Me levanto animado da cadeira e deixo rapidamente a cabine, um naufrágio é algo que estive esperando ansiosamente. Além da missão é a chance de conseguirmos cargas extras e outros itens valiosos. A não ser que o naufrágio tenha sido criminoso nesse caso não haverá muito a ganhar. Logo eu e Omar nos encontramos com Henry que está usando uma luneta para observar de longe, aguardamos em silêncio por sua opinião após a observação inicial.
"É um navio de guerra, apesar de ser um dos pequenos foi arrastado pela tempestade para muito perto das rochas. Tenho uma boa e uma má notícia, a boa é que não foi piratas que causaram o problema, o que significa que ainda pode ter sua carga a bordo, a má notícia é que não vejo ninguém a bordo nem mesmo um sobrevivente. Apenas metade do navio está debaixo d'água, mas não vejo ninguém nele e nem sinais de tentativa de sinalizar um resgate."
Eu entendo o que Henry quer dizer, pode ser uma armadilha de algum grupo pirata ou é provável que alguma raça ou criatura do mar subiu a bordo e matou todos. Omar usa sua luneta e então diz:
"O navio está em perfeito estado, sem muitas algas ou madeira podre, é provável que naufragou recentemente durante as tempestades que enfrentamos."
Eu concordo com o fato e Henry continua:
"Isso aumenta a certeza de que algum monstro ou raça marinha subiu a bordo, principalmente os homens peixes. Se forem eles, já entraram e pegaram a maior parte da carga e mataram todos a bordo. Mas se for algum mutante violento ou mutantes no plural a carga pode estar intacta, mas seria arriscado demais ir. Vou deixar meus homens decidirem por conta própria quem quer explorar ele."
Eu e Omar concordamos, então tocamos o sino de alerta chamando toda a tripulação e os passageiros. O Capitão então se posiciona no centro e comunica:
"Encontramos um pequeno navio de guerra naufragado, não deve ter muitos dias desde o naufrágio, mas não existe sinais da tripulação dentro do navio e nem sinais de tentativa de sinalização da parte deles, pode ser uma armadilha de algum grupo de piratas que já chegou primeiro e está esperando dentro, ou alguma raça do mar já pode ter matado a tripulação e ainda estar por perto. Será extremamente perigoso para qualquer um que queira tentar a sorte no navio, mas não irei proibir ninguém de tentar, quem quiser ser voluntário e arriscar a sorte por favor venha até a cabine do Capitão na próxima hora depois de se preparar."
Depois de me preparar na minha cabine, removi uma boa parte dos itens do inventário para ter mais espaço e coloco a armadura de couro completa e os protetores de braço de metal, verifico minhas 2 bestas e as 5 pistolas carregadas no inventário graças a meu ferreiro que havia feito mais duas e fui até a cabine do Capitão. Chegando lá vi 4 pessoas além de mim: O ex-pirata subordinado de Omar, o subordinado de Sir Arthur que usa adagas, um dos homens ghiscari com um escudo e espada e um dos passageiros um homem valiriano de 30 anos segurando uma espada que suspeito pertencer aos piratas de Jones.
Quando vejo todos aceno e tento convencer o passageiro a desistir e só ir depois que nós 4 verificarmos se o local é seguro, mas ele se recusa dizendo que vai olhar apenas na área que está fora da água e não vai muito fundo. Aviso para que fique perto dos outros, não ande sozinho e no primeiro sinal de perigo fuja. Eu poderia trazer ele comigo, mas planejo explorar a parte submersa e mais perigosa não posso arriscar a vida dele, assim como não posso forçá-lo a não ir. Usamos um pequeno bote salva-vidas que outro homem Ghiscari e um dos tripulantes decidem ficar dentro por perto para nos tirar de lá rapidamente em troca de uma parte dos saques.
Logo os dois remam até o naufrágio e posso ver o navio de guerra que mesmo sendo considerado pequeno ainda é maior que nossos veleiros. A popa junto com metade do navio desapareceu na água, a metade restante que está para fora d'água inclui a proa do navio e as cabines, a área da tripulação e a parte da carga estão submersas, sem sabermos se ela ainda está seca ou não. Os homens decidem trabalhar juntos e escalar para entrar na parte das cabines, eu aviso que vou na parte mais funda verificar a carga, mas alerto eles para fugirem se ouvirem minha arma e todos acenam em compreensão, afinal se eu atirar existe algo perigoso a bordo.
