Chereads / A Lenda dos cristais / Chapter 10 - A Revelação das Sombras

Chapter 10 - A Revelação das Sombras

A atmosfera na caverna era densa, carregada de um mistério sombrio. Solaris, Nimbus e Silvestre estavam alertas na entrada, sentindo o peso da presença à frente deles. Uma figura masculina se aproximava da sombra, a aura dele era quase palpável, repleta de escuridão.

Solaris estreitou os olhos e, então, reconheceu quem estava ali.

- Não pode ser... - murmurou, surpreso. - É o velho da vila.

Nimbus, surpreso, piscou várias vezes e soltou uma risada nervosa.

- Aquele velhinho? Achei que a única ameaça que ele trazia era a falta de dentes! comentou Nimbus, tentando aliviar a tensão.

O homem, ou melhor, a figura diante deles, inclinou a cabeça de lado, como se os estivesse estudando. Em um movimento lento e grotesco, ele começou a arrancar a própria pele, revelando uma nova forma por baixo. A pele velha caiu ao chão, deixando uma visão horrenda: asas de morcego gigantes surgiram de suas costas, e garras afiadas emergiram de seus dedos.

Silvestre deu um passo atrás, assustado, mas logo sua expressão endureceu.

- Ele... ele é um demônio! - exclamou Silvestre.

A criatura abriu um sorriso insano e começou a falar, sua voz reverberando com um tom tenebroso e rouco.

- Cada aventureiro tolo que entrou nesta floresta teve a vida sugada... o vigor, a alma, tudo que tinham. Tomei para mim, e agora vocês serão os próximos... - 0 demônio se deleitou na própria perversidade, sua presença enchendo o ar de medo e repulsa.

A criatura não esperou mais. Ela se lançou contra eles com uma ferocidade inumana. Solaris foi o primeiro a reagir, erguendo suas mãos e conjurando uma barreira mágica, mas o impacto foi tão intenso que ele foi empurrado para trás, tropeçando sobre as rochas da caverna.

Nimbus murmurou rapidamente, ativando uma poção que o envolveu em uma névoa protetora, mas ainda assim o demônio avançava, rasgando o ar com suas garras. Silvestre, em um movimento calculado, girou sua lâmina, tentando conter o inimigo, mas o impacto o lançou contra a parede.

- Precisamos de um plano! - gritou Solaris, desviando por pouco de uma das investidas.

O demônio riu, sua voz se misturando com o som das rochas que se partiam ao redor deles.

- Vocês não são páreo para mim.

Finalmente, com um golpe devastador, o demônio os empurrou para fora da caverna. Eles rolaram morro abaixo, se esfolando nas pedras e na terra. Nimbus, sem perder a chance, resmungou:

- Eu quase vi os deuses agora... e nem me pagaram por isso!

O demônio pousou à frente deles, abrindo as asas de maneira ameaçadora, enquanto Nimbus se levantava aos tropeços.

- Que tal outra rodada? disse Nimbus, mesmo com o rosto cheio de arranhões, sorrindo desafiadoramente.

A batalha continuou do lado de fora. Solaris se levantou e murmurou uma nova conjuração.

- Fogo Ancestral! - Ele estendeu as mãos, e uma onda de chamas brilhou, avançando direto para o demônio. Mas o ser sombrio absorveu o fogo, rindo.

Silvestre atacou de lado, sua espada brilhando com energia, mas o demônio desviou com facilidade, rindo ao ver a frustração no rosto dos heróis.

Nimbus lançou uma poção no chão que explodiu em uma névoa ácida, forçando o demônio a recuar momentaneamente.

- Vamos ver se você aguenta isso! - gritou Nimbus.

A criatura, porém, logo se recuperou e, com um movimento rápido, derrubou os três, deixando-os ofegantes e feridos. Com um olhar selvagem, agarrou Solaris pelo pescoço, levantando-o do chão.

- Sua energia será minha! - O demônio abriu a boca, aproximando-se para absorver a essência vital de Solaris.

De repente, um corvo negro apareceu entre os dois. Em um clarão, o corvo se transformou em uma figura humana. Era Kairon, emanando uma aura imponente.

- Quem ousa interromper minha refeição? - rugiu o demônio, furioso.

Kairon sorriu friamente.

- Já esqueceu de mim? provocou ele, fixando seu olhar firme no demônio.

O demônio pareceu hesitar, sua expressão transformando-se em um misto de ódio e medo.

- Kairon... é você... Faz dezenove anos desde a última vez.

Kairon assentiu, e sua voz soou ameaçadora.

- Ainda carrego as marcas daquela batalha, demônio. - Ele apontou para o peito do demônio, onde uma cicatriz ainda pulsava. - Achei que nunca mais te veria.

O demônio soltou um rosnado baixo, ressentido.

- Fiquei aqui por dezenove anos, sugando a vida dos tolos que entravam na floresta. Estava esperando, me preparando... só para ter a chance de enfrentá-lo de novo.

