Chereads / Zallarn Explorer / Chapter 2 - Fazurahn, a capital política

Chapter 2 - Fazurahn, a capital política

 Localizada na província dedicada exclusivamente a ela, Fazurahn era o centro político, cultural e espiritual do reino, desempenhando um papel crucial na vida dos habitantes de Zallarn.

Considerada a cidade mais sagrada e poderosa de Zallarn, Fazurahn era o coração do reino. Era a única capital na província que levava o nome de Zarathun, destacando sua singularidade e importância.

Situada em uma região central, a cidade possuía uma localização estratégica para a governança do reino. Era cercada por uma paisagem que misturava a majestade natural com a grandiosidade arquitetônica, com montanhas ao fundo e rios que cortavam suas terras.

As construções em Fazurahn eram monumentais, feitas de materiais como mármore e pedra negra, decoradas com detalhes dourados que refletiam o poder e a riqueza da cidade. Muitos edifícios possuíam cúpulas e torres, e a arquitetura mesclava elementos antigos e modernos. Era uma cidade belíssima que escondia, por trás de seus muros, vários segredos capazes de modificar toda a nação.

Em meio a tudo isso, uma única pessoa governava o país com autoridade e respeito: Thalor, o governante supremo. Seu reinado foi marcado pela grande prosperidade do povo de Zallarn, tornando-a a maior nação de todo o planeta.

Apesar de tão poderoso, seu coração era mole e bondoso. Seu amor por seus filhos era invejável em todo o reino, e por isso ele era respeitado e venerado em todo o país. Contudo, algo afligia seu coração; como uma agulha que perfura sem matar.

— Já o encontraram? — questionou o rei ao seu subordinado.

— Ainda não, meu senhor.

 A aflição de Thalor era notável, seus socos nas paredes de seu quarto eram ouvidos até de fora do cômodo.

— Como ele sumiu assim?! — questionou-se irado. — Por que vocês não viram nada?!

— Desculpe, meu senhor. Mas não deveria irar-se tanto. Seu filho é forte, ele sabe se cuidar.

— Talvez você tenha razão, Kal — disse Thalor, acalmando-se. — Ainda assim, não cessem as buscas.

— Sim, senhor. Estamos usando todos os kalgar's do reino que não estão em missão.

— Os kalgar's... a elite do exército. Eles irão encontrá-lo. Eu tenho fé nisso!

— Tenho outro assunto para tratar com vossa alteza — disse Kal, mudando de assunto.

— Diga.

— Sei que é pedir demais, mas quero que você vá dormir. Não poderá tomar nenhuma decisão sábia se estiver cansado.

— Você é o melhor amigo que eu poderia pedir, Kal — disse Thalor, colocando a mão no ombro de Kal. — Farei isso, meu amigo.

 Amigos desde a infância, Thalor sempre esteve destinado a ser o rei de Zallarn, enquanto Kal era apenas o filho de uma empregada do palácio. Os dois cresceram juntos, viveram juntos, batalharam juntos e quase morreram juntos. Era uma amizade que transcendia todas as diferenças. Por isso, Kal era seu fiel conselheiro e melhor amigo; além de ser o chefe do exército de todo o país, ele era o melhor guerreiro.

Kal se dirigiu ao quartel dentro do palácio, onde todos os kalgar's residiam quando não estavam em missão.

Existem sete classes de guerreiros: Zalrin, Tharn, Kalgar, Valthor, Thalgor, Kalthar e Draxon. Cada classe representa um nível, na ordem apresentada acima.

Zalrin é a classe em que todo aquele que deseja se tornar guerreiro inicia; é o nível de zero habilidade, ainda em treinamento. A maioria dos guerreiros está no nível Tharn, com experiência suficiente em batalha e bastante habilidosos. Kalgar já é um nível acima, alcançado por poucos; é o nível mais alto que um humano normal consegue atingir com treinamento, por mais que tente.

Draxon é o nível mais alto e é considerado uma lenda! Nenhum ser vivo havia conseguido alcançá-lo na história. Qualquer ser que conseguisse atingir um nível tão impressionante seria capaz de dizimar qualquer nação em um piscar de olhos.

O mais alto que alguém alcançou foi o nível Thalgor; existia apenas um número limitado de thalgor's em todo o mundo, e um deles era Kal, o mais forte guerreiro de Zallarn.

No quartel dos kalgar's, Lucito e Juko, dois dos mais fortes kalgar's do reino, competiam entre si.

— Juko, eu te derroto em qualquer coisa que quiser — disse Lucito. — Pode escolher.

— Ontem você disse a mesma coisa e perdeu — retrucou Juko.

