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Chapter 4 - O Nascimento da Estratégia

Desde cedo, Lucas sabia que as pessoas eram peças em um jogo maior. Sua mente estratégica observava tudo à sua volta, e ele reconhecia padrões que outros ignoravam. Foi essa percepção que o levou a identificar três pessoas que, de alguma forma, poderiam ser úteis para ele. Mas, acima de tudo, havia algo genuíno naquela amizade inicial, algo que ele nutria, mesmo que em silêncio.

O primeiro a cruzar o caminho de Lucas foi Pedro. Eles estavam na mesma sala desde o início da escola, mas só começaram a se falar quando os professores os colocaram para trabalhar juntos em um projeto. Pedro, sempre expansivo e amigável, quebrou o gelo rapidamente, elogiando a inteligência de Lucas. A princípio, Lucas não se importou com as tentativas de amizade, mas, aos poucos, percebeu que Pedro, com sua bondade e otimismo, era uma peça fundamental. Diferente de Lucas, Pedro era o tipo de pessoa que inspirava confiança e facilmente conquistava os outros. Lucas sabia que ele poderia ser um grande aliado.

Assim, Lucas começou a estreitar os laços com Pedro, nunca sendo manipulador diretamente, mas criando um espaço de amizade onde Pedro se sentia seguro e valorizado. Pedro não percebia que Lucas o via como parte de algo maior. Para ele, Lucas era apenas um amigo diferente, mas inteligente e interessante, alguém que o fazia pensar de maneiras que ele não estava acostumado.

Logo depois, Sofia entrou na equação. Ela era conhecida por ser aquela que questionava tudo. Seu espírito curioso e sua mente inquieta atraíram a atenção de Lucas. Ele sabia que Sofia não era fácil de enganar, então, ao contrário de Pedro, Lucas precisaria ser cuidadoso. Ao interagir com ela, Lucas sempre fazia questão de trazer perguntas e desafios que a instigassem. Sofia, por sua vez, admirava a maneira como Lucas pensava, como ele sempre parecia ver além da superfície.

A confiança entre eles começou a crescer quando Lucas, em uma das conversas, compartilhou com Sofia sua visão sobre o mundo – uma versão mais simplificada do que ele realmente pensava. Ele não queria assustá-la, mas, ao falar sobre a complexidade das relações humanas e sobre como as pessoas eram manipuladas sem perceber, ele capturou a curiosidade de Sofia. A partir dali, ela começou a ver Lucas como alguém que entendia o mundo de uma forma única, alguém que poderia lhe mostrar mais do que os adultos ou os professores jamais poderiam.

Por fim, havia Ana. Ana sempre foi mais introspectiva e observadora, alguém que, assim como Lucas, preferia escutar em vez de falar. Ela não era de questionar como Sofia, mas sua lealdade era evidente desde cedo. Lucas percebeu que Ana tinha uma disposição para proteger os seus, e foi assim que ele conquistou sua confiança. Ao notar que ela sempre se preocupava com os amigos, Lucas começou a criar situações em que ele demonstrava estar ao lado dela, defendendo os interesses do grupo, mesmo que de forma sutil.

Com o tempo, Ana começou a ver Lucas como um porto seguro, alguém que, assim como ela, sabia agir de forma calculada e protetora. Ela nunca questionava suas decisões, porque acreditava que ele sempre sabia o que era melhor para o grupo. Essa lealdade incondicional foi o que Lucas precisava.

Os quatro formaram o Grupo dos Sonhadores, um nome que parecia inocente, refletindo as fantasias e os universos que inventavam juntos. Mas, no fundo, Lucas já via além das brincadeiras. Ele havia conquistado a confiança de Pedro, Sofia e Ana, sabendo que, no futuro, eles seriam peças importantes no plano que ele começava a construir em sua mente.

