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Chapter 9 - Café da manhã?

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"Nunca o quê?" A voz de Lilia soou enquanto ela notava a expressão séria de Alice. Enquanto o rosto dela era sempre sério sem muita emoção, seus olhos traíam muito do que ela pensava por dentro. Lilia sentia arrepios só de olhá-la. Para uma garota como Alice, mesmo pelo curto tempo que se conheciam, Lilia não achava que ela tinha tanta hostilidade dentro de si.

Todo mundo tem sua própria história, especialmente se acabaram em um lugar como o coliseu de escravos, mas Lilia não podia negar que estava curiosa sobre Alice.

"Ah. Desculpe, estava pensando... sobre o que aconteceu antes, aqui." Alice sacudiu a cabeça enquanto fazia uma pausa em sua frase, já pela metade. Só de chamar aquelas pessoas de família a fazia querer vomitar de repulsa.

"Hmm, estou assumindo pela sua reação, que você não quer pensar mais neles." Lilia riu enquanto Alice concordava com a cabeça.

"E você? Você odiava… pessoas antes daqui também?"

Ao ouvir isso, Lilia fez uma pausa. Lampejos de seu passado tremeluziram em sua mente. A visão do corpo de um garoto, as visões de uma garota mais nova que ela, ambas compartilhando suas características. O cheiro de ferro flutuando no ar enquanto ela estava coberta de sangue da cabeça aos pés a tomou por um momento.

Apretando os braços com força, Lilia forçou um sorriso e concordou com a cabeça.

"Sim, eu odiava. Odiava muito. É por isso que estou aqui, afinal. Mas chega do nosso passado. O que você acha que eles vão nos fazer lutar amanhã?" Lilia perguntou, mudando de assunto. Ela preferiria não perder tempo pensando em seu passado se pudesse evitar.

"Talvez algo mais fraco que o Ladrão de Túmulos. Mas mais forte que o cão." Alice arriscou um palpite.

Contudo, se o inimigo fosse de fato algo mais forte do que o Cão que ela matou mais cedo, as coisas seriam muito mais difíceis do que antes. Alice nunca havia treinado seu corpo. Ela também nunca teve a chance de aprender nenhuma técnica de combate para ajudá-la a sobreviver a tal situação.

A única razão pela qual ela ganhou ontem foi devido a beber o sangue da besta junto com o aumento de sua percepção. Se o Cão fosse um pouco mais inteligente ou se Alice cometesse um único erro fatal, ela seria um cadáver na arena agora.

"Talvez. Mas estou achando que eventualmente teremos de lutar contra outros escravos." Lilia respondeu com a voz baixa enquanto observava os demais cativos.

"Não sei os detalhes exatos do que acontece neste lugar, mas ouvi dizer que escravos são colocados uns contra os outros por capricho. Sei que você não teve reação ao corpo do cara que morreu para o Lírio AB, mas você já matou alguém?" Lilia perguntou, com um tom de voz sério.

Ao ouvir isso, Alice fez uma pausa.

Ela já matou alguém? Nunca. Ela já pensou nisso? Várias vezes. Mas pensar e agir são duas coisas muito diferentes. A sensação de extinguir uma vida com as próprias mãos, ver a alma sumir dos olhos deles enquanto perde sua luz em meio ao medo e ao desespero — Alice não acha que conseguiria fazer isso. A não ser que fosse contra sua velha família.

Se pudesse evitar, ela preferiria não lutar. Mas pela sobrevivência, ela deve se deleitar em tais atos para viver. Pensando consigo mesma por um longo momento, ela eventualmente abriu a boca.

"Nunca matei. Mas se matar significa que eu vivo, eu farei isso."

Vendo a determinação de Alice, Lilia não pôde deixar de sentir pena da garota. Se ela não estivesse em uma situação horrível, Lilia gostaria de proteger Alice, se possível. Seria um ato de arrependimento pelos seus pecados do passado.

"Bem, é muito improvável, então você deve ficar bem. Desde que você possa matar as Bestas do Abismo, isso é tudo o que importa. Apenas durma por agora. Eu perguntei mais cedo sobre nossa rotina. Parece que quando acordarmos pela manhã, receberemos um café da manhã e depois enviados para fazer algum trabalho antes de lutar novamente à noite." Lilia acenou com a mão de forma despreocupada enquanto se deitava de costas e fechava o olho.

Vendo isso, Alice concordou com a cabeça e fez o mesmo. Se eles iam trabalhar cedo pela manhã, seria uma boa oportunidade para ela construir alguma força física. Ela estava simplesmente muito fraca no momento.

Ela esperava não ter a visão estranha novamente, já que precisava de uma boa noite de descanso.

Naquela noite, Alice sonhou com um tempo antes de seus 10 anos de dor. Um tempo em que as coisas pareciam boas demais para ser verdade.

Ela sentia que havia algo que estava esquecendo. Algo que servia como a chave para tudo que aconteceu. No entanto, suas memórias estavam fragmentadas. Tudo o que ela conseguia lembrar eram as visões do seu banquete de aniversário. O momento em que as coisas deram errado.

Visões fraturadas de sangue e morte, momentos em que membros monstruosos estranhos irrompiam de seu próprio corpo.

