Desde o funeral da mãe de Faye, uma chuva fria e implacável caía incessantemente sobre a Paróquia de Granshope, sem mostrar sinais de parar.
Para aumentar sua tristeza, foi na mesma época que Faye recebeu notícias sobre seu futuro do seu pai adotivo, Barão Montgomery.
Parecia que seu padrasto havia encontrado uma maneira de ganhar algum dinheiro com jogos de azar e se livrar dela de uma só vez.
Ele daria sua mão em casamento ao Duque Thayer. Ela, a criança menos desejável da família Montgomery, seria usada para atender à recente demanda de casamento do rei.
A testa de Faye se franzia em concentração, enquanto ela tentava recordar o que sabia sobre o Duque Thayer.
O boato mais inquietante que ela tinha ouvido era que o Duque era um demônio sedento de sangue vindo das profundezas do inferno, consumido por uma sede de guerra e absolutamente desprovido de compaixão por qualquer pessoa ou coisa.
Contudo, ela não se envolvia com tais rumores infundados ou conversas infantis. Ela sempre presumia o melhor de uma pessoa até conhecê-la melhor.
Enquanto Faye olhava pela janela, pacientemente esperando o momento em que conheceria seu noivo, foi trazida de volta à realidade pelo som abrupto de sua irmã mais nova, Alice, rindo atrás dela.
Ela estremeceu e sentiu seu estômago afundar enquanto a voz da jovem Montgomery crescia em provocações maldosas.
"Olhe para você parada ali como um cadáver inerte esperando tão melancólica. Eu me pergunto se esse selvagem de um Duque desistiu e a abandonou? Talvez ele tenha descoberto quão feia você é."
Faye virou-se para encarar sua irmã; ela observou Alice cobrir a boca com o leque para esconder seu sorriso sarcástico. Como as outras mulheres nobres faziam quando trocavam segredos e sussurros uma sobre as outras durante os chás.
Alice acenava despretensiosamente com a outra mão no ar enquanto caminhava ao redor de Faye, avaliando sua aparência. "Você sabe que não é o melhor partido. Eu ouvi nosso pai dizer que você é velha demais para se casar."
As palavras de Alice feriram o coração de Faye; elas eram para ser família. Por que ela a tratava dessa maneira?
Ela ouviu outro insulto sair dos lábios de Alice. "Que mulher pouco atraente você é, Faye, estou chocada que o Pai ainda não a tenha mandado para a casa das solteironas."
Então, ela parou de frente para Faye, seus olhos traíam um sorriso malicioso por trás do leque. "Você sabia que ele quase a vendeu para Elliott na Estalagem Imperial para ser uma das suas anfitriãs?" Ouvir essa notícia torceu as entranhas de Faye, mas não a chocou.
A jovem Montgomery continuou com sua crítica.
"Existem mulheres muito mais bonitas e sofisticadas neste império do que você. Esse homem poderia ter qualquer uma delas que desejasse. Por que ele escolheu você é um mistério completo…"
Antes que Alice pudesse terminar sua diatribe, seu irmão gêmeo, Aaron, a interrompeu.
"Ele não escolheu ela, irmã Alice. Essa união foi imposta ao Duque." Suas palavras eram tão cortantes e cínicas quanto as de sua irmã.
"Eu sinto muito pelo pobre homem. O Pai explicou que foi decretado por ordem imperial sagrada, e pelo próprio imperador, que o Duque Thayer deve tomar uma noiva. O coitado não teve escolha na questão."
"O casamento é para consertar a ruptura entre nossas duas casas nobres. Eles são ordenados a ter um filho nos próximos dois anos, para unir nossas famílias. E parar a disputa centenária entre nós."
"Você tem sorte de a mãe de Faye ter morrido, senão seria você, querida irmã Alice, que estaria se casando com esse selvagem — como você gentilmente gosta de chamá-lo."