Na escola, Lucas era um enigma. Para muitos dos seus colegas, ele era "o garoto quieto", aquele que nunca fazia questão de estar no centro das atenções. Ele se destacava academicamente, sempre tirando boas notas, mas nunca se gabava disso. Na verdade, ele parecia não se importar com os elogios dos professores ou com a competição entre os outros alunos. Enquanto alguns tentavam impressionar os adultos ou conquistar popularidade, Lucas se mantinha à parte, observando tudo com um olhar frio e analítico.

Os outros alunos nunca souberam ao certo como se sentirem em relação a Lucas. Alguns o achavam estranho, distante, enquanto outros o respeitavam por sua inteligência e autocontrole. Porém, o que mais intrigava seus colegas era como ele nunca parecia aborrecido ou abalado por nada. Quando surgiam provocações ou piadas às suas custas, Lucas apenas olhava, sem reagir. Isso desconcertava os outros, como se suas palavras não tivessem qualquer impacto sobre ele. Era quase como se Lucas vivesse em uma realidade à parte, imune ao que os outros pensavam.

Para Lucas, o ambiente escolar era como um campo de estudo social. Ele via os alunos se dividirem em grupos, cada um com suas dinâmicas e hierarquias. Havia os populares, que controlavam o fluxo das conversas e lideravam as brincadeiras no pátio. Lucas via esses "líderes" como peças previsíveis, movidas pela necessidade de validação. Eles precisavam ser admirados, serem o centro das atenções. Para Lucas, isso os tornava fracos. Se alguém precisava de aprovação externa para se sentir bem, então era fácil controlá-los. Bastava dar-lhes o que desejavam e, assim, guiá-los na direção que ele quisesse.

Havia também aqueles que seguiam os populares, os que faziam qualquer coisa para se encaixar. Lucas os enxergava como peças ainda mais insignificantes no tabuleiro, meros peões. Para ele, essas pessoas não tinham valor individual. Elas agiam de acordo com o que o grupo determinava, sem nunca pensarem por si mesmas. E embora muitos as ignorassem, Lucas sabia que peões, quando usados da maneira certa, poderiam ser cruciais em uma estratégia maior.

O grupo que mais o interessava, porém, eram aqueles que, assim como ele, se mantinham à margem. Havia um ou outro que se isolava não por escolha estratégica, mas por não se encaixar. Esses indivíduos, Lucas via com uma certa curiosidade. Eles não eram influenciáveis da mesma forma que os outros, e talvez, em alguma situação, pudessem ser úteis. Contudo, nenhum deles parecia ter a clareza de pensamento que Lucas possuía. Eles se isolavam por fraqueza ou medo, enquanto Lucas fazia isso por controle.

Os professores, por outro lado, viam Lucas como um aluno exemplar. Ele era pontual, suas tarefas eram sempre impecáveis, e ele jamais causava problemas. No entanto, alguns sentiam uma desconexão. Enquanto outros alunos demonstravam entusiasmo por suas conquistas, Lucas parecia distante. Quando elogiado, ele agradecia de forma educada, mas seus olhos não brilhavam com orgulho. Era como se as notas, as tarefas e os elogios fossem apenas parte de um jogo que ele jogava com maestria, mas que não significavam nada para ele.

Lucas sabia que não tinha aliados verdadeiros na escola. Pedro, Sofia e Ana eram os únicos que ele realmente considerava próximos, e mesmo assim, ele os via de maneira estratégica. Os outros alunos, para ele, eram apenas observações em um estudo maior. Ele via suas fraquezas, suas vaidades e suas inseguranças. E, desde cedo, Lucas já sabia que um dia poderia usar tudo isso a seu favor.

A vida de Lucas em casa era tão silenciosa quanto sua vida escolar. Seus pais, Ana Paula e Marcos, eram pessoas trabalhadoras, mas viviam absortos em suas próprias preocupações. Marcos, um homem de poucas palavras, trabalhava como engenheiro e sempre acreditou que o sucesso era medido pelas conquistas materiais e pela estabilidade financeira. Já Ana Paula, professora de matemática, tinha um amor profundo pelo conhecimento e sempre incentivou Lucas a estudar. Eles eram pais presentes, mas nunca conseguiram se conectar verdadeiramente com o filho.

