O trio caminhava pela trilha de cascalho que levava até a casa de Silvestre. A construção era simples, mas acolhedora, cercada por árvores altas e flores silvestres. O ambiente exalava tranquilidade, embora a tensão entre os viajantes fosse palpável. Silvestre aproximou-se da porta e bateu com firmeza.
Após alguns segundos, a porta rangeu ao ser aberta, revelando uma senhora de cabelos brancos presos em um coque e olhos cheios de ternura.
— Ah, você voltou para casa, meu querido! — exclamou a velhinha, com um sorriso caloroso.
Silvestre relaxou, algo raro de se ver, e respondeu com um tom suave:
— Sim, vó. Eu voltei.
A expressão da senhora suavizou ainda mais, mas havia preocupação em seu olhar.
— Então você encontrou uma maneira de curar sua irmã?
Silvestre hesitou por um momento, sua mão apertando levemente a alça da espada em suas costas. Ele assentiu.
— Sim, vó. Acho que sim.
A avó suspirou profundamente, como se um peso invisível ainda a pressionasse.
— Ela tem piorado, meu filho. A cada noite, parece mais difícil para ela controlar as correntes.
Solaris, que ouvia a conversa em silêncio, franziu o cenho.
— Correntes? O que está acontecendo com a irmã dele?
Antes que Silvestre pudesse responder, a avó virou-se para os dois rapazes. Seus olhos percorreram cada um com uma intensidade impressionante.
— Vocês são amigos do meu neto?
Nimbus cruzou os braços, inclinando levemente a cabeça para o lado com um sorriso irônico.
— Incrivelmente, parece que sim.
A velha sorriu de canto, sem se deixar abalar pelo tom sarcástico.
— Entrem, vou explicar tudo lá dentro.
Silvestre já estava dentro da casa, enquanto Solaris e Nimbus trocavam um olhar antes de seguirem.
Dentro da Casa
O interior da casa era simples e aconchegante. Havia um sofá gasto perto da lareira, uma mesa de madeira no centro do ambiente e prateleiras cheias de potes, frascos e livros antigos. A avó puxou uma cadeira e sentou-se, enquanto indicava aos três que fizessem o mesmo.
O interior da casa era simples e aconchegante, com o aroma de madeira antiga misturado ao cheiro de ervas secas penduradas em feixes pelo teto. Uma lareira baixa crepitava no canto da sala, lançando sombras dançantes nas paredes. A avó de Silvestre, com um olhar cansado mas cheio de determinação, sentou-se à mesa de madeira marcada pelo tempo.
— A maldição que aflige minha neta é cruel. Para entender, é preciso voltar oito anos no tempo — começou a avó, a voz grave e repleta de pesar.
O Último Dia de Paz
Era uma manhã tranquila, com o céu límpido e o som de risadas ecoando pelo quintal. Silvestre, com apenas 11 anos, estava suado e ofegante após o treino com o pai.
— Ainda precisa melhorar seus ataques, garoto. Você hesitou na última investida — disse o pai, limpando o suor da testa enquanto ria.
Silvestre levantou a espada de madeira com um brilho desafiador nos olhos.
— Na próxima, eu vou vencer!
O pai gargalhou, bagunçando os cabelos do filho.
— Vai sonhando.
Quando o sol começou a se pôr, a mãe chamou os dois da varanda, segurando o avental.
— Vamos, guerreiros, é hora do jantar.
Na mesa, a família era o retrato da felicidade. Lyanna, então com 7 anos, brincava com pedaços de pão enquanto ria das brincadeiras de Silvestre.
— Pai, um dia vou ser mais forte que você — disse Silvestre, com um sorriso confiante.
— Quero ver isso acontecer — respondeu o pai, piscando para ele.
A mãe olhou para os dois e suspirou, um sorriso amoroso nos lábios.
— Certo, guerreiros. Terminem de comer e subam para os quartos. Deixem que eu cuido dos pratos.
Subindo as escadas, Silvestre não resistiu à curiosidade.
— Pai, como você conseguiu se casar com uma mulher tão rabugenta como a mamãe?
O pai riu alto, abraçando o filho pelos ombros.
— O amor, meu garoto. Não tem fronteiras. Foi exatamente pela personalidade forte da sua mãe que me apaixonei. Você vai entender isso um dia.
Silvestre balançou a cabeça, rindo.
— Boa noite, pai.
— Boa noite, filho.
O Pesadelo Começa
Mais tarde, naquela noite, Silvestre foi acordado por um som estranho. Primeiro, passos pesados; depois, um grunhido assustador, seguido de um uivo que fez sua espinha gelar. Ele abriu a porta do quarto e viu os pais na sala, armados com uma espada e um arco.