Depois de ver eles escalarem eu entro em uma das rachaduras no casco que da direto no que suspeito ser o refeitório e mantenho minha velha espada confortável na mão. Metade do refeitório está alagado com água até os joelhos no local atual, e a inclinação do navio dificulta andar como se eu estivesse sempre numa colina, conforme eu subo a água nos meus pés some e encontro a parte mais seca do refeitório, seguida pelos quartos da tripulação e por último a enfermaria. Dentro da enfermaria eu vejo muito sangue, mas considero normal já que alguém pode ter se machucado, o problema é quando entro nos quartos da tripulação.
Está bem seco, mas existem muitas manchas de sangue, roupas rasgadas e posso ver ossos também. A sensação que entrei num covil de algum animal selvagem me dá arrepios, troco minha espada por duas pistolas. Depois de garantir que o dormitório está realmente vazio, fico mais tranquilo e começo a inspecionar os ossos, guardo um deles que tem marcas de garras para tentar descobrir que criatura esteve aqui. Aproveito para olhar os bens pessoais dos homens e encontro muitos sacos de moedas escondidos entre as camas e armários, além de algumas moedas de prata e ouro escondidas em vãos secretos entre as camas. Omar tinha me mostrado esses "esconderijos" quando fiz uma inspeção no veleiro do pirata Jones. Não foi muito o que encontrei mas se somar todas as moedas daria algo em torno de 15-20 moedas de ouro e havia algumas gemas e joias como anéis, braceletes, brincos e colares, mas a maioria era de prata com poucos sendo ouro.
Voltando no refeitório na parte que está seca pego alguns barris de água limpa e cerveja que encontrei. Mantenho meus olhos na área ao redor e penso se deveria disparar para avisar os homens sobre uma possível criatura, mas como não vi nada estaria apenas atrapalhando eles e também anunciando nossa presença caso haja algo aqui. Eu então volto por onde entrei e olho para a água, posso ver as escadas que vão para área de carga vou ter que mergulhar um pouco se quiser olhar o porão. Depois de esperar um pouco ainda hesitando finalmente decido mergulhar. Tiro uma luz artificial movida pelas pedras mágicas que comprei em Valíria e sigo com a respiração presa nadando com um braço apenas. Eu desço as escadas e sigo na direção da carga onde sei que estará seco, depois de nadar por volta de 50 segundos finalmente consigo achar a área seca do porão de carga e respirando o mais silencioso possível tiro apenas metade da cabeça para fora da água junto com a luz alquímica e olho ao redor de tudo.
Vejo várias caixas fechadas que não sei ainda seu conteúdo, e muitos sacos do que suponho ser grãos. Saio devagar da água olhando para o "porão" escurecido e úmido, ainda estou em completo alerta e com acenos da minha mão as caixas e sacos começam a entrar no meu inventário. Posso conferir mais tarde o que ele são, então começo a relaxar ao não ver ou ouvir nada e continuo coletando as caixas, até que ao coletar uma caixa enorme de repente olho atrás dela e respiro fundo em terror. Uma criatura toda escamada em forma humanoide está deitada atrás dela. Ela tem guelras nas laterais do pescoço, rosto humano, dentes serrilhados que podem ser vistos mesmo com a boca fechada, sua mão também humanoide tem 5 dedos com uma pele fina entre eles e os pés são similares, mas não tenho tempo de contar quantos dedos tem.
A criatura parece começar a acordar conforme a luz atinge seu rosto após a caixa que a bloqueava não está mais lá, eu faço minha espada aparecer na minha mão e ataco com tudo que tenho para perfurar sua cabeça antes que se levante.
"Shhhh"
A espada faz uma perfuração limpa e a criatura não faz nenhum som enquanto morre. Removo a espada e armazeno a criatura no meu inventário e começo a me mover lentamente na ponta dos pés de volta para a direção da água, enquanto continuo observando os arredores com ainda mais cuidado e medo, mas todo meu cuidado para não fazer barulho é em vão.
Na direção das cabines acima de mim um barulho enorme é ouvido seguido de vários gritos e rugidos nos andares superiores, ao mesmo tempo escuto vários rangidos de madeira no andar de carga onde estou. Eu viro a luz para olhar na direção do barulho, enquanto ainda recuo devagar apenas para ver várias criaturas iguais a que matei se levantando de seu sono após serem acordadas pelos barulhos dos homens nos andares superiores, elas olham para mim e para a luz que incomoda seus olhos e todas soltam um grito arrepiante.