Lucas, desde pequeno, parecia mais um adulto em miniatura. Ele raramente pedia ajuda para fazer lição de casa ou precisava de conselhos. Quando algo não ia bem, ele resolvia por conta própria. Se algo o incomodava, ele escondia. Marcos admirava a independência de Lucas, mas muitas vezes não conseguia compreender o distanciamento emocional do filho. Ana Paula, por outro lado, reconhecia que Lucas era diferente das outras crianças, mas não sabia como penetrar sua barreira emocional.

Na família, havia também um outro ponto de tensão. O tio de Lucas, irmão de Ana Paula, era um homem chamado Sérgio. Ele era um comerciante de sucesso, sempre ostentando seus bens e se gabando de suas conquistas, mas também era um homem controlado pelo ego e pela necessidade de ser admirado. Sérgio tinha um filho da idade de Lucas, chamado Miguel, e era notável o quanto ele se incomodava com a interação entre os dois primos.

Miguel era uma criança comum, divertida e um tanto ingênua, e sempre foi atraído pela inteligência e pela personalidade forte de Lucas. Miguel via em Lucas alguém capaz de responder suas perguntas, de mostrar-lhe novos mundos de pensamento. Lucas, no entanto, via Miguel como uma influência fraca, alguém facilmente manipulável e sem grande importância estratégica. Ele não via mal em interagir com Miguel, mas tampouco fazia grandes esforços para fortalecer aquela relação.

Sérgio, por outro lado, enxergava Lucas com desconfiança. Ele notava como o filho ficava fascinado por Lucas, e isso o irritava profundamente. Para ele, Lucas era frio demais, misterioso demais. Sérgio não gostava de como Lucas parecia ter controle sobre as situações, mesmo que silenciosamente. Ele começou a restringir as interações entre os primos, dizendo que Lucas não era uma boa companhia, que "influenciava Miguel de maneiras estranhas". Lucas, claro, percebia essa tensão e usava isso a seu favor, desarmando Sérgio com sua frieza calculada e se distanciando quando necessário. Ele sabia que não valia a pena criar conflitos familiares.

Na visão de Sérgio, Lucas não era "normal" como Miguel. Enquanto Miguel seguia as normas da família, respeitava a autoridade de seus pais e era um bom garoto, Lucas parecia sempre um passo à frente, fora de alcance, como se ele estivesse apenas jogando o jogo para manter as aparências. Em uma reunião familiar, quando os primos brincavam juntos, Sérgio uma vez puxou Ana Paula de lado e disse em tom grave: "Você deveria prestar mais atenção ao Lucas. Ele não age como os outros garotos. Isso não é saudável para Miguel."

Ana Paula, embora ofendida pela insinuação, nunca confrontou Sérgio. Ela sabia que seu irmão era vaidoso e orgulhoso demais para aceitar qualquer tipo de crítica. Mas as palavras dele ficaram com ela. Às vezes, ela se perguntava se Lucas era realmente feliz, ou se sua inteligência precoce o tinha isolado demais do mundo. No fundo, Ana Paula temia que o filho estivesse se distanciando de tudo e todos.

Lucas, por sua vez, via tudo isso de maneira diferente. Para ele, seus pais eram previsíveis e confiáveis em seu papel de sustentar a estrutura familiar, mas ele não se via como parte emocionalmente envolvida naquele cenário. Ele entendia a preocupação de sua mãe e a admiração discreta de seu pai, mas não se deixava afetar por elas. Já seu tio Sérgio e Miguel eram apenas mais um exemplo de como o mundo funcionava: vaidade, controle e medo. Lucas sabia que seria melhor observar e se afastar dos conflitos inúteis, guardando suas energias para o verdadeiro jogo que ainda estava por vir.