A mente de Yaam trabalhava a mil, buscando saídas viáveis. Seus olhos percorriam a sala de controle da estação espacial abandonada, enquanto Lyria, ainda abalada, o havia seguido, mas se sentado em um canto solitário da sala.
Não podia voltar ao Império com ela.
O simples pensamento de apresentar Lyria a Zahryx era inconcebível. Pior ainda, o que aconteceria se descobrissem que seu próprio DNA estava modificado? O sangue puro dos Hyzaam, agora manchado com traços de uma mestiça.
Se Zahryx soubesse, o destino seria selado. Não apenas o dele, mas o de Lyria e daquilo que ela carregava. E ele precisava dele e de seu poder. Não havia escapatória. Cada fibra de sua lógica gritava que retornar seria um suicídio inevitável. No entanto, fugir era impossível. Ele era vigiado, rastreado, o tempo todo.
— "Não acho que esse seja o caso." – Nyxiel interrompeu seus pensamentos, o tom mostrando divertimento diante tudo o que acontecia. — "O Nódulo Neural Genético em seu sistema nervoso central rastreia suas assinaturas genéticas, mas eu aproveitei o breve momento de instabilidade quando tocou nela para inibí-lo. Nesse momento, nem mesmo o império sabe onde você está, e o que está acontecendo com seu corpo e sua mente."
Por um breve instante, Yaam sentiu a euforia emergir dentro dele. Porém, como sempre, a fagulha de emoção foi consumida por Nyxiel. Estava, pela primeira vez, livre. E diante aquela descoberta, uma ideia sombria tomou conta da sua mente.
Yaam olhou para o esquadrão de soldados que trouxera consigo. Todos treinados, mas leais ao Império Hyzaam. Se algum deles retornasse e relatasse o que havia acontecido, sua liberdade seria cortada pela raiz. E não apenas isso, ainda tinha Lyria e aquilo que crescia dentro dela.
Ninguém poderia saber. Precisava agir.
Deixaria vivos apenas seus generais, aqueles que lhe eram mais próximos. Eles entenderiam e, se não entendessem, também os eliminaria. Depois, forjaria sua própria morte. Escaparia para um planeta remoto, levando Lyria consigo. Seria a única maneira de sobreviver e ter sua liberdade.
— "Ahhh..." — Nyxiel apareceu, sua voz suave e sarcástica reverberando pela mente de Yaam. — "Agora sim estamos falando como um verdadeiro príncipe Hyzaam. Isso sim é digno de quem você é. Frio, calculista. Matar seus próprios homens para garantir a sobrevivência da sua... Família." — Nyxiel riu, sua risada carregada de um sarcasmo quase prazeroso. — "Afinal, você não vai querer que ninguém descubra que está... Como dizem? Prestes a ser papai."
Yaam sentiu a mandíbula travar. Nyxiel sempre encontrava uma maneira de transformar o caos interno dele em combustível para seus jogos mentais.
Ele o ignorou, sentindo a raiva que se acumulava dentro dele ser extinguida pelo parasita, enquanto seus olhos dourados se dirigiam aos dois generais que permaneciam na sala com ele, esperando instruções.
— Astor, Drelian. — Chamou, sua voz controlada, refletindo o peso da decisão que estava prestes a tomar. — Ninguém, além de nós três e a mestiça, vai sair vivo desta estação.
Os elfos, experientes e leais, trocaram olhares rápidos. Uma leve sombra de dúvida passando por seus rostos.
— Meu senhor...? — Astor perguntou, incerto do que o príncipe realmente estava ordenando.
Yaam os encarou, seu olhar impiedoso.
— Ouviram bem. – Sua voz estava baixa, mas carregada de autoridade. — Todos os outros soldados devem ser eliminados. Nenhum deles pode viver para relatar o que aconteceu aqui.
Mais uma vez os generais se entre olharam, hesitando por um momento. Eles sabiam que as ordens do príncipe Hyzaam não eram para ser questionadas, mas aquela em específico... Era uma decisão que poucos poderiam seguir sem hesitação. Matar seus próprios homens? Homens que juraram lealdade ao Império?
