O céu estava vermelho. Não um vermelho bonito, de pôr do sol, mas um vermelho doentio, como se o mundo estivesse sangrando. Toma abriu os olhos e imediatamente sentiu o ar sendo arrancado dos pulmões. Ele estava caindo. Não, eles estavam caindo. Ao seu redor, três figuras despencavam junto com ele, gritando ou em silêncio, ele não sabia dizer. O vento cortava como facas, e o chão – se é que havia um chão – estava longe demais para ser visto.
"Que merda é essa?!" gritou um dos desconhecidos, um garoto de cabelo escuro e olhos furiosos, que parecia ter uns 19 anos. Ele se debatia no ar, tentando se agarrar a algo que não existia. "Alguém me explica por que a gente tá caindo do céu, caralho?!"
"Eu não sei!" respondeu uma mulher de cabelos longos e olhos determinados, aparentemente com uns 20 anos. Ela tentou se manter calma, mas o pânico estampado no rosto era inegável. "Segurem as mãos! Talvez possamos... não sei, fazer algo!" Ela esticou a mão, mas o vento era forte demais, e eles estavam se espalhando como folhas no furacão.
O quarto membro do grupo, um garoto mais novo, de uns 16 ou 17 anos, estava em silêncio. Seus olhos estavam fechados, e ele parecia quase em paz, como se aceitasse o destino. "Ei, você! Acorda, porra!" Toma berrou, tentando alcançá-lo, mas era inútil. Eles estavam caindo rápido demais.
E então, o impacto.
Eles não caíram no chão. Eles caíram em cima de um cubo gigante que flutuava no céu, uma estrutura absurda que desafiava qualquer lógica. O choque foi brutal. Toma sentiu cada osso do corpo se quebrando, cada músculo se rasgando. Ele ouviu os gritos dos outros – ou eram os dele? – antes que a escuridão o engolisse.
Toma acordou de repente, sentindo-se inteiro, mas a memória da dor ainda latejava em sua mente. Ele estava de pé, assim como os outros. "Que porra foi essa?" ele murmurou, olhando para as mãos, esperando ver sangue ou ossos expostos. Mas não havia nada. Ele estava intacto.
"A gente... morreu?" perguntou a mulher, sua voz trêmula. Ela olhou para o próprio corpo, tocando o rosto como se não acreditasse que ainda estava ali.
"Parece que sim," respondeu o garoto de cabelo escuro, cuspindo no chão. "Mas a gente reviveu. Tipo um jogo de merda. Que bagulho ridículo."
"Eu sou Toma," disse Toma, olhando para os outros. "E vocês são...?"
"Daiki," respondeu o garoto rebelde, com um tom de desdém. "E não, eu não tô feliz com isso."
"Yumi," disse a mulher, ainda tentando se recompor. "E ele..." Ela apontou para o garoto mais novo, que estava quieto, como sempre.
"Haruki," ele disse, sua voz suave quase perdida no vento. "Onde a gente está?"
Antes que alguém pudesse responder, uma risada ecoou. Era uma risada alta, desafiadora, e vinha de uma mulher que apareceu do nada, como se o ar ao seu redor tivesse se materializado em carne e osso. Ela era alta, musculosa, com um sorriso que parecia dizer "eu posso acabar com você e vou gostar disso". Seu cabelo curto e roxo balançava levemente, e seus olhos brilhavam com uma mistura de diversão e sadismo.
"Olá, seus merdas," ela disse, cruzando os braços. "Vocês vão fazer o tutorial desse 'jogo', querendo ou não. Primeiro, vocês morrem e renascem, como naqueles jogos de vocês, aqueles que vocês jogam em uma telinha pequena. Não sei que porra são essas, mas é o que os outros jogadores disseram que tinha no mundo de vocês. Eu não sei de tudo do mundo de vocês, mas aqui é diferente. Não é tão evoluído como vocês estão acostumados. Aqui, vocês podem conseguir poderes e habilidades."
"Poderes?" Toma perguntou, intrigado.
"Isso mesmo," ela respondeu, com um sorriso malicioso. "Aqui, a Essência é o que move tudo. Cada um de vocês vai descobrir seu próprio Caminho. Pode ser o Caminho do Fogo, da Forma, do Controle, da Força ou do Vazio. Cada um tem suas regras, suas condições e seus custos. E, claro, quanto mais você se conhece, mais forte você fica. Mas cuidado: usar Essência demais pode te matar. Ou pior."
"E quem é você?" Daiki perguntou, claramente desconfiado.
"Eu sou Sumire," ela respondeu, com um sorriso ainda mais largo. "E não, vocês não vão me ver de novo depois disso. Agora, vão para qualquer lugar e salvem esse mundo. Tchauzinho. E cuidado com os monstros. Não confiem neles de jeito nenhum. A bondade pode ser uma ameaça..."
Antes que eles pudessem reagir, o chão sob seus pés desapareceu, e eles estavam caindo de novo. Dessa vez, direto em uma floresta cheia de monstros absurdos – alguns fofos, outros escrotos, alguns parecidos com humanos ou animais, outros completamente indescritíveis.
Eles morreram de novo. E renasceram. Agora, estavam em um mundo onde a morte era só o começo.