Depois que Nanda terminou com Carlos, ele considerou tomar medidas extremas. Já se passavam dias desde o fim do relacionamento, e a dor de perder os pais, somada ao desgaste emocional, o deixara devastado. Era 15 de maio de 2027.
O quarto de Carlos estava um caos: lixo espalhado por todos os cantos, e no centro, uma cadeira. Sobre a cama, uma corda estava esticada, um símbolo claro de sua desesperança. Foi então que uma explosão enorme soou de fora do prédio, seguida pelo som das sirenes de ambulância e gritos que ecoavam pelas ruas. O barulho foi tão forte que fez Carlos parar o que estava fazendo e olhar pela janela, curioso sobre o que estava acontecendo.
De repente, ele escutou disparos de arma de fogo. Seu aparelho auditivo, que lhe dava uma percepção aguçada dos sons ao redor, direcionou sua atenção para a rua. Através da janela, viu um homem atirando em outro. O segundo homem, aparentemente tomado pela raiva, ainda estava de pé mesmo após ser baleado. Sua roupa estava encharcada de sangue, e ele corria, mas não conseguia se manter em pé por muito tempo.
Após o disparo, mais pessoas, em um estado de fúria semelhante, começaram a se aproximar, como se quisessem atacar o atirador. A cena era caótica. Carlos, desesperado, pegou o celular da mesa ao lado de seu computador e tentou ligar para a polícia, mas a ligação não completava. O sinal estava sobrecarregado, talvez por conta da alta demanda de chamadas de emergência.
Foi nesse momento que um tiro ecoou, e, ao olhar novamente, Carlos viu a multidão caída no chão, sem vida. O homem com a arma, aparentemente em choque, se aproximou para conferir os corpos, mas foi surpreendido por um cachorro que se lançou sobre ele, atacando-o de maneira feroz. O homem, em agonia, pediu ajuda. Carlos, ao ver aquilo, não hesitou: desceu as escadas para tentar ajudar.
Antes de chegar ao último andar, pegou uma chave de fenda grande como arma improvisada. No entanto, enquanto descia, ouviu alguém gritando por socorro. A voz lhe pareceu familiar; era Felipe. Carlos, no entanto, lembrou-se de que Felipe costumava sofrer agressões do pai e pensou que fosse apenas mais um daqueles momentos. Decidiu ignorar, convencido de que "ele precisava aprender a se virar sozinho".
Ao descer pelas escadas e sair do prédio, Carlos viu o homem com a arma já morto, sendo devorado pelo cachorro. O choque foi tão grande que ele soltou a chave de fenda, e o som do metal batendo no chão fez com que o animal, que parecia já estar possuído por alguma força sobrenatural, olhasse diretamente para ele. O cachorro, agora mais parecido com um monstro, começou a correr atrás de Carlos.
Instintivamente, Carlos pegou a chave de fenda novamente e correu em direção ao elevador. Antes de apertar o botão, ele parou, ouvindo mais gritos vindos das escadas. Olhou para trás e percebeu que o cachorro estava muito perto. Sem pensar duas vezes, ele correu até o elevador, apertou o botão, e o portão se abriu. O cachorro veio correndo, mas Carlos, num movimento rápido, conseguiu se afastar e dar um chute nele. O animal caiu, mas logo se levantou, como se não tivesse sentido nada.
Carlos, com o coração batendo forte, apertou o botão para o último andar e, finalmente, o elevador se fechou. No caminho para o topo, o cachorro ficou para trás. Quando o elevador chegou, Carlos rapidamente saiu e subiu as escadas até seu andar – o quarto. O prédio tinha oito andares, e ele sabia que ali, no seu apartamento, ainda havia uma corda sobre a cama. Ele estava em conflito, mas precisava tomar uma decisão.
Quando entrou em sua casa, ouviu o som de um choro vindo do apartamento de Felipe. Era a voz dele, pedindo socorro. Carlos, ao ver a corda sobre a cama, pensou por um momento. Com um suspiro, pegou a corda e a colocou sobre o ombro. Saiu de seu apartamento e foi até o de Felipe.
A porta estava entreaberta, e ao entrar, encontrou Felipe preso no banheiro, gritando por ajuda.