Kairon deu um passo à frente, erguendo a mão, e sombras começaram a envolvê-lo.

- Devia ter terminado isso naquela noite, criatura.

Kairon e o demônio estavam parados, encarando-se em silêncio. A tensão entre os dois era palpável, como se cada centímetro da floresta ao redor contivesse a respiração, à espera da explosão iminente. Então, em um instante, ambos se moveram.

O demônio avançou com um rugido, suas asas gigantescas estendidas enquanto ele mergulhava em direção a Kairon. Com um gesto rápido, Kairon conjurou sombras ao seu redor, criando uma barreira de escuridão que absorveu o impacto das garras afiadas do demônio. Mas a criatura era mais forte do que parecia, atravessando a barreira com força bruta, lançando Kairon alguns metros para trás.

Kairon se estabilizou, mal contendo um sorriso desafiador. Ele ergueu a mão direita, e uma energia negra e pulsante tomou forma em torno dela. Com um movimento decidido, ele lançou uma esfera sombria direto no demônio, que se contorceu ao ser atingido, soltando um grito de ódio.

- É tudo o que você tem, Kairon? - provocou o demônio, erguendo-se e batendo as asas para se impulsionar em direção ao céu. - Preciso de mais para satisfazer minha vingança!

O demônio elevou as mãos e conjurou um círculo profano no ar, lançando uma chuva de lanças demoníacas que pareciam feitas de pura escuridão e ódio. Kairon esquivou-se com agilidade, desviando de cada lança enquanto elas explodiam ao redor, criando crateras no chão.

- Está com pressa, demônio? - Kairon zombou, dissipando as sombras e lançando um raio de magia negra que acertou a asa do monstro, fazendo-o perder altitude.

Antes que o demônio pudesse reagir, Kairon o atacou novamente, invocando tentáculos sombrios que emergiram do chão, prendendo os braços e as pernas do demônio e começando a drená-lo lentamente.

- Agora, vamos terminar o que comecei há dezenove anos - murmurou Kairon.

Mas o demônio não estava disposto a ceder tão facilmente. Ele rosnou, e uma onda de energia negativa explodiu de seu corpo, dissipando os tentáculos e obrigando Kairon a recuar. Usando essa brecha, o demônio aproveitou para revidar, desferindo um golpe com as garras na direção de Kairon, que desviou por um triz.

Kairon, mantendo a calma, canalizou a Manipulação da Escuridão Esotérica e se moveu entre as sombras como um vulto, desaparecendo e reaparecendo em velocidade. Ele golpeou o demônio de vários ângulos, socos e golpes de magia negra atingindo o monstro como facas invisíveis, enquanto o demônio rugia de dor e raiva.

- Ainda consegue lutar, ou finalmente percebeu que seu tempo acabou? - Kairon provocou, girando ao redor do demônio.

Em resposta, o demônio ergueu uma de suas garras, que começou a brilhar com uma luz sinistra, e invocou um poder temível: Absorção de Energia Mágica. Ele estendeu a garra em direção a Kairon, sugando parte de sua energia mágica, o que o fez hesitar momentaneamente.

- Achou que eu estava enfraquecido? - demônio gargalhou, renovado, avançando com velocidade surpreendente. Ele golpeou Kairon no peito, lançando-o contra uma árvore com força suficiente para partir o tronco ao meio.

Ofegante, Kairon se levantou, os olhos ardendo de determinação. Ele levantou a mão esquerda e invocou uma Espada das Sombras, uma lâmina feita de pura escuridão, e lançou-se sobre o demônio em um confronto direto.

A espada de Kairon encontrou a Garra Demoníaca do monstro em uma explosão de faíscas negras. Cada golpe era mais intenso, o som do metal sombrio chocando contra as garras do demônio ecoava pela floresta. Em um momento, Kairon desferiu um corte que atravessou o ombro do demônio, deixando uma ferida profunda.

O demônio cambaleou, mas usou sua Manipulação de Força Demoníaca para se regenerar rapidamente. Ele lançou uma rajada de energia maligna contra Kairon, que bloqueou com uma barreira sombria, mas sentiu o impacto nos ossos.

Ambos estavam ofegantes, mas o demônio percebeu que Kairon ainda tinha mais força. Em um movimento desesperado, o demônio utilizou a Manipulação de Forças Negativas, liberando uma onda de energia maligna para distorcer a realidade ao redor. Árvores se retorciam, o céu escurecia, e a própria terra parecia se abrir.

Kairon cerrou os dentes e convocou todo o seu poder, reunindo sombras em torno de si até formar uma aura massiva.

- Isso acaba agora, criatura - declarou ele, em um tom firme. Ele invocou seu feitiço mais poderoso: Chama da Escuridão Perpétua. A esfera de energia negra cresceu até o tamanho de uma pequena estrela, tão intensa que parecia drenar a luz do ambiente. Ele lançou a esfera direto no peito do demônio.