— Filho, volte para o quarto agora! — ordenou o pai, a voz grave e urgente.
Silvestre obedeceu, fechando a porta. Ele correu até Lyanna, que estava encolhida na cama.
— Está tudo bem, Lyanna. Eu prometo.
A casa estremeceu com um estrondo, e as paredes começaram a ceder. Quando Silvestre espiou pela fresta da porta, viu uma criatura gigantesca: um lobisomem de pelo cinza prateado e olhos amarelos brilhantes.
Seus pais enfrentaram a fera com coragem, mas o desespero tomou conta de Silvestre quando ele viu a mãe ser abatida.
— Mãe! — gritou, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
O pai lutou bravamente, mas também foi derrotado. A criatura então se virou para o andar superior.
— Precisamos fugir! — sussurrou Silvestre para Lyanna, puxando-a pela mão.
Os dois desceram pela sacada e correram pelo jardim. No entanto, antes de escapar, Silvestre olhou para trás e viu o pai, ensanguentado e de joelhos.
— Papai... cadê a mamãe? — perguntou Lyanna, chorando.
Silvestre não conseguiu responder. A fera segurava o corpo inerte da mãe em suas mandíbulas.
O pai de Silvestre olhou para trás ao ouvir o grito e, naquele momento ele falou, eu amo vocês, foi atingido com força. Seu corpo voou até parar próximo aos filhos, imóvel.
Lyanna caiu de joelhos ao lado do pai.
Pai... Pai, responde!
ela implorou, mas o silêncio era absoluto.
— Ele não vai mais responder... —murmurou Silvestre, sentindo a dor e a raiva crescerem dentro de si.
A criatura avançou em sua direção, com garras afiadas. Silvestre pegou a espada do pai, jogada no chão.
— Vá embora, agora! — Corra! gritou para Lyanna.
Enquanto a irmã corria, a criatura golpeou Silvestre no peito, rasgando sua carne com as garras. Depois, perseguiu Lyanna e a mordeu no ombro.
— Solta ela! — gritou Silvestre, levantando-se com a força da adrenalina. Ele cravou a espada no olho da criatura, que uivou de dor e fugiu para a floresta.
Carregando a irmã inconsciente nos braços, Silvestre caminhou até desmaiar.
O Futuro Sombrio
— Eu os encontrei naquela noite, ambos vivos, mas marcados para sempre — disse a avó, com a voz pesada de emoção.
Silvestre abriu os olhos, sentindo as bandagens em seu corpo. Ele olhou ao redor, reconhecendo o interior da casa da avó.
— Onde estou? — perguntou, confuso.
— Você está seguro agora, meu neto — respondeu a avó, entrando no quarto.
Silvestre olhou para ela, as lágrimas brotando em seus olhos.
— Então... quer dizer que o papai e a mamãe... eles...
A avó o abraçou com força, tentando confortá-lo.
— Sinto muito, meu querido.
— Cadê a Lyanna? — perguntou Silvestre, limpando as lágrimas. — Ela está bem?
A avó suspirou.
— Ela sobreviveu, mas... há algo errado.
Naquela noite, silvestre viu pela primeira vez a transformação da irmã. A figura dela se contorcia, metade humana, metade lobo. Ela rugiu, destruindo tudo ao seu redor, até que a avó a conteve com correntes de prata.
— Ela está amaldiçoada... — disse a avó, com os olhos marejados.
De Volta ao Presente
— Desde então, prendemos Lyanna todas as noites — concluiu a avó. — Para protegê-la... e a todos ao redor.
Nimbus cruzou os braços, processando tudo o que ouviu.
— Então, quer dizer que a Lyanna é um lobisomem.
Silvestre entrou na sala, sério.
— Sim. Mas ela não é um monstro.
Solaris inclinou-se para frente, solidário.
— Ninguém aqui acha isso, Silvestre. Vamos ajudar você a quebrar essa maldição.
Silvestre levantou a flor Lacrima Lunaris, com a determinação brilhando nos olhos.
— Esta é a nossa chance.
Nimbus fez uma careta.
— Bom, parece que temos trabalho. Só não quero lidar com mais lobisomens famintos por aí.
A avó deu um sorriso suave.
— Vocês têm coragem. Mas a coragem precisa ser acompanhada de fé.
Solaris colocou uma mão no ombro de Silvestre.
— Não vamos falhar.
Nimbus esticou os braços, fingindo desinteresse.
— Melhor nos prepararmos. Espero que essa cura não envolva explosões... as minhas já são suficientes.
Continua.