— Tenho uma ideia para os dois — disse Kal, adentrando o quartel.

— Me desculpe, senhor. Não deveríamos estar aqui discutindo bobagens! — disseram os dois em unissom.

O respeito por Kal era grandioso dentro do reino, pois ele era o mais forte guerreiro e conselheiro particular do rei. Contudo, Kal era um bom líder e sabia como extrair o máximo de seus subordinados

— Todos estão aqui? – perguntou Kal.

— Apenas os que não tinham missão, senhor — respondeu Tyro, outro kalgar.

 E lá estavam: Juko, Lucito, Tyro, Elis, Tíria e Goto. Todos fazendo parte da elite do reino. Sendo Elis e Tíria as únicas mulheres entre os kalgar's de Zallarn.

— Tenho uma missão para vocês — iniciou Kal. — O filho do rei sumiu.

— Como?! — questionou Lucito, surpreso.

— Não sabemos como ele sumiu. Achamos que foi sequestrado. A questão é que não temos por onde começar a procurá-lo e não sabemos quem procurar.

— Mais alguém já sabe sobre isso? — perguntou Elis.

— Até o momento, apenas o Rei e nós que estamos aqui. Para qualquer outro que perguntar, diga que o príncipe se trancou no quarto.

— Mas se não sabemos por onde procurar o que faremos? — indagou Lucito.

— Irei dividir vocês em duas equipe e cada equipe irá para uma província. Assim que os outros chegarem enviarei eles também.

 Kal estava preocupado com o príncipe. Ele o havia ajudado a criar desde o nascimento, mas não podia demonstrar sinal de fraqueza aos seus soldados.

— Essa é uma missão de urgente. Vocês têm cinco dias para retornar. Se não o encontrarem retornem para me informar o que aconteceu.

— Sim, senhor! — responderam todos.

— Já que Lucito e Juko estavam discutindo quem é melhor, serão os líderes da equipe e serão responsáveis.

— Senhor! Nós nunca fomos líderes de equipe! — responderam os dois.

— A equipe um será liderada do Lucito terá Tyro e Elis. A equipe liderada por Juko terá Goto e Tíria.

— Tem certeza disso, senhor? Numa missão tão importante fazer testes assim... — questionou Elis.

— Essa é a ideia. Eu quero pô-los à prova para saber se vocês estão preparados. Espero que aguentem a pressão... Caso contrário, entreguem seus cargos a algum de seus companheiros.

 Kal sabia como incentivar e desafiar seus guerreiros. Sua intenção não era apenas testar os dois kalgar's, mas também a dinâmica do grupo, aproveitando para desenvolver uma "casca" de resiliência neles.

— Preparem-se. Peguem seus mantimentos e vão! — dito isto, Kal saiu do quartel.

 Os dois jovens, Lucito e Juko, estavam temerosos de serem líderes. Seu nervosismo era notável, mas um grupo forte, em momentos como esses, não se desmonta; ao contrário, se fortalece.

— Vamos lá vocês dois. Não precisam tremer — disse Tíria, sorridente. — Confiamos nos dois.

— Sim, confiamos — disse Elis. — Agora vamos nos preparar.

— Acho que esta é a primeira missão tão importante que eu já fui enviado — disse Tyro.

— É algo serio. O príncipe sumiu — disse Goto.

— Você fala, Goto?! — debochou Tyro.

— Só não falo para idiotas — rebateu Goto.

 Ninguém poderia saber do sumiço do príncipe, pois isso causaria uma grande desordem no reino. Portanto, Kal manteve essa missão em nível sigiloso. Apenas os enviados sabiam sobre a missão.

— Vamos lá — disse Lucito. — Nós vamos para a província de Zixara. Passaremos em Naxara primeiro, pode ser que nós encontremos alguma informação na universidade.

— Nós iremos para a província de Solara, passaremos em Zorahn primeiro. Nos encontramos em cinco dias.

 Após se equiparem apenas com armamento simples para não chamarem atenção, as duas equipes partiram em direções opostas.

A cavalo, as equipes partiram disfarçadamente, usando capas e capuzes para não serem reconhecidas pelos habitantes das cidades e vilas. Seria uma viagem de uma noite e um dia até Naxara, mesmo com os cavalos mais rápidos do reino, em uma viagem normal. O nível de urgência exigia que a missão fosse cumprida o mais rápido possível; por isso, para se locomoverem mais rapidamente, Elis encantou todos os cavalos com a magia "passos leves", que maximizava a velocidade em até 70%. Com essa habilidade imbuída nos animais, eles conseguiriam percorrer a distância em apenas uma noite.