"GRAAAK!"
PORRA!
Eu deixo a luz para trás e dessa vez corro muito rápido na direção da água, conforme chego no local perco velocidade pela água aos poucos subindo pelas minhas canelas, enquanto dou passos lentos, eu olho para trás e vejo várias das criaturas já me alcançando. Guardo a espada e saco as duas pistolas atirando nelas, depois troco uma segunda vez de pistolas vazias por carregadas e atiro novamente. Quando finalmente estou prestes a mergulhar e já fiz 4 disparos contra os monstros eu jogo um vidro de cerâmica cheio de óleo e atiro uma bola de fogo nele fazendo-o explodir derramando óleo em chamas por cima da água então eu mergulho tentando voltar pelo caminho que já memorizei.
Dessa vez eu levo apenas 20 segundos nadando com as duas mãos e quando finalmente volto na área do refeitório alagado sou surpreendido por outra criatura assim que saio da água. Só tenho tempo de agarrar minha espada enquanto ela pula em mim a espada atravessa seu corpo mais ela ainda está viva tentando me morder, eu empurro ela para o lado e atiro uma bola de fogo, a água apaga um pouco do fogo, mas consegui me livrar dela, antes que eu preste atenção uma segunda criatura que também estava no refeitório corre na minha direção.
Ainda estou deitado na poça d'água rasa e só tenho tempo de sacar minha última pistola e atirar, mas a bala só atinge seu braço esquerdo. A criatura então pula em cima de mim, enquanto estou com as costas no chão. Sua mão direita dá um golpe e rasga meu ombro esquerdo até bem perto do meu antebraço inutilizando ele, quando ela ergue o braço direito pela segunda vez, e seu braço desce na direção do meu pescoço, eu uso meu braço direito restante para segurar seu braço antes que ela atinja meu pescoço, mudando a direção e fazendo ela arranhar a madeira ao lado do meu rosto, mantenho sua mão ainda imobilizada. Isso enfurece ela e ela tenta me morder, mas com meu braço direito na frente ela morde apenas o protetor de metal no antebraço e ele começa a ranger enquanto eu também estou perdendo força, não vou aguentar muito tempo.
Começo a pensar em como sair daquela situação terrível e uma adaga aparece no braço esquerdo ferido, mas sinto ele dormente e não consigo levantá-lo para apunhalar a criatura, sem mais pistolas e com as bestas sendo muito grandes se torna impossível usar elas. As duas bolas de fogo do dia também já foram usadas.
Pense, pense… Rápido… Naquele curto momento de terror me lembro da runa de chama primordial no meu coração foi dito que poderia ser usada para criar um feitiço inato do tipo fogo, eu não sabia como usar ela, mas sempre que me concentrava no meu coração começava a sentir um calor se espalhando por todo meu corpo, eu esperava poder chegar até Asshai para obter mais conhecimentos e criar o melhor feitiço possível, mas agora numa situação de vida ou morte não tive escolha e deixei o poder da chama se espalhar por dentro do meu corpo antes de começar a concentrar nos meus pulmões e então deixei tudo sair pela minha boca como um sopro de ar. As chamas cuspidas da minha boca saíram como um rugido e atingiu meu braço que a criatura estava mordendo e em seguida seu rosto, ela tentou resistir e continuar mordendo, mas antes que meu ar parasse de sair do pulmão ela gritou e caiu para o lado com metade de seu rosto derretido, eu então peguei a adaga que estava na mão esquerda e perfurei seu coração.
Me levantei tonto vendo algumas mensagens do sistema que ignorei no momento. Varri os dois corpos para dentro do inventário, junto com minha pistola e espada que ainda estava queimada e dentro do segundo monstro. Pulei pelo vão do barco quebrado e nadei na direção do bote salva-vidas, eu sabia que tinha mais criaturas e o fogo causado pelo óleo não iria deter elas por muito tempo, no bote vi os homens tentando entrar nele enquanto puxavam um cofre que flutuava com a ajuda de vários barris para não afundar no mar. Os homens me viram nadando e só notaram que eu estava ferido após subir no pequeno bote junto com eles.