O demônio soltou um grito que ecoou pela floresta, seu corpo sendo consumido lentamente pela magia de Kairon. As sombras envolviam o demônio, desfazendo-o em pó, até que restasse apenas silêncio e cinzas ao vento.

Kairon respirou fundo, finalmente em paz.

Kairon baixou as mãos lentamente, observando enquanto o demônio desaparecia em cinzas, levado pelo vento sombrio da floresta. Ele se virou para Solaris, que ainda tentava se levantar após a intensa batalha.

— Solaris, você tá bem? — perguntou Kairon, caminhando em sua direção.

— Estou... sim, eu acho — respondeu Solaris, ofegante, tentando sorrir.

De repente, Kairon deu um cascudo em Solaris, que o pegou totalmente de surpresa.

— Ai! Que foi isso? — reclamou Solaris, esfregando a cabeça.

— Eu te treinei por onze anos, e você quase foi derrotado por um demônio? — Kairon falou em um tom sério, mas com um leve sorriso no canto dos lábios. — Onde foi parar toda aquela disciplina?

— Ah, que exagero, eu tava lidando com ele muito bem! — retrucou Solaris, cruzando os braços e fazendo uma careta. — Você sempre exagera, Kairon. Só porque é mais velho.

Nimbus interrompeu, rindo. — Mais velho e provavelmente mais sábio também. Mas, olha, tenho que admitir, Solaris, parecia que você tava tentando dançar com o demônio em vez de lutar com ele.

— Muito engraçado, Nimbus — resmungou Solaris, revirando os olhos.

— Ei, eu quase morri aqui também, sabe? — completou Silvestre, dando um suspiro exasperado. — Vamos ser justos, esse demônio não era brincadeira.

Kairon deu uma risada, como se se divertisse com a situação.

— E como você nos encontrou, Kairon? — perguntou Solaris, curioso, enquanto ainda esfregava o local onde tinha levado o cascudo.

Kairon deu de ombros. — Desde que você deixou a floresta, eu sempre fiquei de olho. Mesmo de longe, ainda te observo de tempos em tempos. — Ele deu um sorriso. — Sabe como é, só por precaução.

— Ah, então você fica me vigiando? — Solaris riu, levantando uma sobrancelha. — Bem, parece que você tem suas razões.

Nimbus olhou para Solaris e Kairon, com um sorriso divertido. — Mudando de assunto rápido, não é, Solaris?

— Como vão todos? — Solaris perguntou, ignorando o comentário de Nimbus.

— Bem, na verdade. A Irmã Helena também está bem, embora preocupada — respondeu Kairon, com um tom mais suave. — Ela sempre pergunta por você.

Solaris assentiu, com um sorriso caloroso. — Diga a ela que estou bem, certo?

— Deixo o recado, pode ficar tranquilo — garantiu Kairon.

Com isso, Kairon deu um passo para trás, envolvido em sombras que pareciam fluir ao redor dele como uma névoa viva. Em um instante, ele desapareceu na escuridão, como se nunca tivesse estado ali.

De repente, o livro de Solaris começou a brilhar com uma luz suave, chamando a atenção de Nimbus e Silvestre.

— Ei, Solaris, o seu livro está brilhando de novo — Nimbus apontou, curioso.

— Uuh... — Solaris pegou o livro, observando-o enquanto as páginas começavam a se mover sozinhas. Em questão de segundos, o livro formou um mapa detalhado da floresta, destacando uma localização ao sul.

— Parece que temos nosso próximo destino — disse Solaris, com um sorriso. — Ele está ao sul da floresta.

— Esse livro é incrível — comentou Silvestre, admirado. — Ele realmente te mostra o que você quer, ou o que precisa?

— Às vezes — respondeu Solaris, ainda olhando para o mapa com curiosidade. — Ele tem uma vontade própria, eu acho.

Nimbus soltou uma risada sarcástica. — Legal, um livro que decide por você. Imagine se ele resolver te guiar pra armadilha um dia desses.

— Ah, é só mais uma camada de aventura, Nimbus — retrucou Solaris, dando de ombros.

Enquanto se preparavam para partir, Silvestre deu um passo atrás.

— Eu... na verdade, não vou com vocês. Ainda preciso procurar pela Flor.

— A flor? — Nimbus perguntou, franzindo a testa. — Achei que você tinha esquecido dela no meio dessa confusão toda.

Solaris pensou por um momento, então olhou para Silvestre com seriedade. — A flor que você está procurando só nasce em lugares de alta concentração mágica. É melhor vir conosco. Pode ser que, com o poder do cristal por perto, você tenha mais chance de encontrar o que procura.

Nimbus assentiu. — Ele tem um ponto, Silvestre. Quanto mais perto da magia, maior a chance.

Silvestre hesitou, mas finalmente concordou, balançando a cabeça. — Certo. Eu aceito.

Juntos, os três seguiram em direção à localização indicada pelo livro, andando pelas sombras da floresta densa até que, após um tempo, se depararam com a entrada de uma antiga masmorra, escondida entre raízes retorcidas e árvores gigantescas.

Continua.