Enquanto isso, dentro do palácio, na sala do trono, Kal assumia a liderança do reino e tomava decisões, enquanto o rei Thalor descansava em seus aposentos, pois havia passado a noite em claro preocupado com seu filho.

— Era tudo o que queria, não é, Kal?

 Este que adentrava a sala do trono com voz soberba e irônica era Hulio, um nobre da burguesia e o maior fornecedor de linho do país. Ele estava entre os mais ricos do reino e já havia sido cotado para governador da província de Zarathun, mas foi recusado pelo rei.

— Por que não senta logo no trono, invés de ficar ao lado? Não foi isso que sempre sonhou, soldado?

— Se veio apenas para me insultar, peço que se retire, Hulio.

— Vim para uma audiência com vossa majestade.

— Ele não está se sentindo muito bem, por isso resolveu se deitar. Se tem algum assunto a tratar, pode me informar que passarei a ele.

— E correr o risco de você deturpar tudo o que eu disse? Não, obrigado. Eu prefiro falar com ele pessoalmente.

 E dizendo isto, Hulio saiu.

— Por que ele sempre tem esse ar tão superior? — questionou um soldado ao lado de Kal.

— Por que ele nos considera camponeses e para ele, camponeses são piores que estrume. Nunca confie nele.

 Adentrando a sala do trono, uma bela jovem com cabelos loiros e brilhantes como o sol, vestida com peças de linho violeta e detalhes em dourado, chamava a atenção da guarda real: era a princesa Alira.

— Onde está meu pai, Kal?

— Ele não se sente muito bem, por isso foi deitar-se.

— Hum... — se aproximando do trono, ela não hesitou em sentar-se nele. — Até que é confortável.

— Princesa, peço que saia. Apenas o soberano pode se sentar no trono.

— Mas eu serei a soberana um dia.

— Seu irmão está em sua frente na linha de sucessão, princesa.

Irritada, ela saiu do trono e, resmungando, da sala do trono. O dia correu como o esperado, sem grandes conflitos ou audiências para o rei. Enquanto ele descansava, Kal se mantinha firme ao lado do trono, respondendo por ele.

Ao cair da noite, todo o palácio foi fechado e os soldados tiveram um toque de recolher. Apenas a guarda real se mantinha ativa para proteger o rei em seus aposentos. Apesar de Zallarn ter conseguido uma trégua com todas as outras nações, sem ataques recentes, Kal sempre optava por se manter cauteloso em relação ao soberano.

Thalor ainda estava em seu quarto, pensativo e angustiado com o desaparecimento de seu filho. Ele não conseguiu descansar nem por um segundo, passando horas caminhando de um lado para o outro, aguardando alguma notícia de seu herdeiro.

Na cozinha real, o jantar de Thalor estava sendo preparado pelos melhores chefs do país. O rei não tinha luxúrias, mas havia algo que ele jamais dispensaria: uma boa refeição. Sendo o governante máximo do reino, ele se permitia abusar do paladar, degustando todas as iguarias que pudesse, sendo esse seu único capricho.

— Pode entrar — disse o rei, a sua serviçal que lhe trouxera a comida. — O que temos para hoje?

— Um excelente prato. Nosso cozinheiro Kutis fez um belíssimo prato de frutos do mar. Lagostas grelhadas com manteiga...

— Nem precisa falar o resto. Vindo do Kutis deve ser delicioso! — exclamou o rei. — Traga até aqui.

 Após ser servido, ele pediu que sua empregada e seus guardas reais se retirassem do quarto para que pudesse aproveitar sozinho seu suculento jantar.

Kutis era o melhor cozinheiro do reino e havia sido escolhido a dedo pelo soberano para confiar em seu paladar. Todos os dias, o cozinheiro fazia questão de surpreender o rei com novas iguarias e temperos exóticos, o que sempre excitava Thalor.

— Me surpreenda novamente, Kutis!

 Como alguém que não comia há um mês, Thalor abocanhou seu prato com grande rapidez e desejo. A cada mastigada, ele se encantava com o sabor; para ele, comida era a melhor coisa que o dinheiro poderia comprar. Mas aquilo que lhe deu a maior alegria quase foi a causa de sua morte.

Após se lambuzar com o delicioso jantar, Thalor começou a sentir um mal-estar. "O que é isto que estou sentindo?" pensava ele, enquanto não conseguia mais mover a boca para gritar; algo a havia paralisado. Sentindo suas forças se esvaindo, ele tentou levantar-se da cadeira, mas, com a fraqueza repentina, caiu sobre a mesa, derrubando todos os pratos e talheres, fazendo barulho suficiente para que os guardas do lado de fora do quarto o escutassem.