Gritos e berros, chamadas de pânico de seu nome. Uma visão embaçada de uma mulher pulando na frente dela.

Mas ela não parou. Ela era uma máquina de matar imparável e sua sede de sangue não podia ser saciada.

Abrindo os olhos de repente, Alice se levantou em suor frio enquanto as memórias do estranho sonho se tornavam turvas e desapareciam. Mas os sentimentos eram todos reais. Olhando para suas mãos, lampejos de sangue atravessavam a visão de Alice. Ela agarrou a cabeça pela dor.

"Alice? Alice! Você consegue me ouvir?"

Ouvindo Lilia chamando seu nome, Alice olhou para o lado, encontrando a garota olhando para sua gaiola com preocupação no rosto.

"Consigo ouvir. Desculpa... sonhos ruins." Alice suspirou enquanto a dor desaparecia.

"Se você está tendo sonhos ruins sobre isso, então acho que deve estar bem fresco na sua mente."

"Não, 10 anos." Alice balançou a cabeça, pois a essa altura já deveria ter parado de ter pesadelos com aquele evento, mas algo o trouxe de volta aos seus sonhos.

'Estou esquecendo algo daquele dia?' Ela se perguntou.

Antes que a conversa pudesse continuar, uma tigela de metal foi batida na frente delas com arranhões e amassados visíveis na superfície.

Uma fluido espesso e viscoso foi espatifado na tigela com um barulho alto enquanto um pouco do líquido conseguia atingir Alice no rosto.

Sentindo a textura e cheirando o odor do fluido, Alice sentiu um nojo subir das profundezas de seu coração. A lama em si era de cor cremosa com toques de verde e roxo. Estranhos pedaços do que ela imaginava serem vegetais e outros ingredientes afundavam no fluido, incapazes de se manterem à tona.

"Estou adivinhando que você nunca comeu algo assim, ahahaha! É basicamente a comida usual para escravos por essas bandas. Nojento mas nutritivo e muito fácil de fazer." Lilia riu.

"Isso... Comum?" Alice perguntou enquanto cutucava o café da manhã com o dedo. O fato de que seu dedo não afundasse no fluido nem nada disso grudasse em seu dedo fez Alice repensar.

"Sim. É uma mistura batida de vegetais, trigo e algumas outras sobras que eles têm por aí. Dá o que você precisa para o dia e é bem difícil para o seu corpo digerir tudo, então vai durar o dia inteiro." Lilia deu de ombros enquanto pegava a tigela.

Embora Lilia tivesse dito que era comum e que ela tinha visto muitas vezes antes, isso ainda não tirava o nojo inato que Alice sentia em relação à lama.

"Aqui vai uma dica. Não cheire, não demore a saborear o gosto, e não pare para mastigar também. Já é uma mistura e os pedaços são pequenos o suficiente para serem engolidos sem problemas. No momento que você parar e pensar no gosto, vai se arrepender. Aqui, deixa eu te mostrar uma demonstração." Lilia explicou enquanto gesticulava para Alice olhar em sua direção.

Prensando o nariz, ela pegou a tigela e abriu a boca largamente. Bebendo a lama de uma só vez sem demorar para mastigar, ela engoliu tudo de uma vez só antes de bater a tigela na mesa.

Cerrando os dentes, ela forçou um sorriso corajoso para Alice enquanto lágrimas ameaçavam cair de seus olhos. Lilia socou o próprio peito e deu um sorriso largo e lacrimejante. Para Alice, parecia que ela quase vomitou.

"O que quer que você faça, não vomite. Se o fizer, será forçado a limpar. Acredite em mim, você não quer que isso aconteça." Lilia avisou repetidamente enquanto Alice franzia a testa e pegava a tigela.

Apertando o próprio nariz do mesmo jeito que Lilia, Alice fechou os olhos e abriu a boca. No momento em que sua língua entrou em contato com a lama, ela já queria jogá-la fora. Estava fria ao toque, enviando calafrios por todo o seu corpo. Mas como a lama parecia ser a única refeição que teriam hoje, Alice não podia se dar ao luxo de desperdiçá-la por mais que a odiasse.

Com lágrimas nos olhos, Alice se forçou a engolir a lama enquanto a mistura fria e grossa de ingredientes nojentos descia pela sua garganta antes de chegar ao estômago. Ela podia sentir onde a comida estava devido à diferença de temperatura. Ela tentou o melhor para não engasgar ou vomitar. No momento em que isso acontecesse, Alice não pensava que poderia se segurar para não vomitar.

"Você consegue, Alice! Só falta um pouco!" Lilia torcia, orando fervorosamente para que Alice se acostumasse com a comida pelo tempo que estivessem no coliseu.

Cerrando os dentes, Alice engoliu a última porção e bateu sua tigela na mesa antes de olhar para Lilia.

Embora seu rosto estivesse frio como antes, a dor em seus olhos e o leve rubor em suas bochechas por conter tudo denunciavam seus pensamentos internos e sua angústia por ter que comer esse tipo de comida.

Dando um sinal positivo para Alice, Lilia teve que admitir que o fato de ela não ter vomitado na primeira refeição já era impressionante.

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