à arena, sentei ao lado do meu pai que estaava na arquibancada a qual cercava a pista de corrida. "Você demorou." Hugo disse alegremente.
"Fui devagar pra descansar um pouco."
Papai iniciou um tópico importante, porque ele começou a falar sério. "Matteo, você é muito mais inteligente do que as crianças da sua idade, por causa disso vou te ensinar sobre as linhagens elementais."
Um semblante de dúvida apareceu em mim, "Linhagens elementais?"
"Sim, pra começar existem quatro elementos básicos: água, terra, fogo e ar. Quando alguém chega no nível avançado, essa pessoa adquiri a habilidade de manipular um desses elementos. Depois de dominar seu elemento você pode usar uma versão mais profunda dele, por exemplo, a partir do momento que se domina a água pode-se controlar o gelo."
Papai fez uma uma pausa e olhou nos meus olhos antes de continuar.
"Em raros casos um indivíduo pode controlar mais de um elemento, a quantidade de elementos controláveis varia de acordo com a capacidade do cérebro da pessoa de lidar com toda essa informação."
"E como alguém pode saber a quantidade de informações que o cérebro pode lidar?" Fiz o primeiro questionamente o qual me veio a mente.
" Sabia que iria perguntar isto, existe um aparelho para medir essa capacidade mental por meio da injeção de mana. E advinha... Eu trouxe ele!"
Hugo tirou uma esfera transparente do tamanho de uma mão adulta e me entregou. "Coloque mana nisso."
Com 'colocar mana nisso' entendi que era pra mover minha mana pra dentro dessa coisa. Tentei muitas e muitas vezes, pra descobrir a dificuldade de pôr mana em algo. "Não consigo, pai."
"Até mesmo gênios tem seu limite, a partir de agora, toda vez depois de correr você irá tentar transferir sua mana para essa esfera."
Agora fudeu de vez!