Thalor já não sentia mais seu corpo e sua boca espumava. Sua visão estava ficando cada vez mais escura e sua audição o abandonara; até mesmo seu olfato já o traía. Tinha perdido todos os seus sentidos. Aos poucos, começou a desesperar-se, pois não havia nada que pudesse fazer.

Após ouvir o barulho da louça caindo no chão dentro do quarto, os guardas reais forçaram-se contra a porta travada até conseguirem entrar e ver o soberano caído sobre a mesa. À primeira vista, certamente pensaram que ele já estava morto.

— Será que ele morreu, Dur?

— Dur, não fale bobagens! Vá chamar alguém!

 Então o guarda Gue foi correndo desesperado pelos corredores em busca de ajuda. Em sua empreitada ele deu de cara com Kal que estava vagando pelos corredores.

— Senhor Kal, o rei... — continuou engolindo a seco — O rei pode estar morto.

 A notícia foi como uma facada nas costas, quando você sente apenas o ardor do fio da navalha cortando sua pele como manteiga. Kal sentiu um abalo em seu peito e uma onda de adrenalina correndo pelo corpo, fazendo-o correr desesperadamente em direção ao quarto real.

— Você tocou nele, Dur? — questionou Kal, entrando ofegante no quarto.

— Eu não me atreveria, senhor.

— Não seja tolo! E como saberia se ele está vivo?!

 Lançando-se sobre o corpo de seu amigo, Kal começou a buscar a pulsação em seu coração para comprovar se ainda estava vivo. Logo, ele confirmou que o rei estava, de fato, vivo.

Em poucos minutos, Gue chegou acompanhado de um dixandor para avaliar a situação do rei. O dixandor, chamado Círio, era um senhor muito experiente na arte da cura e já cuidava da família real há duas gerações. Ele chegou com sua bengala, caminhando o mais rápido que podia, e, com calma, foi analisar a situação de Thalor, que já estava deitado na cama, colocado lá por Kal.

— Ele ainda está vivo e sua pulsação parece normal. Mas ele não está consciente.

— O que ele tem, Círio?

— Acredito que ele está em coma induzido.

— Você é um dixandor, você pode ajudá-lo.

— Poderia... A questão é que eu não sei como foi que isso aconteceu. Pode ter sido algum veneno ou poderia ter sido magia. Se for um veneno, eu preciso extrair do corpo dele o mais rápido possível antes que destrua todo o sistema nervoso e o mate.

— E se for magia?

— Se for magia pode ser desfeito mais facilmente. Para isso eu preciso fazer uma inspeção em seu corpo.

 Círio impôs suas mãos sobre o enfermo e começou a concentrar zar por todo o seu corpo. Suas mãos começaram a exalar uma aura verde reluzente, como grama iluminada pelo sol. Após alguns segundos de concentração e preparação, ele começou a liberar o zar concentrado em suas mãos para inspecionar o corpo do rei. Ao tocar em seu peito, começou a transferir sua energia para que ela adentrasse todo o corpo. Funcionaria como um sonar de morcego: ele "atira" e, quando o retorno acontece, saberá qual é a causa da enfermidade.

— Tem algo errado — apontou Círio, tenso.

 Realmente havia algo errado. Após alguns segundos de inspeção, uma onda de choque devastadora, como um terremoto, emanou do corpo do rei, repelindo totalmente a manipulação de zar do dixandor. Círio e Kal, que estavam próximos ao corpo, foram arremessados como bonecos de pano contra as paredes do quarto.

Círio, já um senhor de idade avançada, sofreu grande dano com a pancada contra as paredes de pedra do castelo, enquanto estas permaneceram intactas. Ele quebrou algumas costelas e bateu com a cabeça, fazendo-a sangrar; sua respiração ficou fraca e parecia estar à beira da morte.

Seus gritos de dor foram abafados pelo som do impacto. Círio pôde ouvir seus ossos se quebrarem, perfurando alguns de seus órgãos, enquanto as paredes do castelo ficaram intactas, exceto pelas manchas de sangue do dixandor que escorriam pela parede e pelo chão.

— Gue, Dur, O que estão esperando? Vamos logo atrás de qualquer ziran que encontrar no palácio! — ordenou Kal.

 Levantando-se rapidamente, Kal foi ao encontro do velho que estava desacordado. A pancada foi incrivelmente forte, a ponto de conseguir quebrar o braço de Kal. A dor era intensa e seu braço sangrava, mas ele não estava preocupado com isso no momento. Mesmo com o braço quebrado, tinha prioridades: salvar Thalor.