— O que está em jogo aqui é maior do que qualquer um de vocês possa imaginar. – Yaam continuou, com os olhos fixos nos dois. — Ninguém mais pode saber. Ninguém pode viver para contar o que viu aqui. Nem mesmo eles. – Ele fez um gesto em direção à porta que levava ao restante da tripulação, que permanecia aguardando ordens.
Astor foi o primeiro a ajeitar a postura, sua expressão endurecendo à medida que aceitava a ordem.
— Como desejar, meu senhor. – Falou, fazendo uma reverência militar. Drelian o seguiu, apesar da expressão sombria em seu rosto.
— Que seja feito. – Respondeu, mas algo em sua voz indicava que ele ainda processava a ordem cruel que acabara de receber.
Yaam os observou sair, e quando a porta se fechou, o silêncio retornou à sala de controle. Ele podia ouvir os ecos distantes dos movimentos de seus homens ao longo dos corredores metálicos da estação, indo cumprir a sentença de morte que ele havia decretado.
Nyxiel se manifestou novamente, sua voz ainda carregada de ironia.
— "E assim, o príncipe sacrifica seu próprio esquadrão para proteger sua linhagem... Que belo exemplo de liderança." – O parasita sussurrou, divertido. — "E então, Yaam... Como se sente agora, sabendo que vai ser pai? Aposto que é uma sensação incrível, não é? Toda essa responsabilidade... Toda essa expectativa..."
Inspirando, afastou as palavras de Nyxiel da sua mente e caminhou até a janela da sala de controle. Observou as estrelas do lado de fora, elas brilhavam como sempre, frias e distantes, indiferentes a carnificina que acontecia dentro daquela estação. Ele sabia que, a partir daquele momento, tudo mudaria. Não haveria mais volta.
— É isso? – Lyria murmurou do canto da sala. — Vai simplesmente matar todos?
Yaam não a olhou, permaneceu observando fixamente as estrelas.
— Faço o que é necessário para sobreviver. – O controle estava em cada tom de sua voz. — Você não entenderia.
— E o que tem para entender? Você é cruel! – Acusou. — Como pode falar de sobrevivência quando decide com facilidade, quem vive ou morre?
Se virando para ela, os olhos dourados a encararam com uma calma perturbadora. Por um momento, considerou explicar para ela a situação em que se encontravam, o peso da liberdade. Mas diante da raiva que ela sentia dele, explicar seria inútil. Então, foi direto.
— Minha liberdade depende disso. – Disse firme. — E a sua também. Ou prefere que voltemos ao império, onde Zahryx decidirá o destino de ambos?
Vascilando, ela o encarou.
— Prefiro a morte, a estar sob domínio do seu império.
Estreitando os olhos, Yaam deu alguns passos, se aproximando mais dela. Mesmo com a raiva visível, ele percebia a vulnerabilidade dela. Não por medo, mas pelo que acontecia dentro dela.
— Pode me odiar o quanto quiser, mas a realidade não mudará. Fugir é nossa única opção. E se para isso eu tiver que eliminar todos que podem nos denunciar, assim será.
O olhando com desprezo, Lyria se afastou, dando as costas para ele.
— Não me inclua nos seus planos, não sou sua cúmplice. Não vou fazer parte dessa sujeira. – Ela retrucou envolvendo o corpo com os braços.
Yaam deu um passo a frente, ignorando as palavras dela.
— Você não tem escolha. Assim como eu não tenho. O que acontece aqui decidirá o futuro do que carrega dentro de você. – Sua voz era fria, e percebeu que ela se deu conta do impacto daquela verdade, ao vê-la se encolher um pouco. — Faça o quiser, me odeie o quanto quiser. Mas estamos presos nesse destino agora.
Se virando para ele bruscamente, ela o olhou. Os olhos violetas inundados em lágrimas.
— Eu preferia morrer a ser salva por você! – As palavras dela reverberaram pela sala vazia, e imóvel, ele apenas a encarou.
— Isso não vai acontecer. – Sua voz saiu baixa, quase como se ouvir aquilo o incomodasse. No entanto, ele não sentia nada além de um incômodo que não conseguia decifrar.