A floresta estava silenciosa naquela manhã fria, mas o silêncio logo foi quebrado pelo som de galhos se partindo e passos pesados que faziam o chão estremecer. Ennis, um lobo de grande estatura e conhecido por sua força descomunal, vagava pelo território como um predador solitário. Para ele, o poder sempre fora uma questão de intensidade bruta, de esmagar tudo em seu caminho. Outros lobos evitavam cruzar seu caminho, e ele gostava assim: sozinho, invencível, temido.
Deucalion sabia que Ennis seria um lobo difícil de recrutar. Por isso, ao se aproximar dele, não o fez com palavras suaves ou promessas vazias. Sabia que Ennis respeitava apenas uma coisa: força. E se ele queria provar que sua liderança era digna, teria que conquistá-la.
Quando Ennis finalmente o viu, parou e avaliou o homem à sua frente, um sorriso selvagem surgindo em seus lábios. "Então você é o famoso Deucalion," ele disse, cruzando os braços com uma expressão desafiadora. "O 'Demônio Lobo'. Eu ouvi falar de você, mas preciso dizer, esperava alguém... maior."
Deucalion manteve-se inabalável, o olhar frio e penetrante. "Não estou aqui para impressioná-lo com meu tamanho, Ennis. Estou aqui porque vejo o seu potencial desperdiçado."
As palavras de Deucalion fizeram Ennis rir, uma risada dura e debochada. "Desperdiçado? Eu sou o lobo mais forte que você já conheceu. Não preciso de ninguém para me dizer o que fazer."
"Então prove," desafiou Deucalion, dando um passo à frente, os olhos intensos fixos nos de Ennis. "Mostre-me essa força de que tanto se orgulha."
Ennis hesitou por um segundo, surpreso pela audácia de Deucalion, mas logo um sorriso predador surgiu em seu rosto. Ele não recusaria um desafio, especialmente vindo de alguém que, em sua visão, parecia subestimá-lo.
A luta começou de forma brutal, como se ambos estivessem em uma tempestade de músculos e garras. Ennis atacava com uma força esmagadora, cada golpe era intenso, mas desprovido de precisão. Para ele, bastava a violência; a força deveria ser suficiente para destruir qualquer um. Mas Deucalion, diferente de todos os outros que Ennis enfrentara, desviava com maestria, observando e esperando o momento certo para revidar. Ele sabia que, para Ennis, força era tudo, e o excesso dela o tornava previsível.
Após longos minutos de embate, Deucalion viu a abertura que precisava. Com um movimento rápido e preciso, usou a própria força de Ennis contra ele, desequilibrando-o e fazendo-o cair de joelhos. O golpe não havia sido devastador, mas calculado, o suficiente para mostrar o controle de Deucalion sem humilhar Ennis. Ele não precisava de violência; precisava apenas demonstrar o domínio de sua força.
Ofegante, Ennis olhou para cima, surpreso. Ele não esperava ser derrotado, e menos ainda dessa forma. Deucalion não parecia enfurecido, nem tampouco o subestimava. Pelo contrário, havia um respeito claro nos olhos do Alfa.
"Você tem força, Ennis," disse Deucalion, estendendo a mão para ajudá-lo a se levantar. "Mas força sem controle é apenas desperdício. Em uma alcateia, sua força não é só para esmagar, mas para proteger, para manter sua família segura. É por isso que estou aqui. Eu vejo em você mais do que músculos. Eu vejo um guerreiro que, com a direção certa, será imparável."
Ennis permaneceu em silêncio, absorvendo as palavras de Deucalion. Nunca ninguém havia falado com ele daquela maneira, enxergando além de sua brutalidade. Para ele, a força sempre fora uma ferramenta de dominação, mas Deucalion falava dela como um meio de união e propósito.
Após alguns segundos, Ennis ergueu a cabeça e olhou para Deucalion com respeito genuíno. "Eu seguirei você, Deucalion," disse, sua voz carregada de uma nova determinação. "Se você me ensinar a usar essa força da maneira certa, eu prometo ser leal."
Deucalion assentiu, satisfeito. Ennis, agora parte de sua alcateia, traria não apenas sua força brutal, mas a lealdade e a confiança de alguém que havia encontrado um verdadeiro líder. Junto a Kali, ele começava a construir uma alcateia que seria temida e respeitada, onde cada membro usaria suas habilidades não apenas por si mesmo, mas por algo muito maior.
Naquele dia, Ennis passou a ver o poder de uma nova forma. Não era mais apenas força bruta; era um dom que, sob a liderança de Deucalion, poderia ser transformado em algo grandioso. E ele, pela primeira vez, sentiu que fazia parte de algo que valia a pena lutar.