Olhando para o corpo do soberano, percebeu que uma aura translúcida, porém perceptível, estava cobrindo todo o corpo do rei, impedindo-o de ser tocado. Era uma barreira mágica que impedia qualquer um de examinar o enfermo.

Após alguns minutos, dois guardas apareceram com um ziran para ajudar o dixandor Círio. Eles levaram o velho para seus aposentos e começaram a tratar de seus ferimentos. Kal, por sua vez, ficou ao lado do rei, mesmo sem poder tocá-lo, pois aquela aura translúcida o repelia com ondas de choque fortíssimas.

O rei havia sido enfeitiçado? Envenenado? Kal não sabia como proceder, mas sabia que precisava agir. Pensou em convocar uma reunião de emergência do conselho real, mas cada membro morava em uma província diferente, tornando impossível reuni-los no mesmo dia. Diante desse problema logístico, decidiu resolver a situação sozinho e de maneira sigilosa, para que ninguém em Zallarn soubesse o que se passava com o reino naquele momento.

Assim que Círio, o dixandor, acordou após o baque, mesmo com dificuldades de falar, exigiu que chamassem Kal para sua presença. Os guardas foram informá-lo e buscá-lo. Ao chegar, Kal pediu que todos deixassem o quarto para que pudessem conversar a sós.

— Tem algo para mim, Círio?

— Sim... — dizia entre tossidas — Tudo indica que o rei foi amaldiçoado.

— Como assim?!

— Eu nunca vi um feitiço como esse e nenhum veneno seria capaz de fazer aquilo. Só nos resta uma opção: maldição. Só existe uma maneira de resolver uma maldição: com um exorcista.

— Eles existem? Não eram apenas uma lenda?

— Não sabemos, mas se existe maldições, devem existir exorcistas.

— Se não sabemos se existem, como vamos encontrá-los?

— Vá até a província de Zixara, na cidade de Naxara. Encontre-se com Leito o bibliotecário. Ele pode te indicar onde há um exorcista.

— Certo. Eu mesmo partirei.

— Antes de ir, deixe-me ver seu braço.

 Relutante, Kal estendeu o braço para Círio, que logo percebeu a fratura. Círio concentrou o pouco de zar que tinha e tentou curar a lesão, mas, devido à sua fraqueza, não conseguiu realizar a cura completa; o máximo que conseguiu foi unir os ossos e tentar colá-los. A recuperação de Kal deveria demorar pelo menos um mês sem o cuidado de outro dixandor. Ainda assim, ele estava determinado a ir nessa missão, e nada o pararia até que conseguisse retirar a maldição de seu amigo.

Maldições não eram comuns neste mundo; pelo contrário, eram tratadas como lendas. Nunca se ouvira falar de algum caso de maldição em todo o planeta nos últimos mil anos. Todos acreditavam que não havia mais ninguém capaz de lançar maldições, mas parecia exatamente o contrário.

Enquanto se preparava para sair em sua missão, Kal se via em um mar de questionamentos internos. Alguém havia amaldiçoado o rei, mas quem poderia ter sido? O soberano era querido por todos no reino e respeitado até em outras nações. Kal estava receoso de partir para uma missão cuja duração era incerta, deixando o reino sem liderança e, pior, seu amigo naquele estado.

— Onde está indo, senhor? — questionou Dur.

— Em uma missão para salvar o rei.

— Posso ir?! Eu também desejo salvar meu soberano!

— Não. Você e Gue terão um trabalho mais importante: cuidarão do rei em seus aposentos. Não deixe que ninguém entre no quarto e que saiba o que está acontecendo. Ninguém, entendeu?

— Sim, senhor! — respondeu fazendo continência.

— Cale a boca de todos os que viram o que aconteceu. Diga a eles que a segurança do rei depende disso! — coçando o queixo ele continuou. — Se algum inimigo descobrir que o rei não está em condições de governar, eles atacarão... O reino está exposto.

— Senhor e se foi algum inimigo que fez isso?

— Então isso é basicamente uma declaração de guerra. Todos no reino estão em perigo. Preciso encontrar este exorcista urgente!

 Kal sempre tentava ser frio e lógico em suas conclusões, mas isso era apenas uma fachada; em seu coração, ele não se preocupava com o reino, mas sim em salvar seu melhor amigo.

— Eu volto em menos de cinco dias. Estarei com um exorcista. Enquanto isto, obedeça estas ordens e proteja o rei com sua vida! Confio em você, Dur.

 E assim o comandante saiu em sua busca desesperada por um exorcista, pela salvação do rei, do reino e, principalmente, de seu amigo.