O corredor do andar de cima parecia vazio quando Faye saiu do quarto. Após tomar um revigorante banho de esponja e seguir as instruções de Sterling para se vestir com as roupas que Helena havia fornecido, Faye vagou pela fazenda rústica, incerta de onde todos estavam.
Andou sem rumo, ouvindo o barulho de seus passos ecoando nas tábuas de madeira do assoalho. O lugar tinha um calor natural. Era uma casa de família e decorada de maneira simples, o que a fez se sentir à vontade.
De repente, ela prendeu a respiração ao virar uma esquina e ficou surpresa ao se deparar cara a cara com um dos cavaleiros de Sterling. Ele estava guardando as escadas. Faye deduziu que Sterling o havia colocado ali para vigiá-la e garantir que ela não escapasse.
O cavaleiro era uma figura imponente, assim como Sterling, com ombros largos e bíceps salientes. Faye não pôde deixar de notar o som de sua respiração pesada enquanto ele permanecia imóvel, seus ameaçadores olhos castanhos escuros fixos nela. Ela sabia que esses cavaleiros passaram muito tempo em combate, e isso se mostrava em seu comportamento e físicos esculpidos.
Ao ficar ali, observando a figura do cavaleiro, ela não pôde deixar de sentir um senso de admiração e reverência. Eles, na verdade, não a intimidavam. Faye manteve-se firme, não recuando diante do seu olhar letal, curiosamente observando o paladino à sua frente. Ela havia vivido com um cavaleiro, seu pai, que havia sido um combatente feroz, mas isso era apenas sua casca exterior. Por dentro, seu coração continha um verdadeiro tesouro de amor por ela e sua mãe.
Ela notou que a armadura do cavaleiro tinha o mesmo emblema draconiano vermelho-sangue dos Sterlings. Sua boca secou enquanto uma onda de ansiedade a invadia, fazendo seu estômago se contorcer. Ver o emblema fez Faye franzir a testa, pois trouxe de volta uma enxurrada de memórias perturbadoras que ela desejava manter enterradas.
Seus olhos percorreram a armadura. Embora ligeiramente enferrujada nas articulações e amassada de tanto uso, ainda brilhava sob os raios do sol. Faye ergueu a mão inconscientemente. Sentiu uma súbita vontade de tocá-la e sentir a frieza lisa do metal contra a ponta dos seus dedos. Faye parou e retirou a mão antes de tocar no homem. Ela sabia que era indelicado.
Ela foi arrancada de seu pensamento desgarrado quando o cavaleiro se ajoelhou diante dela e se apresentou.
"Bom dia, Duquesa. Gostaria de me apresentar. Sou seu guarda pessoal. Meu nome é Andre." Ele tinha um leve sotaque que ela nunca ouvira antes.
Faye gaguejou ao responder a sua saudação.
"O-Obrigada, e-eu sou Faye Mont... Quero dizer — eu sou. Ah!"
Ela fechou a boca. Corada. Faye se sentiu envergonhada por suas próprias palavras.
"..."
Ela suspirou e lhe deu um sorriso sincero.
"Não se preocupe, você já sabe quem eu sou. Desculpe."
Andre soltou uma risada suave enquanto olhava para a pequena dama diante dele. O som de sua voz aguda preenchia a sala, e seu sorriso radiante iluminava o espaço ao seu redor.
Ele sabia que iria gostar dessa tarefa. Ao observar seus gestos animados, ele podia sentir os cantos de sua boca se curvando para cima, e ele esperava que haveria muitas risadas e sorrisos que ela traria para os seus dias como seu protetor.
"Um... Onde está Sterling?" Ela perguntou.
"Por aqui, Duquesa. Ele está preparando o cavalo para uma viagem à cidade. O comandante disse que havia alguns recados que ele precisava resolver."
Com um gesto cavalheiresco, Andre ofereceu sua mão coberta por uma luva de metal, e Faye aceitou enquanto ele a guiava pelas escadas. O paladino pairava sobre ela enquanto caminhavam lado a lado pelo espaçoso ambiente da casa em direção à parte de trás do lugar.
Lá eles entraram em uma cozinha pequena e simples. Helena estava sentada à mesa, consertando algumas roupas e tomando seu chá matinal. Ela levantou a cabeça e deu a Faye um sorriso divertido.
"Bom dia, menina doce. Está se sentindo melhor hoje?"
Faye assentiu e retribuiu seu cumprimento amigável. "Sim, estou me sentindo muito melhor hoje. Obrigada por perguntar."
"Ah! Isso são ótimas notícias. Agora, sente-se e beba seu chá." Helena gestou, com um aceno de cabeça, para a cadeira à sua frente. "Você precisa tomar o remédio."
O rosto de Faye se contorceu com a ideia de beber a poção. Ela tinha um gosto amargo e a deixava sonolenta. Ela não queria andar pela cidade de Easthaven com Sterling, sua cabeça flutuando nas nuvens, lutando para manter os olhos abertos.
Helena perguntou, "O que há de errado, Faye? Você não quer ficar bem?" Ela percebeu a expressão de apreensão no rosto de Faye.
"Não, senhora, não é isso. É... eu não quero que a poção me faça sentir sono."
Helena gargalhou diante da admissão de Faye sobre por que estava hesitante em tomar a bebida.
"Está tudo bem, Faye. Eu tirei as bagas de scutellaria desta leva da poção. Eu sabia que ia te deixar muito sonolenta."
Uma realização surgiu em Faye. Ela não sabia que dia era ou há quanto tempo havia estado adormecida.
"Helena? Por quanto tempo eu dormi?"
A viúva idosa respondeu. "Eu estimaria um pouco menos de um dia inteiro."
Os ombros de Faye caíram sob o estresse da notícia, o ar denso com a decepção que pairava ao seu redor. Ela havia visto a expressão de ansiedade que Sterling tinha quando falou sobre voltar a Everton, o pensamento disso a lembrando da doença que havia causado o atraso deles.
Faye se sentiu culpada por causar tanto aborrecimento ao marido. Ela deveria ter ouvido e ficado naquela carruagem.
Quando o visse novamente, ela se desculparia e também por acusá-lo de ser inadequado. Ela tinha errado em suas acusações e tinha a clara sensação de que isso havia ferido seu orgulho.
Especialmente quando ela ouviu suas últimas palavras para ela antes de deixar o quarto.
Faye esticou a mão e aceitou obedientemente sua xícara de chá de Helena, e engoliu com pressa. Ela não precisava trazer mais conflitos para as pessoas ao seu redor.
O som da voz estrondosa de Sterling chamando por trás encheu a cozinha enquanto ele entrava pelo acesso do pasto. Fazendo Faye pular com sua presença.
"Bom, você está pronta. Vamos indo."