"Celebre o fato e agradeça ao seu pai por não se tornar o brinquedo de algum déspota sedento de sangue cujo único propósito é trazer morte e matança para seu mero prazer."
O rosto de Aaron se contorcia de desprezo enquanto seus olhos azul-gelo fitavam Faye com severidade.
"O máximo que esse homem pode esperar agora é sofrer um acidente de carruagem e encontrar seu criador para sair dessa confusão repugnante."
Faye cerrava os dentes e respondeu ao último comentário de seu meio-irmão.
"Chega de conversa desagradável de você, Aaron Montgomery. Você admitiu que não fui eu que escolhi esse caminho. Em vez disso, foi seu pai e o Rei de Minbury que fizeram essa escolha. Eu sou apenas o vaso agindo de acordo com eles."
Reagindo à resposta de Faye, a mão de Aaron cortou o ar e pousou com um tapa ardente em sua bochecha. Foi um golpe tão poderoso que a derrubou no chão.
O local em sua pele pálida onde sua mão a atingiu ficou vermelho vivo. Segurando o rosto, ela se sentou no chão, atordoada, mas determinada a não mostrar quão doloroso foi.
Enquanto Faye se levantava do chão de madeira, pensava internamente que o fato de ter sido vendida em casamento quase a fazia grata. Pelo menos, ela nunca mais teria que sofrer sob a mão de seu irmão novamente.
O mordomo de Wintershold entrou apressadamente na sala, interrompendo Aaron e surpreendendo todos que esperavam ansiosamente pela chegada do enigmático convidado. Ele anunciou com voz trêmula,
"Vejo cavalos e cavaleiros descendo pelo caminho da carruagem."
Faye havia acabado de recuperar o equilíbrio quando foi empurrada contra o vidro gelado da janela e podia ouvir as murmurações empolgadas dos outros enquanto corriam para a janela.
Ela se concentrou no som dos cascos dos cavalos, ficando mais pesados e altos à medida que se aproximavam da propriedade de Wintershold. Dentro de sua alma, ela sentia um arrepio, como se o som de seu destino iminente estivesse se aproximando.
Como um aviso profético, um raio estalou pelo céu, seguido por um trovão profundo e retumbante que fez o ar abafado na sala tremer. Isso fez os ocupantes da sala pularem. Os dois irmãos cessaram abruptamente suas fofocas, suas bocas efetivamente silenciadas pelo barulho violento da tempestade.
Faye olhava através dos vidros encharcados de chuva enquanto a tempestade caía mais forte. Ela via a silhueta da carruagem se aproximando. Ela pressionou seu rosto quente, inchado e dolorido contra o vidro gelado para amenizar a dor onde Aaron havia a atingido.
Ela notou, pelo canto do olho, cavalos e cavaleiros seguindo a carruagem em uma grande comitiva. Faye virou a cabeça para ter uma melhor visualização e observou o veículo parar sob o pórtico coberto. Isso bloqueou sua visão do passageiro que descia da carruagem puxada por cavalos.
Ela só conseguia ver suas botas de montaria de couro preto enquanto elas tocavam o chão, espirrando a água da chuva suja nas polainas. Faye podia ouvir o tilintar de suas esporas enquanto ele caminhava pelo caminho lamacento até a entrada principal.
Quando ele passou, ela notou a borda inferior de seu manto engraxado. O interior era forrado com pele de lobo preto. Ao ver isso, Faye entendeu que ele era realmente um homem de riqueza, vestido com roupas externas tão finas. Ao contrário do que seu pai e seus irmãos haviam dito, ele não era algum senhor da guerra demoníaco empobrecido.
N/A: Oi, leitores, e bem-vindos ao mais novo livro da Série ADG. Esta história faz parte da família Anjos, Demônios e Fantasmas. Pode ser lida isoladamente, ou você pode ler o primeiro da série de livros, "A Alma de um Anjo pelo Coração de um Diabo." Você pode encontrá-los em meu perfil e adicioná-los à sua biblioteca para seu prazer de leitura.